“Como faculdade humana, ela apresenta características que podem variar muito de um médium para outro”
Quando
adquirimos um televisor na loja, ele vem acompanhado de um manual. Isso, porque
televisores são fabricados em série. Todos os aparelhos, de mesma
marca e modelo, funcionam igualmente e espera-se que o usuário encontre, no
manual, orientações precisas sobre sua operação e controles.
Mas a faculdade mediúnica não pode ser abordada da mesma forma. Não há condutas padronizadas que levem a sentir a presença dos espíritos ou contatá-los e, nem mesmo, sobre como transmitir o que dizem.
A prática da mediunidade durante
muito tempo esteve associada a mistério, a rituais ou a certas visões
religiosas. Parecia ser algo totalmente dependente de causas e efeitos
sobrenaturais, envolvendo pessoas com poderes ou dons especiais, em
circunstâncias muito específicas, com formalismos vários.
Esse tipo de visão frequentemente
contaminou nosso entendimento acerca das reuniões espíritas e dos médiuns,
criando padrões de comportamento ritualísticos.
Contudo, a filosofia espírita encara
a mediunidade de um modo bastante diferente...
Com a publicação de O livro
dos médiuns, de Allan Kardec, em 1861, as potencialidades
mediúnicas passaram a ser vistas como capacidades humanas naturais, que existem
dentro e fora do contexto ritual ou religioso, e que independem de crença
religiosa ou filosófica para produzir fenômenos.
Essa naturalidade, no entanto, não padroniza e nem deve levar a entender
que a existência da mediunidade em todos os seres humanos significa que ela é
igual em todos os seres humanos. Logo, cabe a cada médium entender e aprender a
conviver com a sua própria mediunidade.
Desenvolvimento mediúnico natural
O livro dos médiuns contém
instruções muito claras para quem deseja bem entender e exercitar a
mediunidade. Uma das suas importantes contribuições à compreensão do tema é
considerá-la como uma faculdade natural, que deriva de leis presentes na
Natureza e que, portanto, não está limitada a certas crenças ou, mesmo, a
práticas que visem “concedê-la”, “desenvolvê-la” ou “manifestá-la”.
A rigor, mediunidade é um tipo de sensibilidade que necessita de observação
e análise, para ser compreendida e melhor vivenciada, visto
ter caracteres distintos de um indivíduo para outro. Aquilo que um médium
percebe, o modo como é registrado, física e/ou intelectualmente, o modo como é
interpretado e manifestado para outras pessoas está relacionado a características
individuais.
Um estudo que oferece um panorama
geral da “variedade infinita de matizes” assumidos pela mediunidade está
no
capítulo XVI da obra citada, “Dos médiuns especiais”. (Destaca-se o
termo “infinita”, escolhido por Kardec.)
Lá encontramos médiuns para
diferentes efeitos físicos e intelectuais; psicógrafos que diferem quanto ao
modo como executam a psicografia; médiuns que se distinguem quanto ao nível de
desenvolvimento da faculdade; médiuns que recebem mais facilmente comunicações
em prosa ou poesia, com maior clareza ou obscuridade nos conceitos
transmitidos; que abordam melhor temas filosóficos ou históricos ou, então,
temas triviais, incluindo os obscenos; médiuns que são mais lentos ou mais
velozes na recepção das comunicações; médiuns que se distinguem por suas
qualidades morais, sendo presunçosos, suscetíveis, invejosos, de má-fé, ou
então, humildes, devotados, sérios...
Observam-se diferenças também na
intensidade dos efeitos que cada médium obtém. E além do mais, dificilmente um
médium apresenta um só gênero de faculdade, existindo combinações numerosas
possíveis, entre vários tipos mediúnicos, reunidos numa só pessoa.
Em vista disso, O livro dos
médiuns não teria como ser um manual de instruções, nem de fórmulas,
nem de receitas. Porque mediunidade não se manifesta
sempre igual. E, pelo mesmo motivo, quem procura
criar fórmulas e receitas para lidar com a mediunidade revela seu
desconhecimento sobre a qualidade peculiar da faculdade mediúnica de cada um.
Por meio do estudo e do conhecimento,
adquirido em boas leituras, no convívio com outros médiuns e no próprio
exercício mediúnico, e pela própria auto-observação, cada qual vai
compreendendo que é responsável pelos seus relacionamentos com os espíritos,
pelos seus estados mentais e emocionais serem mais um menos influenciados, e,
também, pelas comunicações que transmite.
Com a experiência, pode aprender a
distinguir seus pensamentos e emoções daqueles que provêm da ligação com os
espíritos, o que lhe trará um acréscimo em autoconhecimento. Se bem
aproveitar a oportunidade, encontrará também na mediunidade uma condição que
contribui para a sua própria evolução espiritual.
Rita Foelker
http://cienciadoinvisivel.blogspot.com/2014/03/mediunidade-nao-tem-manual-de-instrucoes_27.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por sua mensagem. Será publicada após aprovação.