quinta-feira, 23 de maio de 2019

PARÁBOLAS DOS TALENTOS E DAS MINAS




“Porque isto é também como um homem que, partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens: a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um; a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu viagem. O que recebera cinco talentos, foi imediatamente negociar com eles e ganhou outros cinco; do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhes outros cinco, dizendo: Senhor entregaste-me cinco talentos: aqui estão outros dois que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito. Bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor. Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: Senhor entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, já que foste no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor. E chegou por fim o que havia recebido um só talento, dizendo: Senhor, eu sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não joeiraste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. Porém o seu senhor respondeu: Sorvo mau e preguiçoso sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho onde não joeirei? Devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido o que é meu com juros! Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus XXV 14-30).



“Ouvindo eles isto prosseguiu Jesus e propôs uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém e pensaram eles que o Reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente. Disse, pois: Certo homem ilustre foi para um pais longínquo, a fim de obter para si o governo e voltar. Chamou dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até eu voltar. Mas os seus concidadãos o odiavam, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este homem nos governe. Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do governo, mandou chamar os servos, a quem dera o dinheiro, a fim de saber como cada um havia negociado. Apresentou-se o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez. Respondeu-lhe o Senhor: Muito bem servo bom, porque foste fiel no mínimo, terás autoridade sobre dez cidades. Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. A este respondeu: Sê tu também sobre cinco cidades. E veio outro dizendo: Senhor, eis a tua mina que tive guardado em um lenço; pois eu tinha medo de ti, porque és homem severo, tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. Respondeu-lhe: Servo mau, pela tua boca te julgarei. Saibas que sou homem severo, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; por que, pois não puseste meu dinheiro no banco? E então na minha vinda o teria exigido com juros. E disse aos que estavam presentes> Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez. Responderam-lhe. Senhor, este já tem as dez. Declaro-vos que a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas o que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiserem que eu os governasse, trazei-os aqui e matai-os diante de mim.” (Lucas XIX 11-27).

A Parábola dos Talentos tem a mesma significação que as das Minas. Aquela narrada por Mateus, e esta por Lucas, exprimem perfeitamente os deveres que nos assistem material, moral e espiritualmente.

Todos somos filhos de Deus; o Pai das Almas reparte com todos igualmente os seus dons; a uns dá mais, a outros dá menos, sempre de acordo com a capacidade da cada um. A uns dá dinheiro, a outros sabedoria, a outros dons espirituais, e, finalmente, a outros concede todas essas dádivas reunidas.
De modo que um tem cinco talentos, outro dois, outro um; ou então um tem dez minas, outro cinco, outro duas.

Não há privilégios nem exclusões para o Senhor, e se cada qual, cônscio do que possui e compenetrado de seus deveres agisse de acordo com os preceitos da Lei Divina, estamos certos de que ninguém teria razão de queixar-se da sorte ou de clamar contra a “má situação” em que a maioria se diz achar.

Não existe um só indivíduo no mundo que não seja depositário de um talento ou de duas minas. Ainda mesmo aqueles que se julgam miseráveis e mendigam a caridade pública, se perscrutarem as sua aptidões, o que trazem oculto nos recônditos de sua alma, verão que não são tão desgraçados como se julgam.

Todos, todos trazem a este mundo talentos e minas para garantir não só estado presente, como sua situação futura, porque o mundo não é mais que uma estância onde viermos fazer aquisições, provisões para construir e abastecermos a nossa moradia futura.

Olhai o mendigo que passa andrajoso e sujo, procurai detê-lo por momentos, inquiri da sua vida, instigai-o o falar, pesquisai suas qualidades e seus defeitos, penetrai no recesso de seu coração e de seu cérebro; estudai-o física, moral e espiritualmente, fazei a sua psicologia, e tereis ocasião de ver nessa figura esquálida, monótona e por vezes repelente, qualidades superiores às de muitos homens que se ufanam nas praças, assim como vereis nele dons adormecidos, semelhantes às minas escondidas na terra ou ao talento atado a um lenço!

E se assim acontece com o mendigo, o miserável, o andrajoso, com maior soma de razões a parábola tem aplicação aos grandes, aos poderosos, aos doutos, aos sacerdotes que justamente por se intitularem guias dos povos, são merecedores de maior soma de “açoites”.

Na época em que o Senhor das Minas e dos Talentos veio exigir dos sevos a primeira prestação de contas, só foram considerados servos maus os que haviam recebido o mínimo de minas e de talentos, pois os que os haviam recebido em maior número prestaram boas contas. Mas se o Senhor viesse agora a nos pedir conta da nova emissão de dólares, minas, talentos que espalhou pelo mundo, é certo que aconteceria justamente o contrário, porque não vemos o trabalho nem o “negócio” dos que receberam dois, cinco, dez minas e talentos!

Ainda mais, está a parecer-nos que o próprio capital, que pelos servos maus de outrora foi restituído do lenço ou desenterrado, nem este apareceria, pois a época é de “bancarrota" e de “falência fraudulenta”.

De fato, há dois mil anos o Supremo Senhor enviou ao mundo seu filho dileto e representante, cuja doutrina sábia, consoladora e ungida de amor é a única capaz de salvar a Humanidade, e o que observamos por toda parte?

Na esfera religiosa, como na esfera científica o dolo, a má fé, a deturpação da Verdade!

 O brado das guerras de 1914 a 1939, com as suas consequências, levou a orfandade aos lares, cidades foram devastadas e a imortalidade assentou sua cátedra em toda a parte, banindo das almas os princípios de fraternidade que o Cristo nos legou.

E onde estão os subsídios e os subsidiados; os sevos, os talentos e as minas legados no Evangelho às gerações?

Esses servos indolentes, cheios de preconceitos e temores humanos, por haverem ocultado os substanciosos ditames que lhes foram doados, para com esse “capital” ganharem meios de se elevarem, passarão pro penosa existência de expiação e de trevas até que, mais humildes, mais submissos à vontade divina, recebam novo talento, com o qual possam começar a preparar o seu bem-estar futuro.

E que diremos dos tartufos, dos mercenários, dos trapaceiros, dos ladravazes que unidos um coro impediam e impedem o domínio da Lei de Deus, trancando os Céus, não entrando e ainda impedindo a entrada aos que desejam conhece-lo? Que diremos dos que, semeando o ódio e a dissensão ao alarido de sinos, de foguetes e de fanfarra, fazem doutrina pessoal, substituindo o Criador pela criatura, e disseminam a “fé dos concílios” em vez da fé nos Preceitos do Cristo?! Que diremos dos submissos, dos subservientes que, tendo ideias espíritas e estando convencidos de que o Espiritismo é a única doutrina capaz de nos iniciar no Caminho da Perfeição, ou por medo dos “maiorais” ou por medo do ridículo, negam a sua fé, traem a sua consciência, escondem os seus sentimentos?!
Não terá o Senhor direito de ordenar aos servos; conservai mortos esses suicidas, que se aniquilaram a si próprios, deixai-os no túmulo da descrença que eles próprios cavaram?!

***

Todos somos filhos de Deus: o Pai reparte igualmente suas dádivas entre todos os seus filhos; faz levantar o Sol para bons e maus e descer as chuvas para justos e injustos; mas exige que essas dádivas sejam acrescentadas por todos. Os que obedecem a Seus preceitos têm o mérito de suas obras; os que desobedecem, o demérito, e são responsáveis pela falta de observância de seus sagrados deveres.
O dinheiro não nos foi dado para volúpias nem a sabedoria para estufar; assim com os dons espirituais não nos foram concedidos senão para serem proveitosos à Fé, à Esperança e à Caridade.
Mais servos houvesse e mais subsídios lhes fossem concedidos, ainda não bastariam para mal empregarem o seu tempo, esbanjando a fortuna que lhes fora concedida, a eles, meros depositários, e da qual terão de prestar severas contas.

Tratando, pois, de dons-talentos materiais e morais e de servos dotados com este gênero de subsídio, não é preciso estendermo-nos em maiores considerações. O livro do mundo está aberto e todos podem nele ler o que se passa.

Encaremos agora as parábolas sob o ponto de vista espírita.

Elas dirigem-se justamente àqueles que tiveram a felicidade de receber os talentos e as minas dos conhecimentos espíritas!

Ora, é muito sabido que estes conhecimentos quando, bem entendidos e bem aplicados, são uma fonte perene de felicidade, e, ao contrário, quando mal entendidos e mal aplicados, são como que setas de remorsos cravadas nas consciências desviadas do bem e da verdade.

Aqueles que recebem a Doutrina e ainda os dons espirituais, e os aplicam em proveito próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a Palavra de Deus, são os que receberam 2 e 5 talentos, 5 e 10 minas; à última hora do trabalho, quando chamados ao ajuste de contas lhes será dito: “Servo bom, porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades, sobre cinco cidades, de acordo, cada um, com os talentos e as minas que recebeu.”.

Aqueles que recebem a Doutrina e os dons espirituais e não os observam, ou os aplicam mal, prejudicando a Causa que deviam zelar, são semelhantes aos que enterraram o talento e as minas.
A estes dirá o Senhor; “Dizieis que o Senhor é exigente e cioso, e, em vez de, ao menos, pordes o talento ou as minas a render juros num banco, os encondestes ou os esbanjaste, pois pela vossa boca eu vos julgarei; entregai imediatamente as minas e o talento aos que têm dez e cinco, porque a todo o que tem dar-se-lhe-á e terá em abundância, e, ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado”.

Caibar Schutel – Livro Parábolas e Ensinos de Jesus


PARÁBOLA DA CANDEIA


“Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um raso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.” (Lucas VIII 16-18).



“E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir ouça. Também lhe disse: Atenta! No que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco; e ainda se vós acrescentará. Pois ao que usais, dessa usarão convosco; e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que pensa ter, ser-lhe=á tirado.” (Marcos, IV 21-25).


A Luz é indispensável à vida material e à vida espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera psíquica. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará, incontinente, de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da Religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo, ficará estatelado. debatendo-se em trevas.
Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e coloca-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma verdade nova e ocultá-los aos nossos semelhantes.
Acresce ainda que não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque “não há coisa oculta que não venha a ser manifesta”. Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre e claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o médio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!

A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos as vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade.
“Uma árvore má não pode dar bons frutos”. E o combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade, pela pureza da luz que dá.

A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.

Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra. Dar a necessidade do velador.

No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava todos os que receberam a Luz da sua Doutrina precisam mostra-la, não a esconderem sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia. Quer seja fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo do acetileno ou da eletricidade, o mandamento é: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.”.
“Ter luz e não fazê-la iluminar, é coloca-la sob o módio; é o mesmo que não a ter; e aquele que não tem, mais lhe será dado”, isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz. Uma vela acendendo cem velas, aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da “medida” que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava, não podemos contar com um  quilo em restituição, e, se nada damos o que havemos de receber?

A luz não pode permanecer sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora, matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a Palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.

Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor. Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem ao mesmo tempo em que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do Meigo Rabino, valendo-se para isso do espírito que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e sacia.

Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva, para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem posados pelos homens.

A candeia sob o modo não ilumina; o sal insípido não salga, não conserva, nem, dá sabor.

Caibar Schutel – Livro Parábolas e Ensinos de Jesus.

MARIA DE MAGDALA - Edgard Armond


Nessa altura do ágape, verificou-se um tumulto à porta da casa onde se aglomerava o povo e onde também estavam, juntos, os discípulos, que não tiveram autorização para entrar na saldo do banquete; e, logo em seguida, afastando os criados que tentavam detê-la, penetrou no recinto uma mulher jovem e bela, vestida de panos de cores diferentes e olhando em torno, com evidente desprezo para os demais convidados, localizou Jesus, que se achava um tanto afastado dos outros e, reconhecendo-o, atirou-se a seus pés, chorando.

Foi logo por todos identificada como sendo Maria natural de Magdala, cidade situada ao sul de Cafarnaum, à beira do Lago, onde possuía uma casa grande e rica. Era naquela ocasião a hetaira mais famosa e influente de toda a Palestina e contavam-se às centenas seus admiradores de classe alta, inclusiva filhos dos príncipes dos sacerdotes em Jerusalém.

Vendo ele que os pés de Jesus estavam sujos de pó e detritos dos caminhos, sem terem sido lavados, compreendeu logo o que se passava e, abrindo um frasco de óleo perfumado, que trazia pendurado ao pescoço por fina corrente de ouro (o que era hábito entre as mulheres ricas) derramou o perfume nos pés do rabi e, em seguida, limpou-os com seus bastos e perfumados cabelos arruivados.

Enquanto isso, os convivas, irônicos, sussurravam entre si, dizendo:

- Ele se diz profeta e, no entanto não sabe que está sendo homenageado por uma prostituta...

- Além disso, acrescentava outro, sendo rabi, porventura ignora que tal aproximação profana é vedada pela Lei?

Mas Jesus, virando-se para Simão, que observava a cena em silencia, propôs-lhe o seguinte caso:

- Um homem tinha dois devedores de quantias diferentes e a ambos perdoou. Qual dos dois lhe deveria ser mais grato?

- Naturalmente o que devia maior quantia, respondeu Simão.

- Certamente, conveio Jesus. Agora, então, pondera comigo:

Tu me convidaste e esta ceia, com o propósito oculto de verificar a minha conduta e as minhas palavras, e convidaste amigos teus para testemunhos do que fosse dito ou feito, comprometendo-me. Mesmo assim aceitei teu convite; vim à tua casa e tu não me mandaste dar água para lavar as mãos e os pés, como é costume e como fizeste com os demais convidados. Com isto, obrigaste-me a partir o pão sem lavar as mãos, como também é de praxe, e nada reclamei. E vem agora esta mulher e me lava os pés com suas lágrimas, unge-os com perfume, enxuga-os com seus cabelos. Apesar de sabê-la pecadora, aceitei também a sua homenagem. Ambos são, pois devedores e ambos, como vês perdoei. Qual dos dois, pois, demonstrou maior gratidão?

A decepção do rabi fariseu foi tamanha que ficou mudo, o mesmo sucedendo a todos os demais, enquanto Jesus, dirigindo-se à pecadora, disse-lhe: “Levanta-te, filha, teus pecados te são perdoados. Vai em paz”.

E em seguida retirou-se da casa de Simão, indo hospedar-se na casa do publicano Jochanan, amigo de Levi, onde foi acompanhado pela multidão que estava na rua e que, levantando lanternas nas mãos, manifestava sua alegria dizendo: “teu lugar, rabi, não é entre os teus inimigos, mas entre o povo que te ama e de ti espera a salvação e socorro para suas necessidades”.

Edgard Armond - Livro O Redentor - cap Maria de Magdala

PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO




“Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que deviam orar sempre e nunca desanimar, dizendo: Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus, nem respeitava os homens. Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha constantemente ter com ele, dizendo: Defende-me do meu adversário. Ele por algum tempo não queria atender; mas depois disse consigo: se bem que eu não tema: a Deus, nem respeite os homens, todavia como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a molestar-me com as suas visitas. Ouvi, acrescentou o Senhor, o que disse este juiz injusto; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele chamam dia e noite, embora seja demorado a defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?” (Lucas XVIII, 1-8).

Significado de Iníquo

adjetivo Que é injusto; que se opõe à equidade, ao que é justo.Que revela perversidade; característica de quem é malévolo; mau.Etimologia (origem da palavra iníquo). Do latim iniquus.a.um, "contrário a equidade".



A iniquidade é a falta de equidade, é a justiça revoltante. O iníquo é o homem perverso, criminoso, seja ele juiz, doutor, nobre, rico, pobre, rei.

Na esfera moral, mesmo aqui na Terra, não se distinguem os homens pelo dinheiro e pelos títulos que possuem, mas, sim, pelo seu caráter. O iniquo não tem caráter, ou, por outra, tem caráter iníquo, pervertido. Mas ainda esse, quando tem de resolver alguma questão e o solicitante resolve bater à sua porta até que dê provimento ao seu pedido, para não ser incomodado, e porque é iniquo, resolve, com presteza, o problema, não para servir, mas par ficar livre de continuar molestado.

Foi o que sucedeu com o juiz iníquo ante a insistência da viúva.

De modo que a demora do despacho na petição da viúva foi causada pela iniquidade do juiz. Se este fosse equitativo, justo, reto, de bom caráter, cumpridor de seus deveres, a viúva teria recebido deferimento do seu pedido com muito maior antecedência.

Seja como for, o despacho foi dado, embora a custo, após reiteradas solicitações, importunações cotidianas, e o juiz apesar de iniquo, para não ser “amolado”, resolveu a questão.
“Ora, disse Jesus, ouvi o que disse esse juiz iniquo; e não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele chamam noite e dia, embora seja demorado em defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça.”

Se a justiça, embora demorada, se faz na Terra até contra a vontade dos juízes, como não há de ser ela feita pelo Supremo e Justo Juiz do Céu?

A deficiência não é, pois de Deus, mas sim dos homens, mormente na época que atravessamos em que o Filho do Homem bate a todas as portas, inquire todos os corações e os encontra vazios de fé, vazios de crença, vazios de amor a Deus, vazios de caridade!

Antigamente havia juízes iníquos; hoje. Pode-se dizer que nem só os juízes, mas até os peticionários são iníquos!

A iniquidade lavra como um incêndio devorador, aniquilando as consciências e maculando os corações; homens iníquos, lares iníquos, sociedades iníquas, governos iníquos, leigos iníquos, sábios iníquos; tudo isso devido à crença sacerdotal, aos dogmas das seitas dominantes! Mas o Senhor aí está a destruir a iniquidade, e, com ela, os iníquos.

Caibar Schutel - Livro Parábolas e Ensinos de Jesus



A Parábola do Juiz Iníquo (também conhecida como a Parábola da Viúva Inoportuna) é uma das bem conhecidas parábolas de Jesus, apesar de aparecer em apenas um dos evangelhos canônicos.