“É que precisamos contentar-nos com o que temos; estamos ricos, sem saber aproveitar a nossa felicidade...
No dia 18 de abril do ano passado, comemoramos 124 anos de “O
Livro dos Espíritos”. Ali, à sombra do abacateiro, em conversa amiga com vários
confrades de outras cidades, aguardávamos a presença de Chico Xavier. Como
sempre acontece, muitas caravanas estavam presentes. Alguém tocava a inspirada
melodia do poema “Alma gêmea”, que Emmanuel fizera para Lívia...
O ambiente era de muita paz.
O “Lar da Caridade”, ex-Hospital do Pênfigo de Uberaba,
enviara uma camionete carregada de sacos de macarrão para repartir com “os
pobres mais pobres”. Maravilhoso exemplo!
Uma Instituição que ampara perto de 500 pessoas, que luta com
dificuldade, preocupando-se também com os que nem sequer têm onde morar,
ajudando outros grupos.
Em meio a esse clima de amor, Chico chega e é recebido com
palmas, que agradece desconcertado.
Com voz pausada, ele lê o texto da mensagem evangélica da
tarde:
Cap. V – “Bem aventurados os aflitos”, Bem e Mal Sofrer.
Vários companheiros são convidados pelo Sr. Weaker a tecer
comentários sobre o assunto e, enquanto tal ocorre, percebo que Chico dialoga
baixinho com os Espíritos; eu o vejo movimentando os lábios, como que a
monologar.
Perto de mim, ouço uma senhora dizendo. “Eu gostaria de
chegar mais perto dele, mas de que jeito?“
Do outro lado uma criança, sustentada no colo por sua mãe,
oferta ao Chico um ramalhete de flores silvestres; ele sorri e agradece; depois,
discretamente, guarda as flores o bolso de dentro do paletó, perto do
coração...
Quantos, ali, não daríamos tudo por cinco minutos mais
intimamente com ele?!
Parece que, percebendo o anseio de cada um, Chico pede para
falar por alguns minutos:
“Eu gostaria de oferecer-lhes, pessoalmente, mais tempo, Às
vezes, a gente comete a falta da ingratidão sem desejar. (...) Tenho procurado
cumprir com os meus deveres para com os Espíritos Amigos e para com os
espíritas amigos.”
E ele falo do seu estado de saúde atual, do tempo reduzido
que ainda lhe resta no corpo:
- Eu me contento com a alegria de vê-los a todos; gostaria
de me sentar com cada um para conversar sobre as nossas tarefas.
E pede perdão por estar doente!...
Emmanuel, presente ao culto, pede agora, ao Chico, que fale
um pouco sobre o tema do Evangelho:
À medida que a Providência Divina determina melhoras para nós na Terra, inventamos aflições. (...) Para cultivar o solo temos o auxílio do trator, antes só possuíamos carros-de-bois... Hoje, temos veículos, motorizados encurtando distâncias, mas não nos contentamos com os 80 km/h: antes, andava-se a pé... Hoje, a geladeira conserva quase tudo; antes, plantava-se canteiros...”
Fala do conforto em que o homem vive e de seu comodismo espiritual:
“É que precisamos contentar-nos com o que temos; estamos ricos, sem saber aproveitar a nossa felicidade... Antes, as pessoas idosas desencarnavam conosco, hoje as mandamos para os abrigos... Tínhamos um pouco de prosa durante o dia, a oração à noite... Agora inventamos dificuldades e depois vem o complexo de culpa e vamos para os psiquiatras. (...) Se estamos numa fila e uma senhora doente nos pede o lugar, precisamos cedê-lo. Recordemo-nos da prece padrão para todos os tempos que é Pai Nosso, quando Jesus nos diz: O pão nosso de cada dia... Por que acumular tanto? Existem pessoas que possuem 35 pares de sapatos onde é que irão arrumar 70 pés?! (...) Estamos sofrendo mais por excesso de conforto do que por excesso de desconforto. Morre muito mais gente de tanto comer e de tanto beber, do que por falta de comida,-(...) A inflação existe, porque queremos o que é demais...”
E conclui: “Esta é a opinião dos Espíritos. Perdoem-me se eu
falei mal, mas se eu falei mal, falei foi de mim.”.
Extraído do livro Chico À Sombra do Abacateiro – Carlos A.
Bacelli.
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