“Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.” (Mt, 5: 41)
A compreensão é um estado da alma. Aquele que compreende está sempre disposto a ceder e esperar.
Quando Jesus no recomenda uma caminhada mais longa com quem
nos obriga a acompanha-lo durante certo trecho de caminho, o Mestre faz um
apelo à nossa capacidade de compreensão.
Se fôssemos ofertar às pessoas somente o que elas próprias
nos ofertassem, não sairíamos do lugar em matéria de entendimento.
Alguém deve tomar a iniciativa de renunciar em benefício da
paz.
Dentro do lar, diariamente somos chamados a longas caminhadas na estrada do perdão.
No relacionamento com o próximo, carecemos de andar muitas léguas por dia, no que diz respeito à solidariedade fraternal.
Nas tarefas profissionais que abraçamos, torna-se imprescindível a perseverança diuturna, se logramos alcançar o êxito almejado.
No combate às imperfeições que trajemos no íntimo do ser, não podemos esmorecer logo nos primeiros passos da marcha redentora.
Na seara do bem, a vida nos pede que percorramos exaustivas trilhas, aprendendo a contornar obstáculos.
Quem mais caminha mais oportunidades encontra.
Muita gente desiste de seguir adiante quando estava prestes a concluir a jornada.
Há quem desista da compreensão no exato momento de colher os frutos de tal semeadura.
Aconselhando-nos uma caminhada além das expectativas de quem a ela nos obrigasse Jesus, uma vez mais, revela-se profundo conhecedor da alma humana...
É que doando aos outros o que os outros não esperam de nós,
estimulamo-os à reflexão sobre nosso gesto de maior despendimento.
Daremos a eles uma prova de nossa capacidade de ir além das
exigências, porque a segunda milha é aquele trecho da jornada em que as
mudanças que esperamos operar, nos outros podem acontecer.
A primeira milha é a do dever, da obrigação, já que todos os
que vivemos em sociedade somos exortados ao mínimo de esforço pela convivência
pacífica.
A segunda milha é a que Jesus aguarda que percorramos ao lado
dos companheiros intolerantes e arbitrários, exigentes e orgulhosos, pois é
justamente nela que os nossos exemplos começam a falar mais alto, tocando-lhe a
alma.
Portanto, não reclamemos de cansaço.
Com Jesus, que ainda agora prossegue conosco na expectativa
de que mudemos, caminhemos com os amigos de nossa estrada quanta milhas forem
necessárias, se efetivamente desejamos vê-los transformados.
Por modo de carregar a cruz, antes mesmo de alcançar o topo
do calvário, Jesus já havia modificado dezenas de pessoas que lhe acompanhavam o
martírio silencioso e, ainda hoje, aquela segunda milha percorrida pelo Cristo
permanece como um apelo eloquente à consciência de toda a Humanidade.
Alkindar de Oliveira O espírita do Século XXI
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