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segunda-feira, 10 de abril de 2017
Desigualdade das Riquezas - SERVIR A DEUS E A MAMON - LEIS DE IGUALDADE
A desigualdade das riquezas é um dos problemas que em vão se procuram
resolver, quando se considera apenas a vida atual. A primeira questão
que se apresenta é a seguinte. Por que todos os homens não são
igualmente ricos? Por uma razão muito simples: é que não são igualmente
inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e
previdentes para conservar. Aliás, é uma questão matematicamente
demonstrada que, supondo-se feita essa repartição, o equilíbrio seria
rompido em pouco tempo, em virtude da diversidade de caracteres e
aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente o
necessário para viver, isso equivaleria ao aniquilamento de todos os
grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da
humanidade; que, portanto, supondo-se que ela desse a cada um o
necessário, desapareceria o estímulo que impulsiona as grandes
descobertas e os empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em alguns
lugares, é para que dos mesmos ela se expanda, em quantidades
suficientes, segundo as necessidades. Admitindo-se isto, pergunta-se
por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o
bem de todos. Essa é ainda uma prova da sabedoria e da bondade de Deus.
Ao dar ao homem o livre arbítrio, quis que ele chegasse, pela sua
própria experiência, a discernir o bem e o mal, de maneira que a prática
do bem fosse o resultado dos seus esforços, da sua própria vontade. Ele
não deve ser fatalmente levado a um nem ao outro, pois então seria um
instrumento passivo e irresponsável como os animais. A fortuna é um meio
de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um poderoso meio de
ação para o progresso, Deus não quer que permaneça improdutiva, e é por
isso que incessantemente a transfere. Cada qual deve possuí-la, para
exercitar-se no seu uso e provar a maneira por que o sabe fazer. Como há
a impossibilidade material de que todos a possuam ao mesmo tempo, e
como, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, e o melhoramento do
globo sofreria com isso: cada qual a possui por sua vez. Dessa maneira, o
que hoje não a tem, já a teve no passado ou a terá no futuro, numa
outra existência, e o que hoje a possui poderá não tê-la mais amanhã. Há
ricos e pobres porque, Deus sendo justo, cada qual deve trabalhar por
sua vez. A pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a
riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação. Lamenta-se,
com razão, o triste uso que algumas pessoas fazem da sua fortuna, as
ignóbeis paixões que a cobiça desperta, e pergunta-se se Deus é justo,
ao dar a riqueza a tais pessoas. É claro que, se o homem só tivesse uma
existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens terrenos;
mas, se em lugar de limitar sua vida ao presente, considerar-se o
conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. O
pobre não tem, portanto, motivo para acusar a Providência, nem para
invejar os ricos, e estes não o têm para se vangloriarem do que possuem.
Se, por outro lado, estes abusam da fortuna, não será através de
decretos, nem de leis suntuárias, que se poderá remediar o mal. As leis
podem modificar momentaneamente o exterior, mas não podem modificar o
coração: eis porque têm um efeito temporário e provocam sempre uma
reação mais desenfreada. A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho. Os
abusos de toda espécie cessarão por si mesmos, quando os homens se
dirigem pela lei da caridade.
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