Correspondências inéditas de Laváter
- PREÂMBULO
No castelo grão-ducal de Pawlowsk, situado a vinte e quatro
milhas de Petersburgo, onde o Imperador Paulo da Rússia passou os anos mais
felizes da sua vida e que se tornou depois a residência favorita da Imperatriz
Maria, sua augusta viúva, verdadeira benfeitora da Humanidade que sofre,
acha-se uma seleta biblioteca, fundada por esses imperantes, na qual, entre
muitos tesouros científicos e literários, encontra-se também um maço de cartas
autógrafas de Laváter, que ficaram desconhecidas dos biógrafos do célebre
fisiognomista.
Essas cartas são datadas de 1798 e procedentes de Zurique,
Dezesseis anos antes, em Zurique e em Schaffhouse, Laváter teve ocasião de ser
apresentado ao Conde e à Condessa do Norte (é este o título sob o qual o
Grão-Duque da Rússia e sua esposa viajavam então pela Europa), e, de 1796 a
1800, ele dirigiu à Imperatriz Maria algumas cartas sobre os traços
fisionômicos, e bem assim algumas outras sobre o futuro reservado à alma depois
da morte.
Nessas cartas Laváter estabelece que a alma, depois de
deixar o corpo, pode inspirar ideias a qualquer pessoa que esteja apta para
receber-lhe a luz, e assim fazer-se comunicar por escrito a algum amigo que
houvesse deixado na Terra, a fim de lhe dar suas instruções.
Essas cartas inéditas de Laváter foram descobertas após uma
revisão que o Dr. Minzloff, diretor da biblioteca imperial de Petersburgo, ali
fez. Com a autorização do proprietário atual do castelo de Pawlowsk, sua alteza
imperial o Grão-Duque Constantino, e sob os auspícios do Barão de Korff,
atualmente conselheiro do império e antigo diretor-chefe da biblioteca desse
castelo, que lhe deve os seus mais notáveis melhoramentos, essas cartas foram
em 1858 publicadas em Petersburgo, sob o titulo: Johann-Kaspar Lavater’s briefe,
na die kaisvon Russland (carta de João Gaspar Laváter à Imperatriz Maria
Féodorawna germahlin kaisser Paul I Von Russland (cartas de João Gaspar Laváter
à Imperatriz Maria Féodorawna, esposa do Imperador Paulo I da Rússia)). Essa
obra foi editada à custa da biblioteca imperial e oferecida em homenagem à
Universidade de Iena, por ocasião do terceiro centenário da sua fundação.
A correspondência oferece um duplo interesse, por causa da
alta posição das personagens às quais foi dirigida, e pela especialidade do
assunto. As ideias expressas por Laváter sobre o estado da alma depois da morte
aproximam-se muito das que foram emitidas pelo teósofos do seu tempo, seita
essa que era abraçada por grande número de homens esclarecidos; sua
concordância com a doutrina espírita moderna é um fato digno de nota.
Essas cartas provam que a crença nas relações entre o mundo
material e o mundo espiritual germinava na Europa desde o fim do século XVIII,
e que não somente esse célebre filósofo alemão estava convencido dessas
relações, mas também (os próprios temos da sua correspondência não permitem
duvidar) que tais ideias fossem partilhadas pelo imperador e pela imperatriz,
pois, expondo-as, Laváter não fazia mais do que atender ao desejo que eles
haviam manifestado.
Seja qual for à opinião que se forme sobre essa
correspondência, ela não deixa de ser muito interessante, mesmo somente do
ponto de vista histórico.
As cartas vão simultaneamente acompanhadas de notas,
inseridas por nós como explicação complementar às ideias nelas emitidas, e que,
aliás, estão em concordância com a doutrina espírita, que apareceu ou foi
compilada muito depois dessa época.
Extraído do Livro LÉON DENIS – PORQUÊ DA VIDA – pag. 55
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