– CAP. 17 –
-Nos Domínios da Mediunidade
– André
Luiz –
psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Atravessamos
a porta e fomos defrontados por ambiente balsâmico e luminoso.
Um
cavalheiro maduro e uma senhora respeitável recolhiam apontamentos em pequeno
livro de notas, ladeados por entidades evidentemente vinculadas aos serviços de
cura.
Indicando
os dois médiuns, o Assistente informou:
-
São os nossos irmãos Clara e Henrique, em tarefa de assistência, orientados
pelos amigos que os dirigem.
-
Como compreender a atmosfera radiante em que nos banhamos? – aventurou Hilário,
curioso.
-
Nesta sala – explicou Áulus, amigavelmente – se reúnem sublimadas emanações mentais
da maioria de quantos se valem do socorro magnético, tomados de amor e
confiança. Aqui possuímos uma espécie de altar interior, formado pelos
pensamentos, preces e aspirações de quantos nos procuram trazendo o melhor de
si mesmos.
Clara
e Henrique, agora em prece, nimbavam-se de luz.
Dir-se-ia
estavam quase desligados do corpo denso, porque se mostravam espiritualmente
mais livres, em pleno contato com os benfeitores presentes, embora por si
mesmos não no pudessem avaliar.
Calmos
e seguros pareciam haurir forças revigorantes na intimidade de suas almas.
Guardavam a ideia de que a oração lhes mantinha o espírito em comunicação com
invisível e profundo manancial de energia silenciosa.
Antes
a porta ainda cerrada, acotovelavam-se pessoas aflitas e bulhentas, esperando o
término da preparação a que se confiavam.
Os
dois médiuns, porém, afiguravam-se nos espiritualmente distantes.
Absortos,
em companhia das entidades irmãs, registravam lhes as instruções, através dos
recursos intuitivos.
Pelas
irradiações da personalidade magnética de Henrique, reconhecia-se lhe, de imediato,
a superioridade sobre a companheira. Era ele dentre os dois o ponto dominante.
Por
isso, decerto, ao seu lado se achava o orientador espiritual mais categorizado
para a tarefa.
Áulus
abraçou-o e pô-lo apresentou gentil.
O
irmão Conrado, nosso novo amigo, enlaçou-nos acolhedor.
Anunciou
que o serviço estaria à nossa disposição para os apontamentos que desejássemos.
E
o nosso instrutor, colocando-nos à vontade, autorizou-nos dirigir a Conrado
qualquer indagação que nos ocorresse.
Hilário,
que nunca sopitava a própria espontaneidade começou como de hábito, a
inquirição, perguntando respeitosamente:
-
O amigo permanece frequentemente aqui?
-
Sim, tomamos sob nossa responsabilidade os serviços assistenciais da
instituição, em favor dos doentes, duas noites por semana.
-
Dos enfermos tão-somente encarnados?
-
Não é bem assim. Atendemos aos necessitados de qualquer procedência.
-
Conta com muitos cooperadores?
-
Integramos um quadro de auxiliares, de acordo com a organização estabelecida
pelos mentores de Esfera Superior.
-
Quer dizer que, numa casa com esta, há colaboradores espirituais devidamente
fichados, assim como ocorre a médicos e enfermeiros num hospital comum?
-Perfeitamente.
Tanto entre os homens como entre nós, que ainda nos achamos longe da perfeição
espiritual, o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e
responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos. A Lei não pode
menosprezar as linhas da lógica.
-
E os médiuns? São invariavelmente os mesmos?
-
Sim, contudo, em casos de impedimento justo, podem ser substituídos, embora
nessas circunstâncias se verifiquem inevitavelmente pequenos prejuízos
resultantes de natural desajuste.
Meu
colega passeou o olhar inquieto pelos dois companheiros encarnados, em oração,
e continuou:
-
Preparam-se nossos amigos, à frente do trabalho, com o auxílio da prece?
-
Sem dúvida.
Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso plano as substâncias renovadoras de que repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo. Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.
A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigora corrente mental que atrai.
Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso plano as substâncias renovadoras de que repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo. Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.
-
Isso significa que não precisam recear a sua exautão...
-
De modo algum. Tanto quanto nós, não comparecem aqui com a pretensão de serem
os senhores do benefício, mas sim, na condição de beneficiários que recebem
para dar. A oração, com o reconhecimento de nossa desvalia, coloca-nos na
posição de simples elos de uma cadeia de socorro, cuja orientação reside no
alto. Somos nós aqui, neste recinto consagrado à missão evangélica, sob a
inspiração de Jesus, algo semelhante à singela tomada elétrica, dando passagem
à força que não nos pertence e que servirá na produção de energia e luz.
A
explicação não podia ser mais clara.
E
enquanto Hilário sorria satisfeito, Conrado afagou os ombros de Henrique, como
recordar-lhe o horário estabelecido, e o médium, apesar de não lhe assinalar o
gesto no campo das sensações físicas, obedeceu, de pronto, encaminhando-se para
a porta e descerrando-a aos sofredores.
Pequena
multidão de encarnados e desencarnados aglomerou-se à entrada, todavia,
companheiros da casa controlavam lhes os movimentos.
Conrado
entregou-se ao trabalho que lhe competia e, em razão disso, tornamos à
intimidade do Assistente.
Ambos
os médiuns atacaram a tarefa.
Enfermos
de variadas expressões entravam esperançosos e retiravam-se, depois de
atendidos, com evidentes sinais de reconforto. Das mãos de Clara e Henrique
irradiavam-se luminosas chispas, comunicando-lhes vigor e refazimento.
Na
maioria dos casos, não precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo direto.
Os recursos magnéticos, aplicados à reduzida distância, penetravam assim mesmo o “halo vital” ou aura dos doentes, provocando modificações subitâneas.
Os passistas afiguravam-se nos como duas pilhas humanas deitando raios de espécies múltipla, a lhes fluírem das mãos, depois de lhes percorrerem a cabeça, ao contato do irmão Conrado e de seus colaboradores.
O
quadro era efetivamente fascinador pelos jogos de luz que apresentava.
Hilário
sondou o ambiente e, em seguida, indagou de nosso orientador.
-
Por que motivo à energia transmitida pelos amigos espirituais circula
primeiramente na cabeça dos médiuns?
- Ainda aqui – disse Áulus -, não podemos subestimar a importância da mente. O pensamento influi de maneira decisiva, na doação de princípios curadores. Sem a ideia iluminada pela fé e pela boa-vontade, o médium não conseguiria ligação com os Espíritos amigos que atuam sobre essas bases.
-
Entretanto – ponderei -, há pessoas tão bem dotadas de força magnética
perfeitamente despreocupada do elemento moral! ...
-
Sim – redarguiu o Assistente -, refere-se você aos hipnotizadores comuns,
muitas vez portadores de energia excepcional.
Fazem
belas demonstrações, impressionam, convencem, contudo, movimentam-se na esfera
de puro fenômeno, sem aplicações edificantes no campo da espiritualidade. É imperioso
não esquecer, André, que o potencial magnético é peculiar a todos, com
expressões que se graduam ao infinito.
-
Mas semelhantes profissionais podem igualmente curar! - frisou meu companheiro,
completando-me as observações.
-
Sim, podem curar, mas acidentalmente, quando o enfermo é credor de assistência
espiritual imediata, com a intervenção de amigos que o favorecem. Fora disso,
os que abusam dessa fonte de energia, explorando-a a seu bel-prazer, quase
sempre resvalam para a desmoralização de si mesmos, porque interferindo num
campo de forças que lhes é desconhecido, guiados tão-somente pela vaidade ou
pela ambição inferior, fatalmente encontram entidades que com eles se afinam,
precipitando-se em difíceis situações que não vêm à baila comentar. Se não
possuem um caráter elevado, suscetível de opor um dique à influenciação
viciosa, acabam vampirizados por energias mais acentuadas que as deles,
porquanto, se considerarmos o assunto apenas sob o ponto de vista da força,
somos constrangidos a reconhecer que há imenso número de vigorosos
hipnotizadores espirituais, nas linhas atormentadas da ignorância e da
crueldade, de onde se originam os mais aflitivos processos de obsessão.
E,
sorrindo, acrescentou:
-
Recordemos a Natureza. A serpente é um dos maiores detentores de poder
hipnótico.
-
Então, - disse Hilário -, para curar, serão indispensáveis certas atitudes do
espírito...
-
Indiscutivelmente não prescindimos do coração nobre e da mente pura, no
exercício do amor, da humildade e da fé viva, para que os raios do poder divino
encontrem acesso e passagem por nós, a benefício dos outros. Para a sustentação
de um serviço metódico de cura, isso é indispensável.
-
Entretanto, para o esforço desse tipo precisaremos de pessoas escolhidas, com a
obrigação de efetuarem estudos especiais?
-
Importa ponderar – disse Áulus, convicto – que em qualquer setor de trabalho a
ausência de estudo significa estagnação. Esses ou aqueles cooperadores que
desistam de aprender, incorporando novos conhecimentos, condenam-se fatalmente
às atividades de subnível, todavia, em se tratando do socorro magnético, tal
qual é administrado aqui, convém lembrar que a tarefa é de solidariedade pura,
com ardente desejo de ajuda, sob a invocação da prece. E toda oração, filha da
sinceridade e do dever bem cumprido, com respeitabilidade moral e limpeza de
sentimentos, permanece tocada de incomensurável poder. Analisada a questão
nestes temos, todas as pessoas dignas e fervorosas, com o auxílio da prece,
podem conquistar a simpatia de veneráveis magnetizadores do Plano Espiritual,
que passam, assim, a mobilizá-las na extensão do bem. Não nos achamos à frente
do hipnotismo espetacular, mas sim num gabinete de cura, em que os médiuns
transmitem os benefícios que recolhem, sem a presunção de doá-los de si mesmo.
É importante não esquecer essa verdade para deixarmos bem claro que, onde
surjam à humildade e o amor, o amparo divino é seguro e imediato.
O
ministério da cura, porém, a desdobar-se eficiente e pacífico, reclamava-nos
atenção.
Os
doentes entravam dois a dois, sendo carinhosamente atendido por Clara e
Henrique, sob a providencial assistência de Conrado e seus colaboradores.
Obsidiados
ganhavam ingresso no recinto, acompanhados de frios verdugos, no entanto, com o
toque dos médiuns sobre a região cortical, depressa se desligavam, postando-se,
porém, nas vizinhanças, como que à espera das vítimas, com a maioria das quais
se reacomodavam, de pronto. Alinhando apontamentos, começamos a reparar que
alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.
As
irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.
Registrando
o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.
Por
quê?
-
Falta-lhes o estado de confiança – esclareceu o orientador.
-
Será, então, indispensável à fé para que registrem o socorro de que necessitam?
-
Ah! Sim. Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem,
tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da
luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato
apresente certa “tensão favorável”. Essa tensão decorre da fé. Certo, não nos
reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à
atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis
Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. Sem recolhimento e
respeito na receptividade, não conseguiremos fixar os recursos imponderáveis
que funcionam em nosso favor, porque o escárnio e a dureza de coração podem ser
comparados a espessas camadas do gelo sobre o templo da alma.
A
lição fora simples e bela.
Hilário
calou-se, talvez para refletir sobre ela, em silêncio.
Sem
descurar dos nossos objetivos de estudo, Áulus considerou a conveniência de
nosso contato direto com o serviço em ação. Seria interessante para nós a
auscultação de algum dos casos em foco.
Para
isso, aproximou-se de idosa matrona que acabava de entrar, à cata de auxilio e,
com permissão de Conrado, convidou-nos a examiná-la com cuidado possível.
A
senhora, aguardando o concurso de Clara, sustentava-se dificilmente de pé, com
o ventre volumosos e o semblante dolorido.
-
Observem o fígado!
Utilizamo-nos
dos recursos ao nosso alcance passamos a analisar.
Realmente,
o órgão mencionado demonstrava a dilatação característica das pessoas que
sofrem de insuficiência cardíaca. AS células hepáticas pareceram-me vasta colmeia,
trabalhando sob enorme perturbação. A vesícula congestionada impeliu-me a
imediata inspeção do intestino. A bile comprimida atingira os vasos e assaltava
o sangue. O colédoco interdito facilitava o diagnóstico. Ligeiro exame da conjuntiva
ocular confirmava-me a impressão.
A
icterícia mostrava-se insofismável.
Após
ouvir-me, Conrado reafirmou:
-
Sim, é uma icterícia complicada. Nasceu de terrível acesso de cólera, em que
nossa amiga se envolveu no reduto doméstico. Rendendo-se, desarvorada, à
irritação, adquiriu renitente hepatite, da qual a icterícia é a consequência.
-
E como será socorrida?
Conrado,
impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de
forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o
fígado enfermo.
Notamos
que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios
tenuíssimos, alcançou o campo visceral.
A
senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionómica,
retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao
tratamento.
Hilário
fixou os olhos interrogadores no Assistente que nos acompanhava solícito, e
indagou:
-
Nossa irmã estará curada?
-
Isso é impossível – acentuou Áulus, paternal -; temos aí órgãos e vasos
comprometidos. O tempo não pode ser desprezado na solução.
-
E em que base se articula semelhante processo de curar?
- O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular. Vocês sabem que na própria ciência humana de hoje o átomo não é mais o tijolo indivisível da matéria... Que, antes dele, encontram-se as linhas de forças, aglutinando os princípios subatômicos, e que, antes desses princípios, surge a vida mental determinante... Tudo é espírito no santuário da Natureza. Renovemos o pensamento e tudo se modificará conosco. Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ele ajude a si mesma. A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções. O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebe-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.
- E pode, acaso, ser dispensado à distância?- Sim, desde que haja sintonia entre aquele que o administra e aquele que o recebe. Nesse caso, diversos companheiros espirituais se ajustam no trabalho do auxílio, favorecendo a realização, e a prece silenciosa será o melhor veículo da força curadora.
O
serviço, em torno, prosseguia intenso.
Áulus
considerou que a nossa presença talvez sobrecarregasse as preocupações de
Conrado, e que não seria lícito permanecer junto dele por mais tempo, já que
havíamos recolhido os apontamentos rápidos que nos propúnhamos obter e, à vista
disso, despedimo-nos do supervisor, buscando o salão central para a
continuidade de nossas abençoadas lições.
Cap.
17 - Extraído do livro Nos domínios da Mediunidade – psicografia de Francisco
Cândido Xavier – pelo espírito de André Luiz.
-
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