segunda-feira, 17 de junho de 2019

JESUS E MARIA DE MAGDALA - por Ramatis

PEGUNTA: - Qual foi a natureza da afeição entre Maria Madalena e Jesus?

RAMATIS: - Maria de Magdala, natural de Galiléia, era jovem e muitíssimo formosa, além de famosa cortesã, que acendia o fogo das paixões em muitos homens da mais alta categoria administrativa e social de Jerusalém. Movida por um sentimento de curiosidade e, ao mesmo tempo, de ansiedade espiritual, ela procurou conhecer o rabi de sua terra, cuja fama de redentor de almas já atingia as cidades mais populosas. De princípio, ela dirigiu ao Mestre olhares insistentes, irônicos e quase desafiadores. Conhecedora dos sofismas e das capciosidades dos homens, que eram capazes de tripudiar sobre as coisas mais puras para satisfazerem suas paixões animais, gostaria de conhecer a fundo a natureza passional daquele homem belo, sereno, mas humano. Antes seus olhares provocadores, Jesus não trepidou em sua habitual serenidade, mas devolveu-lhe um olhar de censura espiritual tão profunda, que ela vacilou, confusa, quase que envergonhada. Dali por diante passou a segui-lo, acompanhada de sua mãe e dissimulando, pouco a pouco, a sua exuberante beleza de formas, na euforia dos seus 24 anos de idade. Acompanhou o Mestre em sua última visita a Nazaré e esteve presente na casa de Simão, em Betânia, conquistando, pouco a pouco, as amizades dos familiares como Eleazar, Alfeu, Marta e Salomé. No entanto, era a Maria, a mãe do amorável rabi, que ela mais se afeiçoara, pois sentia necessidade de um afeto puro. Sua alma prendia-se cada vez mais àquele coração tomado pelo  mais puro e grandioso amor ao gênero humano. então, tratou a "doce" Maria com toda ternura e sob os mais delicados sentimentos de lealdade e homenagem  espiritual. Mas ainda não conseguira esconder o remorso da primeira vez em que se defrontava com Jesus e lhe endereçou um olhar  provocante, algo malicioso, como a duvidar de sua pureza de homem íntegro e desapegado dos bens do mundo. Devotou-se com o máximo de solicitude para apagar aquela primeira impressão desairosa semeada na alma do Mestre, e não se encorajava de enfrentar-lhe novamente o olhar sereno, afetuoso e despido de qualquer desejo menos digno.

Finalmente, um dia sua alma inundou-se de júbilo e encanto, pois ela cruzou o olhar de Jesus e teve a coragem de fitá-lo com suave insistência; mas o fez tomada por profunda timidez, sem a ostensividade da mulher que se sabe formosa e atrativa. Desaparecera a mulher envaidecida de seus próprios encantos, habituada a divertir-se com a avidez dos olhares cobiçosos dos homens. Antes o olhar franco e puro do Mestre Cristão, ela foi apenas uma tímida criança, que só ousou encará-lo quase assutada.

Mas Jesus sorriu-lhe e o seu olhar angélico derramou-se sobre ela como a linfa pura caída dos céus sobre a terra ardente e ressequida. Maria de Magdala levou a mão ao peito e quase sucumbiu ao solo sob a emoção de tanta alegria.

PERGUNTA: - Mas conhecemos obras que apontavam Maria Madalena como a paixão humana de Jesus, e que ela também o amou fisicamente.

RAMATÍS: - Como vô-lo dissemos, Maria de Magdala, tendo ouvido falar dos atributos santificados de Jesus, quis divertir-se e desafiá-lo com sua beleza provocante, certa de comprometer com a paixão física o rabi famoso por suas virtudes. Tendo encontrado o Mestre numa das tracionais assembleias públicas, ou também conhecidas por sinagogas, perto do lago Tiberíades, em que os presentes podiam consultar ou interrogar os rabinos que as dirigiam, chamou-lhe a atenção com perguntas insistentes, enquanto o fitava provocantemente, tentando confundi-lo na sua prédica. É verdade que Maria de Magdala chegou mesmo a despertar uma afeição extrema em Jesus, e se percebia nele um prazer muito humano ao tornar a vê-la.

No entanto, jamais Jesus amou fisicamente Maria de Magdala, pois o seu porte moral e sua fidelidade à obra cristã, que era o seu sonho dourado no mundo, afastavam-no de qualquer objetivo vulgar do mundo. Não há dúvida de que ele não tardou a perceber que ela fora vítima de sua própria imprudência, pois passara a amá-lo desesperadamente e ardentemente. Mas Jesus decidiu-se a vencer aquele amor tão tentador e salvá-la de sua vida impura e delituosa, passando a tributar-lhe um afeto teno e paternal, que pouco a pouco deu-lhe força espiritual, ajudando-a a vencer a paixão abrasadora em troca da ternura fraterna. Exausta da falsidade dos seus mais ardentes admiradores, que apenas lhe cobiçavam os encantos femininos e jamais lhe seriam tão nobres e desprendidos como Jesus, ela não podia suster o seu recalque abrasador de criatura humana, ainda incapaz de sentir as emoções superiores do reino imponderável do espírito. Mas essa paixão menos digna, dos primeiros dias, não tardou a transformar-se no mais puro sentimento de idolatria espiritual, convertendo-a, incondicionalmente, ao messianismo redentor da obra cristã.

Jesus, entidade que já havia superado a ilusão da forma humana, cuja descida à Terra lhe custara imenso sacrifício espiritual, jamais poderia se comover ou se fascinar pela beleza e pelos encantos físicos de qualquer mulher, que ele não considerava além de uma irmã digna de ser venturosa. A vida material não lhe despertava qualquer impressão ou desejo anormal porque, através das coisas do mundo físico, ele só vislumbrava o espírito eterno que a sustinha. A criatura mais bela, diante dele era apenas um maquinário vivo, cujas peças constituídas de átomos, moléculas e células, só eram dignas de um exame técnico e não cobiçoso. Cada homem e cada mulher não passavam de instrumentação provisória atuando momentaneamente no mundo material, a fim de o espírito apurar a sua sensibilidade psíquica e desenvolver a consciência eterna. Espírito "auto-realizado", senhor de toda a trama da existência física e do planejamento espiritual do Espaço, jamais o seu coração sacudiu-se sob a intempestividade da paixão humana, pois, como disse Buda, "a paixão é como a flor que se entreabre pela manhã e murcha à tarde".

Maria de Magdala não poderia induzir Jesus a uma paixão transitória da carne, pois em sua inconfundível honestidade, jamais ele cederia em doar o seu amor puro e piedoso para uns e menos para outros. A sua família e seus amigos, discípulos, adversários, pecadores, algozes e traidores, ele os reuniu, mais tarde, em espírito, no alto da cruz, identificando todos numa só frase, em que resumiu o seu mais veemente sentimento espiritual de ternura para com o gênero humano, assim se expressando : "Pai ! Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem!"

Maria de Madalena, espírito íntegro, culto e sensível, não tardou em perceber que, em face da natureza angélica de Jesus, não havia combustível no seu coração que pudesse alimentar aquela paixão de natureza carnal. Por isso, num esforço heroico de renúncia absoluta, ela sufocou os brados apaixonados do seu coração e sublimou-os, queimando-os no fogo do sacrifício e da abnegação fraterna, passando a devotar o Mestre e esquecendo o homem.


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continua digitação ....

Fonte Livro O Sublime Pereguino - cap 19 -  psicografia de Hercílo Maes

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