Quando o Governador Planetário encarnou como Jesus d
Nazareth, para sua imortal missão sacrificial, outros espíritos, devidamente
qualificados, desceram também para auxiliá-lo e preparar-lhe os caminhos.
Assim, os familiares, os discípulos, os apóstolos...
Uma das mais marcantes dessas tarefas coube à Fraternidade
dos Essênios, que o amparou desde jovem até os últimos instantes de sua tarefa
redentora.
João Batista era essênio e, quando desceu para as
margens do Alto Jordão, vindo do Mosteiro do Monte Hermon, na Fenícia, para dar
cumprimento à sua tarefa de Precursor do Messias, fê-lo atendendo ordens que de
há muito aguardava, esperando a sua vez.
Detentores, há séculos, das tradições de sabedoria
herdadas dos antepassados, conservavam os essênios, em seus mosteiros nas montanhas
palestinas, fenícias e árabes, arquivos preciosos e conhecimentos relacionados
com o passado da humanidade; e assim como a Fraternidade dos Profetas Brancos,
na legendária Atlântida, apoiou os Missionários Anfion e Antúlio, que ali
encarnaram, e a Fratenidade Kobda apoiou os que difundiram as verdades
espirituais no Egito e na Mesopotâmia, assim, eles, os Essênios, apoiaram a
Jesus, na Palestina.
Conquanto menos numerosos, segundo parecia, seu
número, entretanto não era conhecido com exatidão e, se muito reduzida era sua
influência nas rodas do Governo, muito profunda e ampla era a que exercia
sábios e santos, possuidores de altos poderes espirituais.
Viviam afastados do mundo, como anacoretas, em
mosteiros e grutas nos alcantilados circunvizinhos, porque discordavam dos
rumos que o clero judaico imprimira aos ensinamentos mosaicos dos quais eles,
os essênios, eram os herdeiros diretos e possuíam arquivos autênticos e fiéis.
Segundo eles, as virtudes e a conduta reta dependiam
da continência e do domínio das paixões inferiores. Abstinham-se do casamento e
adotavam crianças órfãs, como filhos. Viviam em comunidades, desprezando as
riquezas, as posições e os bens do mundo. Exigiam a reversão dos bens pessoais
à Ordem, por parte dos que desejavam ingressar nela.
Vestiam túnicas brancas ou escuras e quando viajavam
não carregavam bagagem nem alforjes, roupas ou objetos de uso porque, por todos
os lugares por onde andassem, encontrariam acolhimento por parte de membros da Ordem.
Esta exigia que todas as vilas e cidades houvesse um membro da Ordem denominado
– O Hospitaleiro – que providenciava a hospedagem dos itinerantes, provendo-os
do necessário. Havia cidades como, por exemplo, Jericó, onde grande parte da
população pobre e de classe média era filiada a essa Fratenidade.
Os essênios entregavam-se francamente e com a máxima
dedicação à prática da caridade ao próximo, mantendo hospitais, abrigos,
leprosários, etc., assistindo os necessitados em seus próprios lares, adotando
crianças, como já dissemos, mantendo orfanatos, no que, pode-se dizer, agiam
como precursores dos futuros cristãos dos primeiros tempos.
Na comunidade, trabalhavam ativamente em suas
respectivas profissões e tinham pautas de trabalho a executar periodicamente,
fora ou dentro das organizações da Ordem, em bem do próximo.
Não comiam carne, não tinha vícios e viviam
sobriamente.
Os que revelavam, faculdades psíquicas eram
separados para o exercício do intercâmbio com o mundo espiritual e ao exercício
da medicina, empreendendo estudos adequados e viajando diariamente por muitos lugares,
sob a design inação de terapeutas, em cuja qualidade consolavam os famintos,
curavam os doentes, espalhando as luzes das verdades espirituais e as práticas
do atendimento contra obsessores, como hoje em dia são popularizados pelo Espiritismo.
Entre eles havia uma hierarquia altamente
respeitada, baseada no saber, na idade e nas virtudes morais, cuja aquisição
era obrigatória para todos os filiados à Ordem.
No primeiro ano da iniciação, os aprendizes eram
proibidos de praticar suas regras na vida exterior, no lar ou na sociedade a
que pertenciam; ao fim desse primeiro ano começavam a tomar parte em alguns
atos coletivos, exceto as refeições em comum, às quais só poderiam comparecer
dois anos mais tarde, após darem garantias seguras sobre a pureza e a retidão
de suas ações, seu espírito de tolerância e sua castidade probatória. No ato da
aceitação assumiam o compromisso de servir a Deus, observar a justiça entre os
homens e jamais prejudicar o próximo sob qualquer pretexto; apoiar firmemente
os que observavam as leis e de agir sempre com boa fé e bondade, sobretudo em
relação aos dependentes e servos, “porque o poder”- diziam eles – “vem somente
de Deus”. Ao desempenharem qualquer cargo de autoridade deviam exercê-lo sem
arrogância e orgulho e jamais tentar distinguir-se dos outros pela ostentação
de riqueza, ornamentos e vestuários; amar a verdade e jamais criticar ou acusar
alguém, mesmo sob ameaça de morte.
Para julgar uma transgressão grave exigiam a reunião
de, pelo menos cem membros adultos, porque a condenação implicava na eliminação
das fileiras da Ordem, à qual o faltoso só podia volver após duras e longas
expiações e purificações físicas e morais.
Na hierarquia espiritual, após o nome de Deus, o de
Moysés era o que merecia maior veneração.
No terreno filosófico ensinavam que o corpo orgânico
era destrutível e a matéria transformável e perecível, enquanto que as almas
eram individuais, imortais e indestrutíveis, por serem parcelas infinitesimais
do Deus Criador e uniam-se aos corpos como prisioneiras, por meio de uma
substância fluídica, oriunda da vida universal, que constituía a vida do
próprio se (perispírito).
Após a morte,
as almas piedosas habitariam esferas felizes, enquanto que as ímpias eram
relegadas a regiões infernais.
Como se vê, difundiam ensinamentos concordantes com
a tradição espiritual que vinha de milênios e em muito pouco deferiam daquilo
que se ensina hoje nas comunidades espiritualistas.
**
É sabido que João Batista era essênio, como essênio
eram José de Arimathéa, Nicodemo, a família de Jesus e inúmeros outros que na
vida do Mestre desempenharam papéis relevantes, como também o próprio Jesus que
conviveu com essa seita, frequentando assiduamente seus mosteiros, enterrados
nas montanhas palestinas, onde sempre encontrava ambiente espiritualizado e
puro, apto a lhe fornecer as energias de que carecia nos primeiros tempos da
preparação para o desempenho de sua transcendente missão.
Mas observe-se que os evangelistas e os apóstolos em
geral, como também Jesus, Ele mesmo que, frequentemente, se referia a escribas
e fariseus, todos guardaram silêncio a respeito dos essênios, não somente sobre
fatos, episódios, circunstâncias quaisquer em que estivessem presentes,
participando, mas nem mesmo sobre a existência deles; mas isso se explica
porque, sabendo que a comunidade dos essênios merecia a hostilidade do clero
judaico, que a considerava herética e rebelde, queriam evitar que sobre ele se
desencadeassem maiores perseguições.
Após a morte no Calvário e no decorrer das primeiras
décadas, além do trabalho dos apóstolos, foi em grande parte com base nos
mosteiros essênios, nas suas organizações assistenciais e no concurso diário e
ininterrupto dos Terapeutas, que o cristianismo se difundiu mais rapidamente na
Palestina; e, enquanto cooperaram nessa difusão, a comunidade essênias foi se
integrando no cristianismo, extinguindo gradativamente suas próprias
atividades, o que se completou com o extermínio da nação judaica no ano 117 AD.
Assim como haviam apoiado anteriormente os Nazarenos
e os Ebionitas (20), a última atitude pública tomada pelos essênios teve lugar
no ano 105, reconhecendo o profeta Elxai, como chefe. Depois correndo o tempo,
veio à elevação do suposto messias Bar Cocheba, a revolta geral contra os
romanos e a exterminação do povo judaico, em toda a Palestina e em outras
províncias romanas.
Os documentos contendo suas tradições religiosas,
elaboradas desde o início, ainda ao tempo de Moysés, e conservados por seu
discípulo Essen, ao declarar-se a revolta final do povo judeu, foram escondidos
em grutas e lugares secretos das montanhas, alguns deles estando sendo agora
descobertos nesses lugares, junto ao Mar Morto. (21)
**
Capítulo 13 extraído do livro O Redentor de Edgard Armond
(20)
Significa pobre, desvalido.
(21)
Alguns destes comentários têm base em obras citadas ao fim do livro na
bibliografia, sobretudo em Regia o qual, a seu turno, obteve informações, em
parte, de essênios, que ainda existiam na Ásia Menor, no século passado; em
parte em Flávius Josepho, o historiador judeu agregado ao Estado Maior de Tito
Vespasiano, que assistiu a destruição de Jerusalém no ano 70; nascido 4 anos
após a morte de Jesus, este autor assegura que a influencia maior dos essênios era
no norte da Palestina e nas imediações do Mar Morto. Além destas fontes,
pode-se ainda citar Filon de Alexandria, contemporâneo dos acontecimentos e
Justus de Tiberíades, todos judeus respeitados e reputados autores.