domingo, 26 de novembro de 2017

Efeito espelho

Quem são as pessoas que você mais admira no mundo?
O que você mais admira?
E quais as qualidades que lhe chamam mais atenção?
Quem são as pessoas que você mais crítica?
E qual comportamento lhe chama mais atenção?
Para responder as perguntas acima, você usou seu referencial interno, com seus próprios critérios e avaliações.
Na verdade, você está projetando no outro o que você sente, acredita, pensa, mesmo que não se comporte dessa forma.
Talvez, ao olhar para as pessoas que admira, você se sinta bem, pois sente o que enxerga nelas, mesmo que ainda não esteja vivendo isso.
Talvez quando não se sinta bem em olhar para as pessoas que critica, seja por que estas pessoas estão recordando um sentimento que já existe dentro de você e que lhe incomoda.
Todo ser humano quando criança passa por um período em que ainda não compreende que faz parte de uma sociedade, imagina que todo mundo gira em torno dela mesma, levando-a um estado de espirito egocêntrico, e que pode persistir até a idade adulta.
Nesse estado, a pessoa usa suas próprias referencias internas (o que pensa, sente e acredita) como referência básica, representar, interpretar e entender as pessoas que a cercam.
Este é o efeito espelho, onde o mundo externo reflete através da sua própria interpretação, aquilo que já existe dentro de você. Assim, você pode aprender muito sobre si mesmo quando olha para os outros, afinal o outro é seu espelho, ou seja, é você mesmo.
 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 4 CAP 5 – RELIGIÕES ORIENTAIS (HINDUISMO BUDISMO – TAOISMO – CONFUCIONISMO – XINTOISMO)


BIBLIOGRAFIA
RELIGIÕES E FILOSOFIAS - Edgard Armond – Edit. Aliança
O ESPIRITO DA FILOSOFIA ORIENTAL – Huberto Rohden – Edit Alvorada
O LIVRO DAS RELIGIÕES – Jostein Gaader – Cia das Letras

REFLEXÃO
O DEUS ORIENTAL
Certo dia foi ter com um exímio vidente da Índia um jovem que queria saber do grande iluminado o que era Deus. Em vez de responder à pergunta do jovem consulente, o mestre convidou para partilhar a vida dele por um ano. O jovem aceitou.
Durante esse ano, o sábio nunca discutiu com seu discípulo a questão da existência e da natureza de Deus, mas fê-lo tomar parte nas longas e profundas meditações de cada dia. No fim do ano ao despedir-se do jovem perguntou-lhe o iluminado se tinha ainda alguma dúvida.
- Nenhuma, respondeu o jovem ao mestre que lhe lembrou a pergunta feita a um atrás.
- Fui eu que perguntei tal coisa? Estranhou o jovem
- Certamente foi outro.

1ª PARTE: OBJETIVO DESTA AULA
Esta aula tem por finalidade nos familiarizar com as religiões orientais, fornecendo a época do seu surgimento, seus principais líderes e divulgadores. Ela se propõe igualmente nos mostrar os princípios, fundamentos e a doutrina encerrada em cada uma delas.

2ª PARTE: INTRODUÇÃO
A grande diferença entre as religiões orientais e ocidentais é que aquelas muito mais que voltadas ao sagrado são voltadas aos comportamentos humanos.
Enquanto as religiões ocidentais dão ênfase a adoração do Criador e através de Sua vontade exige do homem mudança de comportamentos para atingir o Seu Reino as religiões orientais admitem a chegada ao Reino através de esforço próprio.

3ª PARTE: O VEDISMO – O BRAMANISMO – O HINDUISMO
As religiões hindus tiveram suas origens nos livros védicos os quais criara a Vedanta, filosofia antiga daquele povo. Essa filosofia explicava o sobrenatural e fornecia um código de comportamento moral do povo.
A Vedanta proporcionou um regime de castas na Índia. São elas: os brâmanes ou sacerdotes, nascidos da cabeça de Brama; os ksátrias ou os guerreiros, os braços de Brama; os vaicias ou mercadores nascidos das pernas de Brama e finalmente os sudras ou gente da plebe, nascido de seus pés.
O Bramanismo, uma evolução da Vedanta se tratava de uma religião mais organizada e sucede o culto primitivo. Estabelece a trindade bramanica: Brama, o criador; Shiva, o destruidor e regenerador
com sua esposa Kali, a deusa da morte e Vishnu, o princípio conservador, amigo do homem que
encarna em Rama, Krishna e Buda.
Tornou mais rigoroso o sistema de castas dando privilégio aos sacerdotes e guerreiros e
estabeleceu ainda que ninguém podia sair de sua casta. Caso o fizesse seria repudiado por todos e
passaria para a condição de sem casta ou paria social.
O Bramanismo adota a lei da metempsicose e da transmigração da alma para os iniciados. É
uma religião aristocrática e sacerdotal.
Finalmente, o Hinduismo (assim como o Cristianismo) é o conjunto de uma série de religiões da
Índia que tem suas raízes na Vedanta e no Bramanismo.

4ª PARTE: O BUDISMO
Apesar do Budismo ter nascido na Índia num ambiente de vedismo, teve influencia da filosofia
chinesa.
O Budismo foi fundado pelo príncipe indiano Gautama Sidarta a 600 aC na cidade de
Kapilavastu, ao norte da Índia, fronteira com o Nepal, dentre os sáquias, povo dessa região.
A vida de Buda não teve mácula e é um modelo de vida virtuosa. Durante seis anos de
isolamento e meditação preparou sua doutrina e divulgou através de sua palavra.
O nascimento e a vida de Buda é envolto numa estória ou lenda semelhante a historia dos
iluminados ocidentais.
O Budismo prega, antes de qualquer coisa, a necessidade do sofrimento como pagamento de
dívidas anteriores bem como a utilidade da renuncia dos desejos e bens materiais. Não adota os
privilégios de casta. Há uma notável aproximação da doutrina de Buda com alguns pontos do
cristianismo.

5ª PARTE: OS TRÊS SÁBIOS CHINESES
A China apresenta três sábios da antiguidade como o fundamento de sua religião nacional. São
eles: Fo-Hi a 3400 AC, Lao-Tse a 600 AC e Confúcio a 400 AC.
Fo-Hi foi um imperador que empregou seu poder e influencia para difundir o conhecimento das
virtudes e os Dons Morais entre o povo. A única obra conhecida deste sábio é o I Ching contendo
figuras, símbolos e trigramas de significação obscura.
Lao-Tse, o segundo deles viveu no século VI AC e deixou uma obra mais vasta, porém três de
seus livros chegaram até nossos tempos: o Tao (o livro das Sendas); o Te (o livro da Virtude ou da
Retidão) e o Kang Ing (o livro das Sanções ou das Reações Concordantes). Cada livro é um código de
moral. Em O Tao, Lao Tse entre outras qualidades destaca a paciência, a esperança e a humildade.
A Senda (Paraíso) não se alcança senão pela prática da totalidade das virtudes e não pode ser
encontrada senão pelo próprio indivíduo. Em Te, Lao-Tse, dá ênfase à discrição, a reflexão, a
meditação solitária e íntima e a abstenção das atrações do mundo.
Kang Ing trata da vontade e do Karma.
Finalmente, Confúcio que viveu no século IV AC foi um sintetizador das idéias dos sábios
antecessores. Ele foi mestre e ministro de alguns governos. Confúcio deixou nove livros (4 clássicos e 5 sagrados). Os quatros clássicos são: A Grande Ciência, A Doutrina Mediana, Anacletas e Mencio. Os cinco livros sagrados são: Shi Ching (Livro dos documentos históricos), I Ching (o livro das Mutações),
Li Ching (o livro dos Antigos Ritos e cerimônias) e finalmente Chun Chiu (Primavera e Outono).

6ª PARTE: O TAOÍSMO
O Taoísmo se baseia num livro chamado “Tao Te Ching“ (O Livro do Tao e do Te). Tao significa
a ordem do mundo e o Te significa a força vital. O livro tem em torno de 25 páginas divididos em 81
capítulos de autoria suposta de Lao Tse (séc VI AC).
Para Lao Tse, o Tao é a verdadeira base da qual todas as coisas são criadas. Várias vezes o
Tao é descrito como o Céu, isto é, como algo divino embora não seja um deus pessoal. Ele também
afirmava que o homem não pode usar o intelecto para compreendê-lo.
O taoísmo implica em passividade e não atividade. Precisa economizar a força vital. Para um
sábio taoista a ação mais importante é a “não-ação”. Enquanto para Confúcio o desejo era educar o
homem por meio do conhecimento. Pois só a educação o afasta da ignorância, motivo de todos os
males.
O Estado ideal para Tse era a pequena comunidade, a aldeia, pois ele acreditava que qualquer
administração (pública) é má: “quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões
haverá”.
Para Tse e os taoistas, a caridade (esmola) não faz sentido, mas tem que se ter boa vontade
sem limites para com todos.
Os discípulos de Lao Tse começam depois de algum tempo, dirigir o taoísmo para o misticismo,
pois até então eram regras de procedimentos. Foram os elementos de magia que mais tiveram
ressonância dentre as massas, pois regras comportamentais são sempre mais difíceis de serem
adotadas.
A religião taoista foi se desenvolvendo e posteriormente chega a apresentar seus próprios
deuses, templos e monges.

7ª PARTE: O CONFUCIONISMO
É uma doutrina filosófica e moral de Confúcio e sua escola. É uma moral de conduta segundo
uma tradição aristocrática que exortava o esforço constante para cultivar a própria pessoa e estabelecer
a harmonia no corpo social. Foi a partir de 1200 DC que foram introduzidas às preocupações
metafísicas no confucionismo tornando-se uma doutrina ortodoxa.
A revolução de 1911 na China suprimiu seu culto oficial. O confucionismo manifesta o equilíbrio
que existe entre os poderes do Céu e da Terra, entre o homem e a natureza. Como fundamento desse
equilíbrio criou em sua época o culto da adoração do Céu (Tian), da adoração do Imperador Superior
(Shangti) e da adoração de espíritos celestes, terrestres e humanos sendo que estes últimos são os
antepassados dos vivos.
O culto dos antepassados é parte significativa da religião chinesa que tem assim um cunho
nitidamente imortalista.
O antepassado é sem cessar invocado, consultado sobre assuntos de importância cotidiana.
Fazem oferendas até com sacrifícios de animais.
O confucionismo preconiza vida virtuosa e obediente a hierarquia tanto terrestre como celeste.
Dessas virtudes destaca-se o respeito mútuo, a franqueza, a circunspeção (responsabilidade por
palavras e atos), a humildade, a benevolência e a justiça.
Em cada cidade chinesa existe um templo dedicado a Confúcio, pois o confucionismo é a
religião oficial do pais. Com o advento do comunismo e modernamente a globalização, muitas
mudanças de hábitos, costumes, regras, leis e princípios vem sendo observados na cultura chinesa.
O Japão assimilou oficialmente o confucionismo a partir de 1600 como culto oficial.

8ª PARTE: O XINTOÍSMO
É a religião nacional e a mais antiga do Japão. É anterior a introdução do Budismo, pois foi a
partir de 500 dC que o xintoísmo enfrentou dura competição com o budismo e as duas passaram a se
influenciar mutuamente. Não é raro no Japão o uso alternado de varias religiões. Aí a tolerância
religiosa. Esse aspecto é tão significativo que guardadas as tradições religiosas o Japão se tornou um
verdadeiro laboratório religioso.
O xintoísmo não tem um fundador e ao longo dos séculos adotou tradições de varias outras
religiosidades. A essência do xintoísmo é a cerimônia e o ritual que mantém contato com o divino.
Costuma-se dizer que o xintoísmo possui uma infinidade de deuses (kamis) que se manifestam sob
forma de árvores, montanhas, rios e animais. A palavra japonesa “kami” também pode ser traduzida
como “espírito”.
O culto aos espíritos naturais e ancestrais sempre foi fundamental no xintoísmo. O culto aos
antepassados se difundiu sob a influencia do confucionismo chinês.
Para o xintoísmo todos os japoneses têm origem divina, mas em especial, o imperador. Ele
passou a ser um kami vivo.
No século XIX o xintoísmo teve um reavivamento com objetivos nacionalistas visto a forte
influencia ocidental que começava se efetuar. A partir de então se tornou a religião oficial.
O culto é observado tanto no lar como nos templos. O templo xintoísta não é um local de
pregações, mas de orações e meditações. É a morada do kami.
Os sacerdotes são nomeados pela organização dos templos e seus deveres são acima de tudo,
rituais nas cerimônias diárias e nas grandes festividades.
Quatro são as cerimônias observadas na religião. São elas: a purificação, o sacrifício, a oração e
a refeição sagrada.

9ª PARTE: CONCLUSÃO
Esta aula procura mostrar o espírito da filosofia oriental cujo caráter é, sobretudo intuitivo em
oposição à filosofia ocidental de preferência intelectiva. Muitos orientais têm a tendência natural de se isolarem no eu central, em oposição aos ocidentais que se dispersam nas nulidades do ego periférico.
O homem ocidental está habituado a identificar a realidade com os fatos, ao passo que, para o
oriental, os fatos são simples reflexos fortuitos e secundários da realidade.
O ocidental considera o Universo pelo lado de fora, por manifestações externas, concretas,
palpáveis, visíveis, ao passo que o oriental, já nasce com a intuição interiorista, sentindo que esses
aspectos externos não são a realidade, senão apenas efeitos visíveis duma causa invisível por isso no
Oriente não existe ateus nem materialistas.
Para o oriental toda a chamada “santidade” é simples sabedoria.
O cultor de dogmas religiosos é um “crente” e o iniciado na verdade da filosofia é um sapiente. É
natural que o numero de crentes seja maior, no estágio atual da evolução humana, que os sapientes,
porque o crer é relativamente fácil, ao passo que o saber exige uma disciplina tão intensa e
perseverante que são poucos os que trilham o “caminho estreito” e a “porta apertada” que dá ingresso
ao Reino de Deus.
Alan Krambeck

10ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA
Próxima aula:
Livro 4 – Cap.6 – Religiões Monoteístas (Judaísmo – Cristianismo – Islamismo)
Leitura:
O Livro das Religiões – Jostein Gaarder – Companhia de Bolso

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA livro 4 cap 1 ao

IFEVALE (INSTITUTO DE FILOSOFIA ESPÍRITA) - http://www.ifevale.com/
(livro 4 - cap: 1 ao 24)

Breve História do Monismo

O universo é regido por um princípio único.
Pietro Ubaldi (A Grande Síntese)

Definimos o monismo, em seu aspecto filosófico mais abrangente, como o substrato ideológico que apregoa a existência de uma substância única, subordinada a princípios também unitários, na composição de tudo o que existe no universo. Em seu significado mais simples, monismo é a doutrina da unidade, cuja palavra advém do grego monás que designava, na filosofia pitagórica, “toda complexidade que se faz um todo coeso”. Ela se opõe ao dualismo que admite a existência de duas entidades independentes na criação – espírito e matéria – e ao pluralismo, o qual adota a diversidade de fundamentos e de substâncias para se explicar o universo. O dualismo é classicamente defendido por René Descartes e o pluralismo compõe o complexo pensamento científico moderno que, pela análise reducionista, fragmentou a realidade objetiva nas múltiplas e mais variadas expressões fenomênicas que, até o momento, se pôde produzir, muitas destituídas do mínimo senso crítico, por se fundamentar no vazio e no niilismo.
Assumindo-o como constructo norteador de sua obra literária, o monismo não é uma criação de Pietro Ubaldi, pois as ideias unicistas sempre ventilaram as concepções humanas e são encontradas em todas as épocas do desenvolvimento de nossa história. A milenar cultura chinesa do taoísmo já o apregoava em seus encantadores versos. Nas doutrinas hindus, o Vedanta Sutra já o anunciava ao ensinar que a essência bramânica, unitária, onisciente e perfeita, era a substância formadora das almas individuais e do universo. Seguindo o seu enunciado, a escola vaishnava, defendida por Ramanuja no século XII da era cristã, criou o termo visishtadvaita, com o exato significado de monismo, tal como o entendemos hoje. Curiosamente essa escola defendia que os elementos criados passaram a abrigar a imperfeição, causa da ignorância, sem explicar os motivos de tal contaminação da substância bramânica, mas que eles poderiam, através da devoção, refazer a comunhão perfeita com Brahma, sem perder a individualidade, preceito muito semelhante ao difundido pelo cristianismo.
Na filosofia grega, tanto a pré-socrática quanto a pós-clássica, o monismo já era uma aspiração dos principais pensadores, que buscavam compreender a diversidade de todas as coisas a partir de uma única causa primária. Interpretada às vezes como physis, a natureza formadora, ápeíron, a substância ilimitada, ou simplesmente o arqué, o princípio originário, todos procuravam representar o que seria essa substância fundamental, compondo o que os estudiosos da filosofia denominaram monismo corporalista­.
Recordemos que, para Tales, o arqué seria a água; para Heráclito, o fogo. Anaxímenes, contudo, o julgou ser o ar. Mas, prenunciando o pluralismo, Empédocles estabeleceu que a igualdade dos princípios (isonomia) teria se dividido em quatro raízes, o ar, o fogo, a água e a terra, de cujas misturas se formava a multiplicidade do universo, embalada pelas forças do amor (philia) e da rivalidade (neikos). A doutrina eleática, fundada por Xenófanes e defendida, sobretudo, por Parmênides, apregoava a unidade e a imobilidade como fonte do ser e do universo. Para Anaxágoras, fervoroso seguidor da doutrina eleática, uma substância incorpórea, denominada noûs, eterna e imutável, embora submetida à aparência dos movimentos de nascimento e morte, teria gerado tudo o que existe. E Demócrito, finalmente, firmou o monismo atomista como base da realidade, concebendo o estofo do universo formado por unidades simples, corpóreas, indivisíveis e descontínuas, os átomos. Infinitamente espalhados em meio a um espaço contínuo e vazio, estariam subjugados a determinismos puramente mecanicistas, antecipando, no século V a.C., o ateísmo moderno.
A Idade Média não conheceu outra forma de monismo a não ser a Trindade Santa, concebida por Santo Agostinho, através da qual o Uno se consubstanciava no Todo e a ela nos referiremos a seguir. No Renascimento, o mais expressivo pensamento monista que se conhece foi veementemente defendido por Giordano Bruno e na Era Moderna, sobretudo pelos filósofos Spinoza, Berkeley, Hume e Hegel. Destarte, o mais influente monista conhecido até os nossos dias, tendo em vista que Ubaldi ainda é ignorado, é considerado Baruch Spinoza, que viveu no século XVII, embora em sua época não se empregasse tal acepção. O termo monismo foi usado pela primeira vez no século XVIII pelo filósofo Christian Wolff. Entretanto, aqueles que, de fato, o popularizaram foram o biólogo Ernst Haeckel e o químico Wilhelm Ostwald no início do século XX.
Segundo a natureza da substância apregoada como fundamental, o monismo pode ser diferenciado em diversos modelos, como o ontológico, o panteísta, o metafísico, o religioso, o material, o lógico, o gnosiológico e alguns outros de interesse menor para o nosso estudo. Tipos que se podem considerar incluídos em suas duas grandes e principais vertentes, em nítida oposição: o monismo materialista e o monismo idealista. O primeiro se fundamenta no fato de que toda a existência se reduz à matéria e seus atributos. Os seres vivos, por exemplo, se explicariam unicamente pelo funcionamento dos fenômenos físico-químicos existentes na unidade orgânica e a própria consciência humana nada mais seria do que o produto das ações e interações bioquímicas da massa neuronal (ideia também chamada epifenomenismo). Os grandes representantes do monismo materialista, normalmente ventilado por sentimentos anti-religiosos, foram Thomas Hobbes, Diderot, Paul Henri Dietrich, Pierre Maupertuis, Julien Offroy de la Mettrie, Karl Marx, Engels, Lênin e outros.
No início do século XX, o filósofo e biólogo alemão Ernst Haeckel, utilizando o pensamento evolucionista de Charles Darwin, tentou explicar a vida, o universo e a própria consciência, segundo um monismo genético e mecanicista. Ele foi o primeiro pensador moderno a intentar, com a ajuda do evolucionismo nascente, a unificação da Biologia com a religião. Ainda que seu pensamento monista não tenha abrangido a essência divina, seu brilhantismo se revelou na descoberta da existência de um princípio unificador regendo a evolução, chamado lei biogenética, segundo o qual cada animal percorre, a partir da fase embrionária, todas as etapas evolutivas que o levaram a ocupar o seu lugar na ordem natural. Em suas próprias palavras, “a ontogenia recapitula a filogenia”, sendo a ontogenia o desenvolvimento embrionário individual e a filogenia a história evolutiva da sua espécie, princípio que foi prontamente absorvido pelo pensamento espiritualista moderno. Somando-se a lei biogenética de Haeckel à palingenesia, foi possível unificar a evolução biológica com o espiritualismo, adotando-se o princípio espiritual como a unidade da vida, proporcionando-se maior coerência aos processos vitais e conferindo telefinalismo às mutações genéticas, antes consideradas fenômenos completamente casuais.
A ciência do século XX, concebendo em sua época que tudo se reduz à matéria e não admitindo para ela uma origem transcendente a si mesma, compôs o seu mais importante subsídio filosófico, o monismo materialista. Monismo que logo sucumbiu ante a irrealidade das bases constituintes da própria matéria, sob o domínio do pensamento quântico que tudo desfez em pacotes de ondas que, afinal, em nada se sustentam.
Prenunciando o monismo quântico, Wilhelm Ostwald, químico e filósofo germânico do início do século XX, apregoou a doutrina segundo a qual a única e última realidade da existência era a energia. E recentemente, unindo a Física relativista à Mecânica quântica, a moderna teoria das cordas, como vimos, vem tentando resgatar um substrato único para as partículas atômicas de massa e para as energias que as mobilizam, identificando-o nos laços mínimos, as agitadas unidades feitas de insólitos pulsos vibráteis e nada mais. Esforço que integra a busca pela grande teoria unificada (Gut, em inglês) segundo a qual a ciência de nossos dias se empenha na afanosa procura por um monismo substancial que satisfaça o natural anseio humano por unicidade, aspiração que sempre moveu todos os grandes pensadores de todas as épocas, demonstrando-nos que a unidade é um modelo divino que impera em toda a criação.
Já o monismo idealista se fundamenta em princípios formativos de natureza imaterial e espiritual, para explicar a composição de tudo o que existe. Seu mais ardoroso representante na Antiguidade pode ser considerado Plotino, o sucessor do idealismo platônico. Filósofo egípcio que viveu entre 205 e 270 d.C., desenvolveu a escola denominada neoplatonismo que defendia ser a realidade última do universo a inteligência pura, incognoscível, infinita e perfeita, da qual tudo derivava. Plotino se utilizou do mesmo termo apregoado por Anaxágoras, noûs, como a essência universal consubstanciada no Uno para compor o seu monismo idealista. Ele foi mais tarde, no período medieval, seguido por Jâmblico, Proclo, Santo Agostinho e Marsilio Ficino.
No pensamento eminentemente teológico da Era Medieval predominou um monismo idealista ternário, fundamentado na Santíssima Trindade. A despeito de não se encontrar uma referência exata no texto bíblico, acredita-se que ele tenha sido inferido pelas palavras de Cristo por ocasião de seu batismo e em sua reaparição depois da morte, quando Ele recomenda aos apóstolos: “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Estabelecido como um mistério da fé, esse monismo ternário foi instituído pelo I Concílio de Nicéia no ano 325 da era cristã, contudo, foi Santo Agostinho, em sua obra De Trinitate (Da Trindade) escrita no ano 400 que o fundamentou como um dos principais dogmas da Santa Sé. O Santo de Hipona, detendo-se largamente na compreensão do principal mistério da fé cristã, definiu a unidade mística da Trindade como uma consubstanciação, palavra que designa a união de dois ou mais corpos em uma mesma substância, fazendo das três uma só pessoa. Embora o dogma permaneça incompreendido pela maioria dos fiéis até os dias de hoje, com o pensamento agostiniano ele se caracterizou como um verdadeiro monismo, ainda que abstrato e indiferenciado, porquanto a Trindade se unificava em Deus, o Pai, impedindo-se a distinção de três deuses independentes. Mesmo se expressando em três pessoas, Deus era considerado a fonte da Trindade, conservando-se como uma transcendência unitária, indivisa, incriada e origem de todas as coisas. Todavia, a interpretação monista que inicialmente ventilou a filosofia cristã terminou por se fixar, de fato, não no monismo propriamente dito, mas sim no monoteísmo, uma vez que se passou a considerar um Deus antropomórfico de aspecto apenas transcendente, recôndito no céu, distanciado da criação e de seus seres.
No Renascimento, contrariando o monoteísmo que se estabeleceu como dogma, Giordano Bruno recrudesceu o monismo idealista e religioso, defendendo a existência de um Deus infinito que, além de ser o Senhor do universo, se fundia também com a Sua própria criação, tornando divina toda a natureza. Estando muito além da acanhada teologia de seu tempo, ele não pôde ser compreendido e, acusado de panteísta, grave heresia em sua época, acabou sendo condenado à morte na fogueira no ano de 1600, como já vimos.
Logo depois nos encontramos com o holandês Baruch de Spinoza, defensor de um monismo idealista segundo o qual espírito e corpo seriam atributos de uma mesma substância de natureza divina, sendo Deus e a criação uma só e mesma coisa. Nesta mesma época, século XVII, Leibniz apresentava o seu monismo com base na monadologia, seguido por Berkeley e Rudolf Hermann Lotze. A enteléquia de Leibniz definiu a unidade monádica como o componente básico e divino de toda e qualquer realidade física ou anímica, caracterizada por inteligência, imaterialidade, indivisibilidade e eternidade, aproximando-se do monismo substancial de Ubaldi.
No século XVIII, George Berkeley, o famoso filósofo irlandês, formulou sua doutrina considerada também monista idealista, baseando-se na percepção mental como única realidade que a tudo permite existir.
Como vemos, muitas são as acepções que se podem imputar ao monismo que, embora sendo a doutrina da unidade, não se eximiu de se diversificar na pulverização do fragmentário pensamento humano que ainda não conhece o caminho para a síntese. A despeito do valor de todas elas, nos ateremos, em nosso estudo, ao monismo ubaldiano, por se tratar do nosso objetivo, abstendo-nos de um estudo comparativo e pormenorizado de todas as demais vertentes interpretativas. Assim sendo, consideraremos doravante toda referência ao monismo como sendo genuinamente aquele que integra o pensamento de Ubaldi, eximindo-nos de indicar-lhe a origem.
Na atualidade, nenhuma das doutrinas monistas sobrevive fora dos ambientes acadêmicos da filosofia, uma vez que a dicotomia cartesiana, que passou a imperar nas concepções humanas, tornou-se vigorosa o bastante para se impor como a única estampa da realidade. Tendo como base o monoteísmo e a multiplicidade fenomênica, ela nos desenhou uma visão mecanicista e atomista de mundo, a qual ainda domina a mentalidade do homem comum de nossos dias.
Extrapolando o âmbito da ciência onde se estabeleceu e ignorando as brisas ideológicas que periodicamente saneiam a estagnação humana, a dicotomia cartesiana terminou por contaminar todo o pensamento religioso ocidental de modo geral. As grandes religiões cristãs, amofinadas em seus templos de pedras, persistem compartilhando conceitos monistas e monoteístas com um dualismo reducionista e limitado, deixando a alma humana subjugada por um insolúvel dilema conceitual, não vivenciado somente por aqueles que ainda não o podem perceber, incapazes de alcançar o seu significado mais profundo. Deus e o espírito separaram-se definitivamente da matéria, pondo-se, de um lado, os assuntos de interesse religioso e de outro, as interpretações científicas, como duas realidades irreconciliáveis.
O espiritismo, embora imbuído de uma genuína ânsia de síntese filosófica e religiosa, nasceu, como o exigia a época em que veio aos homens, ventilado por essa concepção dualista distanciada do unicismo que seguramente deve imperar na criação. Embora ele tenha estabelecido o espírito puro como o único produto resgatável da criação progressiva, o seu universo está dicotomizado entre uma essência espiritual (Deus e espírito) e outra física (a matéria). Todavia, o monismo substancial está nele parcialmente presente na figura do fluido cósmico universal, a substância unificadora, hausto divino, fonte originária dos objetos fenomênicos, exceto do espírito, embora este também provenha de Deus. Felizmente, como podemos ver através do pensamento de Emmanuel, o dualismo espírita também está se encaminhando para a realidade monista da criação, embora muitos estudiosos espíritas ainda não tenham ressaltado o fato, menosprezando-lhe a importância.
Fixado em dogmatismos e repousando entre um monoteísmo teológico, restrito aos círculos de uma fé irracional, e o pluralismo científico, adotado como realidade no domínio da Física clássica, onde Deus não deve se meter, o homem atual não se deu conta, ainda, de que nenhum desses dois modelos espelham os fundamentos da obra divina. Se a própria ciência já afirmou que o universo, em sua intimidade infinitesimal, é uma teia fluídica urdida em uma inquestionável interdependência, o seu estofo constitucional é, em última análise, um monismo interativo.
Em meio ao caos conceitual de nossos dias, Ubaldi comparece a fim de resgatar devidamente o verdadeiro monismo, em seu sentido metafísico, como uma linha mestra da compreensão de Deus e do universo. Afirmando a unidade indissolúvel da criação, sua criteriosa filosofia reconcilia perfeitamente a fé com a ciência e recompõe o dualismo cartesiano, ainda vigente, em uma definitiva fusão sintética que vencerá os tempos e se fundamentará como o mais exato retrato da realidade. Por isso, acreditamos, o grande missionário de Cristo será lembrado pela história humana como o maior representante do pensamento monista de todos os tempos.
O monismo de Ubaldi, essencialmente idealista, transcendental e divino, se baseia na existência de um substrato primário, que ele denomina substância, como fonte de tudo o que existe. Algo que não pode ser compreendido como uma base física, a substância é o fluxo do pensamento de Deus que se individua em toda manifestação fenomênica conhecida, sendo, portanto, uma potência criativa inefável e incriada, originariamente atemporal e hiperdimensional. Representada por ômega (w) na grande equação da substância, descrita brilhantemente em A Grande Síntese, podemos identificar a substância de Ubaldi como o mesmo noûs que sustentava as concepções de Anaxágoras e Plotino.
Ela é a base para a formação ao mesmo tempo do espírito, da energia e da matéria, conduzindo-nos ao mais completo entendimento do monismo universal de que se tem notícia até o momento, conceito que melhor abordaremos posteriormente.
A unidade da criação, a substância, segundo o pensamento de Ubaldi, é capaz de se manifestar em um aspecto ternário e dual ao mesmo tempo, como expressões genuínas de sua divina potencialidade. Fato que a torna suscetível de se converter em todo eu fenomênico conhecido, seja ideológico, dinâmico ou estático. Essa extraordinária concepção se, a princípio, pode nos parecer incompreensível, permeia toda a dialética ubaldiana, estabelecida como o fundamento do pensamento divino e da criação.
E interessante diferenciarmos logo o monismo ubaldiano do panteísmo, defendendo-o das incorretas injunções que muitos estudiosos lhe imputaram, compreensíveis, ante as dificuldades de nosso concebível atual em lhe alcançar toda a maravilhosa extensão conceitual. Fato que, como vimos, se repete frequentemente na história humana, sempre pronta a condenar o que não pode ser prontamente compreendido.
O panteísmo é a doutrina que compreende Deus nada mais do que a somatória de tudo o que existe. Segundo essa escola filosófica, há uma aproximação de identidade completa entre Deus e a criação, entendidos como integrados em uma só e indissolúvel realidade. Assim, Deus é coincidente com a sua obra e nada pode existir que não seja a própria substância e manifestação da Divindade, até mesmo a condição humana. Tudo sendo Deus, toda individualidade somente existe como gotas em um oceano, e o oceano, por sua vez, nada mais é do que o conjunto de todas elas. Esta doutrina foi severamente combatida nos meios religiosos ocidentais, compreendida como uma negação da existência de um Deus independente e transcendente à Sua obra. Hoje compreendemos que a teologia cristã nos ensinou a divisar, ainda que situado nos rincões do infinito, somente a transcendência divina, como se fosse a Sua única realidade, visão que se define como monoteísta. Já o panteísmo é uma tentativa de se compreender Deus como uma imanência presente em toda criação, uma vez que o Senhor não poderia criar fora de Seu próprio campo de manifestação e sem que retirasse de Sua própria substância unitária, aspecto que também não pode ser negado.
Dessa forma o monoteísmo viu Deus em Sua transcendência, a unidade divina que está além da criação, enquanto que o panteísmo O vislumbrou em Seu aspecto imanente, inserido em tudo o que existe. Já o monismo é a exata soma das duas visões, a transcendência e a imanência divina, unificando as duas verdades em uma única realidade. E assim o monismo reúne o Deus superior, que comanda à distância a Sua criação, com o Deus interior, que é força e lei imanente e permanente em cada eu fenomênico em realização no mundo das formas.
No início do século XIX, o pensador alemão Christian Krause intentou também a união entre as doutrinas monoteísta e panteísta, criando o termo panenteísmo, também chamado de panteísmo acosmístico, calcado na mesma suposição monista de que todo o universo está contido na intimidade de uma única e divina substância primordial, aproximando-se do pensamento de Ubaldi.
Um modo facilitado de se compreender a relação entre o monoteísmo e o panteísmo é considerarmos a nossa vivência como fenômeno humano. Somos um organismo consciente formado por 100 trilhões de células que vivem no nosso campo de expressão interna e formam conosco uma unidade. Porém, não somos a exata soma de todas as nossas individualidades celulares, pois temos uma consciência à parte e superior ao conjunto, embora estejamos incorporados igualmente em cada uma delas em particular. Somos, portanto, uma entidade panteísta e monoteísta concomitantes em nossa relação corpórea, configurando-nos, na verdade, como um ente monista-unitário e indiviso.
Assim, o Deus panteísta é o infinito oceano de gotas de que se compõe a criação e o Deus monoteísta é a máxima individuação que transcende a todas elas. Ambos os aspectos se somam em uma unidade, na verdade, indissolúvel e que apenas conceitualmente se pode separar, compondo o verdadeiro monismo – a unidade divina, o Todo orgânico que tudo contém e, ao mesmo tempo, é mais do que o seu conjunto.
Dessa forma compreenderemos que, como nos afirmou Sua Voz (assim Pietro Ubaldi denominou a fonte inspiradora de seus ensinamentos, como veremos logo a seguir), se na história do pensamento religioso, a visão deífica progrediu do politeísmo para o monoteísmo no passado, deve agora evoluir do monoteísmo para o monismo, a fim de nos fazer avançar no indispensável e mais real entendimento da natureza de nosso Pai celestial. Lembrando que estamos considerando aqui o amplo monismo idealista e espiritual de Pietro Ubaldi, por julgá-lo o mais habilitado, na atualidade, para nos conduzir nessa escalada do conhecimento, uma vez que ele é o único capaz de absorver todas as outras doutrinas unicistas que citamos.
O monismo se apoia assim no princípio de unidade, como o fundamento que sustenta todo o edifício conceitual da criação, o alicerce de toda a fenomenologia universal. Por isso monismo nos diz que tudo no universo se constrói segundo um modelo único, oriundo de um único pensamento diretor que proporciona a tudo funcionamento e estrutura semelhantes. Observa-se, assim, um só princípio que se desdobra do geral ao particular, copiando-se sempre a si mesmo. Em decorrência disso, o universo se comporta como um grande e unitário organismo, um Todo coerente, funcionando suas partes de modo integrado em função de uma unidade maior.
Justifica-se, dessa forma, o fato de que as leis que regem esse Todo se comportem de forma idêntica em absolutamente todos os lugares em que expressa a existência, uma vez que elas são filhas de uma mesma Inteligência diretora. Se assim não fosse, não podendo se tocar fisicamente pelas imensas distâncias que os separam, os fenômenos não poderiam funcionar de forma tão semelhante. Por exemplo, por que a lei da gravidade atua exatamente da mesma maneira em regiões que jamais se conheceram? A unitária coerência das leis físicas é a máxima e inconteste prova de que a criação flui de uma única vontade que uniformiza todas as suas expressões fenomênicas, refletindo o Todo de onde provêm. “A unidade é a mais evidente expressão do monismo do universo e da presença universal da Divindade” – nos afirma Ubaldi em A Grande Síntese.
O princípio monista gera a repetição do tipo único, fazendo com que a criação reproduza, em todas as suas escalas, os mesmos fundamentos gerais do Todo. Por isso a obra divina, embora se divida do geral ao particular, irá refletir, nas partes, o mesmo comportamento da Unidade. A geometria monista faz-se assim holística em seus fundamentos, uma vez que as suas frações são iguais à totalidade.
Esquema este que identificamos nas formulações denominadas fractais, que se desenham como formas geométricas divididas em partes sucessivamente menores, as quais copiam, do infinito positivo ao negativo, a exata configuração do diagrama maior.
A dinâmica em fractal, segundo a qual é tecida a criação, representa exatamente o mesmo conceito apregoado pela doutrina holística atual, que se encontra refletido também no esquema holográfico, no qual cada porção repete exatamente a figura do conjunto. Princípio secular que se pode identificar nas culturas do passado, pois os grandes sábios de todos os tempos souberam enxergá-lo, com evidência, na expressão fenomênica do universo. Uma lenda védica nos diz que, no paraíso de Indra, há um colar de pérolas dispostas de tal maneira que, ao se olhar para uma delas, se vê refletido todo o colar. Anaxágoras no séc. V a.C. já afirmava que “tudo está em tudo” e que “em cada coisa há parte de todas as coisas”, conceito repetido por Heráclito no séc IV a.C., que, com poesia, nos revelava a mesma dinâmica holística do funcionamento universal, ao afirmar: “De todas as coisas um e do um, todas as coisas”. Parmênides, ao declarar que o cosmo era uma esfera única e imóvel, e Pitágoras, ao dizer que todas as coisas são números, vislumbravam igualmente a coesão unitária da criação. Os filósofos monistas, como Spinoza, ao supor o todo como a única realidade e Leibniz, declarando a unidade monádica da criação, estavam no encalço do princípio unitário. E, da mesma forma, os físicos modernos, empenhados na busca da grande teoria unificada, sem que o saibam, estão atendendo ao mais lídimo anseio da alma humana: a compreensão da lei de unidade que rege o universo e nos aproxima do Criador.
Esse princípio, contudo, foi melhor evidenciado por Jesus ao afirmar “Eu e o Pai somos um” e ao explicar que veio ao mundo “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós” (João 10:30 e 17:21 respectivamente ), suscitando-nos a entrega da vontade a Deus a fim de constituirmos com Ele e o universo uma verdadeira unicidade.
Pelo fato de podermos reduzir tudo a um tipo único, torna-se possível assim compreender toda a estrutura da criação, pois se conhecermos os princípios que regem um determinado fenômeno, basta extrapolá-los para as maiores ou menores unidades que lhe seguem, uma vez que todos lhes serão análogos. Assim o Todo sempre copia a si mesmo, o microcosmo repete o macrocosmo e nas menores particularidades fenomênicas se acham sempre presentes os mesmos fundamentos gerais que regem a criação. Um idêntico pensamento gera galáxias, guia mundos, constrói átomos e também forma seres fecundados de vida, sentimentos e vontade. Isso nos leva a reafirmar, como aprendemos em A Grande Síntese, que uma mesma potência se faz coesão no átomo, atração no mineral, luta no animal, simpatia no homem e amor na angelitude.
Além disso, observa-se na criação que o impulso de unificação se equilibra com uma igual força de partição, que tudo divide em menores componentes, fazendo o geral fragmentar-se no particular e especializar-se em funções específicas. Fato necessário para que o Todo se converta em organismo, onde quer que se expresse a fenomenologia universal. Todavia, podemos observar também que, embora a realidade unitária se separe em partes constituintes, estas logo tornam a se juntarem no afã de reconstituir a unidade. E, assim, a rica complexidade fenomênica da criação nada mais é do que a pulverização de uma mesma unidade que busca reunir-se novamente, fundindo suas partes em um indissolúvel conjunto. Tal impulso é facilmente observável em nós mesmos, pois somos feitos de um inestancável anseio por unificações que somente a herança dos atávicos impulsos divinos pode explicar.
Unidades de princípios e finalidades, de ações e meios, de dinamismos e trajetórias fazem assim do universo um grande e unitário organismo. Por isso, isolar-se é morrer em nosso cosmo e todo “filho” está imbuído do permanente ensejo de reencontrar-se com o seu “Pai”.
O princípio monista imprime a tudo uma razão de ser e um funcionamento lógico, tornando o universo um todo por excelência, orgânico e ordenado. Na infinita variedade das formas, ele se expressa sempre igual, ressurgindo com mecanismos semelhantes e objetivos comuns, embora em níveis e particularidades, às vezes, aparentemente diferenciados. Logo, esse é o fundamento que confere ordem e harmonia ao cosmo, sem o qual tudo se esfacelaria em um completo caos.
A própria lei que rege a criação se comporta como uma unidade orgânica, pois seus princípios se desdobram sempre dos maiores para os menores, gerando uma coerência de funcionamento que se harmoniza em torno de objetivos comuns e faz convergir causa e efeito, tornando ilusórias as suas divisões, uma vez que, fundidos na unidade, nada tem existência isolada. Por isso, Deus está ao mesmo tempo no centro e na periferia da criação, por mais distante que se possa concebê-Lo, não havendo para o pensamento diretor do universo lugar onde não se ache presente com a mesma potência de Seu cerne de origem. “Todas as coisas estão cheia de deuses”, nos afirmou a visão intuitiva de Tales de Mileto, ainda no século VI a.C., que enxergou em tudo a manifestação da mente divina.
O fundamento monista nos diz ainda que o edifício divino tem, não somente uma única origem e funcionamento, mas se constrói através do transformismo de uma só substância, fato que caracteriza justamente o monismo substancial. Do pensamento de Deus, portanto, parte uma emanação criadora unitária, que Ubaldi denomina substância, capaz de se converter em tudo o que é possível existir. Indefinível em sua natureza íntima, tal substrato unitário se constitui, em sua origem, de uma potência criadora que se dinamiza pela vontade, concretizando-se em todos os elementos conhecidos e desconhecidos, fazendo do universo nada mais do que uma abstração da mente divina. Esse conceito torna espírito, energia e matéria elementos de idêntica natureza que se diferenciam apenas por íntimo funcionamento dinâmico e nada mais. E assim, no edifício monista, essas três apresentações fenomênicas têm uma mesma fonte e não são, absolutamente, geradas em separado como anteriormente julgávamos. O espírito é a ideia pura, a energia é a ideia dinamizada progredindo no tempo e a matéria, a mesma ideia encarcerada no espaço. Tornaremos a esse monismo substancial a fim de visualizá-lo melhor, mais adiante.
Compreendemos ainda que, embora pareça um contrassenso ao nosso precário entendimento, o princípio de unidade se manifesta como uma divisão conceitual dualística e ternária, pois ele se faz dualidade e trindade ao mesmo tempo. Fato indispensável para se gerar a complexidade fenomênica universal e que entenderemos melhor ao apresentarmos os princípios de dualidade e trindade que integram o funcionamento do Todo.
O monismo, como princípio de unidade, está então inexoravelmente presente em tudo o que se forma na natureza. Tudo se origina a partir de uma semente, um núcleo irradiante de potencialidades criadoras que se desenvolve na multiplicidade da forma. Por exemplo, somos uma admirável unidade orgânica, uma única vontade operante de um eu central, manifesto em um universo de 100 trilhões de células que nasceram de um único óvulo fecundado, expressando nitidamente o admirável princípio unitário que funciona no Todo e no particular. E não somente os seres biológicos se desenvolvem a partir de bases unitárias, pois o universo físico se expandiu a partir de um ponto mínimo de singularidade, as galáxias são irradiações de um poderoso núcleo de atração gravitacional e os sistemas solares se constroem a partir da convergência de diáfanas massas nebulares. No reino elementar, igualmente, uma única substância, o hidrogênio, é a base para a formação de todos os 94 elementos naturais. E chegaremos à compreensão de que um único substrato forma todo o edifício atômico, com sua variada gama de partículas fundamentais. E uma só força origina todas as energias do universo, fato que, se ainda é motivo de perquirições pela nossa ciência, já desponta na intuição humana como uma verdade fundamental, pronta para concretizar a tão sonhada grande teoria unificada do universo.
Conhecedores de que uma base monista governa a obra divina, torna-se fácil compreender que o individualismo separatista, que por vezes nos domina as intenções, é inadequado sentimento que nos aparta das portentosas forças que sustentam a criação e nos faz paupérrimos em meio à abundância que nela impera. Por isso, unificar-se é o sentido da vida e o anseio natural que deve nos mover na caminhada evolutiva.
Torna-se claro que a abrangente visão monista de Ubaldi resgata o conceito de um Deus criador, ou seja, o criacionismo secular, sem negar a verdade inconteste do evolucionismo hodierno. E, unindo teses e antíteses numa elevada dialética espiritual, nos capacita a alcançar a visão síntese em que se desenha a geometria cósmica, satisfazendo-nos o natural desejo de discernimento. Dessa forma, o monismo efetua uma das mais importantes reconciliações que o homem moderno, urgentemente, deve empreender: a união das duas irrevogáveis e aparentemente contraditórias teorias sobre a macroestrutura da criação que chegaram até os nossos dias, o criacionismo e o evolucionismo, justificando-se a exata posição de cada uma delas no arranjo do Todo.
Belo Horizonte, inverno de 2005
Gilson Freire

Nota: Este artigo integra a obra Arquitetura Cósmica, do mesmo autor e publicada pela Editora INEDE.
Bibliografia:
1) UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. 21a ed. Campos dos Goytacazes: Ed. Instituto Pietro Ubaldi, 2001.
2) UBALDI, Pietro. Deus e Universo. 3a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1987.
3) UBALDI, Pietro. O Sistema. 2a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1984.
4) FREIRE, Gilson. Arquitetura Cósmica, Belo Horizonte: INEDE, 2006.


http://www.gilsonfreire.med.br/index.php/ubaldianos/breve-historia-do-monismo

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Aula - Cap. XVII SEDE PERFEITOS -.E.S.E.




Jesus nos disse: - “Sede vos perfeitos, assim como também vosso Pai celestial é perfeito”.
 (Mt V 44-48)
Essa frase soa como algo impossível, como sermos perfeitos iguais a Deus se estamos mais próximo da nossa criação do que da perfeição. Por isso que é preciso aprender a tirar o ensinamento da lição e não irmos ao pé da letra. Devemos fazer o nosso melhor onde estivemos. Sempre!
Cada um de nós encarnados e desencarnados, estamos em um determinado grau de evolução e trazemos gravado na consciência qual deve ser nossa postura diante da vida, o que devemos ser e fazer para sermos perfeito como Jesus nos ensina.
Somos regidos por Leis Divinas e elas mantem a harmonia de tudo e de todos no Universo, amando a Deus e ao próximo, fazendo tudo aquilo que gostaríamos que nos fizessem, praticando a caridade pelo bem sem esperar recompensas, seremos homens de bem.
A essência da perfeição é a prática da Caridade.  Sem Caridade não há salvação, pois ela é a união de todas as virtudes que nos aproximam de Deus.
E todo homem de bem tem a fé em Deus, fé no futuro, sabe que tudo o que passa é para seu próprio bem, faz o bem ao próximo sem esperar recompensas, paga o mal com o bem, aprende com seus erros, sem melindres ou sentimento de auto piedade.
Todas as religiões têm como função despertar a religiosidade no ser pensante (o sentimento) Mas o espiritismo, ciência, filosofia e religião nos esclarecem e desperta a nossa razão, mostrando que a vida prossegue além da morte, que nos encontramos numa escola temporária que é a Terra em favor de nossa iluminação espiritual, que nosso corpo de carne é apenas uma vestimenta a desgastar-se a cada dia, que os trabalhos e desgostos do mundo são recursos educativos, que a dor é o estímulo às mais altas realizações, que a nossa colheita futura se verificará, de acordo com a sementeira de agora, que a luz do Senhor clarear-nos-á os caminhos sempre que estivermos a serviço do bem, que a justiça não é uma ilusão.  Com todos esses conhecimentos o bom espírita caminha trabalhando na sua transformação moral.  Sendo um terreno fértil onde as sementes produzirão bons frutos, como na parábola do semeador. Que diz:
Saiu o semeador para semear a sua semente. E quando semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do Céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e com elas cresceram os espinhos, e sufocaram-na. E outra caiu na boa terra, e, tendo crescido, deu frutos...
Essa alegoria mostra que somos seres milenares e que passamos por estágios evolutivos.
O semeador é Jesus, as sementes são as palavras de Deus.
Ouve uma época em que nem demos ouvidos aos ensinos de Jesus (como as sementes no caminho que caíram foram pisadas e os pássaros comeram).
Ouve outra época em ouvimos os ensinos, porem não lhe demos atenção (como as que caíram sobre as pedras, por falta de terra, morreram).
Outra época ainda, ouvimos, começamos a dar atenção, porém as ilusões do mundo nos tiram à atenção, não tínhamos tempos para os ensinos (como as que cresceram com os espinhos, eles as sufocaram).
E agora nesta nossa fase, estamos ouvindo os ensinos, e queremos aprender com eles. Estamos nos esforçando para tal (assim como as sementes em solo fértil).
Nosso caminho é praticar a caridade, é não esmorecer diante das dificuldades é ter coragem, é termos moral conosco e com o próximo, é sermos virtuosos, tendo o bem dentro de nós, tendo qualidades, vencendo tudo que for em excesso, que  leva ao vício, buscando o equilíbrio emocional e material.
E quando sentirmos o peso das dificuldades, temos o recurso da prece sincera, nosso canal direto com a espiritualidade que está sempre disposta a nos auxiliar.
Ensinando-nos a viver no mundo sem sermos do mundo, com o pensamento sempre no bem.
Lembrando-nos que somos uma grande família e que é necessário que vivamos em sociedade, com suas lutas diárias, suas leis, junto com diversos espíritos de diferentes graus evolutivos, onde estaremos aprenderemos e ensinamos, ajudando o progresso em comum e do Planeta.
Nessa nossa caminhada não podemos esquecer que somos corpo, mente e alma. E que nosso corpo material está interligado com nossa alma que um influencia o outro.
É preciso que cuidemos de nosso corpo, com alimentos saudáveis, higiene diária, exercícios, descanso e lazer.
Que cuidemos de nossa alma com leituras edificantes, preces diária, bons sentimentos e pensamentos, trabalho voluntário no bem, nos imunizando de doenças, que dificultarão nosso caminhar.
Que sejamos gratos a Deus pela vida, que tenhamos sempre força, fé e coragem.
Graças a Deus.


Elaine Saes - Escola itaporã - Básico II 2017

domingo, 5 de novembro de 2017

O Deus Monista de Jesus

A concepção que Jesus tem de Deus não é politeísta, como a dos greco-romanos pagãos, nem é monoteísta, como a dos judeus e cristãos, nem mesmo panteísta, como a ideologia de alguns orientais — a concepção de Jesus é tipicamente monista.

As religiões politeístas adoram diversos deuses, todos eles transcendentes ou separados do mundo; a religião monoteísta adora um só Deus, também transcendente ou separado do mundo.
Tanto os politeístas como os monoteístas estabelecem total dualidade entre Deus (deuses) e o mundo. O panteísmo, por seu turno, identifica Deus com o mundo, ou com a soma total das creaturas.

Se os dualistas afirmam unilateralmente a transcendência sem a imanência de Deus, os panteístas pecam pelo extremo oposto, afirmando unilateralmente a imanência (ou identidade) e negando a transcendência (ou alteridade) entre Deus e o mundo.

Se os dualistas pecam por separatismo, o panteísta peca por identificação.

Tendo Jesus vivido no meio do Império Romano politeísta-dualista, e tendo nascido do povo judaico monoteísta-dualista, era de esperar que a sua concepção de Deus fosse de colorido dualista, politeísta ou monoteísta.

Entretanto, a noção que o Nazareno tem de Deus não é a dos romanos, nem a dos judeus; por outro lado, ele também não é panteísta, como certos orientais.

A noção que o Nazareno tem de Deus é equidistante do separatismo judaico-romano e da identificação do panteísmo oriental.
A noção do Nazareno é tipicamente monista; para ele, "Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai — mas o Pai é maior do que eu."
E, olhando para outros homens, ele acrescenta: "O Pai também está em vós, e vós estais no Pai."
E chega ao ponto de dizer: "Vós sois deuses", não no sentido politeísta, mas no sentido monista; isto é: a essência da Divindade está em vós, mas a vossa existência humana é apenas uma manifestação individual dessa essência universal.

Assim como uma onda do mar poderia dizer: eu e o mar somos um, eu estou no mar, e o mar está em mim, mas o mar é maior do que eu; assim como qualquer luz colorida poderia dizer: eu e a Luz Incolor somos um, a Luz está em mim, e eu estou na Luz, mas a Luz Incolor é maior do que eu — assim pode todo ser finito dizer: eu, o finito, estou no Infinito, e o Infinito está em mim, mas o Infinito é maior do que eu.

As teologias cristãs, através dos séculos, não permaneceram fiéis a esse monismo cósmico do Nazareno; recaíram no monoteísmo dualista da sinagoga de Israel, considerando Deus como separado do mundo e do homem.
De vez em quando, aparece no seio da cristandade um verdadeiro místico que, como Jesus, professa a concepção monista de Deus — e logo é tachado de panteísta pelos monoteístas dualistas das igrejas cristãs, como aconteceu, ainda há pouco, a Teilhard de Chardin, que se aproximava notavelmente do monismo do Evangelho.

Filósofos modernos crearam a palavra "panenteísmo", em vez de monismo, que quer dizer "tudo em Deus", mas não "tudo é Deus", como quer o panteísmo.

Depois do Concílio Vaticano II, há cristãos eclesiásticos que têm a coragem de falar num "Deus no mundo" e num "mundo em Deus"; falam também do "Cristo interno", aproximando-se da concepção de Deus segundo o Cristo do Evangelho.

O monismo, ou panenteísmo do Nazareno, representa uma atitude única e inédita, não contagiada nem pelo judaísmo, nem pelo paganismo ocidentais, nem tampouco pelo panteísmo oriental. Também neste particular, o Cristo do Evangelho lembra um verdadeiro "bloco errático", sem nenhuma afinidade com o ambiente circun jacente.

Huberto Rohden
Agradecimento a Estevão Pereira - mentor - Ifevale

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 4 CAP 2 – O MITO – O SAGRADO - A RELIGIÃO


BIBLIOGRAFIA
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Edit. Ática

REFLEXÃO

MITIFICARAM JESUS?
O homem tem uma capacidade muito grande de mitificação (Fazer com que (alguma coisa) seja transformado em mito) A todo instante surgem ídolos que em atos extremos são mitificados.
Esses ídolos surgem em todos os campos desde os esportivos, musicais, artísticos aos intelectuais, filosóficos e religiosos.
Muitos desses trazem suas mensagens comportamentais e podem até revelar verdades transcendentes.
Os valores exagerados os endeusam e cegam seus adoradores e seguidores.
Jesus realmente se dizia uma divindade ou os homens que o endeusaram?

1ª PARTE: OBJETIVO DESTA AULA
A aula tem por finalidade esclarecer e aprofundar nossos conhecimentos nos conceitos de religião, religiosidade, mito e sagrado afim de que possamos entender melhor o que e como professamos a nossa crença.

2ª PARTE: INTRODUÇÃO
O entendimento dos conceitos apresentados nesta aula nos fará compreender melhor o que Jesus queria dizer com o “adorar a Deus em espírito e verdade”.

Neste aspecto procuramos investigar se esse “adorar” se refere a uma entrega incondicional, impensada e mesmo sem o devido entendimento, ou se para alcançarmos essa “verdade” teremos necessidade do uso do Logus, do intelecto ou da razão.

Quando Kardec se referia a “fé raciocinada”, sua proposta conduzia, como bem diz as palavras de Jesus, onde não basta só a fé provinda do coração, mas as verdades são aquisições através do intelecto, pelos caminhos da razão, do raciocínio e da lógica.

3ª PARTE: A RELIGIOSIDADE E O SAGRADO
Os seres humanos percebem regularidades e sabem que não são causa delas. Percebem que há coisas úteis e nocivas. A percepção da regularidade nos conduz a crença em poderes superiores. Nasce assim a crença na divindade.

Ao trabalharem, os homens se relacionam com o tempo, pois o trabalho é feito em vista de algo que ainda não existe e que existirá no futuro. É uma manifestação de seu poder limitado.

Ao estudarmos a memória vimos que ela é responsável pela identidade pessoal ao registrar a continuidade de uma vida que transcorre no tempo; assim temos consciência de uma identidade que existiu no passado, existe no presente, continuará existindo no futuro e que, sob a óptica dessa existência, irá desaparecer um dia. Somos conscientes do tempo como uma presença (o presente) situada entre duas ausências (o passado e o futuro). Podemos até conceber a existência futura num outro lugar, seguindo outros caminhos.

A crença no poder superior (divindade) e numa vida após a morte material, define o núcleo da religiosidade e se exprime na experiência do sagrado.

O Sagrado, é a experiência e a percepção da presença de uma potência ou força sobrenatural. A sacralidade introduz uma ruptura entre o natural e o sobrenatural mesmo que os seres sagrados sejam naturais, pois é sobrenatural sua força ou potência para realizar aquilo que nós humanos julgamos impossível. O sagrado opera os encantamentos do mundo, age magicamente, cria vínculos.

O sagrado é, pois a qualidade excepcional, boa ou má, benéfica ou maléfica. Assim, nasce com ele o
sentimento religioso.

4ª PARTE: A RELIGIÃO E A ORIGEM DO HOMEM
A religião é o re-ligare. A religião é um vínculo entre o mundo profano e o mundo sagrado, isto é
entre a natureza e as divindades.

Arca da Aliança é o símbolo do vínculo que une o povo hebreu ao seu deus. No cristianismo,
Pedro tem as chaves do Reino: o que ele ligar na Terra será ligado no Céu. Os céus, o monte Olimpo,
as montanhas do deserto de Israel, templos e igrejas são os santuários. Para certas religiões esses
lugares são moradias dos deuses.

A religião não transmuta apenas o espaço, mas também qualifica o tempo dando-lhe a marca do
sagrado. Narra a origem dos deuses e por sua ação a origem das coisas. A narrativa sagrada é a
história sagrada que os gregos chamavam Mito.

O Mito é a maneira pela qual a sociedade narra para si mesma seu começo e toda a realidade.

Com o surgimento da Filosofia e depois dela a Teologia, a razão exigia que os deuses fossem eternos.

Assim a história sagrada (mitologia) é uma Cosmogonia, ou seja, narra o nascimento, a finalidade e o perecimento de todos os seres sob a ação dos deuses.

Embora a narrativa sagrada (religiosa) seja uma explicação para a ordem natural ela não se dirige ao intelecto do crente, mas se endereça ao coração deles. Desperta emoções e sentimentos de: admiração, espanto, medo, esperança, amor e ódio. Pelo fato de se dirigir às paixões, a religião lhe
pede só uma coisa: a fé. Ou seja, a confiança e a adesão plena ao que lhe é manifestado como ação da
divindade. A narrativa sagrada tem sua lógica e via de regra esta voltada para o aspecto moral,
apresentando uma finalidade prática sujeita à vontade da divindade. Daí sua separação gradativa do
mito, que é idealizado e voltado mais para explicar os caprichos e ações da divindade, sob a ótica das
paixões humanas, não se preocupando em enfatizar o aspecto moral, já que as divindades agiam com
as mesmas inconsistências morais que o homem comum.

A religião é crença e não, saber. A tentativa para transformar a religião em saber racional se
chama Teologia.

5ª PARTE: RITOS E OBJETOS SIMBÓLICOS
O rito é uma cerimônia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre humanos e a divindade.

Para agradecer dons e benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a bondade dos deuses, para exorcizar a cólera dos deuses quando os humanos transgridem as leis sagradas, as cerimônias ritualísticas são extremamente importantes e tem uma grande variedade de formas. A sua repetição minuciosa e perfeita, tal como foi praticada a primeira vez é relevante na obtenção dos resultados.

A religião não sacraliza apenas o espaço e o tempo, mas também os seres e os objetos do mundo que se tornam símbolos.

Os seres ou objetos se tornam protetores, ameaçadores, benfeitores e perseguidores. Tornam-se
Tabus (intocáveis), não podem ser tocados nem manipulados por ninguém que não seja autorizado.

Assim, o pão e o vinho, para os cristãos ritualisticamente só podem ser consumidos sob condições
muito determinadas.

A religião tende aumentar o campo simbólico transformando objetos em tabus. A figuração do
sagrado se faz por emblemas, assim: a cruz, a meia lua, o castiçal.

6ª PARTE: MANIFESTAÇÃO - REVELAÇÃO – LEI DIVINA
Normalmente nas religiões os deuses se manifestam aos humanos e os levam a ver uma outra realidade escondida sob a realidade cotidiana. A divindade levando um humano ao seu mundo,
desvenda-lhe a Verdade e o ilumina com sua luz. É a Alethéa (Verdade) grega.

Há religiões em que deus se revela sem precisar que o ser humano saia do seu mundo. Ele revela a sua vontade, a vontade de deus. Assim, de uma forma ou de outra, a manifestação da Verdade ou a revelação da Vontade exprimem que aos humanos é dado conhecer seu destino a conhecer as leis divinas.

A vontade divina pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos na forma de leis divinas,
mandamentos, ordenamentos, comandos. Portanto a ordem no mundo decorre dos decretos divinos.

Por exemplo: os 10 Mandamentos.

O modo como a vontade divina se manifesta em leis são de dois tipos:
1- A divindade usa intermediários para revelar a lei; o profeta, que está constantemente relembrando a Lei.

2- O outro modo é aquele que utiliza um tipo especial de intermediários, os videntes que interpretam os enigmas divinos (as pitonisas).

7ª PARTE: VIDA APÓS MORTE – SALVAÇÃO - MILENARISMO
Como é a imortalidade? Algumas religiões afirmam que o corpo apresenta um outro ente feito de
outra matéria que permanece após a morte. Assim o corpo mortal é habitado por uma entidade chamada espírito, alma, sopro.

Nas religiões de Encantamento (antiga Grécia, África e América) o ente fica habitando a Terra
sob as diferentes formas da Natureza. Em outras, o espírito irá para o mundo divino desfrutando as
suas delícias. Porem, se suas faltas forem tantas, sua imagem vagara pelas trevas, sem repouso e sem
descanso.

Nas religiões da Salvação, como o caso do judaísmo, cristianismo e islamismo a obra da Salvação é realizada por um enviado de deus. As religiões de Salvação são messiânicas, coletivas. Um povo, o Povo de Deus, será salvo pela lei e pelo enviado divino.

O Milenarismo é próprio das religiões de Salvação. É a esperança da felicidade perene do mundo quando, após sofrimentos profundos, os seres humanos forem regenerados, purificados e libertos pela divindade. O Milenarismo é, portanto a crença num reino de mil anos que antecede o preparo do Fim do Mundo, ao qual se inicia a Vida Eterna dos Eleitos de Deus.

8ª PARTE: A FINALIDADE DA RELIGIÃO E CRÍTICAS
O sagrado dá significação ao espaço, ao tempo e aos seres que neles nascem, vivem e morrem.
O sagrado se transformando em religião confere a ela as seguintes finalidades:
  • Proteger os seres humanos contra o medo da natureza
  • Dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte.
  • Oferecer aos humanos a esperança de vida após morte
  • Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para as dores físicas e psíquicas.
  • Garantir respeito às normas, as regras e aos valores da moralidade estabelecida pela sociedade.
Quanto às críticas feitas a religião, as primeiras partiram dos filósofos pré-socráticos que criticaram o politeísmo e o antropomorfismo de seus deuses.

Outra crítica á religião partiu de Epicuro repisada pôr Lucrecio. Segundo eles, a religião é fabulação ilusória nascida do medo, da morte e da natureza.

Spinoza critica a superstição. Movidos por medo e esperança, os homens não confiam mais em
si mesmos e nem nos conhecimentos racionais para evitar males e atrair bens. Essa crença no seu
entender é superstição. Para alimentá-la criam a religião e esta se mantém para manter o domínio
sobre os homens. O poder religioso é um forte poder de submissão dos homens por outros homens.

Os estados teocráticos transformam cidadãos em cegos obedientes aos mandatários.

Outra critica severa que se faz às religiões é a alienação produzida por elas. Marx já asseverava:

“a religião é o ópio do povo”. O que é uma verdade insofismável, quando a religião é manipulada pelo poder temporal.

9ª PARTE: MITO E RAZÃO
Na maioria das culturas, a religião se apresenta como sistema explicativo geral, oferecendo causas e efeitos, relações entre seres e valores morais.

No caso da cultura ocidental, a ruptura com o Mito efetuada pelo surgimento da Razão, desfez o
privilégio da religião como visão única do mundo existente. Filosofia e Ciência elaboraram explicações cujos princípios são completamente diferentes da religião. Mais convincentes e condizentes com a razão e com a observação do mundo ao redor.

Assim, o Mito é uma narrativa, uma fala, um relato cujo tema principal é a origem do mundo e
dos homens sob o ponto de vista de deuses muito humanos. Já o Logus (Razão) busca a coerência e a
unidade sob a diversidade. O Logus purifica a linguagem dos elementos qualitativos e emotivos, busca retirar tanto quanto possível à ambigüidade dos termos que emprega, utilizando provas, demonstrações e argumentos racionais. O Mito, ao contrário, opera por metaforização contínua, isto é, uma mesma palavra ou conjunto de palavras tenderia a possuir um numero imenso de significações.

10ª PARTE: CONCILIAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E RELIGIÃO
Vários filósofos procuraram conciliar a Filosofia com a religião e destas tentativas, destacamos:
Kant, Hegel e a fenomenologia. Concluíram, porém, que a consciência pode relacionar-se com o mundo de várias maneiras tais como: o senso comum, a ciência, a filosofia, as artes, a religião, de sorte que não há oposição nem exclusão entre elas, mas diferença. Isto significa que oposição só surgirá quando a consciência estando numa atitude, pretende relacionar-se com o mundo utilizando significações e práticas de outra atitude.

11ª PARTE – CONCLUSÃO
Ao homem lhe foi dado o cérebro e o coração, a razão e os sentimentos, a ânsia do conhecimento e a fé, portanto, a adoração a Deus, citada por Jesus não se trata de uma fé cega sem a utilização dos recursos por Deus disponibilizados. Mas, sim de uma veneração pelo entendimento da sabedoria divina existente na Creação.

Com isto o Homem, ser viajor no tempo e no espaço busca se assemelhar a divindade e com ela
participar dessa obra maravilhosa e sublime.

Alan Krambeck

12ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA
Próxima aula:
Livro 4 – Cap.3 - Monoteísmo – Politeísmo – Dualismo – Monismo – Panteísmo - Deismo
Leituras:
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Edit. Atica
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA – Nicola Abbagnano – Edit Martins Fontes
O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA ANTIGUIDADE – Huberto Rohden - Ed Alvorada

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 4 CAP 3 – MONOTEÍSMO – POLITEÍSMO – DUALISMO MONISMO - PANTEÍSMO - DEISMO


BIBLIOGRAFIA
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA – Nicola Abragnano – Edit. Martins Fontes
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Edit. Ática
O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA ANTIGUIDADE – Huberto Rohden – Ed. Alvorada

REFLEXÃO
FILHOS OU CRIATURAS DE DEUS?
Filhos são aqueles gerados pelo pai. É assim que funciona a lei biológica. É a creação
Um quadro ou uma escultura é a obra do artista. É a criação.
E nós, espíritos?
Os espíritos foram gerados pelo Pai ou foram por Ele criados?

1ª PARTE: OBJETIVO DESTA AULA
Esta aula tem por objetivo o aprofundamento dos conceitos de Monoteísmo, Politeísmo, Dualismo, Monismo, Panteísmo e Deismo. Entendemos que esses conceitos nos levarão a compreensão maior do espectro religioso existente no mundo.

2ª PARTE: INTRODUÇÃO
A doutrina espírita é Dualista ou Monoteísta?
Kardec afirma que a doutrina não é Panteísta.
Podemos dizer que ela esta mais para Monista ou Deista?
Todas essas questões podem nos embaraçar e nos trazer sentimentos dos mais diversos, entre os quais: - esse assunto é por demais complicado e vivo muito bem sem isto; - vou continuar fazendo a caridade pois estou convicto que este é o caminho correto.

O conhecimento, a intelectualidade irá nos auxiliar justamente na hora em que a convicção sofra algum abalo de credibilidade.

Esta aula pretende mostrar as diferentes considerações das culturas diversas como as também estudadas e defendidas por líderes religiosos, por teólogos e filósofos das mais diferentes épocas a respeito de Deus, pois este é o conceito de todas as crenças e religiões.

Vamos entender os conceitos visto que eles expõem formas de entendimento da divindade.

3ª PARTE: POLITEÍSMO
O Politeísmo se caracteriza como a linha religiosa onde existem vários deuses, alguns bons, outros maus e outros podendo ser ora bons e ora maus

Convém entendermos o termo PAGÃO criado no seio da Igreja Romana para identificar até pejorativamente, aqueles que não adoravam o mesmo deus que os cristãos e os judeus. Assim, os gregos, os egípcios, os babilônios, os persas, os hindus e mesmo os índios e nativos da África eram e
são considerados pagãos. Os heréticos também passavam a ser considerados pagãos.

O politeísmo, porém, deve ser entendido como sendo uma divindade compartilhada por um
número indefinido de entes. Os diferentes deuses são como os atributos da divindade maior.

4ª PARTE: MONOTEÍSMO
No Monoteísmo a divindade é una, é o deus único. Todas as qualificações em seu grau máximo,
ou infinito estão a ele atribuídos. Em algumas religiões o mesmo deus é tanto bom quanto mau. No
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo a divindade é o bem e o mal provém das entidades demoníacas,
inferiores a divindade e em luta contra ela.
No Monoteísmo há uma distinção entre o Criador e a Criação. Ele a cria. No cristianismo, Deus
partilha sua divindade com Jesus e com o Espírito Santo. Diz-se que estas são suas formas de
manifestação.

Rohden enfatiza o uso de Creador em vez de Criador pois aquele gera e este cria.


5ª PARTE: DUALISMO
As religiões dualistas são aquelas que admitem duas divindades antagônicas, a do Bem e a do
Mal, que não cessam de combater-se

Tiveram sua origem na Pérsia, no Mazdeismo com Zoroastro sendo seu principal difusor. Esta
doutrina teve forte influencia no Judaísmo e conseqüentemente no Cristianismo e Islamismo. Estes
porém colocando a divindade maligna em nível inferior ao seu deus.

Teremos em aulas posteriores um estudo mais aprofundado sobre a doutrina do bem e do mal.

O termo dualismo adquire porém outros significados. Entre eles destacamos aquele que admite
a existência de duas substancias componentes do Universo: a substancia material e a substancia
espiritual. Este sentido de dualismo nasceu com Descartes quando cria a Res Cogitans (a coisa
pensante ou a substancia espiritual) e a Res Extensa (a substancia material).

6ª PARTE: MONISMO
O Monismo pode ser descrito como sendo o monoteísmo onde a divindade gera as suas criaturas como se fosse um pai biológico ao gerar seus filhos. A semente provem dele.

Rohden afirma que o verdadeiro Monoteísmo culmina logicamente em Monismo, ainda segundo
ele, o monoteísmo admite um só Deus, mas, não considera Deus como a única realidade e assim
também confirma o monismo. Para o monoteísta o mundo foi creado do nada, ao passo que para o
monista, o mundo veio do Todo, isto é, de Deus, o Espírito Universal, a única realidade.

Ressalte-se que o Monismo difere do Panteísmo, pois este não admite as duas realidades.

Alem de Rodhen, Pietro Ubaldi é um monista de renome.

7ª PARTE: PANTEÍSMO
Panteísmo é a doutrina segundo a qual deus é a natureza do mundo identificando a causalidade
divina como sendo a causalidade natural. Segundo esta doutrina o homem como ser, provém do todo
universal e após sua morte física retorna ao todo novamente.

O Panteísmo, na realidade nasce com Heráclito, passando pelos estóicos e por Plotino,
atingindo seu auge na modernidade com Spinoza.

O Panteísmo afirma a imanência (Deus estar em todas as criaturas), mas nega a transcendência
de Deus.

8ª PARTE: DEISMO TEISMO
O Deismo segundo o Dicionário de Filosofia é a doutrina de uma religião natural ou racional não
fundada na revelação histórica, mas na manifestação natural da divindade a razão do homem.

Entendemos por Revelação Histórica aquela feita por alguns membros agraciados de uma determinada comunidade cuja tarefa é encaminhar essa comunidade a salvação.

O Deísmo é proveniente do Iluminismo por isso esse apego ao racional. Ele surgiu na Inglaterra
e difundiu-se pela França, Alemanha e Itália. Na França com Voltaire sofreu pequena alteração e
passou-se a chamar Teísmo. A diferença básica entre estes dois termos é que deismo caracteriza pela
busca de Deus pelo homem e o teismo é o sentido inverso, ou seja, a revelação de Deus ao homem.

As teses fundamentais do Deísmo são:
1- a religião não pode conter nada de irracionalidade
2- a verdade da religião revela-se a razão
3- a revelação histórica é supérflua
4- as crenças da religião natural são poucas e simples, p. ex.: existência de deus, governo divino
do mundo, retribuição do bem e do mal em vida futura.

9ª PARTE: CONCLUSÃO
Após o entendimento dos conceitos elucidados nesta aula podemos dizer que a doutrina espírita
pode ser considerada Monoteísta, Deista e Dualista no sentido cartesiano, ou seja, o Universo é
composto de duas substancias: a material e a espiritual.

Ressalta-se igualmente que este estudo dá uma continuidade ao estudo de Deus e neste ressalta-se quatro enfoques distintos, ou seja:
1- Deus e o Mundo – visão segundo a qual, Deus é o creador, a causa primeira da existência de
tudo
2- Deus e o Mundo Moral – visão que Deus é a virtude em seu grau máximo, é o Bem natural
3- Deus e a Divindade – trata da sua relação consigo mesmo, ou seja, sua partição nas demais
divindades
4- A Revelação de Deus – visão das formas de acesso a Deus, como Ele se comunica ou como se
chega a Ele

Finalmente, o estudo desta aula nos remete a uma compreensão maior de como os povos e suas diferentes concepções da divindade se relacionam com ela. Faz-nos refletir sobre o orgulho que
poderá advir quando uma comunidade se diz herdeira ou escolhida da verdade divina, proclamando
assim a sua forma como a correta de adorar ao Creador.
Alan Krambeck

10ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA
Próxima aula:
Livro 4 – Cap.4 - A Evolução das Religiões (do Totemismo a Espiritualização)
Leitura:
O ESPÍRITO E O TEMPO - J. Herculano Pires - Edit. FEESP.