1. Revelar, do
latim revelare, cuja raiz
é velum, véu, significa
literalmente sair de sob o véu e,
figuradamente, descobrir, dar a
conhecer uma coisa secreta ou
desconhecida. A característica
essencial de qualquer revelação
tem que ser a verdade. Revelar um
segredo é tornar conhecido um
fato; se é falso, já não é um
fato e, por conseguinte, não
existe revelação. O caráter
essencial da revelação divina
é, pois, o da eterna verdade.
Toda revelação eivada de erros,
ou sujeita à modificação, não
pode emanar de Deus.
2. "O
Espiritismo, partindo das
próprias palavras do Cristo, como
este partiu das de Moisés, é
conseqüência direta da sua
doutrina", assevera Kardec no
cap. I de seu livro "A
Gênese". Acrescenta ele, à
idéia vaga da vida futura,
ensinada por Jesus, a revelação
acerca da existência do mundo
invisível que nos rodeia, define
os laços que unem a alma ao
corpo, e levanta o véu que
ocultava aos homens os mistérios
do nascimento e da morte.
3. A primeira
revelação da lei de Deus está
personificada em Moisés, a
segunda no Cristo, a terceira não
está personificada em pessoa
alguma. As duas primeiras foram
individuais; a terceira é
coletiva. Eis aí o caráter
essencial da revelação
espírita.
4. Ela é
coletiva no sentido de não ser
feita ou dada como privilégio a
pessoa alguma. Ninguém pode, por
conseguinte, inculcar-se como seu
profeta exclusivo, porque ela foi
espalhada simultaneamente por
sobre a Terra, a milhões de
criaturas, de todas as idades e
condições sociais, confirmando a
predição de Joel, registrada em
Atos dos Apóstolos (cap. 2, vv.
16 a 18): "Nos últimos
tempos, disse o Senhor, derramarei
o meu espírito sobre toda a
carne; os vossos filhos e filhas
profetizarão, os mancebos terão
visões, e os velhos sonhos".
5. As duas
primeiras revelações, sendo
fruto do ensino pessoal, ficaram
forçosamente localizadas, isto
é, apareceram num só ponto, em
torno do qual a idéia se propagou
pouco a pouco, mas foram precisos
muitos séculos para que
atingissem as extremidades do
mundo, sem mesmo o invadirem
inteiramente. A terceira tem isto
de particular: não estando
personificada em um só
indivíduo, surgiu simultaneamente
em milhares de pontos diferentes,
que se tornaram centros ou focos
de irradiação.
6. Vinda numa
época de emancipação e madureza
intelectual, em que a
inteligência, já desenvolvida,
não se resigna a representar
papel passivo e em que o homem
nada aceita às cegas, mas quer
ver aonde o conduzem, quer saber o
porquê e o como de cada coisa --
tinha ela que ser ao mesmo tempo o
produto de um ensino e o fruto do
trabalho, da pesquisa e do livre
exame.
7. Os
Espíritos não ensinam senão
justamente o que é necessário
para guiar o homem no caminho da
verdade, mas abstêm-se de revelar
o que o homem pode descobrir por
si mesmo, deixando-lhe o cuidado
de discutir, verificar e submeter
tudo ao cadinho da razão.
8. Em parte
alguma, afirma Kardec, o ensino
espírita foi dado integralmente.
Ele diz respeito a tão grande
número de observações, a
assuntos tão diferentes, exigindo
conhecimentos e aptidões
mediúnicas especiais, que
impossível era achar-se reunidos
num mesmo ponto todas as
condições necessárias. Tendo o
ensino que ser coletivo e não
individual, os Espíritos
dividiram o trabalho, disseminando
os assuntos de estudo e
observação como, em algumas
fábricas, a confecção de cada
parte de um mesmo objeto é
repartida por diversos operários.
9. A
revelação fez-se assim
parcialmente em diversos lugares e
por uma multidão de
intermediários, e é dessa
maneira que prossegue ainda, pois
que nem tudo foi revelado. Cada
centro encontra nos outros centros
o complemento do que obtém, e foi
o conjunto, a coordenação de
todos os ensinos parciais que
constituíram a Doutrina
Espírita.
10. Nenhuma
ciência existe que haja saído
prontinha do cérebro de um homem.
Todas, sem exceção, são fruto
de observações sucessivas,
apoiadas em observações
anteriores, para chegar ao
desconhecido. Foi assim que os
Espíritos procederam com
relação ao Espiritismo; daí ser
gradativo o ensino que ministram.
11. Um último
caráter da revelação espírita,
que ressalta mesmo das condições
em que ela se produz, é que,
apoiando-se em fatos, ela tem que
ser, e não pode deixar de ser,
essencialmente progressiva, como
todas as ciências de
observação.
12. Entendendo
com todos os ramos da economia
social, aos quais dá o apoio de
suas próprias descobertas, ela
assimilará sempre todas as
doutrinas progressivas, de
qualquer ordem que sejam, desde
que hajam assumido o estado de verdades
práticas e abandonado o
domínio da utopia. Caminhando de
par com o progresso, o Espiritismo
jamais será ultrapassado.
13. Por sua
natureza, a revelação espírita
tem duplo caráter, pois
participa, ao mesmo tempo, da
revelação divina e da
revelação científica. Numa
palavra, é divina a sua origem e
da iniciativa dos Espíritos,
sendo sua elaboração fruto do
trabalho do homem.
14. A
revelação cristã havia sucedido
à revelação mosaica; a
revelação espírita vem
completá-la. O Cristo a anunciou,
e ele próprio preside a esse novo
surto do pensamento humano.
Manifestando-se fora e acima das
igrejas, seu ensino dirige-se a
todas as raças. Por toda parte os
Espíritos proclamam os
princípios em que ela se apóia,
convidando o homem a meditar em
Deus e na vida futura.
15. Ela é,
pois, a revelação dos tempos
preditos. Todos os ensinos do
passado, parciais, restritos,
limitados na ação que exerciam,
são por ela ultrapassados. Ela
utiliza os materiais acumulados;
reúne-os, solidifica-os, para
formar um vasto edifício em que o
pensamento, a vontade, possa
expandir-se.
16. As
Inteligências superiores, em suas
relações mediúnicas com os
homens, confirmam os ensinos
ministrados pelos Espíritos menos
adiantados e expõem o seu modo de
ver, as suas opiniões sobre todos
os grandes problemas da vida e da
morte, a evolução dos seres e as
leis superiores do Universo. Suas
revelações concordam entre si e
se unem para constituir uma
filosofia admirável.
17. O
Espiritismo, pois, não dogmatiza,
nem se imobiliza. Sem nenhuma
pretensão à infalibilidade, seu
ensino é progressivo como os
próprios Espíritos o são.
THIAGO
BERNARDES
Bibliografia:
"A Gênese",
cap. I, de Allan Kardec.
"Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis.
"Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis.
http://www.oconsolador.com.br/4/esde.html
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