— Para provar a cada um de uma maneira diferente. Aliás, vós o sabeis essas provas são escolhidas pelos próprios Espíritos, que muitas vezes sucumbem ao realizá-las.
815. Qual dessas duas provas é a mais perigosa para o homem: a da desgraça ou a da riqueza?
— Tanto uma como a outra. A miséria provoca a lamentação contra a Providência; a riqueza leva a todos os excessos.
816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe também de mais meios para fazer o bem?
— E justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo.
Comentário de Kardec: A
posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas
tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque, quanto mais o homem
for rico e poderoso, mais obrigações tem a cumprir, maiores
são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o
pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu
poder.
A
riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e
nos distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: —
“Em verdade, vos digo: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma
agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. (Ver item 266*.)
item 266*Não parece natural que os Espíritos escolham as provas menos penosas?
- Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando ele está liberto da matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente.
O homem, submetido na Terra à influência das ideias carnais, só vê nas suas provas o lado penoso. É por isso que lhe parece natural escolher as que, do seu ponto de vista, podem subsistir com os prazeres materiais. Mas na vida espiritual ele compara os prazeres fugitivos e grosseiros com a felicidade inalterável que entrevê, e então, que lhe importam alguns sofrimentos passageiros? O Espírito pode escolher a prova mais rude, e em consequencia a existência mais penosa, com a esperança de chegar mais depressa a um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável, para se curar mais rapidamente. Aquele que deseja ligar o seu nome à descoberta de um país desconhecido, não escolhe um caminho coberto de flores, pois sabe os perigos que corre, mas sabe também a glórita que o espera, se for feliz.
A doutrina da liberdade de escolha das nossas existências e das provas que devemos sofrer, deixa de parecer extraordinária, quaqndo se considera que os Espíritos, libertos da matéria, apreciam as coisas de maneira diferente da nossa. Eles antevêem o fim, e esse fim lhe parece muito mais importante que os prazeres fugitios do mundo, Depois de cada existência, vêem o progresso que fizeram e compreendem quanto ainda lhe falta em pureza, para atingirem, Eis porque se submetem voluntariamente a todas as vicissitude da vida corporea, pedindo eles mesmos aquelas que podem fazê-los chegar mais depressa. Não há pois motivo para nos admirarmos de que o Espírito não dê preferência à existência mais suave. No seu estado de imperfeição, ele não pode desfrutar a vida sem amarguras, que apenas entrevê. E é para atingi-la que procura melhorar-se.
Não vemos diariamente exemplos de coisas parecidas? O homem que trabalha uma parte de sua vida, sem treguas nem descanso, a fim de ajuntar o necessário para o seu bem-estar, não desempenha uma tarefa que se impôs, com vistas a um futuro melhor? O militar que se oferece para uma missão perigosa, o viajante que não enfrenta menores perigos, no interesse da ciência ou de sua própria fortuna, não se submetem a provas voluntárias, que devem proporcionar-lhe honra e proveito, se as vencerem? A que o homem não se submete e não se expõe, pelo seu interesse ou pela sua gloria? Todos os concursos não são provas voluntárias para melhorar na carreira escolhida?
Não se chega a nenhuma posição social de elevada importancia, na ciências, nas artes, na indústria, sem passar pela série de posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é assim o decalque da vida vida espiritual. Nela encontramos em menor escala, todas as peripécias daquela.Se na vida terrena escolhemos muitas vezes as provas mais difíceis, com vista a um fim mais elevado, por que o Espírito, que vê mais longee para quem a vida do corpo é apenas um incidente fugaz, não escolherá uma existência penosa e laboriosa, se ela o deve conduzir a uma uma felicidade eterna?
Aqueles que dizem que se pudessem escolher a sua existência, teriam pedido a de príncipes ou milionários, são comos os miopes que não vêem o que tocam, ou como as crianças gulosas, que respondem, quando perguntamos que profissão prefere: pasteleiros ou confeiteiros.
Da mesma maneira, o viajante, no fundo de um vale nevoento.não vê a extensão nem os pontos extremos da sua rota; mas chegando ao cume da montamha, seu olhar abrange o camminho percorrido e o que falta a percorrer, vê o final de sua viagem, os obstáculos que ainda tem de vencer, e pode então escolher com mais segurança os meios de o atingitr. O Espírito encarnado é como o viajante no fundo do vale; desembaraçado dos liames terrestres, é como o que atingiu o cume. Para o viajante, o fim é o repouso após a fadiga; para o Espirito é a felicidade suprema, após as atribulações e as provas.
Todos os Espíritos dizem que, no estado errante , buscam estudam, observam, para fazerem suas escolhas. Não temos um exemplo disso na vida corpórea? Não buscamos muitas vezes, através dos anos, a carreira que livremente acabamos por escolher, porque achamos a mais apropriada aos nossos objetivos? Se fracasamos numa, procuramos outra. Cada carreira que abraçamos é uma fase, um período da vida. Não empregamos cada dia em escolher o faremos ano outro? Ora, o que são as diferentes existências corpórias para o Espírito, senão fases, peíriodos, dias da sua vida espírita que como sabemos, é a vida normal, não sendo o vida corpórea mais do que transitoria, passageira?
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