Ensina a Doutrina Espírita que, perante Deus, todos os homens são iguais, pois tiveram o mesmo princípio e destinam-se, sem exceção, ao mesmo fim: a glória e a felicidade.
As dissemelhanças que apresentam entre si, quer em inteligência, quer em moralidade, não derivam da natureza íntima deles; resultam apenas de haverem sido criados há mais ou há menos tempo e do maior ou menor aproveitamento desse tempo, no desenvolvimento das aptidões e virtudes que lhes
são intrínsecas, consoante o bom ou o mau uso do livre arbítrio por parte de cada um.
Essa igualdade absoluta dos homens perante Deus seria válida também em Sociologia?
“Não; nem é possível. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres”, já o disseram, há mais de um século, as vozes que ditaram a Kardec os delineamentos filosóficos do Espiritismo.
A ambição e a inveja de uns, somadas ao idealismo irrefletido de outros, fazem que muitos sonhem com uma quimérica igualdade das riquezas, que, se chegasse a concretizar-se, “seria desfeita a curto prazo pela força das coisas”—, acrescentaram, ainda, aquelas mesmas vozes.
Não se infira daí que as falhas de nossa estrutura sócio-econômica, responsáveis por tantos sofrimentos, não devam ser sanadas. Pelo contrário, todos devemos lutar para que as instituições terrenas se aperfeiçoem, permitindo alcancemos uma situação tal em que caiam os privilégios de casta ou de nascimento; extingam-se os preconceitos de cor, de raça e de crença; haja oportunidades educacionais para quantos as desejem, indistintamente; as sanções penais não recaiam tão somente sobre os fracos; a mão-de-obra seja associada e não escrava do capital, etc.
O melhor meio de atingirmos esse objetivo, todavia, não é a subversão da sociedade, o que retardaria o progresso e o bem-estar coletivos, mas sim. a cristianização do homem, levando-o ao cumprimento exato de seus deveres para consigo mesmo, para com o próximo e para com Deus, incutindo-lhe,
outrossim, serena e inabalável confiança nos desígnios da Providência, que não desampara ninguém e, malgrado certas aparências enganadoras, a todos retribui de conformidade com seus méritos, através do mecanismo das vidas sucessivas.
Urge compreendamos que, qualquer que seja a posição em que se achem situados, “todos os homens são proletários da evolução” e que a diversidade de funções no complexo social é tão indispensável à sua harmonia quanto as variadas finalidades dos órgãos o são ao equilíbrio de nosso organismo.
“Que os trabalhadores da direção saibam amar e que os da realização nunca odeiem” (Emmanuel), tal a equação oferecida pelo Evangelho à problemática social.
Quando o egoísmo e o orgulho deixarem de ser os sentimentos predominantes na Terra; quando compreendermos que somos todos irmãos, amando-nos realmente uns aos outros como preceitua a Religião; todo homem de boa vontade achará ocupação adequada às suas aptidões, que lhe garanta
o mínimo necessário a uma vivência compatível com a dignidade humana, e mesmo aqueles que não mais possam manter-se em atividade, por doença ou velhice, terão a seu favor o amparo da lei, sem que precisem humilhar-se, recorrendo àcaridade pública.
Beneficiados pela lei de Deus, que nos assinalou um só e único destino, busquemos, todos, conquistar a Sabedoria e o Amor, razão teleológica de nossa existência, dedicando-nos ao trabalho e à prática do Bem, guardando a ceríeza de que, embora momentâneamente co locados em diferentes planos na paisagem social da Terra, em atenção às necessidades evolutivas de cada qual, todos caminhamos para um atado de justiça perfeita, o que vale dizer — todos haveremos de sentir, um dia, o “reino do céu” dentro de nossos próprios corações.
Livro As Leis Morais - Rodolfo Calligari
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