CHEVERUS
Bordeaux, 1861
Não podeis servir a Deus e a Mamon; guardai bem isto, vós que sois
dominados pelo amor do ouro, vós que venderíeis a alma para enriquecer,
porque isso poderia elevar-vos acima dos outros e proporcionar-vos o
gozo das paixões. Não, não podeis servir a Deus e a Mamon! Se sentirdes,
portanto, vossa alma dominada pelas cobiças da carne, apresse-vos em
sacudir o jugo que vos esmaga, pois Deus, justo e severo, vos
perguntará: Que fizeste, ecônomo infiel, dos bens que te confiei?
Empregaste essa poderosa fonte das boas obras unicamente na tua
satisfação pessoal?
Mas
qual é, então, o melhor emprego da fortuna? Procurai nestas palavras:
“Amai-vos uns aos outros”, a solução desse problema, pois nelas está o
segredo da boa aplicação das riquezas. O que ama o seu próximo já tem a
sua conduta inteiramente traçada, pois a aplicação que agrada a Deus é a
da caridade. Não essa caridade fria e egoísta, que consiste em
distribuir ao redor de si o supérfluo de uma existência doirada, mas a
caridade plena de amor, que procura a desgraça e a socorre sem
humilhá-la. Rico, dá do teu supérfluo; faze ainda mais; dá do teu
necessário, porque o teu necessário é também supérfluo, mas dá com
sabedoria. Não repelias o pranto, com medo de seres enganado, mas vai à
origem do mal; ajuda primeiro; informa-te depois, para ver se o
trabalho, os conselhos, a afeição mesmo, não seriam mais eficazes do que
a tua esmola. Difunde ao teu redor, com a abastança, o amor do
trabalho, o amor do próximo, o amor de Deus. Põe a tua riqueza sobre uma
base segura e que te garantirá grandes lucros: a das boas obras. A
riqueza da inteligência deve servir-te como a de ouro; difunde em teu
redor os benefícios da instrução, distribui aos teus irmãos os tesouros
do amor, que eles frutificarão.
*
UM ESPÍRITO PROTETOR
Cracóvia, 1861
Quando considero a brevidade da vida, causa-me dolorosa impressão a
vossa incessante preocupação com os bens materiais, enquanto dedicais
tão pouca importância e consagrais tão reduzido tempo ao aperfeiçoamento
moral, que vos será levado em conta na eternidade. Seria de crer, ao
ver-se a atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão da mais
alta importância para a humanidade, quando, na verdade, trata-se quase
sempre da satisfação das vossas necessidades exageradas, da vaidade, ou
de vos entregardes aos excessos. Quantas penas, quantos cuidados e
tormentos, quantas noites em claro, para aumentar uma fortuna
freqüentemente mais que suficiente! O cúmulo do absurdo é ver-se, não
raro, aqueles que tem um imoderado amor da fortuna e dos gozos que ela
proporciona, sujeitarem-se a um trabalho penoso, vangloriarem-se de uma
vida de sacrifício e merecimento, como se trabalhassem para os outros e
não para si mesmos. Insensatos! Pensais que realmente vos serão levados
em conta os cuidados e os esforços que o egoísmo, a cupidez ou o orgulho
puseram em ação, enquanto esqueceis o vosso futuro, bem como os deveres
de solidariedade fraterna, inerentes a todos os que desfrutam os
benefícios da vida social? Pensastes apenas no vosso corpo. O seu
bem-estar, os seus gozos, foram os objetos exclusivos da vossa egoísta
solicitude. Por ele que morre, esquecestes o Espírito que viverá para
sempre. Assim, esse amo, tão mimado e acariciado, tornou-se o vosso
tirano; comanda o vosso Espírito, que se fez seu escravo. Seria esse o
objetivo da existência que Deus vos concedeu?
*
FÉNELON
Alger, 1860
O homem sendo o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe
depositou nas mãos, severas contas lhe serão pedidas do emprego que lhes
dará, em virtude do seu livre arbítrio. O um emprego consiste em
utiliza-los somente para a sua satisfação pessoal. Ao contrário, o
emprego é bom sempre que dele resulta algum bem para os outros. O mérito
é proporcional ao sacrifício que para tanto se impõe. A beneficência é
apenas um dos modos de empregar a fortuna: ela alivia a miséria atual,
aplaca a fome, preserva do frio e dá asilo ao abandonado. Mas um dever
igualmente imperioso, igualmente meritório, é o de prevenir a miséria. É
essa, sobretudo, a missão das grandes fortunas, pela possibilidade de
proporcionarem trabalhos de toda a espécie. E mesmo que elas tivessem de
tirar um proveito natural, o bem não deixaria de existir, pois o
trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem, sempre
satisfeito de poder dizer que ganhou o seu próprio pão, enquanto a
esmola humilha e degrada. A fortuna concentrada numa só mão deve ser
como uma fonte de água viva, que espalha a fecundidade e o bem-estar ao
seu redor. Oh!, vós ricos, que a empregardes segundo a vontade do
Senhor, vosso próprio coração será o primeiro a beneficiar-se nessa
fonte benfazeja e tereis nesta vida os gozos inefáveis da alma, em vez
dos gozos materiais do egoísmo, que deixam o vazio no coração. Vosso
nome será bendito sobre a Terra, e quando a deixardes, o Soberano Senhor
vos dirigirá as palavras da parábola dos talentos: “Oh, bom e fiel
servo, entrai no gozo de vosso Senhor!” Nessa parábola, o servo que
enterrou o dinheiro que lhe havia sido confiado não é a imagem dos
avarentos, em cujas mãos a fortuna se torna improdutiva? Se, entretanto,
Jesus fala principalmente de esmolas, é que no seu tempo, e no país em
que vivia, ainda não se conheciam os trabalhos que as artes e as
indústrias mais tarde criariam, e nos quais a fortuna pode ser empregada
utilmente, para benefício geral. A todos os que podem dar, pouco ou
muito, direi, portanto: Daí esmola quando necessário, mas o quanto
possível, converta-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não
tenha do que se envergonhar.
O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XVI
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