Por mais
anestesiados se encontrem os centros do discernimento intelectual, dia chega em que ele se instala.
Passe o
tempo sob a aflição do tóxico que perturba a faculdade da razão, momento surge
em que se reajustam os núcleos da atividade do pensamento e ele brota.
Apesar da
intensidade clamorosa dos fatores perturbantes que destroem os sentimentos
superiores da vida, ao impacto dos projéteis da ira alucinada, do ódio avassalador,
do ciúme desequilibrante ou do amor próprio enlouquecido, levando a criatura a
atitudes infelizes, chega a oportunidade em que aparecem os pródromos da sua
presença.
*
O
arrependimento sempre se manifesta na consciência em débito para com a vida.
A
princípio, ei-lo como lembrança da falta cometida de que já se não supunha
existir qualquer sinal; posteriormente, a recordação do momento infeliz que se
estabelece; mais tarde, a ideia rediviva dominante e por fim a obsessão do
remorso, avassaladora.
Insidioso
e maleável, o arrependimento é câncer que se apropria do homem que se deixou
colher em falta, pela vindita ou pelo desforço.
*
Há
pessoas que dizem: “Arrependo-me de me não ter vingado.”
Algumas
exclamam: “Arrependo-me de não ter expulso o inimigo à minha porta.”
Outros
proferem: “Arrependo-me do bem que fiz.”
Algumas
contraditam: “Amarguro-me, sim, porque fui eu quem o ajudou e arrependo-me da
hora inditosa em que nutri a víbora que hoje me picou...
Em
verdade devemos arrepender-nos das más ações que cometemos, louvando sem cessar
os momentos briosos do auxílio que dispensamos e agradecendo a Deus a
oportunidade em que poderíamos ter ferido mas não o fizemos, o ensejo de
vingança, sem havermos descido a rampa da desgraça, a ocasião de negarmos o
bem, tendo distendido a escudela da generosidade,
O
arrependimento que enseja reabilitação do gravame é convite da consciência ao
refazimento da obra mal sucedida. Se, todavia, a vítima transitou e a perdeste
de vista, o acúleo do arrependimento se converte em cravo que se fixa no cerne
do espírito, qual presença da dor que infligiste, até que se te depurem os
fatores negativos que causaste.
Não te
permitas, portanto, trair, enganar, acusar, ferir, mesmo que tenhas razão. Se a
tens, obviamente não se faz necessário descartar-te de quem te prejudica, porquanto
estás melhor do que ele. Se não a tens, não te compete a tarefa do desforço,
desde que o teu padecimento é o corretivo para as tuas imperfeições.
Em
qualquer circunstância, poupa-te desde hoje ao impositivo escravízante que te surpreenderá amanhã.
Arrependimento
sadio das faltas cometidas é compromisso assumido com as tarefas a executar.
Arrependimento
perturbador que ultraja a consciência torna-se problema que se afigura de
difícil solução.
Caso não
te disponhas a tudo recomeçar sob o beneplácito da
Misericórdia
Divina que nos colocou no mundo para amar e amar, servir e servir porque é da
Lei que “somente pelo amor os homens serão salvos”, padecerás do arrependimento
perturbador, que nada edifica.
Leis Morais – Joana de Ângelis
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