domingo, 14 de fevereiro de 2016

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 2 CAP 3


IMAGINAÇÃO / PENSAMENTOS / INTELIGÊNCIA  VONTADE / LIVRE ARBÍTRIO / LIBERDADE

BIBLIOGRAFIA 
CONVITE Á FILOSOFIA -Marilena Chauí – Edit. Ática
PENSAMENTO E VONTADE – Ernesto Bozzano – FEB – 7a ed
MECANISMOS DA MEDIUNIDADE – André Luiz/C. Xavier – FEB – 3a ed 

REFLEXÃO
A DOR É O FRUTO DO PRAZER?
  O binômio prazer-dor é um orientativo de nossas ações. Sempre que possível buscamos o prazer ou aquilo que nos agrada e nos afastamos da dor ou daquilo que nos desagrada. Por vezes até postergamos o prazer em detrimento de uma dor presente ou postergamos a dor em detrimento de um prazer momentâneo. Nossa razão e nossa inteligência podem trabalhar sobre o nosso prazer num sentido de bem orientá-lo para que ele não se transforme posteriormente em dor e que até possa prolongar esse prazer. O prazer no mundo moderno fica sujeito aos apelos externos bem como a mercê de nossas imperfeições. Quando este prazer não é conduzido pela razão ele poderá ser a causa de nossas dores?   

1ª PARTE: OBJETIVO DA AULA 
 Esta aula tem por objetivo explorar os assuntos do título que tão próximo do espírito se encontram. Ou melhor, são atributos do espírito. A investigação prossegue no sentido de formarmos nossos pensamentos sobre a questão de onde ela reside: se dentro ou fora do corpo físico.
 
2ª PARTE: INTRODUÇÃO   Os assuntos tratados nesta aula se encontram no limite do físico e do extrafisico, ou, do corpóreo e do extracorpóreo. Desejamos compreender melhor esses limites. Vamos perceber que os limites da ciência da matéria estão muito próximos de nós. O cérebro é ainda uma incógnita para o homem. Portanto, a metafísica se inicia justo nestes limites que se encontram tão próximos de nós. Somos ilimitados? 

3ª PARTE: IMAGINAÇÃO   Pela imaginação, relacionamo-nos com o ausente e com o inexistente. Perceber esta folha é relacionar-se com sua presença e existência. Imaginar um livro é relacionar-se ou com a imagem do livro percebido ou com um livro ausente e inexistente, que ainda não foi escrito e é apenas o-livro- possível. Graças à imaginação, abre-se para nós o tempo futuro e o campo dos possíveis. A percepção observa as coisas, as pessoas, às situações. Observar é jamais ter uma coisa, pessoa ou situação de uma só vez e por inteiro. A percepção observa porque alcança as coisas, as pessoas, às situações por perfis, perspectivas, faces diferentes que vão sendo articuladas umas às outras, num processo sem fim, podendo sempre enriquecer nosso conhecimento, perceber aspectos novos, ir “completando” o percebido com novos dados ou aspectos.   A imaginação, ao contrário, não observa o objeto: cada imagem põe o objeto por inteiro. Se uma pessoa apaixonada tem diante de si a fotografia da pessoa amada, tem a imagem dela. Ao olhá-la, não olha para as manchas coloridas, para os traços reproduzidos no papel, não presta atenção no trabalho do fotógrafo, mas torna presente a pessoa amada ausente. A imagem é diferente do percebido porque
ela é um análogo do ausente, sua presentificação. Em outras palavras, percebemos e imaginamos ao mesmo tempo, embora perceber e imaginar sejam diferentes. Percebo a fotografia e imagino a pessoa amada. Percebo a fisionomia da pessoa fotografada (o olhar, o sorriso, as mãos, as roupas) e imagino a sedução do olhar, a doçura do sorriso, a sutileza dos gestos, a preferência de certas roupas. São dois estados de consciência simultâneas e diferentes.   A imaginação pode ser reprodutora ou criadora em várias modalidades:  Imaginação reprodutora propriamente dita, isto é, a imaginação que toma suas imagens da percepção e da memória;  Imaginação evocadora, que presentifica o ausente por meio de imagens com forte tonalidade afetiva;  Imaginação irrealizadora, que torna ausente o presente e nos coloca vivendo numa outra realidade que é só nossa como no sonho, no devaneio e no brinquedo. Esta imaginação tem forte tonalidade de magia;  Imaginação fabuladora, de caráter social ou coletivo, que cria os mitos e as lendas pelos quais uma sociedade, um grupo social ou uma comunidade imaginam sua própria origem e a origem de todas as coisas, oferecendo uma explicação para seu presente e, sobretudo para a morte. É a imaginação religiosa;  Imaginação criadora, que inventa ou cria o novo nas artes, nas técnicas e na Filosofia. Aqui, combinam-se elementos afetivos, intelectuais e culturais que preparam as condições para que algo novo seja criado e que só existia, primeiro, como imagem prospectiva ou como uma possibilidade.
 
4ª PARTE: INSTINTOS, HÁBITOS E INTELIGÊNCIA.   O Instinto é inato e busca satisfazer necessidades de sobrevivência do corpo físico. Temos os seguintes exemplos: a busca da comida, da água, das necessidades fisiológicas e de reprodução.  O Hábito é adquirido por uma necessidade não básica, mas compulsória. Como exemplo temos o dirigir um automóvel sua troca de marchas, o andar de bicicleta, o nadar, o patinar.  A tendência do instinto e do hábito é a repetição e o automatismo das respostas aos problemas.  A Inteligência humana, enquanto atividade mental e de linguagem, pode ser definida como a capacidade para enfrentar ou colocar diante de si problemas práticos e teóricos, para os quais encontra, elabora ou concebe soluções, seja pela criação de instrumentos práticos (as técnicas), seja pela criação de significações (ideias e conceitos). Caracteriza-se pela flexibilidade, plasticidade e inovação, bem como pela possibilidade de transformar a própria realidade (trabalho, artes, técnicas, ações, políticas, etc.).  A inteligência se realiza, portanto, como conhecimento e ação.   A inteligência colhe, recolhe e reúne os dados oferecidos pela percepção, pela imaginação, pela memória e pela linguagem, formando redes de significações com as quais organizamos e ordenamos nosso mundo e nossa vida, recebendo e dando sentido a eles.  
5ª PARTE: PENSAMENTOS   O pensamento, porém, vai além do trabalho da inteligência: abstrai (ou seja, separa) os dados das condições imediatas de nossa experiência e os elabora sob a forma de conceitos, ideias e juízos, estabelecendo articulações internas e necessárias entre eles pelo raciocínio (indução e dedução), pela análise e pela síntese. Formula teorias, procura prová-las e verificá-las, pois está voltada para a verdade do conhecimento.   Um conceito ou uma ideia é uma rede de significações que nos oferece o sentido interno e essencial daquilo a que se refere: os nexos causais ou as relações necessárias entre seus elementos, de sorte que por eles conhecemos a origem, os princípios, as consequências, as causas e os efeitos daquilo a que se refere. Por exemplo, vejo rosas, margaridas, girassóis. Mas concebo pelo pensamento o conceito ou a ideia universal de flor.   O pensamento elabora teorias, ou seja, uma explicação ou interpretação intelectual de um conjunto de fenômenos e significações (objetos, fatos, situações, acontecimentos), que estabelece a natureza, o valor e a verdade de tais fenômenos. O pensamento propõe e elabora teorias e cria métodos.   Quando pensamos, pomos em movimento o que nos vem da percepção, da imaginação, da memória; apreendemos o sentido das palavras; encadeamos e articulamos significações, algumas vindas da nossa experiência sensível, outras de nosso raciocínio, outras formadas pelas relações entre imagens, palavras, lembranças e ideias anteriores. O pensamento apreende, compara, separa, analisa, reúne, ordena, sintetiza, conclui, reflete, decifra, interpreta, interroga.

6ª PARTE: DESEJO E VONTADE 
 Para os seres humanos, satisfazer às necessidades é fonte de satisfação. O desejo parte da satisfação de necessidades, mas acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, às pessoas e às situações novas qualidades e sentidos. No desejo, nossa imaginação busca o prazer e foge da dor pelo significado atribuído ao que é desejado ou indesejado.   O desejo é busca da fruição daquilo que é desejado, porque o objeto do desejo dá sentido à nossa vida, determina nossos sentimentos e nossas ações.   A Vontade difere do desejo por possuir três características que este não possui:  O ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos. Estes podem ser materiais (uma montanha surge no meio do caminho), físicos (fadiga, dor) ou psíquicos (desgosto, fracasso, frustração). A tenacidade e a perseverança, a resistência e a continuação do esforço são marcas da vontade e por isso falamos em força de vontade;  O ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, isto é, exige deliberação, avaliação e tomada de decisão. A vontade pesa, compara, avalia, discute, julga antes da ação;  A vontade refere-se ao possível, isto é, ao que pode ser ou deixar de ser e que se torna real ou acontece graças ao ato voluntário, que atua em vista de fins e da previsão das consequências. Por isso, a vontade é inseparável da responsabilidade. O desejo é paixão. À vontade, decisão. O desejo nasce da imaginação. A vontade se articula à reflexão. O desejo não suporta o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata e o prazer imediato. À vontade, ao contrário, realiza-se no tempo; o esforço e a ponderação trabalham com a relação entre meios e fins e aceitam a demora da satisfação. Mas é o desejo que oferece à vontade os motivos interiores e os fins exteriores da ação. À vontade cabe a educação moral do desejo. Na concepção intelectualista, a inteligência orienta a vontade para que esta eduque o desejo. Na concepção voluntarista, a vontade boa tem o poder de educar o desejo, enquanto a vontade má submete-se a ele e pode, em muitos casos, pervertê-lo. 

7ª PARTE: LIVRE-ARBÍTRIO   O livre-arbítrio é um poder pronto para operar; é uma liberdade de eleição; é uma liberdade da vontade, estando intimamente ligado ao exercício da vontade, pelo menos no sentido da “ação voluntária”.   A expressão livre-arbítrio e liberdade têm, às vezes, o mesmo significado. Em muitos casos, porém, faz-se distinção entre uma e outra. Em Santo Agostinho esta distinção aparece claramente. Ele designa a liberdade como o estado de bem-aventurança eterna em que não se pode pecar. A liberdade distingue-se da possibilidade de bem ou mal voluntários. Em contrapartida, o livre-arbítrio designa a possibilidade de escolher entre o bem e o mal; é a faculdade da razão e da vontade por meio da qual é escolhido o bem, mediante o auxílio da graça, e o mal, pela ausência dela. “A oposição é, pois, clara entre o livre-arbítrio do homem, cujo mau uso não destrói a natureza, e a liberdade, que é justamente o bom uso do livre-arbítrio”. “Deve-se confessar que há em nós livre-arbítrio para fazer o mal e para fazer o bem”. Para Santo Agostinho, o homem, portanto, não é sempre “livre” quando goza do livre-arbítrio; depende do uso que faça dele.
 
8ª PARTE: LIBERDADE   Necessidade é o termo empregado para referir-se ao todo da realidade, existente em si e por si, que age sem nós e nos insere em sua rede de causas e efeitos, condições e consequências. Exemplo: o trabalho é uma necessidade.  Fatalidade é o termo usado quando pensamos em forças transcendentes superiores às nossas e que nos governam, quer o queiramos ou não. Exemplo: a tragédia causada pelas tsunamis, o ganhar um premio da Mega-sena.  Determinismo é o termo empregado, a partir do século XIX, para referir-se à realidade conhecida e controlada pela ciência e, no caso da ética, particularmente ao ser humano como objeto das ciências naturais (química e biologia) e das ciências humanas (sociologia e psicologia), portanto como complemento determinado pelas leis e causas que condicionam seus pensamentos, sentimentos e ações, tornando a liberdade ilusória. Exemplo: o determinismo da gravidade, o determinismo da evolução.  O par contingência-liberdade também pode ser formulado pela oposição acaso-liberdade. Contingência ou acaso significam que a realidade é imprevisível e mutável, impossibilitando deliberação e decisão racionais, definidoras da liberdade.   Necessidade, fatalidade, determinismo significam que não há lugar para a liberdade, porque o curso das coisas e de nossas vidas já está fixado, sem que nele possamos intervir. Contingência e acaso significam que não há lugar para a liberdade, porque não há curso algum das coisas e de nossas vidas sobre o qual pudéssemos intervir. 
 Mas tudo isso não significa que o ser humano não é livre. Considerando que não somos apenas o resultado inevitável da situação dada, porque, como seres conscientes, ao tomarmos conhecimento das causas que atuam sobre nós, somos capazes de realizar uma ação transformadora a partir de um projeto de ação.   Deixamos de ser passivos para sermos atuantes. A primeira grande teoria filosófica da liberdade é exposta por Aristóteles, permanecendo através dos tempos, chegando até o século XX, quando foi retomada por Sartre. Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) ao que acontece sem escolha deliberada (contingência).   Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade para determinar a si mesmo ou para ser autodeterminado. É pensada, também, como ausência de constrangimento externos e internos, isto é, como uma capacidade que não encontra obstáculos para se realizar, nem é forçado por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade plena do agente, que dá a si mesmo os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou forçado por nada e por ninguém.   A liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário (de vontade). A inteligência inclina a vontade numa certa direção, mas não a obriga nem a constrange, tanto assim que podemos agir na direção contrária à indicada pela inteligência ou razão. É por ser livre e incondicionada que a vontade pode seguir ou não os conselhos da consciência. A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão.   Para Sartre, transformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando dizemos estar enfraquecidos, a fraqueza é uma decisão nossa. Quando dizemos não ter o que fazer, o abandono é uma decisão nossa. Ceder tanto quanto não ceder é uma decisão nossa.  A liberdade é a capacidade para darmos um sentido novo ao que parecia fatalidade, transformando a situação de fato numa realidade nova, criada pela nossa ação. Essa força transformadora, que torna real o que era somente possível e que se acha apenas latente como possibilidade.   O possível não é pura contingência ou acaso. O necessário não é fatalidade bruta. O possível é o que se encontra aberto no coração do necessário e que nossa liberdade agarra para fazer-se liberdade. Nosso desejo e nossa vontade não são incondicionados, mas os condicionamentos não são obstáculos à liberdade e sim o meio pelo qual ela pode exercer-se.    É na ação, na prática, que se constrói a liberdade, a partir dos desafios que os problemas do existir apresentam ao ser humano. As soluções não decorrem de escolha entre alternativas dadas, mas exigem imaginação criadora, invenção, “ardis da razão”.   A liberdade é a realização da ação para transformar um possível num real, uma possibilidade numa realidade.
 
9ª PARTE:  CONCLUSÃO   Os conceitos estudados nesta aula estão todos relacionados com a existência do espírito, pois eles são seus atributos. Tal como o conceito da divindade, só o atingimos através dos seus atributos, assim também o espírito. Portanto, quanto melhor compreendermos suas manifestações, maior será a nossa entendimento dele. Alan Krambeck 

 10ª PARTE: MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA.  
Próxima aula: Aula 29 -  A  RAZÃO – INSTRUMENTO DO CONHECIMENTO Leitura:  CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí  

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