Texto auxiliar de estudo de A Gênese, cap. I e II
A EXTINÇÃO DO CATIVEIRO
O século XIX caracteriza-se por suas numerosas conquistas. A
par dos grandes fenômenos de evolução científica e industrial que o abalaram, observam-se
igualmente acontecimentos políticos de suma importância, renovando as
concepções sociais de todos os povos da raça branca.
Um desses grandes acontecimentos é a extinção do cativeiro.
Cumprindo as determinações do Divino Mestre, seus
mensageiros do plano invisível laboram junto aos gabinetes administrativos, de
modo a facilitar a vitória da liberdade.
As decisões do Congresso de Viena, reprovando o tráfico de homens
livres, encontrara funda repercussão em todos os países. Em 1834, o parlamento
inglês resolve abolir a escravidão em todas as colônias da Grã-Bretanha. Em
1850, o Brasil suprime o tráfico africano. Na revolta de 1848, a França
delibera a extinção do cativeiro em seus territórios. Em 1861, Alexandre II da
Rússia declarava livres todos os camponeses que trabalhavam sob o regime da
escravidão, e, de 1861 a 1865, uma guerra nefanda devasta o solo hospitaleiro
dos Estados Americanos do Norte, na luta da secessão, que termina com a vitória
da liberdade e das ideias progressistas da grande nação da América.
O SOCIALISMO
Grandes ideias florescem na mentalidade de então. Ressurgem,
aí, as antigas doutrinas da igualdade absoluta. Aparece o socialismo propondo
reformas viscerais e imediatas. Alguns idealistas tocam a Utopia de Thomas
More, ou a República perfeita, idealizada por Platão. Fundam-se as alianças de
anarquismo, as sociedades de caráter universal. Uma revolução sociológica de consequências
imprevisíveis ameaça a estabilidade da própria civilização, condenando-a a
destruição mais completa.
O fim do século que passou é o cenário vastíssimo dessas
lutas inglórias. Todas as ciências sociais são chamadas aos grandes debates levados
a efeito entre o capitalismo e o trabalho.
Onde se encontram, porém, as forças morais capazes de
realizar o grande milagre da elucidação de todos os espíritos? A Igreja Romana,
que nutria a civilização ocidental desde o seu berço, era, por força das circunstâncias,
a entidade indicada para resolver o grande problema.
Todavia, após as afirmativas do Sílabo e depois do famoso
discurso do bispo Strossmayer, em 1870, no Vaticano, quando Pio IX decretava a infalibilidade
pontifícia, semelhante equação era muito difícil por parte da Igreja.
Entretanto, Leão XIII vem ao campo da luta com a encíclica "Rerum Novarum",
tentando conciliar o braço e o capital, apontando a cada qual os seus mais
sagrados deveres. Se o efeito desse documento teve considerável importância
para as classes mais cultas do Velho e do Novo Mundo, tanto não se deu com as
classes mais desfavorecidas, fartas de palavras.
RESTABELECENDO A VERDADE
O Espiritismo vinha desse modo, na hora psicológica das
grandes transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse o fruto
sagrado de quantos trabalharam e sofreram no esforço penoso da civilização. Com
as provas da sobrevivência, vinha reabilitar o Cristianismo que a Igreja
deturpara, semeando, de novo, os eternos ensinamentos do Cristo no coração dos
homens. Com as verdades da reencarnação, veio explicar o absurdo das teorias
igualitárias absolutas, cooperando na restauração do verdadeiro caminho do
progresso humano.
Enquadrando o socialismo nos postulados cristãos, não se
ilude com as reformas exteriores, para concluir que a única renovação apreciável
é a do homem intimo, célula viva do organismo social de todos os tempos,
pugnando pela intensificação dos movimentos educativos da criatura, à luz
eterna do Evangelho do Cristo. Ensinando a lei das compensações no caminho da redenção
e das provas do indivíduo e da coletividade, estabelece o regime da
responsabilidade, em que cada espírito deve enriquecer a catalogação dos seus
próprios valores. Não se engana com as utopias da igualdade absoluta, em vista
dos conhecimentos da lei do esforço e do trabalho individual, e não se
transforma em instrumento de opressão dos magnatas da economia e do poder, por
consciente dos imperativos da solidariedade humana. Despreocupado de todas as
revoluções, porque somente a evolução é o seu campo de atividade e de experiência,
distante de todas as guerras pela compreensão dos laços fraternos que reúnem a
comunidade universal, ensina a fraternidade legítima dos homens e das pátrias,
das famílias e dos grupos, alargando as concepções da justiça econômica e corrigindo
o espírito exaltado das ideologias extremistas.
Nestes tempos dolorosos em que as mais penosas transições se
anunciam ao espírito do homem, só o Espiritismo pode representar o valor moral
onde se encontre o apoio necessário à edificação do porvir.
Enquanto os utopistas da reforma exterior se entregam à
tutela de ditadores impiedosos, como os da Rússia e da Alemanha, em suas sinistras
aventuras revolucionárias, prossegue ele, o Espiritismo, a sua obra educativa
junto das classes intelectuais e das massas anônimas e sofredoras, preparando o
mundo de amanhã com as luzes imorredouras da lição do Cristo.
DEFECÇÃO DA IGREJA CATÓLICA
Desde 1870, ano que assinalou para o homem a decadência da Igreja,
em virtude da sua defecção espiritual no cumprimento dos grandes deveres que
lhe foram confiados pelo Senhor, nos tempos apostólicos, um período de transições
profundas marca todas as atividades humanas.
Em vão o mundo esperou as realizações cristãs, iniciadas no império
de Constantino. Aliada do Estado e vivendo à mesa dos seus interesses
econômicos, a Igreja não cuidou de outra coisa que não fosse o seu reino
perecível. Esquecida de Deus, nunca procurou equiparar a evolução do homem
físico à do homem espiritual, prendendo-se aminteresses rasteiros e mesquinhos
da política temporal. É por isso que agora lhe pairam sobre a fronte os mais
sinistros vaticínios.
LUTAS RENOVADORAS
O século XX surgiu no horizonte do Globo, qual arena ampla
de lutas renovadoras. As teorias sociais continuam seu caminho, tocando muitas vezes
a curva tenebrosa do extremismo, mas as revelações do além-túmulo descem às
almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz de uma nova era.
Numerosas transformações são aguardadas e o Espiritismo
esclarece os corações, renovando a personalidade espiritual das criaturas para
o futuro que se aproxima.
As guerras russo-japonesa e a europeia de 1914 - 1918 foram pródromos
de uma luta maior, que não vem muito longe, e dentro da qual o planeta alijará
todos os Espíritos rebeldes e galvanizados no crime, que não souberam
aproveitar a dádiva de numerosos milênios, no patrimônio sagrado do tempo.
Então a Terra, como aquele mundo longínquo da Capela,
ver-se-á livre das entidades endurecidas no mal, porque o homem da
radiotelefonia e do transatlântico precisa de alma e sentimento, a fim de não
perverter as sagradas conquistas do progresso. Ficarão no mundo os que puderem compreender
a lição do amor e da fraternidade sob a égide de Jesus, cuja misericórdia é o
verbo de vida e luz, desde o princípio.
Época de lutas amargas, desde os primeiros anos deste século
a guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta.
A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de
segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria guerra, que somente
terminarão com o apogeu dessas lutas fratricidas, no processo de seleção final
das expressões espirituais da vida terrestre.
A AMÉRICA E O FUTURO
Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo determinismo
das circunstâncias de sua vida política, a América está destinada a receber o
cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros.
Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as experiências
europeias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram na obra da
civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual, que há de
sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno conhecimento dos grandes
problemas do ser e do destino.
Para esse desiderato grandioso, apresta-se o plano
espiritual, no afã de elucidação dos nobres deveres continentais. O esforço
sincero de cooperação no trabalho e de construção da paz não é aí uma utopia,
como na Europa saturada de preconceitos multisseculares.
Nos campos exuberantes do continente americano estão
plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.
JESUS
Há no mundo um movimento inédito de armamentos e munições.
Teria começado neste momento? Não. A corrida armamentista do
século XX começou antes da luta de Porto Artur, em 1904. As indústrias bélicas atingem
culminâncias imprevistas. Os campos estão despovoados. Os homens se recolheram
às zonas de concentração militar, esperando o inimigo, sem saber que o
adversário está em seu próprio espírito. A Europa e o Oriente constituem um
campo vasto de agressão e terrorismo, com exceção das Repúblicas Democráticas,
que se veem obrigadas a grandes programas de rearmamento, em face do Moloque do
extremismo. Onde os valores morais da Humanidade? As igrejas estão amordaçadas
pelas injunções de ordem econômica e política. Somente o Espiritismo,
prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de
manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem ignorante do seu
glorioso destino, barco que ameaça voltar às correntes da força e da violência,
longe das plagas iluminadas da Razão, da Cultura e do Direito.
Convenhamos em que o esforço do Espiritismo é quase superior
às suas próprias forças, mas o mundo não está à disposição dos ditadores terrestres.
Jesus é o seu único diretor no plano das realidades imortais, e agora que o
mundo se entrega a todas as expectativas angustiosas, os espaços mais próximos
da Terra se movimentam a favor do restabelecimento da verdade e da paz, a
caminho de uma nova era.
Espíritos abnegados e esclarecidos falam-nos de uma nova
reunião da comunidade das potências angélicas do sistema solar, da qual é Jesus
um dos membros divinos. Reunir-se-á, de novo, a sociedade celeste, pela terceira
vez, na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada missão de
abraçar e redimir a nossa Humanidade, decidindo novamente sobre os destinos do
nosso mundo.
Que resultará desse conclave dos Anjos do Infinito? Deus o
sabe. Nas grandes transições do século que passa, aguardemos o seu amor e a sua
misericórdia.
A Caminho da Luz, cap. XXIV - Emmanuel - F.C.X.
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