terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

(3) Sobre o estado da alma depois da morte - João Gaspar Laváter - terceira carta a Imperatriz da Rússia

 

(*)Correspondência ineditas de Laváter - preâmbulo

LAVATER

Primeira Carta a Imperatriz da Rússia

Segunda Carta a Imperatriz da Rússia 


Terceira carta a Imperatriz da Rússia

Veneranda senhora.

Despojado do corpo, cada Espírito será afetado pelo mundo exterior de um modo correspondente ao seu estado de adiantamento, isto é, tudo lhe aparecerá tal qual ele é em si mesmo.

Tudo parecerá bom à alma boa, o mal só existirá para as almas perversas. Os bons Espíritos se acercarão das almas bondosas, os maus atrairão a si as naturezas ruins. Cada alma se refletirá nas que se lhe assemelharem.

O bom Espírito torna-se melhor e será recebido no círculo dos seres que lhe são superiores. O santo far-se-á mais santo, pela simples contemplação de Espíritos mais puros e santos do que ele. O Espírito amante aumentará ainda em amor.

Do mesmo modo, o perverso far-se-á ainda pior (1), pelo simples contato de outros seres inclinados ao mal.

Se, mesmo na Terra, nada há mais contagioso do que a virtude e o vício, que o amor e o ódio; da mesma forma, além-túmulo, toda perfeição moral ou religiosa, todo sentimento imoral ou irreligioso devem, necessariamente, fazer-se mais e mais atraentes.

Vós, virtuosa senhora, sereis todo amor no círculo das almas benévolas. Quanto a mim, o que me sobra de egoísmo, de amor-próprio, de falta de energia para tornar conhecido o reino e os desígnios e Deus, será abafado pelo sentimento do amor, se este em mim predominar, e assim me purificarei cada vez mais pela presença e contato de Espíritos puros e amorosos.

Purificando-nos pelo instinto do amor, que desde a vida terrena vai exercendo sua ação, purificando-nos ainda mais pelo contato e pela irradiação de Espíritos puros e elevados, nos prepararemos gradualmente para suportar a vista direta do perfeito Amor, que não nos deslumbrará então, nem impedirá de o gozarmos em toda a sua plenitude.

Mas, como poderia um simples mortal fazer uma ideia da contemplação desse amor personificado? E tu, caridade inesgotável! Como poderias aproximar-te de quem bebe em ti o amor, sem que por esse fato ficássemos aniquilados ou deslumbrados?

Creio que, a principio, o amor se manifestará invisivelmente ou sob uma forma desconhecida.

Não é assim que tem sempre sucedido? Quem mais invisivelmente amor do que Jesus? Quem melhor do que ele sabia representar a individualidade incompreensível do desconhecido? Quem poderia saber tomar formas melhor apropriadas? E ele podia fazer-se conhecer melhor do que ninguém, ou mesmo, mais do que nenhum outro Espírito Imortal!

 Ele, o adorado de todos os céus, veio sob a forma de modesto trabalhador, e conservou-se, até à morte, na individualidade de um nazareno. Logo após a ressurreição, Jesus se revelou primeiramente sob uma forma desconhecida, e, só depois de algum tempo, é que se mostrou de um modo mais evidente. Creio que ele conservará sempre esse modo de ação, tão análogo à sua natureza, à sua sabedoria, ao seu amor. Foi assim que o Cristo fez sua aparição a Maria Madalena, sob a forma de um jardineiro, no momento em que ela o buscava e desesperava de o encontrar. A princípio, ela só vê o jardineiro, para reconhecer depois, sob esta forma, o amoroso Jesus. Foi assim que ele se apresentou também a dois de seus discípulos que caminhavam a seu lado e se sentiam influenciados por ele. Muito tempo caminharam juntos, sentindo os corações se lhes abrasarem em doce chama, o que denunciava a presença de um ser puro e elevado; só o reconheceram no momento de partir o pão, e quando, na mesma noite, tornaram a vê-lo em Jerusalém (2).

O mesmo aconteceu nas margens do lago Tiberíades, quando, irradiando em sua deslumbrante glória, apareceu par Paulo. Como são sublimes e comoventes todas as ações do Senhor, todas as suas palavras e todas as suas revelações!

Tudo segue marcha incessante que, impelindo todas as coisas para diante, faz que nos aproximemos de um objetivo que, alias, não é o final. Cristo é o herói, é o centro, a principal personagem, tão depressa visível nesse drama imenso de Deus, admiravelmente simples e complicado ao mesmo tempo, que não terá jamais fim, embora pareça mil vezes terminado. Ele parece desconhecido na existência de cada um dos seus adoradores. Mas, como poderia esse manancial de amor recusar aparecer ao ente que o ama, justamente na ocasião em que mais necessidades têm dele? Tu, ó Cristo! És mais humano que os homens! Tu aparecerás aos homens pelo modo mais caridoso! Oh! Sim, tu aparecerás à alma bondosa a quem escrevo e também te manifestarás a mim e te tornarás conhecido. Ver-te-emos uma infinidade de vezes, sempre diferente e sempre o mesmo e, à medida que nossa alma melhorar, te veremos sempre mais formoso, porém nunca pela última vez.

Elevemos os nossos pensamentos com esta ideia consoladora, que procurarei, com o auxílio de Deus, esclarecer mais amplamente em minha próxima carta, e torná-la compreensível por meio da comunicação de um defunto.

Zurique, 19 de setembro de 1798.

João Gaspar Laváter

(1) O Espírito não se torna melhor pelo fato de haver deixado a Terra; no estado espiritual ele pode perseguir-nos com seu ódio e assim constitui-se um inimigo invisível. Saibamos sempre discernir todas as influências espirituais, a fim de colhermos as que forem boas e repelirmos as que forem más.

(2) O Espiritismo permite hoje classificar-se esses fenômenos de aparição e de tangibilidade entre os fatos de ordem natural. As condições do meio e aptidão bastam para produzir esses fenômenos. Leia a obra "A Gênese" (capítulo sobre fluidos)

 

Extraído do livro O PORQUÊ DA VIDA – LÉON DENIS – pág.71

 

 

 

 

 

 

 

 














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