sábado, 28 de abril de 2018

Espiritismo, kardecismo, umbanda

Não podem ser entendidos como iguais, pois as distinções se verificam na origem, na doutrina e na prática
Muitas pessoas ainda confundem Espiritismo com crenças e práticas que, na verdade, nada tem com a Doutrina Espírita – e já podemos esclarecer que as denominações corretas são Espiritismo ou Doutrina Espírita, e que seus adeptos são espíritas ou espiritistas.

É uma doutrina formada por um conjunto de princípios filosóficos, científicos e religiosos (ou de consequências morais), cujo marco inicial foi o lançamento de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, por Allan Kardec (pseudônimo do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail). Isso aconteceu na França, mais particularmente em Paris, em meados do século 19, depois de pouco mais de dois anos de intensas investigações e observações dos fenômenos de ordem mediúnica (ou espiritual). O Espiritismo, portanto, não é obra de um homem, e sim dos Espíritos, que através de diversos médiuns ditaram as instruções, os esclarecimentos, os ensinos. Coube a Kardec organizar, selecionar, pensar, perguntar e publicar, motivo pelo qual ele sempre insistiu em dizer que o Espiritismo é doutrina dos Espíritos.

Podemos agora fazer outro esclarecimento: não existe kardecismo e, portanto, também não existem kardecistas. Existem Espiritismo e espíritas, e ponto final.

A palavra kardecismo nos remete ao entendimento da existência de uma doutrina formulada por Allan Kardec, o que não existe, não é verdadeiro. A doutrina partiu dos Espíritos, dos seres humanos que se encontram desencarnados, vivendo no mundo (ou dimensão) espiritual, e possui quatro princípios básicos que sustentam todo o edifício doutrinário:

1 – Deus – como Pai e Criador de tudo o que existe no universo.
2 – Imortalidade da alma – proclamando a vida depois da morte, que é apenas do corpo físico (orgânico).
3 – Comunicabilidade – a comunicação entre desencarnados e encarnados através da mediunidade.
4 – Evolução – porque todos somos destinados à perfeição.

A partir desses quatro princípios básicos outros se desdobram, como reencarnação, livre-arbítrio, lei de causa e efeito, entre outros, que estão muito bem estudados e consolidados nas demais obras de Allan Kardec, a chamada codificação espírita, composta por: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Devemos também destacar, por sua importância, os livros O que é o Espiritismo, Obras Póstumas e a coleção da Revista Espírita, publicação mensal que Kardec dirigiu de 1858 a 1869, quando desencarnou no final do mês de março.

E com relação à umbanda? Umbandistas não são também espíritas? Com todo respeito aos nossos irmãos umbandistas, às suas crenças e práticas, a bem da verdade devemos esclarecer que não, eles não são espíritas. Espírita é aquele que estuda e pratica o Espiritismo, conforme seus princípios publicados nas obras assinadas por Allan Kardec. Aquele que se insere na umbanda é, apenas, umbandista. O que acontece é que muitos templos umbandistas utilizam, de forma indevida, a expressão espírita, causando uma certa confusão entre os adeptos das duas doutrinas e, principalmente, entre os leigos.

Mas não existem pontos de contato entre Espiritismo e umbanda? Sim, isso é verdade, mas nem por isso se confundem. São distintas na origem, na doutrina e na prática. O Espiritismo não possui nenhum tipo de ritual. Não utiliza roupas especiais, paramentos, incensos etc. A umbanda surgiu do sincretismo religioso entre crenças e rituais trazidos pelos negros escravizados da África, com as crenças e rituais do catolicismo, que à época era a religião oficial brasileira nos períodos colonial e imperial. Os pontos de contato, que se dão na crença na imortalidade da alma e na utilização da mediunidade, não confundem as duas doutrinas, muito diversas entre si.

Espíritas se reúnem no centro espírita, que não é nem fraco nem forte, nem de mesa branca ou qualquer outra coisa, mas tão somente centro espírita. Nele se desenvolvem atividades em diversas áreas: estudo, mediunidade, evangelização da família, promoção social e tantas outras, visando sempre ao progresso intelectual e moral das pessoas e da humanidade.

Convidamos os interessados a ler e estudar O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, magistral obra construída na forma de diálogo, para real conhecimento do Espiritismo. E pedindo licença a Kardec, que cunhou a frase “Fora da caridade não há salvação”, bandeira do verdadeiro espírita, podemos encerrar estes esclarecimentos afirmando que “Fora de Kardec não há Espiritismo”.
www.oclarim.org/oclarim/materias/5672/jornal/2018/Marco/espiritismo-kardecismo-umbanda.html

Animais e Espiritualidade

OS ANIMAIS TÊM ESPÍRITO?



Realizou-se no auditório do Centro Espírita O Clarim, em Matão (SP), na tarde do dia 23 de setembro, seminário com Irvênia de Santis Prada, renomada escritora e palestrante espírita e professora emérita da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).
Evolução contínua
Baseando-se na codificação espírita, mais especificamente em O Livro dos Espíritos (LE), Irvênia salientou que a inteligência dos animais é ligada ao princípio espiritual, independente da matéria, e sobrevive à morte do corpo físico (LE 597). Muitos podem crer que o ser humano é privilegiado em relação aos demais seres da criação por agir com racionalidade, enquanto os animais seriam guiados unicamente pelo instinto, porém o instinto não é algo independente da inteligência, mas uma espécie desta, fundamental para a sobrevivência das espécies (LE 73). No homem primitivo, o instinto ainda é dominante em relação ao livre-arbítrio (LE 849), comprovando que o processo de evolução do princípio espiritual – que anima os animais – não é brusco, configurando-se numa transitoriedade que se aprimora gradualmente até estar em plenas condições de transformar-se em espírito, animando, finalmente, um corpo humano (LE 607a). A inteligência dos homens e dos animais provêm de um mesmo princípio, mas no homem ela já passou por uma elaboração que a eleva (LE 606a).

Além disso, ela citou dois interessantes episódios relatados por Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier, que afirmaram ver mediunicamente cães que já haviam desencarnado ainda ligados ao ambiente doméstico que habitavam, pontuando que a alma dos animais não tem a capacidade de escolher em qual espécie reencarnará (LE 599), seguindo uma lei progressiva semelhante à dos homens (LE 601).

Ainda na codificação, mas agora em A Gênese, capítulo XI, temos a informação trazida por Allan Kardec de que corpos de macacos teriam sido muito adequados a servir de vestimentas aos primeiros espíritos humanos, necessariamente pouco adiantados, que encarnaram na Terra.

Irvênia confessou que, ao deparar-se com esta informação, questionou-se se não haveria uma incoerência na obra de Kardec, já que o Espiritismo não aceita a metempsicose (LE 612) – reencarnações sucessivas do mesmo espírito em vegetais, animais ou seres humanos. Porém, novamente em A Gênese (cap. XI, item 16), encontramos o esclarecimento: não há transições bruscas e é provável que os primeiros homens pouco diferissem dos macacos em sua forma exterior e, sem dúvida, também quanto a sua inteligência.

Evolução para a ciência
De acordo com os estudos acadêmicos, o gênero humano evoluiu do Australopithecus, espécie que era encontrada na África há 3,5 milhões de anos. A partir da medida do volume da cavidade craniana, a ciência estabelece o Homo erectus como a primeira espécie pertencente ao gênero humano – que se desenvolveu até chegarmos no Homo sapiens sapiens. Não há, porém, uma medida de corte que possa ser estabelecida para fazer esta distinção, o que corrobora o processo evolutivo não brusco defendido por Allan Kardec.

Os animais pensam
É o que afirma André Luiz no livro Mecanismos da mediunidade. Segundo o mentor, o processo de pensamento nos animais se dá por emissão de ondas fragmentárias. O cérebro é o órgão que possibilita a manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a racionalidade humana.

Para a ciência, os animais são seres sencientes, isto é, têm sensibilidade, inteligência e todos os atributos inerentes a essa condição. Interessante notar que as áreas de percepção e de processamento de voz também existem nos cães, com padrão funcional semelhante ao apresentado pelos seres humanos. Isso explica por que os cães podem entrar em sintonia com os sentimentos de seus tutores, sendo capazes de comunicar-se telepaticamente com seus donos. No tocante a este tema, Irvênia citou estudos que mostraram que os cães percebem, através dessa sensibilidade comunicativa, quando seus donos estão se aproximando, derrubando a tese de que apenas olfato e audição possibilitariam o reconhecimento. Mamíferos, aves e alguns invertebrados (Octopus) também têm consciência.

Por que os animais sofrem?
O Espiritismo ensina que o sofrimento é reparação ou ensino renovador. Ninguém sofre somente para resgatar o preço de alguma coisa, mas também para angariar novos recursos valiosos à evolução. Logo, através desse mecanismo, o animal atravessa longas eras para aprimorar-se continuamente.

Irvênia lembrou do eminente pesquisador espírita Herculano Pires que afirmou que os animais sofrem porque evoluem, mas advertiu que todo sofrimento não natural é responsabilidade dos humanos e devemos nos perguntar constantemente se temos o direito de dispor deles para os nossos caprichos, como os espetáculos de entretenimento, rodeios, vaquejadas, rinhas de galo, entre outras práticas abomináveis. Aos poucos a humanidade vai formando consciência sobre a importância de respeitar e proteger os animais, tanto que práticas tradicionais como a caça à raposa (praticada desde 1660 e proibida em 2005) e as touradas (proibida na Catalunha desde 2012) começam a perder força.

Assistência espiritual
A assistência espiritual a animais ainda é um tema que traz bastante confusão no meio espírita.

Irvênia lembrou que prece, água fluidificada e passe são práticas cujo poder curativo depende inegavelmente de três fatores: da pureza da substância inoculada, da energia da vontade e das intenções que animam aquele que quer curar, seja ele homem ou espírito. Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, mas podem dela fazer mau uso.

Portanto, é preciso procurar casas espíritas que tenham se preparado adequadamente para este atendimento, com respeito e sem misticismos.

Outros temas
Ao final, Irvênia abriu espaço para perguntas oriundas do público, o que levou a outras conclusões pertinentes.

A decisão de ingerir carne como regime alimentar deve ser de cunho pessoal. A pessoa que sentir-se em condições de abdicar da alimentação animal deve fazê-lo, mas isso não se configura uma imposição espírita como muito se afirma erroneamente.

Sobre castração, a expositora afirmou que esta prática é uma mutilação, um modelo provisório de controle populacional e de zoonoses, mas o ideal seria investir em campanhas de educação que conscientizassem as pessoas a serem responsáveis por seus animais, evitando o aumento da população de animais que vive nas ruas ou abandonada.

Por fim, ao ser questionada sobre eutanásia, Irvênia afirmou que não se pode banalizar a prática, usando-a na primeira doença enfrentada pelo animal. Há casos extremos em que lesões sérias ou doenças terminais se apresentam, mas ainda assim é preferível buscar tratamentos alternativos antes de decidir pela eutanásia animal.

https://www.oclarim.org/…/140/animais-e-espiritualidade.html