segunda-feira, 17 de junho de 2019

NICODEMO BEN NICODEMO - Edgard Armond

Nicodemo, o único rabi de maior projeção, que defendeu Jesus em várias oportunidades e que melhor compreendeu sua qualidade de Messias Planetário, apesar de sacerdote de segundo grau, era um dos rabis mais afamados de Jesuralém.

Conquanto seguisse fielmente as ordenações da Tora, era um Espírito de evolução mais avançada, motivo pelo qual foi citado pessoalmente no Evangelho de João; e interessava-se vivamente pelos acontecimentos religiosos e sociais de sua pátria, mormente no que se referia à vinda tão esperada do Messias nacional.

Além de rabi fariseu, Nicodemo era membro do Sinédrio, órgão político do Colégio Sacerdotal que funcionava como poder legislativo na organização político-judaica, acumulando também as funções de Tribunal Superior, e era composto, em sua maioria, de saduceus, a cuja frente, naquela época, esta a poderosa família de Hanan; era também Nicodemo presidente da sinagoga e da congregação dos cireneus, o que conferia prestigio muito maior no senado-tribunal.

Entre os discípulos de Nicodemo estava Judas de Kerioth, aluno brilhante, porém fanático e de alma mística, sujeito a transes e outra perturbações psíquica, como aliás, também ocorria com Paulo de Tarso.

Assim que o Batista surgiu no Alto Jordão, anunciando o Messias, Judas foi enviado por Nicodemo para examinar os acontecimentos, ouvir opiniões, inteirar-se da verdade e dar parecer sobre o profeta, pessoalmente. Cumprindo sua missão, Judas passou vários dias à roda de João, ouvindo o vendo, sondando a opinião dos escribas e fariseus porventura presentes; mas, quando o profeta ungiu Jesus com o batismo, apontando-o em seguida, com o braço estendido e dizendo aos discípulos e ao povo ali reunido: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" e o consagrou como o Messias esperado, dizendo não ser digno de nem mesmo amarrar o cordão de sua sandália, Judas seguiu o Mestre e conseguiu ver-se aceito no rol dos seus discípulos.

Era do mais entusiastas e devotados à pessoas de Jesus e constantemente intimava Nicodemo sobe tudo o quanto se passava.

Por estas informações e outras, obtidas de inúmeras fontes, Nicodemo desde logo compreendeu que aquele rabo galileu não era igual aos outros que conhecia, nem mesmo aos mais renomados; tinha conhecimentos muito acima dos vulgares e possuía poderes psíquicos extraordinários. Assim, pois quando Jesus veio a Jerusalém nessa segunda viagem, já como rabi, Nicodemo esforçou-se em conseguir uma entrevista com Ele, não só para conhecê-lo pessoalmente, como par formar juízo correto e seguro sobre a doutrina que pregava e sobretudo para esclarecer-se a respeito de sua propalada investidura messiânica, feita pelo Batista e que, no momento, era o problema de maior importância e atualidade em toda a nação judaica.

O Evangelho não diz onde tal entrevista realizou-se, havendo diversas versões e suposições, porém, em geral, todos concordam que Nicodemo foi levado à presença de Jesus, a uma casa pobre, junto à Muralha de Davi, na cidade baixa, pois que Jesus não convivia com os poderosos, os ricos e os gozadores.

Essa muralha ficava na parte sul, no local onde se situara a antiga cidade de Davi, a pouca distância da fonte de Siloé, e, em seus muros arruinados se agasalhavam centenas de pessoas do baixo povo que nela cavavam nichos mais ou menos amplos e neles residiam em condições precárias. Um dos mais bem aquinhoados em espaço era o aguadeiro Hillel, filiado à Fraternidade Essênia, tido e havido com homem trabalhador, honesto e caridoso. Era celibatário e em sua casa, relativamente espaçosa e confortável (em relação às demais), hospedava conhecidos e amigos galileus, ligados a Jesus na crença da redenção prometida.

Na cidade rumorosa e superlotada de gente, Jesus não tinha pouso fixo e dormia, muitas vezes ao relento, no Monte das Oliveiras, rodeado de seus discípulos. Por isso ;e que dizia que: "os animais tem suas tocas, ,as o Filho do Homem não tinha onde repousar a cabeça'.

Passava os dias no Templo, pregando e consolando o povo, pois que, como rabi, tinha direito de fazê-lo no Pátio dos Gentios; e à tardinha, retirava-se para lugares diferentes e às vezes, mesmo, desconhecidos. Comumente se acolhia em casa de simão, chamado o leproso, pai de Lázaro, o que ressuscitou, no Bet-Ini, caminho da Betânia. Os próprios discípulos procuravam subtraí;-lo aos contatos com os agentes do clero para preservar-lhe a vida, tendo em vista que tanto sua pregação como seus atos colidiam muitas vezes com os costumes e regras determinadas pelo Sinédrio. Por isso é que, mais tarde, foi preciso que o sgan do Templo pagasse a Judas o segredo do lugar onde Jesus estava repousando, naquela noite trágica de sua prisão.

Como sacerdote do templo, membro do Sinédrio e homem de responsabilidades partidárias, não desejava Nicodemo que a visita a fazer a Jesus fosse divulgada e, por isso, pediu que fosse levado a Ele à noite, sem testemunhas e em lugar discreto.


Tendo o aguadeiro Hillel cedido sua casa, Nicodemo alo compareceu à hora marcada. Nessa entrevista (João 3: 1-21) Jesus demonstrou-lhe que o Espírito renasce várias vezes, evoluindo e não ressurge, simplesmente, uma só vez, como era admitido pelos fariseus; que evolui para conquistar, pelo amor e pela sabedoria, o reino de Deus. Mostrou que a transformação espiritual é o que importa obter e não as glórias efêmeras do mundo material; que o Espírito, liberto pela Verdade, é como o vento que sopra onde quer, que a salvação, fruto do renascimento espiritual, pertence a todos o homens, a todas as nações e raças e não a um só povo, de existencia previgeliada, mas de conduta comum, como era o caso dos Judeus respondendo as perguntas, referiu-se também à sua qualidade de Filho de Deus, destinado a um sacrifício redentor que em suas consequências, beneficiaria a toda a humanidade,

Após essa entrevista, o prestígio pessoal de Jesus cresceu muito na mente do Rabi, e disso deu relevantes testemunhos em outras oportunidade, principalmente no Sinédrio, tomando sua defesa, ou tentando restringir a hostilidade sacerdotal desencadeada contra Ele, sobretudo na noite de seu julgamento.

Edgard Armond - Livro O Redentor - cap 21


Maria de Magdala

MARIA DE MAGDALA - Edgard Armond - Livro O Redentor - cap Maria de Magdala. 

MARIA DE MAGDALA - Caibar Schutell - Livro Parabolas e Ensinos de Jesus.

MARIA DE MAGDALA - Ramatis - Livro O Sublime Peregrino

MARIA DE MAGDALA - Caibar Schutel






“Um dos fariseus convidou-o para jantar com ele. E entrando na casa do fariseu, tomou à mesa. Havia na cidade uma mulher que era pecadora, e esta, sabendo que ele estava jantando na casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume e, pondo-se lhe aos pés, chorando, começou a regá-los com lágrimas, e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava-lhe os pés e ungia-os com perfume. Ao ver isto, o fariseu que o convidara, dizia consigo: se este homem fosse profeta; saberia quem é que o toca e que sorte de mulher é, pois é uma pecadora. Então Jesus disse ao fariseu: Simão tenho uma coisa para te dizer. Ele respondeu: Dize-a Mestre. Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e o outro cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou a divida a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu Simão: suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E virando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei na tua casa e não me desta água para os pés, mas estamos regou com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não ungiste a minha cabeça com óleo, mas esta com perfume ungiu os meus pés. Por isso te digo: Perdoados lhe são os seus pecados, que são muitos, porque ela muito amou. Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. E disse à mulher: perdoados são teus pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer consigo mesmos: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.”( Lucas, VII, 36- 50).
Caibar Schutel – Livro Parábolas e Ensinos de Jesus
 

JESUS E MARIA DE MAGDALA - por Ramatis

PEGUNTA: - Qual foi a natureza da afeição entre Maria Madalena e Jesus?

RAMATIS: - Maria de Magdala, natural de Galiléia, era jovem e muitíssimo formosa, além de famosa cortesã, que acendia o fogo das paixões em muitos homens da mais alta categoria administrativa e social de Jerusalém. Movida por um sentimento de curiosidade e, ao mesmo tempo, de ansiedade espiritual, ela procurou conhecer o rabi de sua terra, cuja fama de redentor de almas já atingia as cidades mais populosas. De princípio, ela dirigiu ao Mestre olhares insistentes, irônicos e quase desafiadores. Conhecedora dos sofismas e das capciosidades dos homens, que eram capazes de tripudiar sobre as coisas mais puras para satisfazerem suas paixões animais, gostaria de conhecer a fundo a natureza passional daquele homem belo, sereno, mas humano. Antes seus olhares provocadores, Jesus não trepidou em sua habitual serenidade, mas devolveu-lhe um olhar de censura espiritual tão profunda, que ela vacilou, confusa, quase que envergonhada. Dali por diante passou a segui-lo, acompanhada de sua mãe e dissimulando, pouco a pouco, a sua exuberante beleza de formas, na euforia dos seus 24 anos de idade. Acompanhou o Mestre em sua última visita a Nazaré e esteve presente na casa de Simão, em Betânia, conquistando, pouco a pouco, as amizades dos familiares como Eleazar, Alfeu, Marta e Salomé. No entanto, era a Maria, a mãe do amorável rabi, que ela mais se afeiçoara, pois sentia necessidade de um afeto puro. Sua alma prendia-se cada vez mais àquele coração tomado pelo  mais puro e grandioso amor ao gênero humano. então, tratou a "doce" Maria com toda ternura e sob os mais delicados sentimentos de lealdade e homenagem  espiritual. Mas ainda não conseguira esconder o remorso da primeira vez em que se defrontava com Jesus e lhe endereçou um olhar  provocante, algo malicioso, como a duvidar de sua pureza de homem íntegro e desapegado dos bens do mundo. Devotou-se com o máximo de solicitude para apagar aquela primeira impressão desairosa semeada na alma do Mestre, e não se encorajava de enfrentar-lhe novamente o olhar sereno, afetuoso e despido de qualquer desejo menos digno.

Finalmente, um dia sua alma inundou-se de júbilo e encanto, pois ela cruzou o olhar de Jesus e teve a coragem de fitá-lo com suave insistência; mas o fez tomada por profunda timidez, sem a ostensividade da mulher que se sabe formosa e atrativa. Desaparecera a mulher envaidecida de seus próprios encantos, habituada a divertir-se com a avidez dos olhares cobiçosos dos homens. Antes o olhar franco e puro do Mestre Cristão, ela foi apenas uma tímida criança, que só ousou encará-lo quase assutada.

Mas Jesus sorriu-lhe e o seu olhar angélico derramou-se sobre ela como a linfa pura caída dos céus sobre a terra ardente e ressequida. Maria de Magdala levou a mão ao peito e quase sucumbiu ao solo sob a emoção de tanta alegria.

PERGUNTA: - Mas conhecemos obras que apontavam Maria Madalena como a paixão humana de Jesus, e que ela também o amou fisicamente.

RAMATÍS: - Como vô-lo dissemos, Maria de Magdala, tendo ouvido falar dos atributos santificados de Jesus, quis divertir-se e desafiá-lo com sua beleza provocante, certa de comprometer com a paixão física o rabi famoso por suas virtudes. Tendo encontrado o Mestre numa das tracionais assembleias públicas, ou também conhecidas por sinagogas, perto do lago Tiberíades, em que os presentes podiam consultar ou interrogar os rabinos que as dirigiam, chamou-lhe a atenção com perguntas insistentes, enquanto o fitava provocantemente, tentando confundi-lo na sua prédica. É verdade que Maria de Magdala chegou mesmo a despertar uma afeição extrema em Jesus, e se percebia nele um prazer muito humano ao tornar a vê-la.

No entanto, jamais Jesus amou fisicamente Maria de Magdala, pois o seu porte moral e sua fidelidade à obra cristã, que era o seu sonho dourado no mundo, afastavam-no de qualquer objetivo vulgar do mundo. Não há dúvida de que ele não tardou a perceber que ela fora vítima de sua própria imprudência, pois passara a amá-lo desesperadamente e ardentemente. Mas Jesus decidiu-se a vencer aquele amor tão tentador e salvá-la de sua vida impura e delituosa, passando a tributar-lhe um afeto teno e paternal, que pouco a pouco deu-lhe força espiritual, ajudando-a a vencer a paixão abrasadora em troca da ternura fraterna. Exausta da falsidade dos seus mais ardentes admiradores, que apenas lhe cobiçavam os encantos femininos e jamais lhe seriam tão nobres e desprendidos como Jesus, ela não podia suster o seu recalque abrasador de criatura humana, ainda incapaz de sentir as emoções superiores do reino imponderável do espírito. Mas essa paixão menos digna, dos primeiros dias, não tardou a transformar-se no mais puro sentimento de idolatria espiritual, convertendo-a, incondicionalmente, ao messianismo redentor da obra cristã.

Jesus, entidade que já havia superado a ilusão da forma humana, cuja descida à Terra lhe custara imenso sacrifício espiritual, jamais poderia se comover ou se fascinar pela beleza e pelos encantos físicos de qualquer mulher, que ele não considerava além de uma irmã digna de ser venturosa. A vida material não lhe despertava qualquer impressão ou desejo anormal porque, através das coisas do mundo físico, ele só vislumbrava o espírito eterno que a sustinha. A criatura mais bela, diante dele era apenas um maquinário vivo, cujas peças constituídas de átomos, moléculas e células, só eram dignas de um exame técnico e não cobiçoso. Cada homem e cada mulher não passavam de instrumentação provisória atuando momentaneamente no mundo material, a fim de o espírito apurar a sua sensibilidade psíquica e desenvolver a consciência eterna. Espírito "auto-realizado", senhor de toda a trama da existência física e do planejamento espiritual do Espaço, jamais o seu coração sacudiu-se sob a intempestividade da paixão humana, pois, como disse Buda, "a paixão é como a flor que se entreabre pela manhã e murcha à tarde".

Maria de Magdala não poderia induzir Jesus a uma paixão transitória da carne, pois em sua inconfundível honestidade, jamais ele cederia em doar o seu amor puro e piedoso para uns e menos para outros. A sua família e seus amigos, discípulos, adversários, pecadores, algozes e traidores, ele os reuniu, mais tarde, em espírito, no alto da cruz, identificando todos numa só frase, em que resumiu o seu mais veemente sentimento espiritual de ternura para com o gênero humano, assim se expressando : "Pai ! Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem!"

Maria de Madalena, espírito íntegro, culto e sensível, não tardou em perceber que, em face da natureza angélica de Jesus, não havia combustível no seu coração que pudesse alimentar aquela paixão de natureza carnal. Por isso, num esforço heroico de renúncia absoluta, ela sufocou os brados apaixonados do seu coração e sublimou-os, queimando-os no fogo do sacrifício e da abnegação fraterna, passando a devotar o Mestre e esquecendo o homem.


...
continua digitação ....

Fonte Livro O Sublime Pereguino - cap 19 -  psicografia de Hercílo Maes

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A VOCAÇÃO DOS PRIMEIROS APÓSTOLOS


MATEUS, 4, 18-22. MARCOS, 1, 16 ao 20 – LUCAS, 5,1-11. Vocação de Pedro, André, Tiago e João. – Pesca chamada milagrosa

MATEUS: cap. 4, 
18. Andando Jesus pela praia do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam suas redes ao mar, pois eram pescadores;\
 - 19, e lhes disse: Segui-me e farei que vos torneis pescadores de homens; 
- 20. Para logo os dois abandonaram as redes e o seguiram. 
– 21. Continuando a andar, viu dois outros irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, que numa barca com o pai consertaram suas redes, e os chamou.
 – 22. Deixando no mesmo instante o pai e as redes, ambos o seguiram.

MARCOS: cap. 1, 
16. Passando pela praia do mar da Galiléia, Jesus viu a Simão e seu irmão André que lançavam as redes ao mar, pois que eram pescadores; 
- 17, e lhes disse: Segui-me e farei de vós pescadores de homens.
 – 18. Logo os dois abandonaram as redes e o seguiram.
 - 19. Tendo caminhado um pouco mais, viu a Tiago e seu irmão João, filhos de Zebedeu, que também numa barca consertavam suas redes.
 – 20. Logo os chamou e ambos, deixando na barda Zebedeu com os jornaleiros, o seguiram.

LUCAS: 5, 
1. Um dia em que se achava à margem do lago de Cenezaré, Jesus, assediando pela multidão que se premia para ouvir a palavra de Deus, 
- 2, viu à borda do lago duas barcas; os pescadores tinham saltado para lavar suas redes.
 – 3. Entrou numa delas pertencente a Simão e lhe pediu que a afastasse um pouco da praia e, sentando-se, começou a pregar ao povo, de dentro da barca.
 – 4. Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao lago e atira a tua rede para pescar.
 – 5. Simão lhe objetou: Mestres, trabalhamos toda a noite e nada apanhamos; mas, obedecendo à tua ordem, lançarei a rede.
 – 6. E, tendo-o feito, pescaram tão grande quantidade de peixes que a rede se rompia.
 – 7. Acenaram aos companheiros que se achavam noutra barca para que viessem ajuda-los; os outros vieram e as duas barcas ficaram cheias de tal modo que quase se afundaram.
 – 8. Vendo isso, Simão Pedro se prostrou aos pés de Jesus, dizendo: Senhor afasta-te de mim, pois que sou um pecador. 
– 9. Tanto ele como os que o acompanhavam ficaram assombrados da pesca que haviam feito.
 – 10. Tiago e João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão, partilhavam do mesmo assombro. Então, disse Jesus a Simão: Nada temas: daqui por diante serás pescador de homens.
 – 11. Tendo de novo conduzido as barcas à praia, eles abandonaram tudo e o seguiram. 

Desta para da narrativa evangélica ressalta a submissão, dos primeiros discípulos de Jesus. Sob a inspiração de seus anjos da guarda, eles ouviram a voz interior que os concitava à obediência e fizeram o que ela lhes prescrevia, cedendo a essa espécie de atração que liga fortemente uns aos outros os Espíritos reciprocamente simpáticos.

A pesca, de que aí se fala nada teve de milagrosa, ou sobrenatural. Foi um fenômeno do número dos que ainda hoje surpreendem a muitos, mas que depois, quando o conhecimento do Espiritismo e do Magnetismo estiver suficientemente difundido, serão reconhecidos como fatos naturais e normais.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma revelação e uma ciência. Como ciência, ele espalhará o conhecimento do Magnetismo, cujo estudo tem sido tão estultamente desprezado pelos “sábios” da Terra. Com esse conhecimento e com os dos ensinos evangélicos em espírito e verdade, estará a Humanidade senhora das duas fontes de toda a luz e de todo o progresso, físico, moral e intelectual. Fácil então e simples se lhe tornará a compreensão de muitos fatos tido ainda hoje por impossíveis e cuja realidade os homens negam, proferindo sentença condenatória da ciência espírita que os explica, sentença, aliás, absolutamente destituída de qualquer valor, por isso que emanada de quem tudo completamente ignora daquela ciência.

A pesca foi o resultado de uma aplicação do Magnetismo. Produziu-a uma atração magnética determinada por Jesus que, conhecendo a fundo, pela suprema graduação do seu Espírito, esse agente universal que tudo rege e tudo aciona como conhecia e conhece a natureza de todos os fluidos existentes, suas propriedades de ação e, as combinações de que são passíveis, faz que sobre eles atuasse a força incontrastável da sua vontade, sempre de perfeita harmonia com a vontade divina, e a grande alavanca operou e efeito desejado.

Ainda não está ao alcance do homem apreender as causas de todos os fenômenos, os meios por que se dão, nem as leis que lhes presidem à produção. Pouco a pouco, porém, ele vai avançando na senda do conhecimento e um dia chegará, por virtude dos seus progressos, à meta suprema, que Jesus já alcançara, quando o Pai o investiu na missão excelsa de presidir à formação do planeta em que habitamos e à marcha progressiva da Humanidade a que pertencemos. Assim é que, por exemplo, os fenômenos elétricos já foram excluídos da categoria dos milagres. Os magnéticos o serão igualmente, daqui a mais ou menos tempo.

O Espiritismo representa hoje a rede lançada por Pedro. Atraídos pelos fluidos que os bons Espíritos espalham, os homens estão vindos e virão cada vez mais lançar-se nessa rede, a fim de serem retirados das águas infectas dos vícios e das paixões em que se acham mergulhados. 


Antonio Luiz Sayão - Livro Elucidações Evangélicas - cap. 15




OS PRIMEIROS DISCÍPULOS


Abandonando as margens do rio, Jesus recolheu-se ao santuário de Moab e seis semanas depois voltou a Betabara e, à sua aproximação, o profeta, que ali permanecia com seus discípulos atendendo ao povo, exclamou, apontando-O: “Eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”; e então dois de seus discípulos, João e André, movidos por irresistível impulso, seguiram a Jesus e, após o devido entendimento, foram aceitos, tornando-se seus primeiros discípulos, aos quais logo depois agregou-se Simão, filho de Jonas, todos galileus.

No dia seguinte partiram para a Galiléia, após despedirem-se do profeta que, aliás, ali estariam vendo pela última vez, na Terra, devendo ele daí por diante, como afirmou a seus discípulos, ir-se diminuindo até a morte, para que o Messias crescesse e desenvolvesse livremente a sua tarefa de redenção.

Em caminho encontraram-se com Filipe, que o Mestre também chamou a assim chegaram à casa da sogra de Simão, em Betsaida, junto ao Kineret, onde se hospedaram, voltando em seguida a Nazaré.

No dia seguinte, Filipe foi a Caná, cidadezinha perto de Nazaré, visitar um amigo chamado Natanael e, sentados debaixo de uma grande figueira, ao fundo da casa, contou-lhe que se tornara discípulo do Messias esperando, Jesus de Nazaré, ao que Natanael contestou com o refrão conhecido:

“poderá vir alguma coisa boa de Nazaré? Mas à insistência do amigo foram juntos até Jesus e Natanael é também recebido e incorporado ao grupo dos primeiros discípulos.

Dias depois foram todos a Caná e compareceram a uma festa de bodas, de parentes afastados da Maria, a Mãe de Jesus, que assim quis honrá-los e ajuda-los, porque eram pobres e onde, como narra o Evangelho, a seu pedido, Jesus realizou seu primeiro “milagre” público, convertendo água em vinho. Quando sua Mãe pediu-lhe par intervir, porque faltava vinho, Ele primeiramente lhe respondeu “que sua hora ainda não tinha chegado”, mas para satisfazê-la, interveio da forma conhecida.”

Aos poucos foi-se completando o quadro dos discípulos até por fazer o número de doze que, aliás, correspondia ao número das tribos de Israel. Foram eles, além dos já citados, os seguintes: Tiago (o maior), Mateus, Tomé, Tiago (o menor), Simão (o Zelote), Judas Tadeu e Judas de Kerioth.

A estes primeiros discípulos muitos outros se agregaram no decorrer das pregações, atingindo até o número de setenta e dois, porém, quando a tarefa tomou aspecto difícil, tornando-se trabalhosa e até mesmo perigosa, pela onda de hostilidades e ameaças que se acumularam contra Jesus e, também, por não compreenderem ou não concordarem com a doutrina que pregava, muitos se afastaram e por fim, somente permaneceram junto d’Ele os doze primitivos. Numa determinada ocasião ao verificar tal fato, Jesus perguntou aos discípulos citados se também não desejavam partir, ao que eles responderam: “para onde iremos se somente Tu tens as palavras da vida eterna?”. Destes doze, nos últimos dias, Judas de Kerioth também o abandonou e, após a crucificação, foi substituído por Matias, pela sorte.

*as festas de casamentos, comumente, duravam dias e todos, além de parentes e convidados, podiam entrar comer e beber, enquanto houvesse.

Edgard Armond - O Redentor –cap. 18
E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores;
E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no.
E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com seu pai, Zebedeu, consertando as redes;
E chamou-os; eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no.
E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.

Mateus 4:18-24

domingo, 9 de junho de 2019

PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

"Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamada Lázaro, coberto de chagas, que estava deitado ao seu portão, desejoso de fartar-se com as migalhas que caiam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava; e os cães vinham lamber-lhe as úlceras.

"Morreu o mendigo e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado.

"No Hades, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e a Lázaro no seu seio.

"E clamou: Pai Abraão, tem compaixão de mim! E manda a Lázaro que molhe a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama!

"Mas Abraão respondeu: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens na tua vida e Lázaro do mesmo modo os males, agora, porém, ele está consolado, e tu em tormentos. Demais, entre nós e vós está firmado, um grande abismo, de modo que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os de lá passar para nós.

"Ele explicou: Pai eu te rogo, então, que o mandes a casa de meu pai (pois tenho cinco irmãos) para os avisar a fim de não suceder virem eles também para este lugar de tormento! Mas Abraão disse: Eles têm Moisés, mas se alguém for ter com eles dentre os mortos, hão de se arrepender, Replicou-lhe Abraão: se não ouvem a Moisés e aos profetas tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos". (Lucas - cap XVI, 19-31.)

Este ensino é a proclamação da lei da caridade, cuja execução é imprescindível para todos os que se abrigam sob o seu pálio santo, como também para os que fogem aos seus generosos convites.

O rico e o pobre Lázaro personificam a Humanidade, sempre rebelde aos ditames da luz e da verdade.

O rico gozou no mundo, e sofreu no espaço, Lázaro sofreu no mundo e gozou no espaço.

Este rico, que se vestia de púrpura e que todos os dias se regalava esplendidamente, é o símbolo daqueles que querem tratar da vida do corpo e esquecem-se da vida da alma.

São os que buscam a felicidade no comer, no beber e no vestir, são os que se entregam a todos os gozos da matéria, são os egoístas que vivem unicamente para si, os orgulhosos que, entronados nos altares das paixões vis, da vaidade, da soberba, não veem senão o que lhes pode saciar a sede de prazeres, não cultivam senão a luxúria, que mata os sentimentos afetivos e anula os dotes de coração.

O rico é a personificação daqueles que são escravos do reino do mundo, que não veem mais do que o mundo, esse "paraíso perdido" entre os charcos da degradação moral, que avilta as almas e as atira aos infernos hiantes dos vícios.

Jesus falava geralmente por parábolas, e esta lição que o Mestre ofereceu ha mais de 2000 anos aos povos da Palestina, e que consta do Evangelho de Lucas como um conselho salutar e memorável, nada é mais do que parábola; é um ensino alegórico, representativo do que se passa no espaço, para afirmar que a nossa vida ultratumba é uma consequência justa e equitativa da nossa existência na Terra.

O rico passou toda a sua vida a se fartar esplendidamente, a desprezar os pobres, a desprezar Deus, a não curar da sua lei, a dar as costas à religião, a gozar e a folgar, mas, quando, morreu, não pôde continuar a viver como vivia, vestindo-se de púrpura, comendo manjares, bebendo licores, porque no mundo dos Espíritos não há púrpuras, não há manjares, não há licores. Ele já se havia fartado com os prazeres da Terra, não podia fartar-se depois com os prazeres do Céu, porque não os havia buscado, nem havia adquirido o tesouro com que se conquista as glorias celestes.

Nu, sem dinheiro, sem créditos para arranjar melhor "morada", lhes foi destinado o Hades, e, segundo diz o texto, ele lá se achava, contrariado, por lhe faltarem as comodidades que tivera na Terra, os gozos de que fizera o seu reino no mundo.

***

Lázaro representa o excluído da sociedade terrena, aqueles que, quando muito, podem chegar ao portão dos grandes templos, aqueles que não podem atravessar os umbrais dos palácios dourados, aqueles que essa sociedade corrompida do mundo despreza, amaldiçoa, cobre de labéus, crava de setas venenosas que lhes chagam o corpo todo.

Os Lázaros não são esses pobres orgulhosos do mundo que não tem muitas vezes os que comer e o que vestir, mas estão cobertos com a púrpura do orgulho; não é essa gente que não tem dinheiro mas tem vaidade; não tem palácios, ms tem egoísmo; não tem jantares opíparos, mas tem prazeres nefastos; não, os pobres, de que Lázaro serviu de símbolo na parábola, são os que sofrem com resignação, são os que desprezam os bens da Terra, porque buscam as coisas de Deus; são aqueles que ser veem usurpados daquilo que por direito lhes pertence no mundo, mas, pacientes e resignados, não se revoltam, porque creem no futuro e esperam as dádivas que lhes estão reservadas por Deus.

Eles sabem, porque estudam, esperam e oram, que existe um Criador, um Pai Supremo, que lhes dará o prêmio de suas virgílias, um salário pelos seus afazeres morais, uma luz para sua orientação espiritual; e que esse prêmio, esse salário, essa luz, embora às vezes pareçam tardar, não faltará, porque a justiça de Deus é infalível, é indefectível!

É assim que morreu Lázaro, o mendigo, e foi conduzido pelos anjos ao seio de Abraão, morreu também o rico e foi posto no Hades.

Duas personalidades distintas, uma que gozou, outra que sofreu: uma a quem nada faltava, outra a quem tudo faltava, vão trocar agora as suas condições, vão mudar de cenário: o mendigo vai para a abundância, e o rico é que passa a mendigar!

É o reveso da medalha, que se apresenta a todos no dia do julgamento.

Vós tendes visto muitas medalhas? Figuremo-las numa libra esterlina; de um lado traz a figura do rei mas, do outro, traz o seu valor real. Assim acontece também conosco. Cada um de n;os é uma medalha; e como a medalha; a libra de ouro vale segundo o câmbio espiritual, que taxa o valor das nossas almas.

Aqueles que olham só a efigie, não conhecem o valor do dinheiro, porque a esfinge, o verso da medalha, traz só o retrato do rei, e a medalha não vale o rei. Assim também os que olham o homem só pelas aparência, pelo exterior, não conhecem o homem, porque o exterior do homem é a efigie da vaidade, do egoísmo e do orgulho. O que vale na medalha é o reverso, o que vale no homem é o interior, ou seja, o Espírito. O rico trazia no verso  característico do rés, mas, depois que morreu, apurou-se o valor da medalha gravado no reverso, e esse valor não permitiu ao rico senão uma "entrada"no Hades.

Ao pobre, que apurara, desde a sua existência na Terra, o que estava gravado no reverso da medalha, esse sacrifício lhe deu o valor de ser levado pelos anjos ao seio de Abraão.

Como é diferente o julgamento de Deus do julgamento dos homens!

Deus não deixa levar pelo preconceito; Deus não se deixa levar pelo juízo humano.

Que é o seio de Abraão?
Mas continuemos a nossa análise.
Que é o Hades?
É isto que precisamos saber para melhor compreendermos a parábola do grande Mestre.

***
 Seio de Abraão é a liberdade  do Espírito no espaço infinito; seio de Abraão é o mundo invisível, onde os Espíritos, com os seus corpos imponderáveis, caminham livres de todas as peias, realizando sempre novas conquistas, fazendo novas descobertas, aprendendo novas verdades que os elevam em conhecimentos, que os elevam em felicidade.

Seio de Abraão é o mundo da imortalidade, da luz e da verdade, onde quanto mais progredimos mais aprendemos, e quanto mais aprendemos mais sabemos amar nosso Deus, e nosso próximo; é o mundo da fé verdadeira, que abala e transporta montanhas, faz espumar oceanos e produz ventos; mas que também dá calma e bonança a todos aqueles que, como os discípulos do Mar da Galileia, batidos pelo rijo tufão, imploram o auxílio de Jesus, e, com a esperança de salvamento, ouvem as doces palavras do humilde de Nazaré soarem a seus ouvidos como uma luz a iluminar o caminho numa noite tenebrosa.

Abraão foi o Patriarca dos Hebreus, alta personagem do Antigo Testamento, em quem a fé mais se acrisolava, mais viva e rútila se mostrava, a ponto de não vacilar em sacrificar seu filho Isaac, para obedecer às ordens que havia recebido do Alto.

Abraão era um crente sincero da imortalidade: via o espaço semeado de Espíritos, conversava com os Espíritos daqueles que nós chamamos,indevidamente, mortos, vivia em relação contínua com o mundo dos Espíritos, que era o seu seio predileto, que era o seu paraíso, o seu Céu, a tua delicia, a sua felicidade.

Para aí que foi Lázaro, com inteira liberdade de locomoção nos ares. Ele havia sofrido na Terra, aguilhoado pela dor, na miséria, privado das delícias do mundo, mas cria numa Deus Supremo, que lhe concedera aquela existência de expiação e de provas para que reparasse os males de suas vidas passadas, em que havia também descurado das coisas divinas e só tratado dos gozos efêmeros do mundo. Lázaro saldara a sua conta; ao sair da prisão corpórea, tinha pago o último ceitil de sua dívida, e reconquistara o reino da liberdade e da luz, que Deus concede a todos os que se submetem 1 Sua lei, aos Seus santos desígnios.

Eis o que é o seio de Abraão; eis o painel, o quadro majestoso que Jesus desenhou aos olhos dos ouvintes da parábola com referência a Lázaro, ao mendigo, que tinha como única caridade na Terra, as carícias, os beijos dos cães, esses fiéis amigos dos homens, que vinham lamber-lhe as chagas!

***
Continuemos a respingar o Evangelho, e do seio de Abraão passemos ao Hades - Que pensais vós que seja o Hades?

Os antigos acreditavam na existência de um mundo subterrâneo, para o qual iam as almas daqueles que não foram bons na Terra.

O corpo ficava no sepulcro e o Espírito ia para o Hades:  "o mundo localizado nas entranhas da Terra".

Daí essas almas não poderiam sair, assim como nós, em corpo de carne, não podemos sair deste mundo. Entretanto, os Espíritos que estavam no Hades viam com os olhos da alma, e sabiam, portanto, tudo o que se passava no seio de Abraão.

E era justamente nisso que consistia o sofrimento deles: verem o que se passava no Alto, e não poderem participar dessas regalias que só eram concedidas àqueles que, como Lázaro, haviam saldado sua conta espiritual.

Por isso diz o Evangelho que o rico levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio, e clamou: " Pai Abraão, tem compaixão de mim! E manda a Lázaro que molhe a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama!"

O rico queria água!

Antigamente passara a vinhos e licores finos, mas no Hades pedia água; tinha sede e essa sede não era a do corpo, não se tratava da 'gua de rios ou de fontes, porque o corpo estava no sepulcro, e o Espírito não pode beber água material.

Ele também já havia compreendido que a caus das suas dores era a vida dissoluta que passara no undo e a chama vida do remorso abrasava a sua consciência.

Ele queria água, essa água da vida, essa água de salvação que Jesus havia dado à mulher de Samaria.

Essa água do perdão dos pecados que o rico havia cometido contra todos os que mendigam os homens a caridade da atenção para as coisas divinas.

E Abraão, o grande Patriarca, que vivia feliz no mundo espiritual, dirigindo a enorme falange de Espíritos que havia aumentado a sua descendência, falange de Espíritos a quem guiava, e entre os quais se contava Lázaro, que era um dos seus protegidos espirituais. Abraão respondeu ao rico "Filho, lembra-te que recebeste os teus bens na tua vida, e Lázaro do mesmo modo os males. É justo, pois, que ele, agora, esteja consolado, e tu em tormentas.

"Acresce ainda que entre nós e vós está firmado um grande abismo, de modo que nem nós podemos viver onde vós estais, nem vós podeis viver onde nós podemos viver onde nós estamos, a vossa atmosfera nos abafa, assim como a nossa vos sufocaria, os ares que respiramos são insuficientes para vós que estais impregnados de matéria.

"Tratasse só da matéria, só do corpo, cultivasse a matéria que não vos deixa elevar e chegar até nós. Ao passo que Lázaro teve os olhos voltados para o Alto, não tendo tempo senão de pagar dívidas materiais, e conquistou fluidos espirituais para se elevar ao lugar em que se acha atualmente".

Mas Abraão ouviu a voz do rico, e o rico ouvia a voz de Abraão, o rico no Hades via Lázaro no seio de Abraão, todos eles se comunicavam, falavam, conversavam, porque havia necessidade de o rico ser exortado para se regenerar mais tarde, para, como Lázaro, depois subir também ao seio de Abraão, porque também ele era filho de Abraão,e Abraão não deixaria seu filho perecer!.

Abraão chamou-o de filho, disse-lhe: "Filho, lembra-te da tua vida e lembra-te da vida de Lázaro", querendo dizer com isto que, sem voltar à vida corporal, semelhante à de Lázaro, para sofrer as consequências do seu orgulho e do seu egoísmo,ele, o rico, não chegaria ao seu seio!

Foi então que o Espírito do rico, agora cheio de pobreza e de sofrimento, lembrando-se de seus cinco irmãos, que faziam a mesma vida que ela fazia quando estava na Terra replicou: "Pai, eu te rogo, então, que o mandes à de casa de meu pai (pois tenho cinco irmãos) para os avisar, a fim de não suceder virem também eles para esse lugar de tormentos".

O rico, que estava no Hades, sabia muito bem, porque via que Pai Abraão mandava sempre outros Espíritos darem avisos aos homens da Terra; então pediu que o mandasse à cada daquele que havia sido seu pai, porque ele tinha cinco irmãos que também faziam vida dissoluta e precisavam ficar conhecendo os tormentos que os aguardavam se continuassem assim.

Mas Abraão lhe disse:

"Eles tem Moisés e os profetas, ouçam-nos". O que significa: "Moisés conta-lhes tudo o que precisam fazer para serem felizes, e os profetas, que são médiuns, dizem-lhes, pela influência dos Espíritos, o que se passa depois da morte, a fim de lhes dar instruções para que não venham, como tu, parar no Hades". Mas o rico insistiu com Abraão, e, apresentando-lhe várias razões, disse: "Mas, Pai, Abraão, se algum dos mortos for ter com eles, e lhes falar, lhes aparecer, e a eles se manifestar, hão de se arrepender". O rico desejava que seus irmãos tivessem uma manifestação positiva dos mortos, porque julgava que, por essa forma, se tornariam obedientes à lei de Deus. Mas Abraão respondeu novamente: "Se eles não ouvem a Moisés e ao profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos".

Pois se eles haviam repelido as exortações dos profetas, por quem os mortos comunicavam falar, como haveriam de crer nos mortos?

Para crer nos mortos era necessário crer nos profetas, porque os profetas não eram mais do que médiuns, por quem se comunicavam os Espíritos dos mortos.

Se eles não acreditavam nos médiuns, como haveriam de crer nos Espíritos?

Como poderiam os Espíritos dos mortos avisá-los como o irmão queria, sem os médiuns indispensáveis para transmitir a comunicação?

Sabemos que o corpo do Espírito é muito mais rarefeito do que o nosso e que por isso não o podemos ver nem ouvir, e que o Espírito sempre se manifesta com o concurso de um médium; como poderia Abraão atender o pedido de seu filho para satisfazer outros cinco filhos ricos?

***

Finalmente, antes que Jesus houvesse proposto à multidão, que se achava em torno dele, a bela parábola que acabamos de estudar, havia ele dito aos fariseus, que eram avarentos: "A lei de Moisés e os profetas duraram até João Batista, desde esse tempo o Evangelho do Reino de Deus é anunciado; e todos, à força entram nele, porém da lei de Deus não cairá um til, não sera suprimido um i".

Deus dá a liberdade a todos a buscarem  a sua lei, e aqueles que  buscam, o Pai não dá o Espirito por medida. Está escrito: "Aquele que pede, recebe: o que busca, encontra; e ao que bate, se abre, porque o Pai não dá uma pedra a quem lhe pede um pão,  nem uma serpente a quem lhe pedir um peixe". (Mt 7-8)

Assim Deus respeita o livre arbítrio que a cada um concedeu.

Os Espíritos dos mortos podem comunicar-se e se manifestam aos vivos, mas não podem obrigar os vivos, embora sejam eles ricos e grandes, a tomarem, desde já, posse da felicidade futura!

E é por isso que sabemos de muitos ricos das coisas do mundo, e muitos pobres que querem enriquecer com as coisas do mundo, que, embora tenham visto e ouvido manifestações e avisos dos mortos, não se convenceram com esses avisos.

Ao contrário, dizem que foi ilusão, medo, tolice, e loucura!

Por isso fez bem Abraão em não permitir a manifestação espírita aos cinco irmãos ricos daquele que se vestia de púrpura e se banqueteara esplendidamente todos os dias da sua existência na Terra.

***

Ao homem que se quer convencer pela força, h;a de lhe acontecer o que aconteceu à cigarra de La Fontaine:

"Cantou a sua vida, mas depois chorou a sua morte". E há de voltar chorando na outra vida para, com justa razão, cantar na imortalidade.


Caibar Schutel - Livro Parábloas e Ensinos de Jesus.

terça-feira, 4 de junho de 2019

PARÁBOLA DO RICO INCENSATO (Lucas 12: 16:21)



A VIDA É DOM DE DEUS
Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.” Jesus respondeu: “Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?” Depois Jesus falou a todos: “Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganancia. Porque mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.”

E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita. Então resolveu: Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. “Então poderei dizer a mim mesmo, meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descansa coma e beba, alegre-se”! Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou para quem vão ficar? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.”

A BUSCA FUNDAMENTAL
Então Jesus falou aos seus discípulos: “Por isso eu lhes digo, não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir”. “Pois a vida vale mais do que a comida, e o corpo mais do que a roupa”. Observem os corvos, eles não semeiam, nem colhem, não possuem celeiros ou armazéns. E, no entanto, Deus os alimenta. Vocês valem muito mais do que as aves. Quem de vocês pode crescer um centímetro à custa de se preocupar com isso? Portanto, se vocês não podem nem sequer fazer a menor coisa, por que se inquietam com o resto? Observem como os lírios crescem: eles não fiam, nem tecem. Porém, eu digo a vocês que nem mesmo o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimado no forno, quanto mais ele fará por vocês, gente de pouca fé! Quanto a vocês, não fiquem procurando o que vão comer e o que vão beber. Não fiquem inquietos. Porque são os pagãos deste mundo que procuram tudo isso. O Pai bem sabe que vocês têm necessidade dessas coisas. Portanto, busquem o Reino dele, e Deus dará a vocês essas coisas em acréscimo. 


“Buscai primeiro o Reino de Deus, e todas as coisas vos serão acrescentadas.”


Não tenha medo pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino. Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmolas. Façam bolsas que não envelhecem um tesouro que não perde o seu valor no céu; lá o ladrão não chega, nem a traça rói. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração. ( Lc 12)

Fonte: Bíblia Sagrada – Ed. Pastoral.

domingo, 2 de junho de 2019

CAMILLE FLAMMARION



No dia 3 de junho de 1925, em seu laboratório astronômico situado em Juvisy-sur-Orge, desencarnava Camille Flammarion, chamado “o poeta das estrelas”.

 
Em sua biografia ele diz ter nascido em Montigny-le-Roi a 26  de fevereiro de 1842. Estava portanto com 83 anos. Flammarion foi enterrado no vasto parque do observatório de Juvissy. Sua esposa, Mme. Gabrielle Camille Flammarion, passou a dirigir o observatório até, quando igualmente desencarnou. Ignora-se em que mãos  se encontra Juvissy atualmente.
 
Há em torno da desencarnação de Camille Flammarion um curioso incidente ocorrido na residência de Léon Denis, em Tours. Quem faz a narrativa é Mlle. Claire Beaumard, que, durante  o período que antecedeu à desencarnação do notável  escritor espírita, foi sua secretária. Em seu livro de reminiscências Mlle. Beaumard narra que começou a trabalhar com Denis na manhã mesma em que os sinos de Tours badalavam o fim da guerra de 1914. De 1918 – término da guerra, à 1925, medeiam sete anos durante os quais participara como uma pessoa familiar em todos os incidentes havidos na casa de Denis. É assim que narra as sessões mediúnicas e nas quais através de uma dama dotada de uma mediunidade invulgar, o espírito de Allan Kardec se manifestava estimulando e fazendo preciosas sugestões a Léon Denis.
 
Abrimos aqui um parêntese para lembrar que em 1925 Allan Kardec ainda não se encontrava encarnado, pois que era o guia espiritual do grupo de Léon Denis, em Tours, França. As pessoas que se qualificam como reencarnação de Allan Kardec, devem ter nascido depois de 1925.
 
Léon Denis foi convidado para ser o Presidente de Honra do Congresso Espírita Internacional de Paris, a realizar-se entre 6 e 13 de setembro de 1925 e que pode ser considerado o mais relevante dos Congressos espíritas jamais realizados. Denis, entretanto, ao receber o ofício se mostrou aborrecido: estava velho, cansado e  quase cego. No decorrer da sessão, composta de um grupo muito reduzido e do qual Mlle. Beaumard fazia parte, ao se manifestar o espírito de Allan Kardec, Denis lhe disse tudo quando o preocupava, alegando que Camille Flammarion poderia perfeitamente substituí-lo.
 
Kardec, que enaltecera o acontecimento, julgava que Denis deveria aceitar o convite. Mas o escritor mostrou-se hesitante.
 
Estou muito velho  e as forças me faltam para chegar até Paris, bastante distante de Tours. E falta-me vista. Além disso sinto-me cansado e sem forças para arcar com tal empreendimento. Vou sugerir que convidem Camille Flammarion.
 
Camille Flammarion não estará lá! – Redargüiu o Espírito comunicante.
 
Mas como? Flammarion não estará lá? Será possível que deixe de comparecer?
 
Camille Flammarion não estará lá!
 
E não deu outras explicações.
 
Denis se conformou e  escreveu ao secretário do Congresso agradecendo e aceitando a atribuição.
 
Como se sabe Léon Denis é considerado o grande propagandista do Espiritismo, aquele que levava  ao povo a consoladora doutrina. Seus livros eram muito procurados pelo povo sofredor que suportara a luta e as atribulações de uma guerra feroz e terrível.
 
Meses se passaram e, sempre nas sessões de Tours, Allan Kardec incentivava o amigo para a reunião magna em Paris, ao mesmo tempo que fazia sugestões para o derradeiro livro de Denis, “O Gênio Celta e o Mundo Invisível” no qual o escritor encarnado faz uma apologia do celtismo, conferindo-lhe especial atenção e estabelecendo curiosos paralelos entre as doutrinas célticas e o próprio Cristianismo.
 
O trabalho corria a meio quando uma triste notícia abalou o meio espírita: Camille Flammarion desencarnara no dia 3 de junho de 1925.
 
Então Léon Denis compreendeu o motivo pelo qual Allan Kardec, naquela especial sessão em Tours, insistira duas vezes em que Camille Flammarion não estaria presente ao Congresso. E foi assim que, em um domingo, 6 de setembro de 1925 Léon Denis discursava dando as boas-vindas aos congressistas.
 
Falando-se a rigor, Camille Flammarion nunca foi espírita. Há dois anos ao ser entrevistada em Juvissy, Mme. Flammarion insistia em dizer que o esposo fora apenas um metapsiquista.
 
Flammarion se tornou conhecido mercê de suas obras versando sobre a astronomia ciência que, com rara felicidade, deixava ao alcance de todos, o que lhe valeu o cognome de “Poeta das estrelas”. Suas primeiras experiências no terreno do Espiritismo ocorreram em novembro de 1861. Harmonizou-se a tal ponto com Kardec e sua esposa que, na cerimônia fúnebre que se seguiu à desencarnação do Codificador do Espiritismo, foi ele o encarregado da despedida fúnebre no Cemitério de Pére-Lachaise. O seu discurso decorre em clima de respeito e louvor e se tornou uma peça de oratória procurada até nos dias de hoje.
 
Seu primeiro livro, “A Pluralidade dos mundos habitados” veio à luz ao mesmo tempo  que “O livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. Dai para a frente os dois sábios passaram a se visitar e Flammarion se tornou membro da Sociedade  de Estudos  Psicológicos, da qual Kardec era o Presidente.
 
As sessões semanais da sociedade consistiam principalmente de escritos inspirados. Flammarion tentou a experiência e depois de várias tentativas foi bem sucedido. Os assuntos das mensagens por ele recebidas versavam quase sempre sobre astronomia e traziam a assinatura de Galileu.
 
Aqui fazemos um parêntese para reproduzir o parecer de alguns investigadores espíritas os quais sugerem que Flammarion era médium de si mesmo; sendo uma reencarnação de Galileu, através de um mecanismo psicológico desconhecido, psicografava o que o seu subconsciente, como Galileu, redigia.
 
O próprio Flammarion acreditava que os resultados por ele obtidos eram o produto de seu intelecto, duvidando que o ilustre florentino tivesse algo a ver com as mensagens por ele grafada. Essas mensagens ficaram em poder da Sociedade e foram publicadas em 1867 na obra de Allan Kardec, “A Gênese”, no capitulo denominado “Uranografia Geral”.
 
Flammarion tinha entrada livre nos principais círculos espíritas parisienses e, por vezes era feito Secretário Honorário dos mesmos.
 
Não obstante não se tornou espírita. Em uma entrevista fornecida à Revue Spirite, pouco tempo antes de desencarnar, sua esposa declarou: Entre Kardec e Flammarion houve um conflito de opiniões. Homem de ciências Flammarion julgava que a Sociedade deveria ser transformada em um núcleo de pesquisas; Kardec entretanto, já convicto da realidade da sobrevivência espiritual, procurava ordenar o trabalho de modo a que atendesse às necessidades do homem, construindo todo um arcabouço ético e moral. Ele não pretendia que a Sociedade se dedicasse longamente às pesquisas, provando o que já havia sido provado enquanto a multidão, lá fora, gemesse e chorasse procurando um caminho seguro para o seu enriquecimento moral.
 
Não obstante, Flammarion dedicou-se durante dois anos de pesquisas no campo da psicografia, da prancheta e da tiptologia, tornado pública a sua conclusão de que o método empregado por Kardec na Sociedade permitia uma margem de dúvidas e que a escrita automática não provava a intervenção de uma outra mente vinda do Mundo Espiritual.
 
Em 1865, sob o título de Forças Naturais Desconhecidas, publicou o seu primeiro livro dedicado à pesquisa psíquica, uma monografia de 150 páginas na qual lê-se um estudo dos fenômenos obtidos pelos irmãos Davenport e outros médiuns. Nessa primeira obra ele cria um neologismo, “psiquismo”, que foi logo em seguida adotado pelos pesquisadores do paranormal. Flammarion, sem admitir a sobrevivência e manifestações dos desencarnados, admite o que ele denomina “forças”, e escreve: “Essas forças são tão reais quanto a atração e a gravitação e são tão invisíveis quanto ela”. Seu livro “Misteriosas Forças Psíquicas”, publicado em 1906 é uma espécie de aproveitamento acrescido de sua obra inicial.
 
No discurso fúnebre proferido junto ao túmulo de Allan Kardec, a 30 de março de 1869, afirmava: “O Espiritismo não é uma religião. É uma ciência a respeito da qual mal conhecemos o “a-b-c”.
 
Foi um dos assistentes dos fenômenos nas sessões de Mme. Girardin, realizadas na residência de Victor Hugo, durante o exílio deste último na ilha de Jersey. Investigou a tiptologia no decorrer de um longo período, atuando a famosa médium, Mlle. Huete, na Rua Mont Thabor. Embora afirmassem que a médium várias vezes fora apanhada fraudando, Flammarion escreve: “Freqüentes vezes nós obtivemos batidas de várias espécies, como ruídos de tambores ou torrentes de chuvas, efeitos esses que seriam impossível à médium imitar. Vários fenômenos incluindo a levitação da mesa foram observados em plena luz do dia. As comunicações eram assinadas por nomes ilustres e, por vezes, escritas de trás para a frente”.
 
Em 1899, através dos “Annales politiques et Litteraises, do Petit Marseilles”, e da “Revue des Revues”,  propôs que os leitores colaborassem com ele para uma pesquisa que tinha em mente. Obteve o seguinte resultado: de 4280 pessoas que atenderam ao seu apelo, 1824 responderam que já tinham vistos fantasmas. Dessem total Flammarion estudou 786 casos que apresentavam valor incontestável.
 
SER OU NÃO SER 
 
Há uma discussão sobre a questão: era Camille Flammarion espírita ou era, conforme sua esposa, Mme. Flammarion, declarou a imprensa, tão somente um metapsiquista? A resposta parece ser respondida em oposição à de sua mulher, por J. Malgras. Ao organizar sua obra, Les Pionniers du Spiritisme em France. J. Malgras escreveu, em 1905, a Flammarion solicitando o seu depoimento. 

A resposta Flammarion foi a seguinte:
 
  26 de janeiro de 1905
 
Parece-me que eu não poderia fazer nada melhor, para responder à vossa solicitação do que vos enviar às conclusões de minha obra L’Inconnu. Elas resumem o conjunto de minhas observações conforme vós as encontrareis abaixo:
 
A observação positiva prova a existência de um mundo psíquico tão real quanto o mundo conhecido por nossos sentidos físicos.
   
1º) A alma existe como um ser real, independente do corpo.
 
2º) Ela é dotada de faculdade ainda desconhecidas pela ciência.
 
3ª) Ela pode agir e perceber à distância sem o intermédio dos sentidos.
 
4ª) O futuro è preparado, antecipadamente, determinado por causas que o constituirão. A alma, por vezes, o percebe.
 
Outras observações já foram apresentadas, notadamente no que concerne aos duplos dos vivos, o corpo etéreo ou astral e as manifestações dos mortos; mas as quatro questões que precedem, me parecem afirmadas e demonstradas.
 
Quanto às explicações, a sabedoria diz não serem exigidas; elas não são necessárias para se admitirem os fatos; é-se crédulo, em geral, sobre este ponto de ilusão tão singulares. Por exemplo, no tempo dos possessos de Loudun ou dos convulsionários de Saint-Médard, os efeitos da sugestão e do hipnotismo eram desconhecidos e se declarava que os fenômenos eram ou fraudulentos ou diabólicos. Ora, não são nem uma nem outra coisa. Hoje, vários se explicam e ouve-se dizer a respeito de ambos os casos: ”foi  hipnotismo, foi a sugestão, foi o subconsciente”. Outro erro: pode-se tratar nem de um nem dos outros. Não fechemos o circulo de nossas concepções, nem estabeleçamos escolas nem sistemas e não pretendamos que tudo deva ser explicado para ser admitido. A ciência esta longe de ter dito sua ultima palavra em qualquer campo que seja.
 
O que podemos pensar, hoje em dia, é que de tudo que fazia parte das superstições, dos erros, das ilusões, das farsas, das malícias, das mentiras, das mistificações, resta um saldo de fatos psíquicos verdadeiros, dignos da atenção dos pesquisadores; isto quer dizer que entramos na investigação de todo um mundo, tão antigo quanto a humanidade , mas ainda novo para o método cientifico experimental que começa, só agora, a se fazer sentir e, simultaneamente, em todos os países.
 
Lembremos, também, que esses fatos são excepcionais. Os fenômenos psíquicos de toda a ordem, aliás deixando de pertencer ao domínio mórbido das superstições e das fantasmagorias ocultas e sendo estudado à luz dos métodos experimentais, não deixaram por isso de permanecer anormais e excepcionais. É preciso não se esquecer disso, negligenciando o espírito crítico, sem o qual a razão humana seria apenas um erro e não se deve, outrossim, considerá-los apenas como motivos de estudos interessantes para o conhecimento de nós mesmos. Com efeito, é preciso reconhecer que o que conhecemos de menos é a nossa própria natureza. A máxima de Sócrates: “Conhece-te  a ti mesmo”, pode sempre inspirar mais nobres sentimentos.
 
Todo o autor tem almas a seu encargo. Não se deve dizer tudo quanto se sabe. Talvez não se deva nunca dizer tudo quanto se sabe, porém, mesmo na vida normal de cada dia não se deveria dizer tudo quanto se sabe.
 
Estudemos, pois, trabalhemos e esperemos. O conjunto dos fatos psíquicos mostra que vivemos no centro de um mundo invisível no seio da qual se exercem forças desconhecidas, o que está  de acordo com o que sabemos sobre o limite de nossos sentidos terrestres e sobre os fenômenos da natureza.
 
                                              Camille Flammarion


Extraído https://www.camilleflammarion.org.br/desencarne_de_camille_flammarion.htm