quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Afinal, o que é magnetismo animal?

mesmer
Franz Anton Mesmer

 Há muito desconhecimento quanto ao Magnetismo Animal. Originalmente, ele nada tem a ver com a concepção popular atualmente divulgada.

O termo “magnetismo animal” foi criado pelo médico alemão Franz Anton Mesmer (1734 – 1815). como um novo paradigma da física de então para fundamentar sua renovação da ciência médica, já que ele considerava falsa a teoria aceita pela comunidade científica de sua época — uma teoria mecanicista para as forças (luz, eletricidade, magnetismo, eram consideradas matérias, esferas duras, sem peso e invisíveis). Para Mesmer, porém, as forças seriam ondas, vibrações de um elemento primordial (o fluido cósmico universal, termo também proposto por ele). Segundo ele, cada uma das diversas faixas vibracionais do fluido universal impressionava os nossos sentidos físicos, como a luz para o olho e o ar para os ouvidos. Desse modo, o “magnetismo animal”, segundo ele, seria o meio de comunicação entre a vontade do magnetizador e o paciente, um estado de vibração do fluido cósmico universal acima da luz (que na época era o mais sutil fenômeno), perceptível por nosso sistema nervoso e pelo senso íntimo, explicando assim os efeitos do tratamento pelo passe e os efeitos do sonambulismo provocado.


Desse modo, o passe curativo não seria uma simples transmissão de substância (o que a teoria materialista dos fluidos materiais aceita pelos físicos da época levaria a crer), como costumeiramente se pensa, mas uma ação dinâmica do organismo saudável do magnetizador em sintonia com o doente, acelerando o ciclo natural da cura, como também funciona na medicina homeopática, sendo assim ambas compatíveis! Isso explica porque o fundador da homeopatia, Samuel Hahnemann (1755-1843), não só aplicava passes mesméricos em seus pacientes, combinando-os com os remédios; mas também acrescentou essa prática à sua medicina, em seu livro Organon da arte de curar.
 

Depois, no século seguinte, os espíritos iriam aceitar essa teoria do “fluido universal” proposta por Mesmer como conceito fundamental da doutrina espírita. Demonstrando a relevância dessa recuperação, vale lembrar que Kardec considerava Magnetismo Animal e Espiritismo como ciências irmãs, e que seria impossível compreender uma sem conhecer a outra.

Os médicos homeopatas da época de Alla Kardec faziam uso do tratamento de passes do Magnetismo Animal, e grande parte deles era espírita. Essas três ciências: Espiritismo, Magnetismo Animal e Homeopatia se afinavam, se uniam, compartilhavam seus fundamentos. formavam um ambiente cultural propício para a difusão dessas ideias. Uma pena que, com a virada do século 19 o materialismo dogmático tenha penetrado na Universidade como uma erva daninha, entranhando-se e encobrindo as conquistas científicas espiritualistas do século anterior. Está na hora de recuperar para transformar.

O ainda mais surpreendente está no fato de que, consideradas as diferenças culturais de cada época, as ideias de Mesmer sobre o fluido universal, considerando as forças como ondas, é uma antecipação conceitual intuitiva do atual paradigma da física moderna! 

Veja essa explicação no livro Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec.

 

Paulo Henrique de Figueiredo

Administrador de empresas, pesquisador e palestrante espírita, autor de Revolução espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec, é também autor de Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos, obra que resgatou a ciência do magnetismo animal, considerada por Allan Kardec ciência irmã do espiritismo. É apresentador do programa de rádio Universo Espírita – pensar e viver com liberdade.

O que é preciso para SER espírita?

Para ser espírita é preciso fazer parte de uma sociedade? Participar de reuniões periódicas? Ter-se formado em cursos de habilitação? Carregar um diploma? Vamos ver que nada disso é necessário para ser espírita, como explicou Allan Kardec.

Uma característica importante da autonomia moral, base fundamental da teoria espírita, como pretendemos demonstrar na obra Revolução Espírita, está no fato de que, por sua própria definição, deve ser adquirida por um esforço racional a partir de uma iniciativa espontânea e desinteressada. Dessa forma, ninguém se torna moralmente livre se for catequizado ou doutrinado. Também não é possível identificar um indivíduo autônomo e responsável somente por seus atos (sem conhecer as intenções), por meio de um diploma ou insígnia, ou sua participação numa congregação ou confraria.

Mesmo a Sociedade Parisiense, presidida por Kardec, estando “alinhada oficialmente entre as sociedades científicas, não é nem uma confraria, nem uma congregação, mas uma simples reunião de pessoas ocupando-se do estudo de uma ciência nova que ela aprofunda” (Revista Espírita 1863, p.122). Quanto às relações entre a Sociedade de Paris e as outras sociedades com as quais se correspondia, havia a mais completa independência: “O laço que as une é, pois, um laço puramente moral, fundado sobre a simpatia e a semelhança das ideias; não há, entre elas, nenhuma filiação, nenhuma solidariedade material” (Revista Espírita 62, p.110).

O que faz um espírita, então?

Segundo Kardec, “quem partilha nossas convicções a respeito da existência e da manifestação dos espíritos, e das consequências morais que disso decorrem, é Espírita de fato” (Revista Espírita 64, p.130). Por isso, “as sociedades não são de nenhum modo uma condição necessária à existência do espiritismo”, afirma, e se “elas se formam hoje, que cessem amanhã, sem que a sua marcha seja entravada no que quer que seja”, pois “o espiritismo é uma questão de fé e de crença e não de associação”.

Basta estar de acordo com os princípios fundamentais da doutrina espírita para ser espírita.


Paulo Henrique de Figueiredo

Administrador de empresas, pesquisador e palestrante espírita, autor de Revolução espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec, é também autor de Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos, obra que resgatou a ciência do magnetismo animal, considerada por Allan Kardec ciência irmã do espiritismo. É apresentador do programa de rádio Universo Espírita – pensar e viver com liberdade.
http://revolucaoespirita.com.br/ser-espirita/

A infância de Hippolyte Rivail ou Allan Kardec

O Jovem Rivail passou sua infância e juventude na casa de sua avó materna, Charlotte Bochard, na cidade francesa de Bourg-en-Bresse, no departamento de Ain. Vinha de uma importante família, tendo sido o seu avô, o patriarca Benôit Marie Duhamel, préfet do departamento de Ain (cargo equivalente ao de governador de estado).

A cidade de Bourg, no decorrer dos séculos, era um destino de viagem muito apreciado pelos franceses, e foi frequentada por reis, nobres, também por Napoleão Bonaparte, e muitas famílias de férias. Os bressans, como eram conhecidos seus moradores, tinham a fama de serem reservados, mas bastante receptivos e hospitaleiros, quando sua proximidade fosse conquistada.

A casa da família Duhamel era uma Maison de maître, casa típica das famílias mais abastadas daquela época, como os profissionais liberais e a elite rural. Eram construídas em três pavimentos. O primeiro abrigava as salas, cozinha, sala de jantar, áreas de serviços. No segundo andar localizava-se a área íntima, como quartos. Por fim, um sótão ocupara o terceiro pavimento. Sua fachada possuía três fileiras de janelas e uma grande porta de entrada que tinha acesso por uma pequena escadaria.

A Maison onde viveu Rivail era bastante ampla. Havia um grande pátio, estábulos para animais, e em suas proximidades diversos terrenos serviam à produção agrícola. Ficava numa região mais afastada do centro urbano da cidade, e os costumes eram típicos da vida que se leva hoje nos sítios e fazendas. Tirar leite das vacas, produzir queijo, colher legumes e verduras na horta, dar comida aos animais. As cercanias comportavam um ambiente bucólico e agradável, o que nos remete a uma infância rica de oportunidades de aprendizado para aquele esperto e inteligente menino.

Em 1828, aos 24 anos, em seu livro: Plano para melhoria da Educação Pública da França, o jovem Rivail iria escrever sobre as condições ideias para a educação infantil: “teria suposto este pequeno estabelecimento não em Paris, mas numa bela região, onde as satisfações da vida campestre seriam unidas às ocupações sérias”. As aulas seriam “de história natural no campo, de instruí-los em conversações, durante passeios. Teria aconselhado o educador fazer seus alunos viajarem, para estudarem, eles próprios, os costumes dos povos e visitar os lugares históricos”.

Ou seja, ao escrever essas palavras, o jovem professor Rivail estava certamente lembrando-se de episódios de sua própria infância.



Paulo Henrique de Figueiredo

Administrador de empresas, pesquisador e palestrante espírita, autor de Revolução espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec, é também autor de Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos, obra que resgatou a ciência do magnetismo animal, considerada por Allan Kardec ciência irmã do espiritismo. É apresentador do programa de rádio Universo Espírita – pensar e viver com liberdade.


O que difere a proposta espirita das outras religiões?

A base fundamental da revolução espírita está no estabelecimento da autonomia moral como base da educação e das relações sociais humanas. Mas o que é autonomia moral?

Afirma-se na Revista Espírita de 1870, página 91:

“O estado de direito, a autonomia da consciência individual, o progresso moral e intelectual, o reinado do amor e da justiça, será o futuro para o qual o espiritismo dá a base fundamental”.

Tradicionalmente, as religiões positivas, a escola tradicional e os governos, desde o inicio da civilização, submetem as pessoas à autoridade pela obediência passiva, ditando o modo de agir sob o regime do castigo e da recompensa, conforme o princípio da heteronomia. Segundo a visão dogmática do cristianismo, todos são pecadores, os que não forem salvos, após o julgamento final, sofrerão eternamente no inferno. Os salvos vivenciarão a plenitude do céu. Neste pensamento, há dependência, submissão, obediência cega quanto ao indivíduo. E, coletivamente, na comunidade heterônoma, há segregação, competição, divisão. Alguns se consideram melhores do que os outros.

Isso não é novidade para ninguém! Não só essa orientação foi imposta pelas religiões tradicionais como sendo a relação com Deus, como também a sociedade materialista impõe a competição, segregação entre uma minoria superior e a grande massa considerada subserviente. Nas escolas, as crianças competem para serem as melhores, as que não se desempenham bem são castigadas. A moral heterônoma é o padrão das relações sociais.

Por sua vez, a autonomia moral e intelectual pressupõe o uso da razão e do senso moral para o autogoverno e o desenvolvimento da personalidade. Essa será a grande mudança que transformará o mundo! Quando as pessoas se relacionam de forma autônoma, há um respeito bilateral, ocorre a cooperação e o apoio mútuo, e não por competição. Há uma valorizão da diversidade, e por isso a inclusão se torna natural. Não há medo de errar, mas a tentativa é que leva ao conhecimento. Cada indivíduo tem seu valor, sua contribuição, algo que o torna relevante. Todos merecem, enfim, a igualdade de oportunidades!

Enquanto pensadores como Rousseau, Kant, Piaget, Paulo Freire, fundamentaram a educação pela liberdade como fator de transformação da humanidade, o espiritismo revela que a autonomia é a lei natural que rege a relação do espírito com a humanidade universal. Ou seja, é fantasiosa a ação arbitrária de Deus castigando ou recompensando, como se ajuizava nas doutrinas religiosas e sociais do velho mundo.
A moral espírita se fundamenta na autonomia moral, essa é a questão central dessa proposta filosófica moderna. Desse modo, o Espiritismo apoia todas as iniciativas que concorrem para esse objetivo. Será esse o caminho pelo qual ocorrerá a regeneração da humanidade, pelo esforço voluntário de cada um!
 Mãos à obra.

 

Paulo Henrique de Figueiredo

Administrador de empresas, pesquisador e palestrante espírita, autor de Revolução espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec, é também autor de Mesmer – a ciência negada e os textos escondidos, obra que resgatou a ciência do magnetismo animal, considerada por Allan Kardec ciência irmã do espiritismo. É apresentador do programa de rádio Universo Espírita – pensar e viver com liberdade.

Fonte http://revolucaoespirita.com.br/autonomia-moral/



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A Biologia da Crença - Bruce Lipton Legendado PT

Franz Anton Mesmer

Nasceu em 23 de maio de 1734, em Iznang, aldeia próxima do lago de Constança, filho do casal Franciscus Antonius Mesmer e Maria Ursula Michel, membros de uma grande família católica da Suábia, região que hoje pertence à Alemanha. Mesmer desencarnou em  5 de março de 1815.  

Em 1743, foi levado pelos pais para o monastério Reichenau, em Constança, onde durante seis anos estudou línguas, literatura clássica e música com os monges. Provido de recursos, dedicou-se a longos estudos científicos, chegando a dominar os conhecimentos de seu tempo, época de acentuado orgulho intelectual e ceticismo. Era um trabalhador incansável, calmo, paciente e ainda um exímio músico. Freqüentava constantemente círculos ocultistas, locais onde obteve conhecimentos de alquimia. Estudou com profundidade a vida e a obra de Paracelso (1493-1541), que entendia que havia correspondência entre o mundo exterior o macrocosmo e as diferentes partes do organismo o microcosmo. 


Em 1750, ingressou na Universidade jesuíta de Dillingen, na Bavária, onde estudou filosofia por quatro anos, chegando ao doutorado. Leu as obras de Galileu, Descartes, Leibniz, Kepler, Newton etc. Em 1754, iniciou o curso de teologia na Universidade de Ingolstadt, também na Bavária. Cinco anos depois, em 1759, ingressou na Universidade de Viena, dedicando seu primeiro ano nesta universidade ao estudo das leis. Transferiu-se, logo depois, para o curso de medicina. Seis anos depois, no dia 27 de maio, conquistou o doutorado com uma dissertação inspirada na obra de Newton e talvez de Paracelso. Nesse texto, que trata da influência dos planetas sobre o corpo humano, usou pela primeira vez o conceito de fluido universal

A tese de formatura de Mesmer fazia referência a uma medicina de outros tempos: De Influxo Planetarum In Corpus Humanum. Nela, descrevia a influência dos planetas por intermédio de um fluido universal com poderes magnéticos sobre a matéria viva. Aludia, também, ao magnetismo animal, que, segundo ele, existia em duas formas opostas e tenderia a emanar dos lados direito e esquerdo do corpo humano. Explicava que a cura das enfermidades consistia na restauração do equilíbrio ou harmonia alterada entre os fluidos. Com base nessas teorias, Mesmer construiu sua técnica terapêutica utilizando a fixação dos olhos e os passes com as mãos. As teorias de Mesmer afirmavam que um princípio imponderável atuava sobre os corpos. Em todo o organismo vivente existia um fluido magnético no qual circulava uma força especial, animando tanto o mundo orgânico como o inorgânico; que esse fluido se transmitia, podendo revigorar os corpos debilitados; que as pessoas dotadas de grande vitalidade poderiam transmitir essa energia para os outros, se soubessem dirigi-la, utilizando as mãos.  

Mesmer casou-se com Maria Anna Von Bosch, numa concorrida cerimônia, em 10 de janeiro de 1768, celebrada, na catedral de Santo Estevão, pelo arcebispo de Viena. Mudou-se para uma mansão em Landstrasse, onde promovia saraus musicais com Mozart, Gluck, Haydn e outros. Ainda em 1768, em outubro, estreou no teatro de seu jardim a primeira apresentação em Viena de uma ópera de Mozart

O primeiro tratamento pelo magnetismo animal teve início em 1773. A paciente foi uma parenta da esposa de Mesmer e amiga da família de Mozart, Franziska Esterlina, uma senhorita de 29 anos bastante debilitada. Mais tarde, em 1790, Mesmer foi homenageado por Mozart, em sua ópera Così fan tutte. No final do primeiro ato, a personagem Despina, fantasiada de médico, imita Mesmer e seu tratamento. 

Em 1775, com a pouca acolhida dada à sua descoberta, determina-se a nada mais realizar publicamente em Viena. Após muitas experiências, reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Acredita que dela se desprende um fluido que alcança o doente. De todos os corpos da Natureza – declarou então , é o próprio homem que com maior eficácia atua sobre o homem. A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura. Ele, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, para estender o benefício a maior número de pessoas, magnetizava água, pratos, cama etc.,  a cujo contato submetia os enfermos. 

Ele definiu o magnetismo animal como sendo a capacidade de um indivíduo causar efeitos similares ao magnetismo mineral em outra pessoa. Em 1776, Mesmer deixa de fazer uso do ímã como simples condutor do magnetismo animal, para evitar mal-entendido por parte dos médicos e físicos. Continua a usar água, garrafas, barras de ferro. No ano seguinte, aceita como paciente a famosa pianista Maria Theresa Paradis, curando sua cegueira, fato que gerou muitas controvérsias. 
 
Na luta pela divulgação do Magnetismo Animal, Mesmer chega a Paris no mês de fevereiro de 1778 e começa a apresentar suas descobertas para os sábios e os médicos dessa capital, retirando-se para a cidade de Creteil no mês de maio, juntamente com alguns doentes. Requisita comissários da Sociedade Real de Medicina de Paris para que eles fiscalizem as curas, o que foi recusado. Mesmer praticou durante anos o seu método de tratamento em Viena e em Paris, com evidente êxito, mas acabou expulso de ambas as cidades pela inveja e incompreensão de muitos. Depois de cinco tentativas para conseguir exame judicioso do seu método de curar pelas academias, é que publica, em 1779, a Dissertação sobre a descoberta do magnetismo animal, na qual afirma que este é uma ciência com princípios e regras, embora ainda pouco conhecidas. Suas descobertas baseavam-se em 27 teses. Eis algumas:Por meio deste fluido, doenças nervosas são curadas imediatamente e suas virtudes podem estender-se à cura universal e a preservação da humanidade, a um grau tão elevado, que não se sabia quão longe poderia ir. Existe uma influência recíproca entre os corpos celestes, a Terra e todos os organismos animados. O fluido universal é o agente dessa influência. Essa ação recíproca está sujeita às leis da mecânica. Os corpos gozam de propriedades análogas ao ímã. Essas propriedades podem ser transmitidas a outros corpos animados ou inanimados. A moléstia é apenas a resultante da falta ou desequilíbrio na distribuição do magnetismo pelo corpo. 

O trabalho de Mesmer, devido a seus métodos e a essas curas miraculosas, provocou um alvoroço em Paris. Ali foi cultuado por muitos e perseguido por outros, principalmente por colegas médicos que o chamavam de charlatão e embusteiro. Sua popularidade prosseguiu por muitos anos, mas outros médicos o tachavam de impostor e charlatão. Em uma derradeira tentativa, propõe à Faculdade de Medicina de Paris, em 1780, um teste comparativo de seu método com a medicina tradicional. Em 18 de setembro, houve uma assembléia geral e, após uma leitura e um discurso, d'Eslon, seu discípulo, foi excluído do quadro dos médicos e as proposições de Mesmer foram rejeitadas com desdém e animosidade. Depois, em 1781, Mesmer publica o que viria a ser a mais importante descrição histórica da ciência do magnetismo animal. Em 1784, o governo francês nomeou uma comissão de médicos e cientistas para investigar suas atividades. Benjamin Franklin foi um dos membros dessa comissão, que acabou por constatar a veracidade das curas, porém as atribuiu não ao magnetismo animal, mas a outras causas fisiológicas desconhecidas.

Mesmer envia uma carta a Benjamin Franklin denunciando os equívocos da comissão nomeada para examinar d'Eslon, desautorizada para agir em seu nome, e a impropriedade do método adotado. O rei da França nomeia uma comissão de sábios da Academia de Ciências de Paris Bailly, Darcet, Franklin, Lavoisier , que em quatro meses concluiu que as proposições de Mesmer não passavam de imaginação, além de redigir um relatório secreto alegando implicações sexuais. Uma outra comissão formada por médicos da Sociedade Real de Medicina também rejeitou a existência do magnetismo animal. Porém, um de seus membros, Jussieu, divergiu dos colegas e admitiu as curas. Em 1785, alguns dos discípulos de Mesmer publicam as anotações de suas aulas. Em 1790, sua esposa, von Posh, morre de câncer no seio. De retorno a Viena, em 1793, é preso pela polícia, pois estava sendo investigado por questões políticas, suspeito de ser favorável aos jacobinos. Liberado, ficou sob custódia até 5 de dezembro. Continuaria, porém, sendo observado pelas autoridades. Mesmer vê-se então forçado a retirar-se de Paris  e, vilipendiado, instala-se numa pequena cidade suíça, onde viveu durante 20 anos sempre servindo aos necessitados e sem nunca desanimar nem se queixar. 

Um grupo de médicos da Academia de Berlim redescobre o seu paradeiro, mas, já com setenta e cinco anos, ele não aceita acompanhá-los. Em 1812, aos 78 anos, a Academia de Ciências de Berlim convida-o para prestar esclarecimentos, pois pretendia investigar a fundo o magnetismo. Era tarde; ele recusou o convite. Também a Igreja condenava o magnetismo, e, por tabela, a ele. Em 1813, um teólogo francês escrevia que "o sonambulismo e o magnetismo eram sobrenaturais e diabólicos, anticristãos, anticatólicos e antimorais. Tudo provinha da ação de fluidos de origem infernal". A Academia encarrega o Prof. Wolfart de entrevistá-lo. O depoimento desse professor é um dos mais belos a respeito do caridoso médico: Encontrei-o dedicando-se ao hospital por ele mesmo escolhido. Acrescente-se a isso um tesouro de conhecimentos reais em todos os ramos da Ciência, tais como dificilmente acumula um sábio, uma bondade imensa de coração que se revela em todo o seu ser, em suas palavras e ações, e uma força maravilhosa de sugestão sobre os enfermos. No início de 1814, ele regressou para Iznang, sua terra natal, onde permaneceria os seus últimos dias até falecer em 5 de março de 1815, aos 81 anos de idade.

fonte http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/biografias/franzanton.html
 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Allan Kardec e a homossexualidade

Atualmente, a questão da homossexualidade está amplamente presente no debate cultural. Com o passar das décadas, o preconceito e o ódio, apesar de ainda presentes, estão progressivamente se restringindo, e, ao menos a aceitação, já está presente nos hábitos cotidianos. Notícias episódicas da mídia relatam cenas de ataques e intolerância, no entanto, muito mais amplamente reconhecido é o fato de que os casais homossexuais podem agir com naturalidade em muitas áreas públicas, lutar por direitos iguais nas instâncias do poder, debater a questão abertamente; o que seria inaceitável em séculos anteriores.

O nazismo é um marco histórico que demonstra quanto o preconceito e a ideia de supremacia faz do homem um animal doente, enfurecido pela raiva, aceitando a perseguição aos inocentes em nome de uma falsa “superioridade”. Contagiando inclusive as multidões, que permaneceram inertes frente aos abusos criminosos de seus dirigentes. Esse fenômeno, porém, não se restringiu à perseguição aos judeus, narrado pelo holocausto, mas também a outros grupos, como os homossexuais, considerados doentes pelos nazistas.

 Marcados em sua roupa por um triangulo rosa invertido, nos campos de concentração eles foram tratados por médicos nazistas que tentavam “curá-los” por métodos brutais e perversos, como injeções de hormônio masculino e frequência forçada a prostíbulos criados para tal objetivo. Os “curados” eram enviados para combater os russos, absolvidos pelo “bom comportamento”. Os demais, cerca de 5 a 15 mil, foram mortos nas câmaras de gás.

Em momento mais recuado, no século 19 vivido por Kardec, frente ao domínio social das classes burguesas após a revolução francesa, a distinção entre sexos ganhava importância para justificar e impor diferenças entre os comportamentos femininos e masculinos, usadas explicação para as exigências daquela nova sociedade. O preconceito estava presente na ciência quando se buscava legitimar uma superioridade masculina como sendo biologicamente natural, baseada no senso comum da diferença entre os “gêneros”.

Cabia à mulher, como “sexo frágil”, conquistar um bom casamento, cuidar dos filhos e da casa, ficando longe de qualquer função pública. Cabia ao homem usufruir do poder dado pela natureza ao “sexo forte”.

Uma falsa teoria, objetivando explicar pela ciência o que, em verdade, se trata de uma distorção cultural.

Enquanto na universidade as possibilidades da ciência abriam grandes perspectivas para o futuro entusiasmando os rapazes, as mulheres eram completamente afastadas do estudo acadêmico, mantidas sob uma educação antiquada, limitante. É importante lembrar: saber é poder! Louisa Garrett, deu o seguinte depoimento:
“Permanecer solteira era considerado uma desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada era chamada de velha solteirona. Depois que seus pais morriam, o que elas podiam fazer, para onde poderiam ir? Se tivessem um irmão, poderiam viver em sua casa, como hóspedes permanentes e indesejados. Algumas tinham que se manter e, então, as dificuldades apareciam. A única ocupação paga aberta a essas senhoras era a de governantas, em condições desprezadas e com salários miseráveis. Nenhuma das profissões eram abertas as mulheres; não havia mulheres nos gabinetes governamentais; nem mesmo trabalho de secretaria era feito por elas”. (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3511571)
E sobre a educação nas instituições de ensino no século 19, Louisa explicou:
“Os pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo: modos, música e um pouco de francês seria o suficiente para elas. Aprender aritmética não ajudará minha filha a encontrar um marido, esse era um pensamento comum. Uma governanta em casa, por um breve período, era o destino habitual das meninas. Seus irmãos deviam ir para escolas públicas e universidades, mas a casa era considerada o lugar certo para suas irmãs. Alguns pais mandavam suas filhas para escolas, mas boas escolas para garotas não existiam. Os professores não tinham boa formação e não eram bem educados. Nenhum exame público (para escolas) aceitava candidatas mulheres”.
É preciso mergulhar no passado, por meio dos depoimentos e descrições de fontes primárias para recuperar como era a cultura nesse período, pois nossas referências atuais são completamente diferentes. Nas escolas da atualidade, meninos e meninas agem igualmente, recebem os mesmos tratamentos e oportunidades. O mesmo ocorre nas universidades, e, pouco a pouco, as mulheres vão ganhando espaço nos esportes, na política, e demais cenários sociais. Todavia, no século 19 tudo isso era impensável. Poucas mulheres tinham acesso a uma educação primária, apenas as pertencentes às famílias mais abastadas, as quais,  ainda assim, encontravam o seguinte ambiente escolar, no depoimento de Teresa Billington, em sua autobiografia de 1884:
“Nós nos sentávamos e ficávamos silenciosas em nossas fileiras de carteiras, aprendíamos dos livros e nossas tarefas eram corrigidas por uma freira, que era a professora naquele momento, a partir das respostas na parte final de um livro similar ao nosso… Nós tínhamos longos períodos de instrução religiosa… Sexta feira a tarde era devotada exclusivamente a comportamento. Os Modos fazem uma dama nos era dito, não o dinheiro ou o ensino, não a beleza. Então praticávamos como abrir uma porta, entrar e sair de um cômodo; a trazer uma carta, uma mensagem, uma bandeja ou um presente; a pedir permissão às mães de nossas amigas para que elas pudessem participar de uma festa; a receber visitas na ausência de nossos pais, e assim por diante!”
Ou seja, nesse tempo, a mulher era destinada à procriação e a servir ao homem, e sua melhor qualidade estava em ser submissa. Como vimos, uma radical distinção se opunha ao se adotar o conceito de gêneros . Esse já é um problema fundamental a ser debatido. E quanto ao tema deste artigo, a homossexualidade? Foi desde essa época, com o auxílio de uma ciência preconceituosa e equivocada, que o homossexual passou a ser qualificado numa categoria de inversão doentia, antinatural e perversa: a aberração de ser homem por natureza, mas comportar-se como a inferior mulher, subvertendo as funções sociais consideradas naturais. Uma degeneração, perversidade, monstruosidade. O estudo de J. F. Costa, A Face e o Verso: estudos sobre o homoerotismo II (São Paulo: Escuta, 1995), define essa situação do século 19:
“Sua inversão será perversão porque seu corpo de homem será portador da sexualidade feminina que acabara de ser criada. O invertido apresenta um duplo desvio: sua sensibilidade nervosa e seu prazer sexual eram femininos. Se sexo foi, por isso mesmo, definido como contrario aos interesses da reprodução biológica”.
A existência do homossexual era referida como “sodomia”, “pecado nefando”, “pederastia”. O autor de “O retrato de Dorian Grey”, Oscar Wilde (1854-1900), por ter se apaixonado pelo lorde inglês Alfred Douglas, filho do marquês de Queensberry, sofreu duramente as consequências de sua ousadia. Em 1895, o marquês foi ao tribunal acusando o escritor de homossexualidade. Em meio à sua defesa, Oscar Wilde escreveu:
 “Tal amor é tão mal compreendido neste século que se admite descrevê-lo como o ‘amor que não ousa dizer seu nome’. Ele é bonito, é bom, é a mais nobre forma de afeição. Não há nada nele que seja antinatural. O mundo não compreende que seja assim. Zomba dele e às vezes, por causa dele, coloca alguém no pelourinho.”




O. Wilde e A. Douglas
Oscar Wilde, que sempre negou as acusações, foi condenado a dois anos de trabalhos forçados pela prática de “indecência grave”. Sua família o abandonou, seus filhos mudaram de sobrenome. Depois de cumprir a pena, o escritor foi para o exílio em Paris. Estava execrado socialmente, falido, solitário e debilitado fisicamente. Foi morar em hotéis baratos, e, aos 46 anos, morreu, sendo primeiramente enterrado como indigente. Apenas décadas depois é que veio a repercussão internacional, a exposição na imprensa, e a visibilidade tornou o caso de Wilde um marco na luta pelos direitos dos homossexuais.


Foi nesse ambiente cultural que Allan Kardec elaborou a ciência espírita, estabelecendo o diálogo entre os homens e os espíritos, formalizando na Doutrina Espírita os ensinamentos dos espíritos superiores. A Revista Espírita, publicada e elaborada pessoalmente por ele todos os meses desde 1858, era o laboratório onde se ensaiavam os temas, ouvindo as opiniões dos pesquisadores espíritas e as mensagens espirituais recebidas por centenas de médiuns em todo o mundo.

Em abril de 1862, Kardec evocou o senhor Sanson, um espírita da Sociedade de Paris, recém-desencarnado, e lhe fez a seguinte pergunta:
“Os Espíritos não têm sexo; entretanto, como há poucos dias ainda era homem, tende em vosso novo estado antes a natureza masculina do que a natureza feminina? Ocorre o mesmo com um Espírito que tivesse deixado seu corpo há muito tempo?”
E, por meio do médium, Sanson respondeu:
“Não temos que ser de natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os cria à sua vontade, e se, por seus objetivos maravilhosos, quis que os Espíritos se reencarnem sobre a Terra, deveu acrescentar a reprodução das espécies para macho e a fêmea. Mas o sentis, sem que seja necessária nenhuma explicação, os Espíritos não podem ter sexo.”
Os espíritos sempre ensinaram que eles não têm sexo. Numa nota, Kardec destacou que “os sexos não são necessários senão para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, os sexos seriam inúteis para eles”. No entanto, o objetivo da pergunta era saber se Sanson ainda conservava a impressão de seu estado terrestre, de sua recente condição humana, tão logo após sua morte. Era isso que Kardec queria saber. Os espíritos superiores sabem e vivenciam lucidamente a evidência de não existirem diferença entre gêneros, mas os espíritos mais simples, ainda materializados, conservam as mesmas paixões e desejos de quando encarnados, e, por isso, acreditam serem ainda homens ou mulheres depois da morte. Por outro lado, é comum os espíritos se apresentarem com a imagem que tinham quando encarnados, para faciliar a sua identificação.

Na Revista Espírita de janeiro de 1866, num inusitado artigo, “As mulheres tem uma alma?”, Kardec vai tratar novamente das diferenças sociais entre homens e mulheres. Ele relata que chegava aos jornais a notícia de que uma mulher havia com sucesso alcançado o grau de bacharel na universidade de Montpellier, França. Pasmem! Kardec afirma que era apenas o quarto diploma concedido a uma mulher até então! Em seu artigo, o professor explica que essa aquisição acadêmica ainda parecia a alguns “uma monstruosa anomalia”, e que essas conquistas iniciais ainda não representavam um avanço no entendimento ou um reconhecimento da natural igualdade, ainda se estava longe disso, considerava-se que se tratava apenas de uma concessão eventual:
“Depois de ter reconhecido que elas têm uma alma, se lhes reconheceu o direito de conquistar os graus da ciência, é já alguma coisa. Mas a sua libertação parcial não é senão o resultado do desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes, ou, querendo-se, de um sentimento mais exato da justiça; é uma espécie de concessão que se lhe faz, e, é preciso bendizê-la, se lhes regateando o mais possível”.
Naquele tempo, apesar da questão da existência da alma da mulher ser considerada ridícula, ainda não se ponderava que a “igualdade de posição social entre o homem e a mulher fosse de direito natural”, e não uma concessão feita pelo homem. A contribuição do Espiritismo para o debate é extraordinária e atual. Enquanto atualmente se discute o fato de que as tradicionais diferenças de gênero se estabeleceram em função da cultura e não da natureza fisiológica (visando justificar o poder do homem), o Espiritismo demonstra o outro extremo da questão: a igualdade é natural, pois os espíritos não têm distinção sexual! Ou seja, se a divisão de sexo por gêneros é cultural (se sabe hoje), a igualdade é natural (explicam os espíritos).

Esse é o ponto fundamental para se compreender o que o Espiritismo veio acrescentar ao debate! Essa contextualização ou entendimento da situação cultural de quando Kardec escreveu seus livros e revistas é primordial para se compreender os fundamentos da Doutrina Espírita. No tema que agora analisamos, a pergunta essencial é esta: “Deus criou almas machos e fêmeas, e fez estas inferiores às outras?”. E então Kardec esclarece:
“O homem entregue a si mesmo não podia estabelecer a esse respeito senão hipóteses mais ou menos racionais, mas sempre controvertidas; nada, no mundo visível, podia lhe dar a prova material do erro ou da verdade de suas opiniões. Para se esclarecer, seria preciso remontar à fonte, folhear nos arcanos do mundo extracorpóreo que ele não conhece. Estava reservado ao Espiritismo resolver a questão, não mais pelo raciocínio mas pelos fatos, seja pelas revelações de além-túmulo, seja pelo estudo que ele é capaz de fazer diariamente sobre o estado das almas depois da morte. E, coisa capital, esses estudos não são o fato nem de um único homem, nem das revelações de um único Espírito, mas o produto de inumeráveis observações idênticas feitas diariamente por milhares de indivíduos, em todos os países, e que receberam a sanção poderosa do controle universal, sobre o qual se apoiam todas as doutrinas da ciência espírita. Ora, eis o que resulta dessas observações. As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que as une nada têm de carnal, e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas sobre uma simpatia real, e não são subordinadas às vicissitudes da matéria”.
As almas não têm sexo, ensina o Espiritismo, e a diferença entre o masculino e o feminino estão relacionadas unicamente à necessidade de procriação e às funções instintivas e necessárias à preservação da espécie humana, como ocorre com todas as espécies animais. Afinal, nosso corpo físico é animal. Isso vem desde os tempos primitivos, quando os hominídeos concorriam pela sobrevivência. Em sociedade, com o objetivo de progredir moral e intelectualmente por seu próprio esforço, o espírito nasce como homem ou mulher, pobre ou rico, senhor ou servidor, trabalhador do pensamento ou da matéria, buscando vivenciar toda a diversidade de oportunidades para seu aprendizado. Desse modo, explica Kardec:
“O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo. Essa influência não se apaga imediatamente depois da destruição do envoltório material, do mesmo modo que não se perdem instantaneamente os gostos e os hábitos terrestres; depois, pode ocorrer que o Espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele. Não é senão o que ocorre a certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos. Aqueles que se apresentam a nós como homens ou como mulheres, é para lembrar a existência na qual nós os conhecemos”.
Em seu processo evolutivo, na fase inicial de sua trajetória, o espírito leva e traz influências entre a vida corpórea e a vida espiritual, sucessivamente. Em espírito, não tem necessidades fisiológicas materiais, como a diferença de sexo, emoções básicas, instintos de conservação — pois o espírito é imortal. Todavia, quando desencarna, muitos espíritos imperfeitos conservam essas características de forma ilusória no mundo espiritual, demorando a perceber as diferenças fundamentais de sua nova condição. Só com o passar de muitas vidas vai compreendendo e se adaptando à essa nova realidade.
O mesmo pode ocorrer, quando o espírito reencarna, propõe Kardec:
“Se essa influência repercute da vida corpórea à vida espiritual, ocorre o mesmo quando o Espírito passa da vida espiritual à vida corpórea. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se for avançado, fará um homem avançado; se for atrasado, fará um homem atrasado”.
É, enfim, exatamente aqui que, no desenvolvimento desse raciocínio sobre a influência dos hábitos e tendências do indivíduo mantido vida após vida nesse estágio inicial do espírito, que surge para Allan Kardec uma hipótese de causa natural para a condição homossexual. Ele Afirma:
“Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres”.
É muito importante destacar aqui que o termo “anomalia aparente”, usado por Kardec, estava presente nas ciências da época, se referindo aos fenômenos que fogem da explicação das teorias aceitas, não sendo para elas “normais”; mas que, ao se encontrar uma nova explicação natural para o fenômeno em novas teorias, elas deixam de ser “anomalias” e se tornam fenômenos naturais. Por isso ela é “aparente”. Em outra circunstância, por exemplo, Kardec se referiu à lei da reencarnação como natural, explicando, enfim, “todas as anomalias aparentes da vida; é a luz lançada sobre o nosso passado e o nosso futuro, o sinal manifesto de vossa soberana justiça e de vossa bondade infinita” (O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 157).

Podemos concluir, finalmente, que as questões de sexo, considerando os indivíduos como homens e mulheres, machos e fêmeas, estão circunscritos à condição material fisiológica dos organismos animais a que estão associados durante a encarnação. Em sua essência, o espírito não tem sexo, não tem gênero. Em sua fase inicial de evolução, porém, essas diferenças permanecem pelos hábitos, tendências e gostos. E são mantidas pela cultura. Entre os espíritos evoluídos, no entanto, esssas deixam de ser diferenças, e não há mais qualquer distinção que sustente preconceitos e disputas de poder. Como a vida espiritual é a principal, e a evolução será o destino de todos os espíritos, todas as questões referentes à homossexualidade são circunstanciais, um debate humano, cultural e temporal; que perderá sentido no futuro, quando a humanidade houver conquistado uma nova condição evolutiva; tornando-se solidária, igualitária e livre de preconceitos.
E então Kardec finaliza seu artigo com uma admirável conclusão, colocando o Espiritismo na vanguarda da emancipação da mulher:
“Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força à fraqueza, é um direito fundado sobre as próprias leis da Natureza. Fazendo reconhecer estas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, como abre a da igualdade e da fraternidade”.
Por Paulo Henrique de Figueiredo, autor de Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos, e Revolução Espírita, a teoria esquecida de Allan Kardec.
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