J.Herculano Pires
1- SESSÕES EXPERIMENTAIS – A pesquisa científica dos fenômenos mediúnicos foi iniciada e desenvolvida por Allan Kardec na parte psicológica. Embora os fenômenos físicos despertassem maior interesse em todo o mundo, Kardec dedicou maior atenção aos fenômenos psicológicos, partindo de um critério metodológico justificado pela sua posição filosófica. Formada e especializada em Pedagogia na Escola de Pestalozzi, interessava-se profundamente pelos problemas da natureza humana. Assim como o Magnetismo, em voga na época abrira-lhe novas perspectivas para a investigação das potencialidades anímicas do homem, os fenômenos mediúnicos revelavam-lhe novas possibilidades nesse sentido. Considerou os fenômenos físicos como simples efeito de uma causa que era naturalmente mais importante. Em 1854, quando observou pela primeira vez fenômenos mediúnicos de natureza física (movimentos de objetos, danças das mesas etc.) considerou-os como de origem possivelmente energética, produzidos por indução de correntes elétricas das pessoas presentes ou efeitos desconhecidos da lei de gravidade. Logo mais estabeleceu relações entre o psiquismo dos médiuns e essas forças, antecipando de vinte nos a Psicologia – Fisiológica de Wlhem Wundt, que surgiria em 1874. Experiências posteriores com as meninas Julia e Carolina Baudin e com a Srta, Japhet lhe provaram a presença de inteligências estranhas na produção e orientação dos fenômenos. Kardec reconheceu a importância estranha desse fato e desenvolveu métodos específicos de pesquisa, relacionando os fatores espirituais com os psíquicos (psiquismo dos médiuns) e anímico (alma dos médiuns) e fisiológicos, Esse complexo de fatores antecipava a metodologia de Wundt e superava antecipadamente a metodologia experimental de Weber e Fechner.
Das experiências iniciais com médiuns diversos, em que obteve o material reunido em “O Livro dos Espíritos”, passou aos trabalhos sistemáticos da Sociedade Parisiense de Estudos Espírita, onde contava com a colaboração de Camile Flamarion, Alexandre e Gabriel Delane, Victorien Sardou, Didier e outros. Recusou-se a fazer pesquisas físicas, deixando estas a cargo dos especialistas científicos que punham em dúvida a validade dos seus trabalhos. Sua convicção o levava a não desviar-se do rumo traçado e a lançar esse desafio aos adversários e críticos. A tenacidade e o rigor com que prosseguiu nas pesquisas, que qualificou justamente de psicológicas, e os resultados a que chegou, positivos e irrefutáveis, teriam lhe assegurado a posição de iniciador da Psicologia Experimental que deram a Wundt, e a de pioneiro da Psicologia Profunda, que deram a Freud. Ao tratar das manifestações anímicas dos médiuns revelou a existência do inconsciente, sua dinâmica e sua influência no comportamento humano, e isso quando Sigmund Freud não tinha mais do que um ano de idade. A catarse espírita de Kardec foi muito mais eficaz e profunda que a catarse psicanalítica de hoje. Albert de Rochas o provou na França e Wladimir Raikov, seguindo o método empregado por De Rochas, o comprova hoje na Universidade de Moscou, enquanto Ian Steven son faz o mesmo na Universidade da Califórnia (EUA) embora sem o gênio e o rigor Kardecianos. O preconceito científico (aberração nas ciências) e a alienação cultural ao materialismo, que colocou um pressuposto absurdo como base de toda a Ciência, negaram a Kardec o reconhecimento de sua contribuição ao desenvolvimento da Cultura.
O desafio aos sábios, entretanto, surtia os seus efeitos. As pesquisas de William Crocckes, Henry Sidgurick, Edmundo Guney, Oliver Lodge, Frederic Myers, Scherenk Notzing, Charles s Richet, Gustave Geley, Eugene Osty, Frederic Zollner, Paul Gibier e tantos outros nomes exponenciais da Ciência comprovaram nos anos sucessivos a validade absoluta do trabalho pioneiríssimo de Kardec. Hoje a Parapsicologia e a própria Física, que rompeu o seu arcabouço de materialismo estratificado, mostraram, sem querer e sem saber, que as conclusões Kardecianas são verdadeiras. Incumbiram-se os parapsicólogos e os físicos atuais da reparação científica devida inexoravelmente a Kardec.
Muitas pessoas reclamam da falta de pesquisas científicas dos fenômenos espírita na atualidade, sem perceber que essas pesquisas prosseguem como deviam e como Kardec desejava, ou seja, nos laboratórios científicos de todos os grandes centros universitários do mundo, pela força das coisas, como escrevia Kardec, por necessidade absoluta do progresso cientifico e sem qualquer delimitação ideológica ou sectária. E enquanto os cientistas cumprem o seu dever de pesquisar sem preconceitos, os Espíritos prosseguem na prática de suas atividades doutrinárias, socorrendo as vítimas do equívoco científico (os obsedados, fascinados e subjugados) através de suas simples e humildes sessões de assistência fraterna e gratuita. Isso não impede que os espíritas, no âmbito de suas instituições doutrinárias, realizem também suas sessões de pesquisas científicas. Mas as instituições espíritas, em geral, não dispõem de condições para esse trabalho especializado (diremos mesmo especializadíssimo) que exige a participação de especialistas, de aparelhagem custosa, de todos os recursos de um laboratório de tipo universitário. Algumas instituições espíritas aventuram-se ingenuamente à promoção de pesquisas sem disporem de nada disso. Alimentam ainda as crendices religiosas do passado, esperando que o Alto (o mundo dos espíritos superiores) possa suprir as suas desoladoras deficiências culturais e conceptuais, no tocante ao problema espírita. Alguns graduados universitários pensam que seus canudos de bacharel ou licenciado são suficientes para lhes dar a habilidade especializada que não possuem. Criam institutos científicos domésticos, sem recursos de espécie alguma para pesquisas complexas e refinadas, e passam a julgar-se e a apresentar-se, até mesmo em televisões, com cientistas dignos de acato. Um pouco de bom senso bastaria para lhes mostrar o erro em que incidem. Enquanto não tivermos uma Universidade suficientemente aparelhada – em pessoal especializado e competente e com aparelhagem técnica suficiente, psicofonia e estrita direta, que possam dar algum resultado positivo no campo dos interesses científicos. O exemplo de Kardec deve servir de advertência aos que se aventuram nesse terreno escorregadio. Vivendo num tempo em que o problema científico era muito menos complexo do que hoje, assim mesmo ele se recusou a dedicar-se a trabalhos que poderiam devia-lo do campo exigente da elaboração e divulgação da Doutrina Espírita, que precisava levar o seu socorro imediato ao povo, preparando a mente popular para superação indispensável das concepções supersticiosas do passado. A tarefa principal de um espírita consciente, naquele tempo, como ainda hoje, era a de assentar as bases do novo edifício a construir. Os meios científicos atuais já chegaram à compreensão de que os tabus materialistas foram pulverizados pelas explosões atômicas. A realidade espiritual maneira que os materialistas são obrigados a sofismar a até mesmo a disfarçar suas conquistas científicas mais avançadas, para não darem a mão à palmatória implacável da Verdade. A História, a Filosofia, a Psicologia, a Antropologia, a Física, a Astronáutica – todas as Ciências, enfim – já atravessaram o limiar do Mundo Espiritual e não podem mais recuar. Já temos a pesquisa da reencarnação, dos fenômenos paranormais, especialmente dos chamados fenômenos théta (de manifestações e comunicações de espíritos) nos mais adiantados centros universitários do mundo, sem excluir sequer os da órbita soviética, onde o corpo-bioplásmico do Materialismo falecido por asfixia e reduzido as cinzas nos fornos crematórios da Verdade. Pensemos nisso, analisemos bem esses problemas, antes de nos aventurarmos a pioneiros de porão, na retaguarda do avanço científico e tecnológico dos nossos dias, que não estamos em condições de acompanhar.
J.Herculano Pires – Livro O Espírito e o Tempo – quarta parte – A PRÁTICA MEDIÚNICA – Cap. I – PESQUISAS CIENTÍFICAS DA MEDIUNIDADE