No dia 3 de junho de 1925, em seu laboratório astronômico situado em Juvisy-sur-Orge, desencarnava Camille Flammarion, chamado “o poeta das estrelas”.
Em sua
biografia ele diz ter nascido em Montigny-le-Roi a 26 de fevereiro de 1842. Estava portanto com 83
anos. Flammarion foi enterrado no vasto parque do observatório de Juvissy. Sua
esposa, Mme. Gabrielle Camille Flammarion, passou a dirigir o observatório até, quando igualmente desencarnou. Ignora-se em que mãos se encontra Juvissy atualmente.
Há em
torno da desencarnação de Camille Flammarion um curioso incidente ocorrido na
residência de Léon Denis, em Tours. Quem faz a narrativa é Mlle. Claire
Beaumard, que, durante o período que
antecedeu à desencarnação do notável
escritor espírita, foi sua secretária. Em seu livro de reminiscências
Mlle. Beaumard narra que começou a trabalhar com Denis na manhã mesma em que os
sinos de Tours badalavam o fim da guerra de 1914. De 1918 – término da guerra,
à 1925, medeiam sete anos durante os quais participara como uma pessoa familiar
em todos os incidentes havidos na casa de Denis. É assim que narra as sessões
mediúnicas e nas quais através de uma dama dotada de uma mediunidade invulgar,
o espírito de Allan Kardec se manifestava estimulando e fazendo preciosas
sugestões a Léon Denis.
Abrimos
aqui um parêntese para lembrar que em 1925 Allan Kardec ainda não se encontrava
encarnado, pois que era o guia espiritual do grupo de Léon Denis, em Tours,
França. As pessoas que se qualificam como reencarnação de Allan Kardec, devem
ter nascido depois de 1925.
Léon Denis
foi convidado para ser o Presidente de Honra do Congresso Espírita
Internacional de Paris, a realizar-se entre 6 e 13 de setembro de 1925 e que
pode ser considerado o mais relevante dos Congressos espíritas jamais
realizados. Denis, entretanto, ao receber o ofício se mostrou aborrecido:
estava velho, cansado e quase cego. No
decorrer da sessão, composta de um grupo muito reduzido e do qual Mlle.
Beaumard fazia parte, ao se manifestar o espírito de Allan Kardec, Denis lhe
disse tudo quando o preocupava, alegando que Camille Flammarion poderia
perfeitamente substituí-lo.
Kardec,
que enaltecera o acontecimento, julgava que Denis deveria aceitar o convite.
Mas o escritor mostrou-se hesitante.
Estou
muito velho e as forças me faltam para
chegar até Paris, bastante distante de Tours. E falta-me vista. Além disso
sinto-me cansado e sem forças para arcar com tal empreendimento. Vou sugerir
que convidem Camille Flammarion.
Camille
Flammarion não estará lá! – Redargüiu o Espírito comunicante.
Mas como?
Flammarion não estará lá? Será possível que deixe de comparecer?
Camille
Flammarion não estará lá!
E não deu
outras explicações.
Denis se
conformou e escreveu ao secretário do
Congresso agradecendo e aceitando a atribuição.
Como se
sabe Léon Denis é considerado o grande propagandista do Espiritismo, aquele que
levava ao povo a consoladora doutrina.
Seus livros eram muito procurados pelo povo sofredor que suportara a luta e as
atribulações de uma guerra feroz e terrível.
Meses se
passaram e, sempre nas sessões de Tours, Allan Kardec incentivava o amigo para
a reunião magna em Paris, ao mesmo tempo que fazia sugestões para o derradeiro
livro de Denis, “O Gênio Celta e o Mundo Invisível” no qual o escritor
encarnado faz uma apologia do celtismo, conferindo-lhe especial atenção e
estabelecendo curiosos paralelos entre as doutrinas célticas e o próprio
Cristianismo.
O trabalho
corria a meio quando uma triste notícia abalou o meio espírita: Camille
Flammarion desencarnara no dia 3 de junho de 1925.
Então Léon
Denis compreendeu o motivo pelo qual Allan Kardec, naquela especial sessão em
Tours, insistira duas vezes em que Camille Flammarion não estaria presente ao
Congresso. E foi assim que, em um domingo, 6 de setembro de 1925 Léon Denis
discursava dando as boas-vindas aos congressistas.
Falando-se
a rigor, Camille Flammarion nunca foi espírita. Há dois anos ao ser
entrevistada em Juvissy, Mme. Flammarion insistia em dizer que o esposo fora
apenas um metapsiquista.
Flammarion
se tornou conhecido mercê de suas obras versando sobre a astronomia ciência
que, com rara felicidade, deixava ao alcance de todos, o que lhe valeu o
cognome de “Poeta das estrelas”. Suas primeiras experiências no terreno do
Espiritismo ocorreram em novembro de 1861. Harmonizou-se a tal ponto com Kardec
e sua esposa que, na cerimônia fúnebre que se seguiu à desencarnação do
Codificador do Espiritismo, foi ele o encarregado da despedida fúnebre no
Cemitério de Pére-Lachaise. O seu discurso decorre em clima de respeito e
louvor e se tornou uma peça de oratória procurada até nos dias de hoje.
Seu
primeiro livro, “A Pluralidade dos mundos habitados” veio à luz ao mesmo
tempo que “O livro dos Espíritos”, de
Allan Kardec. Dai para a frente os dois sábios passaram a se visitar e
Flammarion se tornou membro da Sociedade
de Estudos Psicológicos, da qual
Kardec era o Presidente.
As sessões
semanais da sociedade consistiam principalmente de escritos inspirados.
Flammarion tentou a experiência e depois de várias tentativas foi bem sucedido.
Os assuntos das mensagens por ele recebidas versavam quase sempre sobre
astronomia e traziam a assinatura de Galileu.
Aqui
fazemos um parêntese para reproduzir o parecer de alguns investigadores
espíritas os quais sugerem que Flammarion era médium de si mesmo; sendo uma
reencarnação de Galileu, através de um mecanismo psicológico desconhecido,
psicografava o que o seu subconsciente, como Galileu, redigia.
O próprio
Flammarion acreditava que os resultados por ele obtidos eram o produto de seu
intelecto, duvidando que o ilustre florentino tivesse algo a ver com as
mensagens por ele grafada. Essas mensagens ficaram em poder da Sociedade e
foram publicadas em 1867 na obra de Allan Kardec, “A Gênese”, no capitulo
denominado “Uranografia Geral”.
Flammarion
tinha entrada livre nos principais círculos espíritas parisienses e, por vezes
era feito Secretário Honorário dos mesmos.
Não obstante
não se tornou espírita. Em uma entrevista fornecida à Revue Spirite, pouco
tempo antes de desencarnar, sua esposa declarou: Entre Kardec e Flammarion
houve um conflito de opiniões. Homem de ciências Flammarion julgava que a
Sociedade deveria ser transformada em um núcleo de pesquisas; Kardec
entretanto, já convicto da realidade da sobrevivência espiritual, procurava
ordenar o trabalho de modo a que atendesse às necessidades do homem,
construindo todo um arcabouço ético e moral. Ele não pretendia que a Sociedade
se dedicasse longamente às pesquisas, provando o que já havia sido provado
enquanto a multidão, lá fora, gemesse e chorasse procurando um caminho seguro
para o seu enriquecimento moral.
Não
obstante, Flammarion dedicou-se durante dois anos de pesquisas no campo da
psicografia, da prancheta e da tiptologia, tornado pública a sua conclusão de
que o método empregado por Kardec na Sociedade permitia uma margem de dúvidas e
que a escrita automática não provava a intervenção de uma outra mente vinda do
Mundo Espiritual.
Em 1865,
sob o título de Forças Naturais Desconhecidas, publicou o seu primeiro livro
dedicado à pesquisa psíquica, uma monografia de 150 páginas na qual lê-se um
estudo dos fenômenos obtidos pelos irmãos Davenport e outros médiuns. Nessa
primeira obra ele cria um neologismo, “psiquismo”, que foi logo em seguida
adotado pelos pesquisadores do paranormal. Flammarion, sem admitir a
sobrevivência e manifestações dos desencarnados, admite o que ele denomina
“forças”, e escreve: “Essas forças são tão reais quanto a atração e a
gravitação e são tão invisíveis quanto ela”. Seu livro “Misteriosas Forças
Psíquicas”, publicado em 1906 é uma espécie de aproveitamento acrescido de sua
obra inicial.
No
discurso fúnebre proferido junto ao túmulo de Allan Kardec, a 30 de março de
1869, afirmava: “O Espiritismo não é uma religião. É uma ciência a respeito da
qual mal conhecemos o “a-b-c”.
Foi um dos
assistentes dos fenômenos nas sessões de Mme. Girardin, realizadas na
residência de Victor Hugo, durante o exílio deste último na ilha de Jersey.
Investigou a tiptologia no decorrer de um longo período, atuando a famosa
médium, Mlle. Huete, na Rua Mont Thabor. Embora afirmassem que a médium várias
vezes fora apanhada fraudando, Flammarion escreve: “Freqüentes vezes nós
obtivemos batidas de várias espécies, como ruídos de tambores ou torrentes de
chuvas, efeitos esses que seriam impossível à médium imitar. Vários fenômenos
incluindo a levitação da mesa foram observados em plena luz do dia. As comunicações
eram assinadas por nomes ilustres e, por vezes, escritas de trás para a
frente”.
Em 1899,
através dos “Annales politiques et Litteraises, do Petit Marseilles”, e da
“Revue des Revues”, propôs que os
leitores colaborassem com ele para uma pesquisa que tinha em mente. Obteve o
seguinte resultado: de 4280 pessoas que atenderam ao seu apelo, 1824
responderam que já tinham vistos fantasmas. Dessem total Flammarion estudou 786
casos que apresentavam valor incontestável.
SER
OU NÃO SER
Há uma discussão
sobre a questão: era Camille Flammarion espírita ou era, conforme sua esposa,
Mme. Flammarion, declarou a imprensa, tão somente um metapsiquista? A resposta
parece ser respondida em oposição à de sua mulher, por J. Malgras. Ao organizar
sua obra, Les Pionniers du Spiritisme em France. J. Malgras escreveu, em 1905,
a Flammarion solicitando o seu depoimento.
A resposta
Flammarion foi a seguinte:
26 de janeiro de 1905
Parece-me que
eu não poderia fazer nada melhor, para responder à vossa solicitação do que vos
enviar às conclusões de minha obra L’Inconnu. Elas resumem o conjunto de minhas
observações conforme vós as encontrareis abaixo:
A
observação positiva prova a existência de um mundo psíquico tão real quanto o
mundo conhecido por nossos sentidos físicos.
1º) A alma
existe como um ser real, independente do corpo.
2º) Ela é
dotada de faculdade ainda desconhecidas pela ciência.
3ª) Ela pode
agir e perceber à distância sem o intermédio dos sentidos.
4ª) O
futuro è preparado, antecipadamente, determinado por causas que o constituirão.
A alma, por vezes, o percebe.
Outras
observações já foram apresentadas, notadamente no que concerne aos duplos dos
vivos, o corpo etéreo ou astral e as manifestações dos mortos; mas as quatro
questões que precedem, me parecem afirmadas e demonstradas.
Quanto às
explicações, a sabedoria diz não serem exigidas; elas não são necessárias para
se admitirem os fatos; é-se crédulo, em geral, sobre este ponto de ilusão tão
singulares. Por exemplo, no tempo dos possessos de Loudun ou dos
convulsionários de Saint-Médard, os efeitos da sugestão e do hipnotismo eram
desconhecidos e se declarava que os fenômenos eram ou fraudulentos ou
diabólicos. Ora, não são nem uma nem outra coisa. Hoje, vários se explicam e
ouve-se dizer a respeito de ambos os casos: ”foi hipnotismo, foi a sugestão, foi o
subconsciente”. Outro erro: pode-se tratar nem de um nem dos outros. Não fechemos
o circulo de nossas concepções, nem estabeleçamos escolas nem sistemas e não
pretendamos que tudo deva ser explicado para ser admitido. A ciência esta longe
de ter dito sua ultima palavra em qualquer campo que seja.
O que
podemos pensar, hoje em dia, é que de tudo que fazia parte das superstições,
dos erros, das ilusões, das farsas, das malícias, das mentiras, das
mistificações, resta um saldo de fatos psíquicos verdadeiros, dignos da atenção
dos pesquisadores; isto quer dizer que entramos na investigação de todo um
mundo, tão antigo quanto a humanidade , mas ainda novo para o método cientifico
experimental que começa, só agora, a se fazer sentir e, simultaneamente, em
todos os países.
Lembremos,
também, que esses fatos são excepcionais. Os fenômenos psíquicos de toda a
ordem, aliás deixando de pertencer ao domínio mórbido das superstições e das
fantasmagorias ocultas e sendo estudado à luz dos métodos experimentais, não
deixaram por isso de permanecer anormais e excepcionais. É preciso não se esquecer
disso, negligenciando o espírito crítico, sem o qual a razão humana seria
apenas um erro e não se deve, outrossim, considerá-los apenas como motivos de
estudos interessantes para o conhecimento de nós mesmos. Com efeito, é preciso
reconhecer que o que conhecemos de menos é a nossa própria natureza. A máxima
de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”,
pode sempre inspirar mais nobres sentimentos.
Todo o
autor tem almas a seu encargo. Não se deve dizer tudo quanto se sabe. Talvez
não se deva nunca dizer tudo quanto se sabe, porém, mesmo na vida normal de
cada dia não se deveria dizer tudo quanto se sabe.
Estudemos,
pois, trabalhemos e esperemos. O conjunto dos fatos psíquicos mostra que
vivemos no centro de um mundo invisível no seio da qual se exercem forças
desconhecidas, o que está de acordo com
o que sabemos sobre o limite de nossos sentidos terrestres e sobre os fenômenos
da natureza.
Camille
Flammarion
Extraído https://www.camilleflammarion.org.br/desencarne_de_camille_flammarion.htm
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