quinta-feira, 23 de maio de 2019

MARIA DE MAGDALA - Edgard Armond


Nessa altura do ágape, verificou-se um tumulto à porta da casa onde se aglomerava o povo e onde também estavam, juntos, os discípulos, que não tiveram autorização para entrar na saldo do banquete; e, logo em seguida, afastando os criados que tentavam detê-la, penetrou no recinto uma mulher jovem e bela, vestida de panos de cores diferentes e olhando em torno, com evidente desprezo para os demais convidados, localizou Jesus, que se achava um tanto afastado dos outros e, reconhecendo-o, atirou-se a seus pés, chorando.

Foi logo por todos identificada como sendo Maria natural de Magdala, cidade situada ao sul de Cafarnaum, à beira do Lago, onde possuía uma casa grande e rica. Era naquela ocasião a hetaira mais famosa e influente de toda a Palestina e contavam-se às centenas seus admiradores de classe alta, inclusiva filhos dos príncipes dos sacerdotes em Jerusalém.

Vendo ele que os pés de Jesus estavam sujos de pó e detritos dos caminhos, sem terem sido lavados, compreendeu logo o que se passava e, abrindo um frasco de óleo perfumado, que trazia pendurado ao pescoço por fina corrente de ouro (o que era hábito entre as mulheres ricas) derramou o perfume nos pés do rabi e, em seguida, limpou-os com seus bastos e perfumados cabelos arruivados.

Enquanto isso, os convivas, irônicos, sussurravam entre si, dizendo:

- Ele se diz profeta e, no entanto não sabe que está sendo homenageado por uma prostituta...

- Além disso, acrescentava outro, sendo rabi, porventura ignora que tal aproximação profana é vedada pela Lei?

Mas Jesus, virando-se para Simão, que observava a cena em silencia, propôs-lhe o seguinte caso:

- Um homem tinha dois devedores de quantias diferentes e a ambos perdoou. Qual dos dois lhe deveria ser mais grato?

- Naturalmente o que devia maior quantia, respondeu Simão.

- Certamente, conveio Jesus. Agora, então, pondera comigo:

Tu me convidaste e esta ceia, com o propósito oculto de verificar a minha conduta e as minhas palavras, e convidaste amigos teus para testemunhos do que fosse dito ou feito, comprometendo-me. Mesmo assim aceitei teu convite; vim à tua casa e tu não me mandaste dar água para lavar as mãos e os pés, como é costume e como fizeste com os demais convidados. Com isto, obrigaste-me a partir o pão sem lavar as mãos, como também é de praxe, e nada reclamei. E vem agora esta mulher e me lava os pés com suas lágrimas, unge-os com perfume, enxuga-os com seus cabelos. Apesar de sabê-la pecadora, aceitei também a sua homenagem. Ambos são, pois devedores e ambos, como vês perdoei. Qual dos dois, pois, demonstrou maior gratidão?

A decepção do rabi fariseu foi tamanha que ficou mudo, o mesmo sucedendo a todos os demais, enquanto Jesus, dirigindo-se à pecadora, disse-lhe: “Levanta-te, filha, teus pecados te são perdoados. Vai em paz”.

E em seguida retirou-se da casa de Simão, indo hospedar-se na casa do publicano Jochanan, amigo de Levi, onde foi acompanhado pela multidão que estava na rua e que, levantando lanternas nas mãos, manifestava sua alegria dizendo: “teu lugar, rabi, não é entre os teus inimigos, mas entre o povo que te ama e de ti espera a salvação e socorro para suas necessidades”.

Edgard Armond - Livro O Redentor - cap Maria de Magdala

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