quarta-feira, 15 de maio de 2019

A PEDAGOGIA DO “SER”




Jesus, o Mestre.
Nós, os aprendizes.
A reencarnação, sublime matrícula no aprendizado.
A Terra, incomparável escola do Espírito.
O afeto, pedagogia do “ser”.
O centro espírita, excepcional núcleo educativo da alma.

O afeto é um dos pilares do desenvolvimento humano saudável. Uma habilidade que abre largas portas para entrada do Amor, porque ser afetivo é laborar com o sentir. Diríamos assim que a afetividade é um degrau para o Amor. E amar é desenvolver-se para "ser", verbo que traduz o existir Divino ou existir para a felicidade. "Ser"é educar-se, externar o amplo contingente de valores e potencialidades celestes que dormitam há milênios em nosso eu Divino, que nos conduzem ao destino glorioso de Filhos de Deus, à plenitude. Portanto, a pedagogia do "ser" tem no afeto um de seus principais potenciais didáticos.

Ninguém pode "ser" permanecendo agrilhoado aos trâmites expiatórios do "sentir mórbido", ou seja, essa forma inferior de viver a vida do "homem fisiológico", voltado somente para as sensações, o prazer, a competitividade selvagem.

Afeto é uma força da alma de incalculável poder. Sua boa utilização demanda sólida formação moral para que o vigor dos sentimentos seja abençoada estrada de libertação nos passos das atitudes.

Esse "existir humano"apela para valores nobres a fim de consagrar uma ética de "ser" em identidade com aquilo que de fato é "ser". Verificamos assim o quanto é relevante o papel do centro espírita, associação que busca, essencialmente, burilar o caráter, a virtude, desenvolver o moral da criatura.

Sob os auspícios de uma casa doutrinária bem conduzida, o desafio do "existir humano" torna-se uma proposta atraente, motivadora, clara e simples.

Nesse tempo de materialismo e do império da razão nossas casas de Amor devem fixar-se na função social reeducativa do sentimento, aprimorando-se cada vez mais para honrar o título de escola da alma, desenvolvendo pessoas felizes, realizadas, dignas e solidárias.

Aprender a amar é pois a competência essencial que deveria fundamentar quaisquer contéudos de nossas escolas espirituais. Aprender a amar o próximo, aprender a amar a si, aprender a amar a Deus.

E como ensinar o Amor no centro espírita?

Fala-se muito no que devemos fazer, mas pouquíssimas vezes em como fazer. Como amar o outro, a si e a Deus contextualizando?

Contextualizar o conteúdo espírita abstraíndo o excesso de informações e trazê-lo para a realidade de seu grupo, priorizar respostas, soluções, discutir vivências, refletir sobre horizontes novos de velhos temas do viver, reinventar a vivência em direção aos apelos da consciência, propiciar à criatura externar sonhos, limitações e valores já conquistados, fazendo da sala de estudos espíritas u laboratório de ideias na ampliação da capacidade de pensar com acerto, lógica e bom senso. Isso se chama educar.

A esse mister somos convocados para uma mudança de paradigmas urgente nas metodologias pedagógicas da casa espíritas. Somos convocados a reestruturar essa visão "sacra", que faz de muitas de nossas células templos de religiosismo, conduzindo seus profitentes a fórmulas de imediatismo e acomodação, ou à absorção do conhecimento espírita em lamentável dogmatismo, recheado de presunção com a verdade.

A pedagogia do "ser" inclui os valores da participação, da interatividade, da cooperação. Não temos outro caminho para arregimentar essas opções didáticas que não seja a formação de equipes, pequenos grupos de amigos voltados para o estudo e o trabalho, congregados em torno de ideias incentivadores da evolução de nossas potencialidades. Grupos que absorvem para a rotina das sociedades doutrinárias projetos de trabalho, ousando o inusitado, o incomum, implantando novas e mais ajustadas propostas de ensino e trabalho no atendimento das demandas humanas, e na consolidação de habilidades e valores que promovam o homem a uma vida mais íntegra, gratificante e libertadora, sob as luzes da imortalidade.

Grupos nos quais a imaginação, o desejo, os sonhos, os limites, as conquistas, as dores, a criatividade, as idiossincrasias, as dúvidas, as respostas, a experiência e, sobretudo, o afeto, possam fazer parte desse projeto de "ser". Permitir à criatura apresentar-se como está e ensejá-la serviço e conhecimento - o antigo lápis e papel da educação - é redentores do Evangelho e do Espiritismo, a fim de que ela, por si mesma, aprenda o caminho do Amor na transformação e no existir de cada instante, em busca de sua felicidade.

A pedagogia do "ser"prioriza o homem, sua experiência pessoal, o relacionamento humano, tendo como polo de atração o idealismo, que é o centro indutor dos valores morais e a defesa vigilante contra nossas intempéries, provenientes das bagagens vivenciais seculares.

Grupos que se amam e se querem bem, formando ambientes agradáveis para conviver, estabelecem as premissas agradáveis para esse "ser", e isso, inevitavelmente, além de felicitar a criatura com o que ela precisa para seu crescimento, também trará reflexos, acentuadamente benéficos, para as realizações doutrinárias graças à alegria e comprometimento com os quais o trabalhador fará sua adesão aos deveres na escola da alma, honrando os princípios espíritas-cristão com uma vida reta, plena de sobriedade e identidade com a base social da fraternidade e da transformação para o bem, onde quer que esteja participando.

Ermance duafaux - Livro Laços do Afeto - psicografia de Wanderley Oliveira

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