sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O AUTOR DA OBRA – ELUCIDAÇÕES EVANGÉLICAS – ANTÔNIO LUIZ SAYÃO



Dias depois de haver entoado, publicando-a, o seu canto de cisne, o saudoso autor da presente obra, a 31 de março de 1903, desferiu o voo para as regiões serenas da bem-aventurança, indo juntar-se à coorte dos Espíritos luminosos, em cujas fileiras já tinham ingressado Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes e outros que com ele formaram o primitivo Grupo. “Ismael”, então sob a sua direção, pujante e belo núcleo de valorosos apóstolos da Revelação Nova.

Ao fazer, agora, outra edição das “Elucidações Evangélicas”, em que a alma desse crente fervoroso, humilde e abnegado servo do Senhor, deixou traços indeléveis da superioridade que a distinguia, justo é que a Federação, num preito de reconhecimento e saudade, diga aos que a vão tomar para base de suas meditações sobre o Evangelho e que abraçaram o Espiritismo quando já aquele não mais pertencia ao rol dos “mortos” sepultados na carne, quem foi esse cultivador da Seara Divina que, legando-lhes esta obra, os brindou com uma jóa de súbito valor.

Efetivamente, é como a classificam estas palavras com que a sagrou o Espírito Frei José dos Mártires, seu Guia:
“Ela tem em si o bastante para assegurar, aos que cuidam seriamente das coisas divinas, a existência de um núcleo de corações homogêneos, que procuram sinceramente orientar seus irmãos, apontando-lhes o meio de construírem o edifício da fé, não sobre a areia movediça das paixões desencontradas, mas sobre a rocha inamovível da verdadeira crença, que dilata os seios d’alma para o bem e para a luz.

“Deixas na Terra um pouco da luz que recebeste do céu e os homens do futuro, bebendo ensinamentos nos teus esforços e produzindo também alguma cosia de útil aos seus irmãos, bendirão o teu nome.”

Pois bem: é bendizendo lhe o nome que os que, dois dele e dos seus preclaros companheiros, assumiram a tarefa de dirigir neste plano, sob a égide de seus Espíritos, caridosos os bons, a instituição que muitíssimo lhes deve do que foi, do que é e do que será se sentem na obrigação gratíssima de dar a conhecer, à atual geração de espíritas, com a obra que lhe foi por ele ofertada, a personalidade daquele que a concebeu e executou.

Não será, porem, nenhum deles quem o fará, que nenhum o conseguiria, como o fez por ocasião da sua ressurreição para a vida real, um dos seus fiéis companheiros de apostolado, membro, como ele, do Grupo “Ismael”, em cuja direção o sucedeu seu grande amigo também, alma afim com a seu coração tão grande como o seu Pedro Richard, ora a ele reunido na falange dos veros servidores de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos verdadeiros dirigentes da Federação.
Para que assim seja, reproduzimos aqui o que, sob o pseudônimo de que usava o de “Discípulo de Max”, que invocava, assim, o pseudônimo de Bezerra de Menezes, publicou Pedro Richard, no primeiro número do “Reformador”. (*)

Eis o que, numa efusão, legítima e sincera, de amor fraternal e de admiração, esse outro componente do núcleo de corações homogêneos a que se referiu Frei José dos Mártires, disse do Irmão exemplar que, sempre ardoroso na fé, fora o porta-estandarte da pequenina milícia humana do Anjo Ismael:
Mais um trabalhador da santa cultura de Nosso Senhor Jesus Cristo cai na arena.

Tomba o corpo, mas surge o Espírito em toda plenitude da vida, pujante e forte, e cheio da misericórdia que às mancheias derrama o nosso Divino Mestre sobre todos os seus discípulos, que, à custa de lutas encarniçadas contra os arrastamentos da matéria e preconceitos sociais, de sofrimentos necessários e sempre merecidos, de fracos se fizeram fortes, de pequenos fazem-se grandes.
A vida de um justo é sempre um exemplo a seguir-se.

É preciso que a família espirita conheça a vida dos seus irmãos, que nesta peregrinação souberam cumprir o seu dever de verdadeiros cristãos, a fim de que exemplos tão salutares possam ser aproveitados pelos nossos Espíritos, que, assim estimulados, hão de procurar imitá-los.

Ontem era Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes, Mais de Lacerda, etc. Lembremo-nos das palavras; hoje é Sayão que, abandonando o casulo grosseiro da matéria, surge dourada borboleta, a singrar o espaço infinito, em busca da Grande Luz.

Agora, que desapareceu o homem e que, portanto, já não pode ser atingido pelo orgulho e as vaidades podem falar abertamente dos seus feitos, para que sirvam de lições lembremo-nos das palavras à família espírita.

Antônio Luiz Sayão pediu ao nosso Criador a maior e a mais perigosa das provas que pode um Espírito pedir: a riqueza material, comprometendo-se, porém, a adquiri-la à custa de muito trabalho e a fazer-se espírita, para pregar a doutrina de Jesus, pelos exemplos lembremo-nos das palavras os de toda ordem, notadamente pelo desprendimento dos bens terrestres, que lhe fossem proporcionados pela riqueza adquirida. É, de fato, é a riqueza a prova mais perigosa e o compromisso mais sério que pode um Espírito tomar, pelos embaraços cruéis que lhe opõem os dois grandes inimigos da alma: o orgulho e a vaidade, além das exigências a que todo instante nos obriga uma sociedade, como a nossa, sem crença e sem moral!

Para se avaliar a grandeza da prova pedida por Sayão, basta que nos lembremos das palavras de Jesus aos seus apóstolos, a propósito do mancebo rico que consultou sobre o que necessitava fazer para salvar-se.

Disse o Divino Mestre aos seus discípulos, depois de aconselhar o moço.
“Mais depressa passa um camelo pelo fundo de uma agulha, do que se salva um rico.”
Bem se vê que esta luminosa sentença não pode comportar a tradução servil que as letras lhe emprestam, é um tropo empregado por Jesus para significar à Humanidade a dificuldade com que tem de lutar um Espírito, que para esta existência trouxe a prova da riqueza, para se salvar. Notemos bem: a dificuldade e nunca a impossibilidade.

Pois, meus irmãos, graças ao nosso Pai, soube Sayão desempenhar-se brilhantemente do compromisso que tomou, e salvou-se, porque perseverou até o fim, tendo em toda a sua vida uma única preocupação: servir ao nosso Bom Senhor. E não é lícito pôr em dúvida a sua salvação, porque disso Divino Pastor:
“Aquele que perseverar até ao fim, será salvo”.
Tracemos um bosquejo, se bem que imperfeito, da sua passagem pela Terra.
Antônio Luiz Sayão encarnou em um centro muito pobre e só à custa de muitos sacrifícios materiais conseguiu formar-se em Direito, na Academia de São Paulo.

Quem desconhece o que é a vida de um estudante pobre, que nem livros têm para estudar. E que é obrigado a comer e a pagar a moradia à sua custa? E o que veste o que calça? Pobrezinho! Usa a roupa e o calçado, ora um tanto apertados, ora mais largos, dos seus companheiros de república, que generosos e bons, como sabe ser a mocidade acadêmica, têm-no em geral em alta consideração. Nem uma vela para estudar à noite, em um vintém no bolso! Enquanto os colegas se divertem nos teatros, bailes e serenatas, ele estuda a luz do lampião da sala da república, ou pede ao sono reparador o descanso de que necessita o seu corpo depauperado de forças nas lutas do dia.

Vencendo todas as dificuldades, formou-se em Direito e veio para esta capital exercer a sua profissão e dela escolheu a parte mais simpática e mais sã, qual seja a defesa dos criminosos, da tribuna do Júri, que então era ilustrada pelos vultos eminentes de Busch Varela, Ferreira Viana e outros luminares da jurisprudência, que naqueles tempos souberam fazer renome.

Sayão, enfrentando com tais competidores, jamais se deixou ficar na retaguarda e fez se notável advogado.

Trabalhador incansável e extremamente econômico conseguiu fazer fortuna, poupando e guardando as parcas economias que lhe sobravam das suas restritas necessidades materiais.
Talento modesto, aliado ao desejo de bem servir ao Senhor, jamais se deixou atingir pelo orgulho e a vaidade, ou pelas sugestões do fausto e da orgia. Seu vestuário sempre foi sério. Simples e decente, sua alimentação sólida, parca e sóbria.
Em 1878, mais ou menos, se fez espírita, teve então de travar luta titânica contra as suas tendências católico-romanas, não compatíveis como os Evangelhos de Jesus, que acabava de abraçar e, sobre tudo, contra os preconceitos sociais-religiosos, que naqueles tempos pareciam insuperáveis.

Tomou para seu companheiro e mestre o seu colega Bittencourt Sampaio, que aqui na Terra tão bem souber orienta-lo e, no espaço, depois que para lá foi, melhor soube encaminha-lo com seus conselhos diários e ampará-lo com a sua ascendência moral.

Feita a aliança espiritual entre os dois servos do Senhor, tiveram que lutar heroicamente contra as traiçoeiras ciladas que lhes armavam a todo o instante os Espíritos das trevas, com o intuito perverso de separa-los.

A luta foi encarniçada e tantos foram os estratagemas de que usaram os inimigos do espaço para romper o laço que ligava esses dois Espíritos aqui na Terra, que narrá-los é impossível. Mas de uma vez teve Sayão de pôr em prova a sua humildade, para evitar que se quebrasse um só dos elos da cadeia que o prendia ao seu mestre e amigo.

Seu lar, nos tempos ignominiosos da escravidão, era o céu dos desgraçados que tinham pedido a prova de ser escravos.

Nele se acolhiam, para de escravizados ficarem livres, pois eram tratados pelo “Senhor” como irmãos e amigos e se constituíram membros da sua família. Que o digam o Moisés, os Celestinos e as Joanas, cujos filhos eram por ele acalentados e muitas vezes nos seus próprios braços entregavam o Espírito ao Criador.

Pela modéstia do seu viver e porque não se imiscuía nas lutas egoísticas dos homens, a sociedade, que não o compreendia, o tratava de usuário. Ele usuário! Ele que repartia prodigamente com os necessitados os seus haveres!

Mas, porque seguia o preceito evangélico: “a mão direita não deve ver o que dá a esquerda”, Sayão era um usuário.

Bem fizeste, amigo! Bem soubeste fazer!

A sua  bolsa sempre esteve aberta à verdadeira necessidade. Jamais irmão algum que lhe pediu pão, ou lhe solicitou abrigo, passou fome ou se viu privado de teto. Bastava saber onde estava a miséria, para que Sayão corresse pressuroso a ampará-la.

Os seus atos de caridade são inúmeros. Citá-los é impossível; descrevê-los, ócios. Apenas me limitei a contar um; ei-lo:

Uma vez em que o médium Guimarães foi a um miserável quarto de certa casa, numa das ruas desta Capital, levar a uma pobre enferma os recursos mediúnicos que reclamava o seu estado de saúde, viu, ao entrar, que alguém se ocultara atrás da porta; intrigado pela curiosidade, procurou ver quem era e pode então lobrigar a cabeça do velho Sayão, que ali fora repartir com a desgraçada a moeda material e levar-lhe ao mesmo tempo o confortp espiritual que com tanta dedicação soube haurir nos Evangelhos.

A sua vida espírita foi cheia de episódios e lutas impossíveis de se descreverem num modestíssimo escrito de jornal. Contudo, esforçar-me-ei por contar alguns.

Sayão e Bittencourt Sampaio pertenceram à Sociedade “Deus, Cristo e Caridade”até o dia em que uma divergência determinou a saída dos mesmos que não se deixaram arrastar pelo orgulho da ciência. Foi então quando resolveram fazer, no dia 6 de junho de 1880, uma reunião em sua casa, a fim de concertarem a respeito do destino que deveriam tomar, e o resultado foi a fundação do “Grupo dos Humildes”, regularmente conhecido por “Grupo Sayão” dirigido espiritualmente pelo anjo Ismael e materialmente por ele Sayão.

O que se passou na primeira  fase desse Grupo está minunciosamente descrito no seu livro inicial, intitulado “Trabalhos Espíritas”. Foi tempestuosa e por isso, muitas lágrimas custou ao pobre do Sayão.

A segunda fase foi mais calma e deu-lhe ensejo a que publicasse o seu segundo livro, que denominou “Estudos Evangélicos”, livro que tantos e tão relevantes serviços tem prestado aos que entregam aos estudos da Doutrina Espírita. Foi quando desencarnou o bom Bittencourt Samapio.

Desde essa data entrou o Grupo na sua terceira fase, que não foi para Sayão tão tempestuosa quanto a primeira, mas que se caracterizou pela luta que ele teve de sustentar com os Espíritos das trevas, quando o Grupo sucessivas ente recebeu os livros “Jesus Perante a Cristandade” e “De Jesus para as Crianças”, ditado pelo Espírito Bitterncourt e publicados por Sayão, e iniciou  o Calvário ao Apocalipse”.

Ele pressentiu o termo da sua jornada sobre a Terra poucos dias antes da sua partida para as regiões espirituais.

Isto vos posso afirmar, leitor, pela sua seguinte previsão:

Tendo-se esgotado a edição dos “Estudos Evangélicos”, ele os reeditou com o título “Elucidações Evangélicas”, e enriqueceu-o com muitas e belíssima comunicações recebidas no Grupo, que vieram trazer aos diversos pontos evangélicos, por ele estudados, muita luz e intenso clarão.

Esse livro saiu do prelo o mês passado, e, apresentando um exemplar a um confrade, disse-lhe ele:
“Este é o último canto do cisne”.

E o foi, de fato. Dias depois, deixava o fardo pesado da matéria e voava para verdadeira pátria, onde foi receber do nosso Divino Mestre o prêmio de tanta luta e tantos sacrifícios sofridos sem revolta nem queixume.

Se a sua vida foi um exemplo perene, digno de ser por nós outros imitado, a sua desencarnação não o é menos.

Durante a enfermidade que o acometeu, se acusava grandes sofrimentos,. Não se queixava jamais; ao contrário, dizia sempre que se fizesse a vontade de Deus! O seu desprendimento foi calmo e mesmo sem contrações. Desencarnou como um justo, balbuciando uma Ave Maria.

Assim vivem e assim desencarnam os verdadeiros discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

DISCÍPULOS DE MAX
(*) ver, também, “Reformador” de 1953, pag. 53


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por sua mensagem. Será publicada após aprovação.