. Segundo a ciência dos irmãos encarnados, entende-se a simbiose como uma associação biológica
duradoura entre seres vivos, considerada harmônica e às vezes necessária, com
benefícios recíprocos. Ou seja, é uma
espécie de parceria, na qual ambos os lados são beneficiados. A simbiose
espiritual obedece ao mesmo princípio.
“Nas pesquisas de biologia, observou-se que esse caráter
harmônico deriva de necessidades complementares que unem certas espécies. Pelo
que se sabe primordialmente tal consórcio era um tipo de comensalismo que, mais
tarde, evoluiu para a simbiose. No comensalismo,
apenas um dos seres se beneficia, sem prejuízo
da outra parte, contudo. Como o tempo, a relação se modificou e se
disciplinou biologicamente: o hospedeiro também passou a tirar proveito da
relação.”
Depois de uma breve pausa, dando- nos tempo para assimilar
os conceitos que transmitia, continuou:
- Do mesmo modo que na natureza física existe a simbiose,
também a verificamos entre espíritos do astral e entre encarnados e
desencarnados. São associações energéticas regidas por leis análogas àquelas
enunciadas pelos estudiosos da biologia. É comum ver espíritos ligados de
maneira especial a certas pessoas, as quais têm atendidos com prontidão seus
menores caprichos ou as evocações mentais e emocionais mais triviais.
“No entanto”, esses seres que assim procedem, acatando
pedidos e servindo aos desejos de outros, recebem em troca as energias vitais
de seu hospedeiro, pois que carecem de vitalidade para alimentar as sensações e
impressões sobreviventes da última experiência física. A grande maioria dos
indivíduos encarnados que vivem tais alianças nem suspeitam, mas seus ‘sócios’ espirituais
são almas inferiores, que se juntam aos homens para roubar o tônus vital em
proveito próprio ou visando potencializar a ação nefasta e os propósitos
mesquinhos a que servem. Persistindo a simbiose, meus filhos, o processo pode
converter-se em parasitismo, ligação
que prejudica uma das partes envolvidas. Como na biologia, raramente é do
interesse do parasita a morte do hospedeiro, de quem retira o sustente, o que
faz perdurar o consórcio doentio.
“Dependendo da gravidade e da crueldade com que atua o
obsessor, a patologia é caracterizada com vampirismo,
caso em que o espírito se torna legítimo vampiro das energias alheias.”
Desta vez fui eu que perguntei curioso:
- Esses vampiros
desencarnados guarda alguma relação com as lendas de vampiros, Conde Drácula e
outros mais, de quem falam certos autores terrenos? Sempre me vi fascinado por
essas histórias...
- Certamente que tais narrativas são de inspiração
espiritual, assim com diversas outras da literatura terrena. Escritores,
desdobrados no plano astral, encontram esses seres em desequilíbrios e, ao
voltar para o corpo físico, relatam em sua produção literária algo semelhante
ao que presenciaram do lado de cá. De acordo com a definição corrente na
literatura terrestre, os vampiros são seres que se nutrem de energias roubadas
de suas vítimas. No ambiente lendário, o vampiro rouba o sangue, simbolizando
vitalidade da qual falamos. Há outros elementos da ficção que também exprimem a
realidade: as vampiras disfarçadas de belas mulheres, que estimulam o apetite e
as fantasias sexuais para, seduzida a vítima, dar então o bote. A imortalidade
e a faculdade de tais seres se tornarem invisíveis, relatadas por alguns
autores; todos sugerem claramente a questão espiritual. E poderia citar vários
exemplos. Entretanto, ao abordar o fato segundo a ótica da pesquisa astral,
vemos espíritos profundamente ligados aos sentidos físicos, que sentem
necessidade de vitalidade orgânica para perpetuar sensações de prazer e, por isso,
apegam-se aos encarnados. Nesse processo, talvez incompreensível para muitos,
os vampiros absorvem do duplo etérico dos homens as energias vitais e
ecotplásmicas, que são essenciais para a manutenção da saúde e do vigor dos
corpos matérias.
- Nesse caso, os vampiros de energias agem com um objetivo
bem definido, inteirados daquilo que fazem? – perguntei.
- Nem sempre, Ângelo, nem sempre. Em sua grande maioria,
esses espíritos apenas se aproximam dos encarnados e sugam de modo quase
inconsciente as reservas vitais do duplo etérico de meus filhos. Mas é preciso
lembrar que não somente no plano astral, como também no físico, existem ladrões
de energia. Aliás, na sociedade atual, mais do que nunca, os homens estão
cercados deles. E hoje não se vestem de preto, conforme os contos fantásticos
dos livros de terror, nem saem mais na calada da noite em busca do pescoço de
vítimas inocentes. Tanto no corpo físico quanto fora dele, os vampiros modernos
são seres que, para se manter vivos, sentem a necessidade de buscar outras
fontes de alimento, passando a sugar a vitalidade e absorver as emoções de outras
pessoas. Portanto, é natural concluir que, quando desencarnam, os vampiros
apenas transferem domicílio, encontrando um campo de atuação mais vasto,
ligeiramente invisível e imperceptível aos sentidos humanos comuns.
-Pelo que entendi de sua fala – principiou Raul – tais seres
não roubam apenas vitalidade. Eles sobrevivem também das emoções (11) de suas
vítimas...
- Isso é certo, meu filho. Você não ignora que as emoções
dão vida e colorido a toda a criação mental. Não podemos esquecer Raul, que
toda troca ou intercâmbio energético tem sua base na mente, acima de tudo.
Tanto nos homens como nos espíritos, a mente é que promove a renovação, o
progresso ou a decadência dos seres. Sob esse prisma, você poderá concluir que,
antes de usurpar energias vitais ou haver a troca de emoções, o agente do
processo deverá ter obrigatoriedade acreditado em suas próprias necessidades,
formando uma imagem mental delas e forjado, assim um clichê nas telas do
pensamento. Mas somente isso não basta. Associadas a essa ação puramente
mental, as emoções agem dando cor, vida e textura às criações do indivíduo. A
partir daí é que a ação mental ganha corpo e consistência, concretizando o ato
que se consuma.
- Isso quer dizer que qualquer ação para evitar o roubo das
energias vitais primeiramente deve se concentrar na educação do pensamento e
das emoções não é?
- Sem dúvida, meu filho – Pai João respondia aos questionamentos
com carinho especial, o que nos cativava sobremaneira. – Nós diríamos que
educação do pensamento é a fonte de todo o equilíbrio interior.
Depois de uma pequena pausa que nos favoreceu as reflexões,
o preto-velho retomou:
- Vamos voltar às nossas observações. Esses seres que
sobrevivem das emoções alheias são encontrados de um e outro lado da vida.
Talvez o parente, o amigo, o irmão ou qualquer outro familiar possa ser um
sugador de emoções; alguém que, mesmo sem plena consciência, venha drenando as
energias de meus filhos. Usualmente, que se encontre dentro ou fora do corpo,
tal criatura gosta muito de atacar pelo lado emocional e afetivo, ruindo aos
poucos as defesas, imunológicas do corpo espiritual daqueles a quem dedica sua
atenção. Faz de tudo para despertar comiseração e aproveita a bondade e a boa
vontade dos outros para se mostrar infeliz, de modo que, de passo em passo, vai
dominando emocionalmente seus alvos. Quando encarnado, lança mão de qualquer
recurso, especialmente a chantagem emocional, para realçar sua aparente
infelicidade.
Lágrimas provocadas e está pronto para drenar as emoções das
vítimas que encontra em seu caminho e que lhe dão atenção. Ao desencarnar,
integra-se à imensa legião de seres desequilibrados, muitas vezes já
especializados durante a vida física na drenagem energética e no roubo de
vitalidade, e são facilmente manipulados por outros espíritos mais experientes
na execução de suas ideias e projetos.
- Não deixa de ser um processo obsessivo, em ambos os casos –
comentei.
Como se medisse minhas palavras por um instante, Pai João
acrescentou:
- Nos cultos de origem africana e nos terreiros de umbanda,
nossos irmãos classificam esse tipo de ação energética e espiritual com encosto. É na verdade um processo de obsessão
simples, ainda que, diversas maneiras, prejudique os filhos encarnados.
“Muitos casos de enfermidade enfrentados pelos meus filhos
na Terra guardam sua origem nesses processos de drenagem vital realizados por
espíritos desprevenidos e ainda apegados aos instintos materiais. Em virtude de
a maioria das doenças se iniciar nos corpos astral e etérico, pode-se deduzir
que, no futuro, a humanidade dependerá de uma medicina integral, que perceberá
o roubo energético, os desgastes, emocionais e a ação dessas almas desajustadas
sobre os encarnados como sendo propulsores da maioria das mazelas físicas.
Assim sendo, os profissionais da área da saúde poderão trabalhar ao lado de
outra equipe experiente, extracorpórea, que se encarregará de orientá-los na
abordagem desses processos intricados da energia e da emoção. Mas passemos a
exames mais detalhados, meus filhos, que poderão exemplificar o que vimos até
aqui.”
Falando assim, Pai João nos conduziu a um local na esfera
física onde se reunia um grupo de pessoas, na maior parte, jovens. Era uma
espécie de festa particular, na qual os presentes estavam tão envolvidos com
bebidas alcoólicas e conversas sem conteúdo apreciável que o ambiente se
tornara quase agressivo para nós. Embora na dimensão material houvesse certa
limpeza e harmonia na decoração do lugar, além de esmero no trato com os
convidados, a atmosfera exalada pelas palavras, emoções e pensamentos, externados
após a ingestão das bebidas, fazia com que o aspecto astral fosse desolador. De
nossa posição pudemos divisar duas populações distintas: seres encarnados – que
se divertiam normalmente, como é provável diriam – ao lado de numerosos
desencarnados, que iam e vinha entre as pessoas. Parecia um bando de fantasmas,
que perpassava o grupo de indivíduos ou com eles se mancomunava, João Cobú meneou
a cabeça, indicando um dos presentes.
- Este é Caio - falou o preto velho. – E ele está aqui com a
melhor das intenções; pretende se divertir com os amigos que não vê há alguns
anos e os reencontra agora para tomar cerveja e trocar experiências. No
entanto, a bebida ingerida pelo nosso amigo produziu um relaxamento intenso,
que fez com que seu psiquismo liberasse algumas emoções reprimidas durante
muito tempo. Da perspectiva puramente humana, Caio está apenas mais leve mais
solto e alegre. Vejamos o que ocorre.
Quando passamos a uma averiguação mais lenta, vimos como
dois espíritos se aliavam a Caio, respirando a mesma atmosfera que ele. Era
como se ambos estivessem embriagados com o hálito do rapaz, e em conluio, suas
mentes se ligavam intimamente uma a outra, num claro processo de natureza
mediúnica. Pai João adiantou-se nas explicações:
- Presenciamos um caso clássico de indução espiritual. Esse tipo de consórcio entre desencarnados e
encarnados se faz espontaneamente, na maioria das vezes de modo casual, sem
qualquer premeditação ou maldade. O espírito vê o indivíduo, isente-lhe a
benéfica aura vital, que o atrai, pois lhe dá sensação de bem-estar. Por ressonância vibratória, recebe ligeiro
alívio, tanto de suas emoções descontroladas quanto de algum resquício de
conflito sobrevivente de seu passado como encarnado. Uma espécie de calor
agradável se irradia a partir do corpo vital da vítima; nesse caso, de Caio,
que automaticamente passa a sentir alguma angústia, disfarçada pela ação da
bebida. Quando saírem desse ambiente e o rapaz estiver a sós – apenas aparentemente
sozinho – aflorarão as emoções dele conjugadas às do espírito, que desde já
drena sua vitalidade.
Um dos espíritos partiu, deixando Caio na companhia d outro.
Desse instante em diante, notamos como intensificou sua ação sobre o rapaz,
absorvendo-lhe diretamente do hálito e do plexo solar energias mais
materializadas.
- Durante o estado de indução espiritual – continuou falando
Pai João - existe a transferência da energia desarmônica do espírito para o
indivíduo. Esse processo poderá agravar inúmeros fatos precedentes, fazendo,
por exemplo, com que lembranças adormecidas no psiquismo de Caio venham à tona
com maior intensidade do que se despertassem de forma espontânea. Isso poderá
provocar flashes ideoplásticos em sua mente, acendendo antigos problemas, que
ele ainda não está preparado para enfrentar.
-Essa ação aparentemente simples gera sequelas que poderão
marcar de forma acentuada a vida do rapaz – acrescentei.
Pai João deu por encerrada as observações junto àquele rupo,
mas antes de continuarmos nossa excursão, pediu a um guardião de nosso plano
que ficasse ali, a fim de interferir positivamente no caso de Caio, assim que
ele apresentasse condições. Prosseguimos a jornada, pois um dos objetivos era o
de transmitir nossas considerações aos encarnados; portanto, muito havia ainda
a fazer naqueles sítios.
Trecho extraído do Livro Legião – Robson Pinheiro – cap. 2 –
Zonas de deterioração