Cap. VI –
Item 4
O
consolador é a onipresença de Jesus na Terra.
Ao
influxo da Benemerência Celeste, ele asserena os gestos impensados das criaturas
que gemem esporeadas pelas provações; aplaca os gritos blasfemos que se elevam
de muitas bocas com requintes insaciáveis de orgulho; recompõe os rostos
incendidos pelo fogo de multifárias paixões e soergue os proscritos do remorso que
se escondem nas dores devoradoras, desmemoriados na retificação que o destino
lhes retraça.
O
Consolador
Prometido!...
Sursum corda!Res, non verba!...
Seguindo-lhe
os ditames, jamais desfeches o alvo em mira, pois os olhos voltívolos não podem
fixar os painéis vislumbrados nos cimos.
Recorda
que todas as cenas humanas têm seus bastidores espirituais.
Se vives em ânsia de paz interior, sustém o
império sobre ti mesmo.
Espaneja
em ti a carusma dos preconceitos que te dançam na mente, qual poeira de sombra,
entenebrecendo-te a razão.
Recoloque
os ideais com novas tintas de alegria, esperança e coragem, no combate aos erros
bastas vezes milenares.
Estende
um pensamento bom aos cépticos transviados no dédalo das indagações
contraditórias, ferretoados no duelo interior da
dúvida.
Foge à
voz bramidora da censura para que os teus lábios festejem os ouvidos alheios
com expressões de conselho e acentos de consolo.
Borda a
palavra com doçura e repete mansamente a própria benção quando a tua voz se
perca entre os clamores dos que passam a vociferar rebeldia e avançam
espavoridos por veredas em chamas.
Socorre a
mães desditosas, cujos filhinhos doentes vertem lágrimas a se transmutarem nos livores
macilentos da morte.
Afaga, ao
calor das frases de fraternidade revigoradora, as têmporas encanecidas e
latejantes que te suplicam algum óbolo de carinho.
Desfaze o
véu do pranto de agonia de quem chora às ocultas, no sarcófago das trevas de si
mesmo.
Derrama
preces confortativas entre os peregrinos da morte que não se resguardaram para
a Grande Viagem e carreiam o coração em atropelos, de espanto a espanto, ante a
perpetuidade da vida.
Em toda
estrada vicejam alfombras de sorrisos e chovem lágrimas de aflição, mas o amor,
com o Cristo-Jesus, recupera a poesia perdida ao longo do nosso caminho, pois
só ele transforma o miasma em perfume, o incêndio em luz, o espinho em flor, o
deserto em jardim e a queda em ascensão.
Manuel
Quintão
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