terça-feira, 1 de agosto de 2017

Àquele que tem, mais será dado: entendendo os fracassos reencarnatórios


1 - O que significa a expressão de Jesus: "Muito se pedirá àquele que muito recebeu"?

Que os talentos que recebemos de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.

A Providência Divina nos cobra na mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação de doar em favor do próximo. (CDVEE)

"Àquele que tem, mais será dado e àquele que não tem, até o que pensa ter, ser-lhe-á tirado.”  
 

Esse interessante aforismo evangélico é ainda motivo de indagações profundas em relação ao seu significado em termos de Lei de Causa e Efeito. Tal comentário de Jesus necessita ser associado a conquistas de valores espirituais e não de posses efêmeras, suscetíveis às alternâncias circunstanciais da vida material.

Quem tem grande potencial, ou seja, um elevado talento intelecto-moral terá mais condições de desenvolver obras de maior envergadura para o avanço espiritual concomitante de si mesmo e da sociedade. Realmente, a Questão 132 de “O Livro dos Espíritos” estabelece que as tarefas primordiais do esforço reencarnatório consistem na própria evolução espiritual do Espírito reencarnado e, ao mesmo tempo, na participação como colaborador da Obra da Criação. Logo, à medida que evoluímos individualmente colaboramos com a evolução de todos à nossa volta, uma vez que a nossa evolução dá-se através de contato social (Lei de Sociedade) e dos esforços inerentes a essa interação (Lei de Trabalho, Lei de Justiça, Amor e Caridade, entre outras). Esse raciocínio bem simples e acessível é respaldado, inclusive, por outras passagens evangélicas como a própria “Parábola dos Talentos”.(1)

Ocorre, porém, que vários indivíduos talentosos fracassam em suas tarefas reencarnatórias.

 André Luiz, em sua obra “Os Mensageiros”, relata em vários capítulos as experiências frustradas de companheiros que desencarnaram com realização espiritual pífia. A intensidade do fracasso está relacionada à capacidade do fracassado, ao tempo de preparo, às oportunidades disponíveis e à relevância dos objetivos previamente traçados pelos próprios protagonistas dessas vivências em colaboração com mentores espirituais extremamente preparados e experientes. Ressalta-se que as tarefas destes casos supracitados estavam centradas em trabalhos de cunho espiritual, destacando-se o papel de médiuns e doutrinadores. Além disso, o autor espiritual, que havia sido médico na última encarnação, analisa o próprio fracasso como ser humano de uma forma geral em relação a outros médicos que fracassaram especificamente no desempenho da atividade médica.

 Também é digna de registro a obra “Tormentos da Obsessão” (Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Pereira Franco) que relata grande número de casos envolvendo espíritas fracassados em suas reencarnações, os quais foram socorridos no “Hospital Esperança” pelo Mentor Espiritual Eurípedes Barsanulfo e sua equipe.

Em muitos exemplos, as falências espirituais de criaturas talentosas acontecem, pois, apesar de indiscutíveis conquistas prévias em determinada área, o Espírito reencarnante traz falhas espirituais, sobretudo morais, que acabam afetando o trabalho específico que ele deveria realizar, mesmo que esse indivíduo tenha realmente imenso cabedal em certo setor evolutivo. Assim, as diversas mazelas intelecto-morais em outras áreas do comportamento humano dificilmente permitem que o candidato à realização espiritual consiga manifestar plenamente seu talento, pois a indisciplina, a falta de força de vontade e a ausência de ideal superior, entre outras características pessoais, são tendências inferiores que limitam o desenvolvimento de maior amplitude de tarefas. Até mesmo pequenos trabalhos podem ser comprometidos, pois traços de personalidade inferior como a intolerância e a impaciência suprimem frequentemente a manutenção de esforços de longo prazo, favorecendo o desperdício de oportunidades.

É importante frisar que “Deus não dá fardos pesados a ombros frágeis”, significando dizer que, se o indivíduo fracassa, ele deve atribuir essa queda espiritual à sua própria negligência, uma vez que o livre-arbítrio é alicerce da Lei de Deus. No entanto, mesmo assim, estas experiências fracassadas, se bem estudadas e assimiladas, podem trazer aprendizados que serão as bases para realizações vitoriosas no futuro. Por isso, quando não pudermos realizar totalmente nossas tarefas, tentemos, ao menos, realizar parcialmente, pois o nosso futuro espiritual será construído a partir das nossas construções do presente.

 “Todo esforço de hoje é uma facilidade a sorrir amanhã”, nos ensina Emmanuel na obra “Palavras de Vida Eterna”, implicando que todo tempo perdido hoje será sempre oportunidade de crescimento desperdiçada a ser lembrada no dia de amanhã, quando as circunstâncias da vida podem não mais favorecer a referida realização.

Quando o indivíduo detém vários talentos, os quais são conquistas espirituais pretéritas, essas potencialidades atuam sinergicamente, fomentando o desenvolvimento de obras de maior complexidade. Em outras palavras, quanto mais pré-requisitos intelecto-morais, maior a probabilidade de sucesso espiritual na encarnação, uma vez que mais recursos o Espírito reencarnado terá para “driblar” os obstáculos e as armadilhas do caminho existencial. 

 Mesmo quando fraqueja espiritualmente, é possível que consiga realizar significativa obra, pois suas habilidades favorecem o surgimento e o aproveitamento de bom número de oportunidades. Estes casos de Espíritos com grande capacidade que realizam parcialmente as suas tarefas são muito interessantes, pois podem gerar conflitos espirituais e complexos de culpa, mesmo quando tais companheiros são altamente reconhecidos pelo que realizaram, especialmente na análise dos encarnados. Acontece que o autoexame sincero demonstra uma extensa perda de oportunidades e até mesmo aquisição de débitos, os quais passariam praticamente despercebidos se fossem associados a criaturas com menor cabedal espiritual. Todavia, como a Lei de Deus está escrita na consciência da própria criatura, os Espíritos em questão constatam que poderiam ter feito muito mais por si mesmos e pela humanidade, pois o nível de consciência dessas criaturas já é bem elevado.

Assim sendo, quando nos sentimos detentores de poucos talentos, devemos ter alta vigilância e disciplina, porque somente o foco, o esforço no trabalho e a humildade frente às nossas fragilidades farão com que não “caiamos em tentações”, não nos deixando levar por interesses tortuosos que nos desviem de nossas tarefas principais, atrapalhando a manifestação de nosso talento espiritual, que representa os dons divinos em nós.

Interessantemente, a vigilância e a disciplina também são fundamentais quando alguns irmãos se sentem detentores de grandes possibilidades, pois as responsabilidades são evidentemente maiores (“Muito será cobrado a quem muito foi dado”). Os Espíritos que já trazem um expressivo leque de habilidades podem, eventualmente, deixarem-se levar por interesses, muitas vezes dignos, mas não tão prioritários em relação aos compromissos assumidos previamente.

Neste contexto, é muito sugestiva a famosa recomendação de Emmanuel em seu primeiro contato com Chico Xavier, asseverando a relevância da disciplina nas tarefas espirituais.

Sabendo-se que “reconhece-se a árvore pelos frutos”, devemos nos autoavaliar constantemente para identificarmos as consequências concretas de nossas ações efetivas na vida física. Se os efeitos dessas atitudes não têm representado valores do bem, da utilidade e da verdade, devemos repensar os caminhos que estamos trilhando, sob pena de nos vermos pelejando por questões com pouco valor espiritual em nossos esforços diários.

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empreende para domar suas más inclinações.” Portanto, o verdadeiro Espírita busca sua melhoria pessoal de forma sistemática, o que deve repercutir diretamente nos sentimentos, pensamentos e atitudes de cada adepto do Espiritismo, e, consequentemente, no aproveitamento das oportunidades evolutivas e na construção da obra no bem. 



(1)PARÁBOLA DOS TALENTOS

“O Senhor age como um homem que, ao se ausentar para longe, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens. E deu a um cinco talentos e a outro dois e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo.
O que recebera, pois, cinco talentos, foi-se, e entrou a negociar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma sorte também o que recebera dois, ganhou outros dois.Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra um buraco e ali escondeu o dinheiro do seu senhor.E passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os às contas. E chegando-se a ele, o que havia recebido os cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos; eis aqui outros mais, que lucrei.Seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo do teu senhor.Da mesma sorte apresentou-se também o que havia recebido dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, e eis aqui outros dois que ganhei com eles.
Seu senhor lhe disse: Bem estás, servo bom e fiel; já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo do teu senhor.
E chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor, sei que és um homem de rija condição; segas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste; e temendo me fui, escondi o teu talento na terra: eis aqui tens o que é teu.
E respondendo o seu senhor, lhe disse: Servo mau e preguiçoso, sabias que sego onde não semeei e que recolho onde não tenho espalhado. Devias logo dar o meu dinheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era meu. Tirai-lhe pois, o talento e dai-o ao que tem dez talentos. Porque a todo o que tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem. E ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes. “Mateus, XXV: 14 a 30 .)

No primeiro parágrafo da parábola, vemos que o Senhor dá a cada homem, em cada existência, as experiências que lhe são necessárias, segundo a sua capacidade de vivenciá-las com proveito, desenvolvida em vidas anteriores.

O êxito ou o fracasso dependem da vontade no uso do livre-arbítrio de cada um. Deus dá sim, através das Suas leis, o frio conforme a coberta, como diz o ditado popular.

Aquele que sofre experiências mais difíceis é porque tem condições evolutivas de vencê-las, no progresso do bem próprio e dos que lhe partilham as experiências.

Na concepção espírita, todos têm os talentos necessários às suas experiências vivenciais, ninguém tem todos de uma vez.

Todos os Espíritos, tendo a mesma origem, as mesmas potencialidades espirituais, devendo realizar seu processo evolutivo através das reencarnações em mundos materiais, para tornar-se perfeito e feliz, têm também a liberdade de isso fazer segundo o seu livre-arbítrio, e no tempo que quiser.

Por isso, respondem por todos os seus atos bons e maus, durante esse desenvolvimento, tendo, a cada existência, as experiências necessárias e possíveis de serem vivenciadas com proveito.

Assim, uns têm mais talentos, outro têm menos, mas todos têm os que lhes são adequados às suas capacidades e necessidades, para as experiências atuais, atendendo à justiça que exige de cada um, apenas o que pode dar e fazer.

Todos já trazem dentro de si os talentos adequados a uma vivência de realizações e aproveitamento espiritual, conforme o seu estado evolutivo.

Esses talentos, que não são iguais para todos, porque têm por finalidade ser instrumentos de evolução para essa existência, são os bens materiais: corpo físico, dinheiro, família, amigos, doença, saúde, emprego, escola e os bens espirituais : inteligência, qualidades morais, habilidades, conhecimentos, vocações...

Usá-los em seu próprio favor e em benefício dos outros é evoluir com mais naturalidade, com mais segurança, equilíbrio e paz, recebendo sempre mais e novos talentos, no decorrer de sua evolução.

Usá-los somente para satisfazer seus desejos egoístas, causando sofrimentos a uns, prejudicando a outros, omitindo-se no bem, não usando seus talentos, é criar dores e sofrimentos, nas trevas exteriores, no choro e ranger de dentes, no plano espiritual ou em difíceis existências futuras, até que, cansado de sofrer, arrepende-se, e clama pelo Pai.

             Recebe nova oportunidade de reencarnação, muitas vezes sem o talento que foi mal utilizado ou não usado. Daí “Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.”

Quem usa seus talentos, poucos ou muitos, de forma a colaborar no progresso de si mesmo e dos demais, aumenta-os, desenvolve-os, tornando-se merecedor de maiores responsabilidades em novos empreendimentos, com novos talentos.

Assim, devemos todos conhecermo-nos o mais possível, confiando na proteção divina, a fim de usar os talentos que temos, em favor da nossa autoeducação e em favor de todos os que nos cercam.

Leda de Almeida Rezende Ebner
Outubro / 2013
Bibliografia:
KARDEC, Allan - “O Evangelho Segundo o Espiritismo” 



Fonte http://www.oconsolador.com.br/ano5/221/leonardo_moreira.html 
http://cebatuira.org.br/estudos_detalhes.asp?estudoid=513
http://www.cvdee.org.br/est_eesetexto.asp?id=115&showc=S#conclusao

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