1 - O que significa a expressão de Jesus: "Muito se pedirá àquele que muito recebeu"?
Que os talentos que recebemos de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.
A Providência Divina nos cobra na mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação de doar em favor do próximo. (CDVEE)
"Àquele que tem,
mais será dado e
àquele que não
tem, até o que
pensa ter,
ser-lhe-á
tirado.”
Esse
interessante
aforismo
evangélico é
ainda motivo de
indagações
profundas em
relação ao seu
significado em
termos de Lei de
Causa e Efeito.
Tal comentário
de Jesus
necessita ser
associado a
conquistas de
valores
espirituais e
não de posses
efêmeras,
suscetíveis às
alternâncias
circunstanciais
da vida
material.
Quem tem grande
potencial, ou
seja, um elevado
talento
intelecto-moral
terá mais
condições de
desenvolver
obras de maior
envergadura para
o avanço
espiritual
concomitante de
si mesmo e da
sociedade.
Realmente, a
Questão 132 de
“O Livro dos
Espíritos”
estabelece que
as tarefas
primordiais do
esforço reencarnatório
consistem na
própria evolução
espiritual do
Espírito
reencarnado e,
ao mesmo tempo,
na participação
como colaborador
da Obra da
Criação. Logo, à
medida que
evoluímos
individualmente
colaboramos com
a evolução de
todos à nossa
volta, uma vez
que a nossa
evolução dá-se
através de
contato social
(Lei de
Sociedade) e dos
esforços
inerentes a essa
interação (Lei
de Trabalho, Lei
de Justiça, Amor
e Caridade,
entre outras).
Esse raciocínio
bem simples e
acessível é
respaldado,
inclusive, por
outras passagens
evangélicas como
a própria
“Parábola dos
Talentos”.(1)
Ocorre, porém,
que vários
indivíduos
talentosos
fracassam em
suas tarefas
reencarnatórias.
André Luiz, em
sua obra “Os
Mensageiros”,
relata em vários
capítulos as
experiências
frustradas de
companheiros que
desencarnaram
com realização
espiritual
pífia. A
intensidade do
fracasso está
relacionada à
capacidade do
fracassado, ao
tempo de
preparo, às
oportunidades
disponíveis e à
relevância dos
objetivos
previamente
traçados pelos
próprios
protagonistas
dessas vivências
em colaboração
com mentores
espirituais
extremamente
preparados e
experientes.
Ressalta-se que
as tarefas
destes casos
supracitados
estavam
centradas em
trabalhos de
cunho
espiritual,
destacando-se o
papel de médiuns
e doutrinadores.
Além disso, o
autor
espiritual, que
havia sido
médico na última
encarnação,
analisa o
próprio fracasso
como ser humano
de uma forma
geral em relação
a outros médicos
que fracassaram
especificamente
no desempenho da
atividade
médica.
Também é
digna de
registro a obra
“Tormentos da
Obsessão”
(Manoel
Philomeno de
Miranda/Divaldo
Pereira Franco)
que relata
grande número de
casos envolvendo
espíritas
fracassados em
suas
reencarnações,
os quais foram
socorridos no
“Hospital
Esperança” pelo
Mentor
Espiritual
Eurípedes
Barsanulfo e sua
equipe.
Em muitos
exemplos, as
falências
espirituais de
criaturas
talentosas
acontecem, pois,
apesar de
indiscutíveis
conquistas
prévias em
determinada
área, o Espírito
reencarnante
traz falhas
espirituais,
sobretudo
morais, que
acabam afetando
o trabalho
específico que
ele deveria
realizar, mesmo
que esse
indivíduo tenha
realmente imenso
cabedal em certo
setor evolutivo.
Assim, as
diversas mazelas
intelecto-morais
em outras áreas
do comportamento
humano
dificilmente
permitem que o
candidato à
realização
espiritual
consiga
manifestar
plenamente seu
talento, pois a
indisciplina, a
falta de força
de vontade e a
ausência de
ideal superior,
entre outras
características
pessoais, são
tendências
inferiores que
limitam o
desenvolvimento
de maior
amplitude de
tarefas. Até
mesmo pequenos
trabalhos podem
ser
comprometidos,
pois traços de
personalidade
inferior como a
intolerância e a
impaciência
suprimem
frequentemente a
manutenção de
esforços de
longo prazo,
favorecendo o
desperdício de
oportunidades.
É importante
frisar que “Deus
não dá fardos
pesados a ombros
frágeis”,
significando
dizer que, se o
indivíduo
fracassa, ele
deve atribuir
essa queda
espiritual à sua
própria
negligência, uma
vez que o
livre-arbítrio é
alicerce da Lei
de Deus. No
entanto, mesmo
assim, estas
experiências
fracassadas, se
bem estudadas e
assimiladas,
podem trazer
aprendizados que
serão as bases
para realizações
vitoriosas no
futuro. Por
isso, quando não
pudermos
realizar
totalmente
nossas tarefas,
tentemos, ao
menos, realizar
parcialmente,
pois o nosso
futuro
espiritual será
construído a
partir das
nossas
construções do
presente.
“Todo
esforço de hoje
é uma facilidade
a sorrir
amanhã”, nos
ensina Emmanuel
na obra
“Palavras de
Vida Eterna”,
implicando que
todo tempo
perdido hoje
será sempre
oportunidade de
crescimento
desperdiçada a
ser lembrada no
dia de amanhã,
quando as
circunstâncias
da vida podem
não mais
favorecer a
referida
realização.
Quando o
indivíduo detém
vários talentos,
os quais são
conquistas
espirituais
pretéritas,
essas
potencialidades
atuam
sinergicamente,
fomentando o
desenvolvimento
de obras de
maior
complexidade. Em
outras palavras,
quanto mais
pré-requisitos
intelecto-morais,
maior a
probabilidade de
sucesso
espiritual na
encarnação, uma
vez que mais
recursos o
Espírito
reencarnado terá
para “driblar”
os obstáculos e
as armadilhas do
caminho
existencial.
Mesmo quando
fraqueja
espiritualmente,
é possível que
consiga realizar
significativa
obra, pois suas
habilidades
favorecem o
surgimento e o
aproveitamento
de bom número de
oportunidades.
Estes casos de
Espíritos com
grande
capacidade que
realizam
parcialmente as
suas tarefas são
muito
interessantes,
pois podem gerar
conflitos
espirituais e
complexos de
culpa, mesmo
quando tais
companheiros são
altamente
reconhecidos
pelo que
realizaram,
especialmente na
análise dos
encarnados.
Acontece que o
autoexame
sincero
demonstra uma
extensa perda de
oportunidades e
até mesmo
aquisição de
débitos, os
quais passariam
praticamente
despercebidos se
fossem
associados a
criaturas com
menor cabedal
espiritual.
Todavia, como a
Lei de Deus está
escrita na
consciência da
própria
criatura, os
Espíritos em
questão
constatam que
poderiam ter
feito muito mais
por si mesmos e
pela humanidade,
pois o nível de
consciência
dessas criaturas
já é bem
elevado.
Assim sendo,
quando nos
sentimos
detentores de
poucos talentos,
devemos ter alta
vigilância e
disciplina,
porque somente o
foco, o esforço
no trabalho e a
humildade frente
às nossas
fragilidades
farão com que
não “caiamos em
tentações”, não
nos deixando
levar por
interesses
tortuosos que
nos desviem de
nossas tarefas
principais,
atrapalhando a
manifestação de
nosso talento
espiritual, que
representa os
dons divinos em
nós.
Interessantemente,
a vigilância e a
disciplina
também são
fundamentais
quando alguns
irmãos se sentem
detentores de
grandes
possibilidades,
pois as
responsabilidades
são
evidentemente
maiores (“Muito
será cobrado a
quem muito foi
dado”). Os
Espíritos que já
trazem um
expressivo leque
de habilidades
podem,
eventualmente,
deixarem-se
levar por
interesses,
muitas vezes
dignos, mas não
tão prioritários
em relação aos
compromissos
assumidos
previamente.
Neste contexto,
é muito
sugestiva a
famosa
recomendação de
Emmanuel em seu
primeiro contato
com Chico
Xavier,
asseverando a
relevância da
disciplina nas
tarefas
espirituais.
Sabendo-se que
“reconhece-se a
árvore pelos
frutos”, devemos
nos autoavaliar
constantemente
para
identificarmos
as consequências
concretas de
nossas ações
efetivas na vida
física. Se os
efeitos dessas
atitudes não têm
representado
valores do bem,
da utilidade e
da verdade,
devemos repensar
os caminhos que
estamos
trilhando, sob
pena de nos
vermos pelejando
por questões com
pouco valor
espiritual em
nossos esforços
diários.
“Reconhece-se o
verdadeiro
espírita pela
sua
transformação
moral e pelos
esforços que
empreende para
domar suas más
inclinações.”
Portanto, o
verdadeiro
Espírita busca
sua melhoria
pessoal de forma
sistemática, o
que deve
repercutir
diretamente nos
sentimentos,
pensamentos e
atitudes de cada
adepto do
Espiritismo, e,
consequentemente,
no
aproveitamento
das
oportunidades
evolutivas e na
construção da
obra no bem.
(1)PARÁBOLA DOS TALENTOS |
“O Senhor age
como um homem que, ao se ausentar para longe, chamou os seus servos e
lhes entregou os seus bens. E deu a um cinco talentos e a outro dois e a
outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo.
O
que recebera, pois, cinco talentos, foi-se, e entrou a negociar com
eles e ganhou outros cinco. Da mesma sorte também o que recebera dois,
ganhou outros dois.Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou
na terra um buraco e ali escondeu o dinheiro do seu senhor.E passando
muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os às contas. E
chegando-se a ele, o que havia recebido os cinco talentos,
apresentou-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, tu me entregaste
cinco talentos; eis aqui outros mais, que lucrei.Seu senhor lhe disse:
Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel nas coisas pequenas,
dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo do teu senhor.Da
mesma sorte apresentou-se também o que havia recebido dois talentos, e
disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, e eis aqui outros dois
que ganhei com eles.
Seu senhor lhe disse: Bem estás,
servo bom e fiel; já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a
intendência das grandes; entra no gozo do teu senhor.
E
chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor, sei que
és um homem de rija condição; segas onde não semeaste e recolhes onde
não espalhaste; e temendo me fui, escondi o teu talento na terra: eis
aqui tens o que é teu.
E respondendo o seu senhor, lhe
disse: Servo mau e preguiçoso, sabias que sego onde não semeei e que
recolho onde não tenho espalhado. Devias logo dar o meu dinheiro aos
banqueiros, e, vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era
meu. Tirai-lhe pois, o talento e dai-o ao que tem dez talentos. Porque a
todo o que tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem. E ao servo
inútil, lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de
dentes. “Mateus, XXV: 14 a 30 .)
No
primeiro parágrafo da parábola, vemos que o Senhor dá a cada homem, em
cada existência, as experiências que lhe são necessárias, segundo a sua
capacidade de vivenciá-las com proveito, desenvolvida em vidas
anteriores.
O êxito ou o fracasso dependem da
vontade no uso do livre-arbítrio de cada um. Deus dá sim, através das
Suas leis, o frio conforme a coberta, como diz o ditado popular.
Aquele
que sofre experiências mais difíceis é porque tem condições evolutivas
de vencê-las, no progresso do bem próprio e dos que lhe partilham as
experiências.
Na concepção espírita, todos têm os talentos necessários às suas experiências vivenciais, ninguém tem todos de uma vez.
Todos
os Espíritos, tendo a mesma origem, as mesmas potencialidades
espirituais, devendo realizar seu processo evolutivo através das
reencarnações em mundos materiais, para tornar-se perfeito e feliz, têm
também a liberdade de isso fazer segundo o seu livre-arbítrio, e no
tempo que quiser.
Por isso, respondem por todos
os seus atos bons e maus, durante esse desenvolvimento, tendo, a cada
existência, as experiências necessárias e possíveis de serem vivenciadas
com proveito.
Assim, uns têm mais talentos,
outro têm menos, mas todos têm os que lhes são adequados às suas
capacidades e necessidades, para as experiências atuais, atendendo à
justiça que exige de cada um, apenas o que pode dar e fazer.
Todos
já trazem dentro de si os talentos adequados a uma vivência de
realizações e aproveitamento espiritual, conforme o seu estado
evolutivo.
Esses talentos, que não são iguais
para todos, porque têm por finalidade ser instrumentos de evolução para
essa existência, são os bens materiais: corpo físico, dinheiro, família,
amigos, doença, saúde, emprego, escola e os bens espirituais :
inteligência, qualidades morais, habilidades, conhecimentos, vocações...
Usá-los
em seu próprio favor e em benefício dos outros é evoluir com mais
naturalidade, com mais segurança, equilíbrio e paz, recebendo sempre
mais e novos talentos, no decorrer de sua evolução.
Usá-los
somente para satisfazer seus desejos egoístas, causando sofrimentos a
uns, prejudicando a outros, omitindo-se no bem, não usando seus
talentos, é criar dores e sofrimentos, nas trevas exteriores, no choro e
ranger de dentes, no plano espiritual ou em difíceis existências
futuras, até que, cansado de sofrer, arrepende-se, e clama pelo Pai.
Recebe nova oportunidade de reencarnação, muitas vezes sem o talento que foi mal utilizado ou não usado. Daí “Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.”
Quem
usa seus talentos, poucos ou muitos, de forma a colaborar no progresso
de si mesmo e dos demais, aumenta-os, desenvolve-os, tornando-se
merecedor de maiores responsabilidades em novos empreendimentos, com
novos talentos.
Assim, devemos todos
conhecermo-nos o mais possível, confiando na proteção divina, a fim de
usar os talentos que temos, em favor da nossa autoeducação e em favor de
todos os que nos cercam.
Leda de Almeida Rezende Ebner
Outubro / 2013
|
Bibliografia: |
KARDEC, Allan - “O Evangelho Segundo o Espiritismo” |
Fonte http://www.oconsolador.com.br/ano5/221/leonardo_moreira.html
http://cebatuira.org.br/estudos_detalhes.asp?estudoid=513
http://www.cvdee.org.br/est_eesetexto.asp?id=115&showc=S#conclusao
http://www.cvdee.org.br/est_eesetexto.asp?id=115&showc=S#conclusao
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