— Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força c desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos.
Comentário de Kardec: A
lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a natureza,
pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente.
830.
Quando a escravidão pertence aos costumes de um povo, são repreensíveis
os que a praticam, nada mais fazendo do que seguir um uso que lhes
parece natural?
— O mal é sempre o mal. Todos os vossos sofismas não farão que uma ação má se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios de que dispondes para o compreender. Aquele que se serve da lei da escravidão é sempre culpável de uma violação da lei natural; mas nisso, como em todas as coisas, a culpabilidade é relativa. Sendo a escravidão um costume entre certos povos, o homem pode praticá-la de boa fé, como uma coisa que lhe parece natural. Mas desde que a sua razão, mais desenvolvida e sobretudo esclarecida pelas luzes do Cristianismo, lhe mostrou no escravo um seu igual perante Deus, ele não tem mais desculpas.
831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças inteligentes?
— Sim, para as elevar e não para as embrutecer ainda mais na escravidão. Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgaram no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito (Ver itens 361* e 803**.)
832.
Há homens que tratam os seus escravos com humanidade, que nada lhes
deixam faltar e pensam que a liberdade os exporia a mais privações. Que dizer disso?
— Digo que compreendem melhor os seus interesses. Eles têm também muito cuidado com os seus bois e os seus cavalos, a fim de tirarem mais proveito no mercado. Não são culpados como os que os maltratam, mas nem por isso deixam de usá-los como mercadorias, privando-os do direito de se pertencerem a si mesmos.
Itens 361* De onde vêm para o homem as suas qualidades morais, boas ou más?
- São as do Espírito que está nele encarnado; quanto mais puro é esse espírito, mais o homem é propenso ao bem.
803** Todos os homens são iguais perante Deus?
- Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Dizeis frequentemente: "O Sol brilha para todos", e cm isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais.
Todo os homens são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte; todos são iguais diante dele.
Livro dos Espíritos - Lei de Liberdade - Allan Kardec
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