— Dentro das claridades espirituais que o
Consolador vem espalhando nos bastidores religiosos e filosóficos do
mundo, temos de traduzir o conceito de salvação por iluminação de si
mesma, a caminho das mais elevadas aquisições e realizações no Infinito.
Considerando esse aspecto real do problema de
“salvação da alma”, somos compelidos a reconhecer que, se a Providência
Divina movimentou todos os recursos indispensáveis ao progresso material
do homem físico na Terra, o Evangelho de Jesus é a dádiva suprema do
Céu para a redenção do homem espiritual, em marcha para o amor e
sabedoria universais.
Jesus é o Modelo Supremo.
O Evangelho é o roteiro para a ascensão de todos os
Espíritos em luta, o aprendizado na Terra para os Planos superiores do
Ilimitado. De sua aplicação decorre a luz do Espírito.
No turbilhão das tarefas de cada dia, lembrai a
afirmativa do Senhor: — “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” Se vos
cercam as tentações de autoridade e poder, de fortuna e inteligência,
recordai ainda as suas palavras: — “Ninguém pode ir ao Pai senão por
mim.” E se vos sentis tocados pelo sopro frio da adversidade e da dor,
se estais sobrecarregados de trabalhos no mundo, buscai ouvi-Lo sempre
no imo dalma: — “Quem deseje encontrar o Reino de Deus tome a sua cruz e
siga os meus passos.”
— Essa colaboração apenas se verifica como no caso dos irmãos mais velhos, ou dos amigos mais idosos nas experiências do mundo.
Os mentores do Além poderão apontar-vos os
resultados dos seus próprios esforços na Terra, ou, então, aclarar os
ensinos que o homem já recebeu através da misericórdia do Cristo e da
benevolência dos seus enviados, mas em hipótese alguma poderão afastar a
alma encarnada do trabalho que lhe compete, na curta permanência das
lições do mundo.
Que dizer de um professor que decifrasse os problemas comuns para os alunos?
Além disso, os amigos espirituais não se encontram
em estado beatífico. Suas atividades e deveres são maiores que os
vossos. Seus problemas novos são inúmeros e cada Espírito deve buscar em
si mesmo a luz necessária à visão acertada do caminho.
Trabalhai sempre. Essa é a lei para vós outros e
para nós que já nos afastamos do âmbito limitado do círculo carnal.
Esforcemo-nos constantemente.
A palavra do guia é agradável e amiga, mas o
trabalho de iluminação pertence a cada um. Na solução dos nossos
problemas, nunca esperemos pelos outros, porque, de pensamento voltado
para a fonte de sabedoria e misericórdia, que é Deus, não nos faltará,
em tempo algum, a divina inspiração de sua bondade infinita.
— São tão grandes as expressões da misericórdia
divina que nos cercam o Espírito, em qualquer Plano da vida, que basta
um olhar à natureza física ou invisível, para sentirmos, em torno de
nós, uma aluvião de graças.
O favor divino, porém, como o homem pretende
receber no seu antropomorfismo, não se observa no caminho da vida, pois
Deus não pode assemelhar-se a um monarca humano, cheio de preferências
pessoais ou subornado por motivos de ordem inferior.
A alma, aqui ou alhures, receberá sempre de acordo
com o trabalho da edificação de si mesma. É o próprio Espírito que
inventa o seu inferno ou cria as belezas do seu Céu. E tal seja o seu
procedimento, acelerando o processo de evolução pelo esforço próprio,
poderá Deus dispensar na Lei, em seu favor, pois a Lei é uma só e Deus o
seu Juiz Supremo e Eterno.
— Uma encarnação é como um dia de trabalho. E para
que as experiências se façam acompanhar de resultados positivos e
proveitosos na vida, faz-se indispensável que os dias de observação e de
esforço se sucedam uns aos outros.
No complexo das vidas diversas, o estudo prepara;
todavia, somente a aplicação sincera dos ensinamentos do Cristo pode
proporcionar a paz e a sabedoria, inerentes ao estado de plena
iluminação dos redimidos.
— A purificação na Terra ainda é qual o lírio alvo, nascendo do lodo das amarguras e das paixões.
Todos os Espíritos encarnados, porém, devem
considerar que se encontram no planeta como em poderoso cadinho de
acrisolamento e regeneração, sendo indispensável cultivar a flor da
iluminação íntima, na angústia da vida humana, no círculo da família ou
da comunidade social, através da maior severidade para consigo mesmo e
da maior tolerância com os outros, fazendo cada qual, da sua existência,
um apostolado de educação onde o maior beneficiado seja o seu próprio
Espírito.
— Esse esforço individual deve começar com o auto
domínio, com a disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores, com o
trabalho silencioso da criatura por exterminar as próprias paixões.
Nesse particular, não podemos prescindir do
conhecimento adquirido por outras almas que nos precederam nas lutas da
Terra, com as suas experiências santificantes — água pura de consolação e
de esperança, que poderemos beber nas páginas de suas memórias ou nos
testemunhos de sacrifício que deixaram no mundo.
Todavia, o conhecimento é a porta amiga que nos
conduzirá aos raciocínios mais puros, porquanto, na reforma definitiva
de nosso íntimo, é indispensável o golpe da ação própria, no sentido de
modelarmos o nosso santuário interior, na sagrada iluminação da vida.
231 —
Considerando que numerosos agrupamentos espíritas se formam apenas para
doutrinação das entidades perturbadas, do Plano invisível, quais os mais
necessitados de luz: os encarnados ou os desencarnados?
— Tal necessidade é comum a uns e outros. É justo
que se preste auxílio fraterno aos seres perturbados e sofredores, das
Esferas mais próximas da Terra; entretanto, é precisa convir que os
Espíritos encarnados carecem de maior porcentagem de iluminação
evangélica que os invisíveis, mesmo porque, sem ela, que auxílio poderão
prestar ao irmão ignorante e infeliz? A lição do Senhor não nos fala do
absurdo de um cego a conduzir outros cegos?
Por essa razão é que toda reunião de estudos
sinceros, dentro da Doutrina, é um elemento precioso para estabelecer o
roteiro espiritual a quantos desejem o bom caminho.
A missão da luz é revelar com verdade serena. O
coração iluminado não necessita de muitos recursos da palavra, porque na
oficina da fraternidade bastará o seu sentimento esclarecido no
Evangelho. A grande maravilha do amor é o seu profundo e divino
contágio. Por esse motivo o Espírito encarnado, para regenerar os seus
irmãos da sombra, necessita iluminar-se primeiro.
.Emmanuel
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