“O homem
pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que
encare a vida terrena.” O E.S.E. cap 5 item 13.
Quanta
amargura, desistência, revolta e fantasia têm cultivado a maioria dos homens
reencarnados, por não saberem construir sentidos espirituais elevados às suas
provaçõ
es?
Qual
conquista será maior para a alma na Terra do que a compreensão sagrada dos
objetivos de todos os problemas e experiências?
Somente
quem sabe dar significado santificado a cada lance de dor ou cada benefício do
caminho pode avaliar a importância dessa vitória.
A
forma de encarar a vida deveria ser tema de urgente aprofundamento dos
trabalhadores espíritas. Com todo carinho e respeito, sugerimos uma urgente revisão
de conceitos com relação à afirmativa de que o espírita possui uma fé racional.
Se isso fosse verdade, teríamos uma conscientização e um comprometimento mais
amplos com a causa que abraçamos e melhores reações perante os testemunhos e
sofrimentos.
Temos
ainda uma fé embrionária e sufocada por conceitos antigos do religiosismo, com
forte inclinação para um conjunto de preceitos incontestáveis.
A
fé racional inicia-se quando passamos a encontrar no caminho mental alguns
recursos elaborados pela arte de meditar sobre nós mesmos. Ao compreender
melhor o que ocorre com a vida interior, capacitamo-nos cada vez mais para
avaliar os propósitos divinos nas ocorrências que nos cercam.
Outro
traço marcante de que a fé racional começa a se desenvolver no campo dos nossos
sentimentos se dá quando deixamos de colecionar certezas sobre a vida. Mais do
que nunca, na etapa evolutiva que assinala nosso progresso, somos convocados a
revisar, reciclar, analisar por outro ângulo, repensar ideias, reavaliar métodos,
renovar posturas perante pessoas e fatos. A certeza instituída é, quase sempre,
acesso à zona de conforto.
O
momento de vida da Terra nos convida a aprender com conviver com as incertezas
acerca de tudo à nossa volta. Uma parte do sentimento de segurança vai se
desenvolver na forma de conduzir nossas ações, e as palavras controle,
disciplina e planejamento serão usadas dentre de uma ótica de constante
relatividade. Quando necessário, seremos chamados a repensar conceitos, a fim
de que haja dinamismo em nossos projetos de vida.
Assim
se expressou Allan Kardec sobre o
assunto: “A fé necessita de uma base, e essa base é a compreensão perfeita
daquilo em que se deve acreditar. Para acreditar, não basta ver; é preciso,
sobretudo, compreender.”
A
aquisição dessa fé conduz a Espírito ao estado de resignação, que lhe permite a
harmonia diante da dor e dos testes existenciais.
A
resignação é o conjunto de habilidades que nos possibilitam uma visão otimista
da vida, por meio de escolhas conscientes e de uma conduta de autoamor,
distante da postura de vítima e do sentimentalismo. Crenças sadias, capacidade
de adiar gratificações pessoais e sentimentos de gratidão, são as principais
habilidades que conduzem o homem a ser resignado.
O
homem que busca a paciência diante dos desafios e contrariedades vai adquirindo
o hábito de pensar na vida é alguém dotado de uma força propulsora e calmante.
Essa condição lhe permite escolher com inteligência e equilíbrio a forma adequada
de reagir e agir nas turbulências, imprevistos e provas, Essa força
realizadora, independe das condições adversas, é o resultado do desapego de
seus próprios conceitos, é o espirito de prontidão da alma que sabe que a todo instante,
na vida corporal, estará sendo chamado a novos aprendizados que vão abalar suas
certezas, convocando-a a rever muitas de suas convicções.
Os
resignados possuem mais saúde e resistência às dores da vida, são mais
desprendidos e encontram sempre boas soluções para suas provas. Possuem metas, mas
sabem lhes dar curso maleáveis, conforme a necessidade. Sofrem, todavia,
procuram a utilidade sagrada do sofrimento e dão significado educativo e
libertador aos mais dolorosos dramas. Dessa forma, podem experimentar o cansaço, a raiva, a perda, a ansiedade e o
medo, mas jamais cruzam os braços, e continuam firmes em busca das soluções.
Essa é chamada resignação ativa, dinâmica, educativa, pródiga de resiliência.
Bem
diferente é aquele que e entende resignação como tolerar sofrimento em silencio,
aguentando a vida. Ele tolera a dor, resiste e briga com ela, quando, na verdade,
ele deveria se entender com ela. Ele obedece aos imperativos da dor, razão pela
qual asseverou o espírito Lázaro: “A obediência é o consentimento da razão; a
resignação é o consentimento do coração (...)”. Na obediência, cumprimos o
dever imposto pela consciência; na resignação, vamos além e transformamos o
dever em degrau de ascensão, livrando-nos do amargor e da crueldade das
expiações.
Hoje,
além das provas adicionais ou
voluntárias que poderiam ser evitadas, temos de considerar o tema “acréscimo voluntário
de sofrimento nas provas necessárias”, ou seja, a adição dispensável de dor
pela ausência da resignação, Em razão do apego a coisas e pessoas, negócios e
pontos de vista, as dificuldades dos teste são ampliadas pela forma rebelde de
reagir.
Cada
problema de nossa vida tem objetivos bem definidos pela sábia providência de
Deus. Vivê-los sem entender seus fins é o mesmo que sofrer por sofrer. Eis a
razão da oportuna advertência de Lacordaire, quando diz: “Mas poucos sabem
sofrer, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir
o homem ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações
se vos falta coragem”.
Ser
resignado não significa viver sem sofrer ou negar o sofrimento. Essa recusa
inconsciente dos sentimentos é uma defesa perante as agressões da dor. É um
mecanismo defensivo que alivia a angústia do nosso sofrer. Contudo, os que são
verdadeiramente resignados vãos mais além, e colocam-se fora do alcance da mágoa
e da revolta em função do poder de aceitação e da compreensão que surge da análise
positiva que fazem sobre suas experiências, valores e imperfeições.
O
escritor inglês Aldous Huxley afirmou: “Experiência não é o que acontece a você.
É o que você faz com o que acontece a você”.
Sem
dúvida, a resignação é o caminho para ser feliz, porque felicidade é uma
questão de construção intima de quem tem a visão iluminada sobre o existir. É
quem aprende a existir adquire a sabedoria de compreender a aceitar.
Ermance
Dufaux – Wanderley Oliveira – livro Prazer de Viver cap 3
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