segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O caminho da verdade


Livro : O Cavaleiro preso na armadura

Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade ROBERT FISHER 

3- O CAMINHO DA VERDADE

Quando o cavaleiro acordou, Merlin estava sentado silenciosa- mente ao seu lado.

Desculpe por ter agido de maneira tão pouco gentil — disse o cavaleiro, — Minha barba ficou toda encharcada — ele acrescentou desgostoso.

Não precisa se desculpar — disse Merlin. — Você acaba de dar o primeiro passo para sair dessa armadura.

O que você quer dizer?

Você verá — replicou o mago. Em seguida, levantou-se. — Está na hora de você partir.

Isso deixou o cavaleiro perturbado. Ele estava gostando da vida na floresta com Merlin e os animais. Além disso, parecia não ter nenhum lugar para ir. Juliet e Christopher aparentemente não queriam que ele voltasse para casa. E verdade que poderia retomar as atividades de cavaleiro e participar de algumas cruzadas. Ele tinha uma boa reputação, e havia diversos soberanos que ficariam felizes em tê-lo do seu lado, mas lutar parecia não ter mais propósito algum.

Merlin lembrou o cavaleiro de seu novo propósito: livrar-se da ar- madura.

Por que me importar? — perguntou o cavaleiro morosamente. — Para Juliet e Christopher não faz diferença se eu retirar ou não esta armadura.

Pense em você mesmo — sugeriu Merlin. — Ter ficado preso em todo esse aço lhe causou um monte de problemas, e sua situação só irá 

piorar com o passar do tempo. Você pode até vir a morrer de algo como uma pneumonia decorrente de uma barba encharcada.

Acho que minha armadura se tornou um estorvo — replicou o cavaleiro. — Estou cansado de arrastá-la de um lado para o outro, e não aguento mais comer purê de comida. Por falar nisso, não consigo nem cocar minhas costas quando tenho vontade.

E faz quanto tempo desde que você sentiu pela última vez o calor de um beijo, a fragrância de uma flor, ou ouviu o som de uma melodia bonita, sem que essa armadura se interpusesse no caminho?

Nem me lembro — resmungou o cavaleiro, tristemente. — Você está certo, Merlin. Tenho de retirar esta armadura para mim mesmo.

Você não pode continuar a viver e a pensar como fazia no passado — continuou Merlin. — Essa é a principal razão por que ficou encarcerado nessa prisão de aço.

Mas como conseguirei mudar tudo isso? — perguntou o cavaleiro, inquieto.

Não é tão difícil como pode parecer — Merlin explicou, conduzindo o cavaleiro até uma trilha. — Este foi o caminho que você percorreu para chegar a esta floresta.

Não percorri nenhum caminho — disse o cavaleiro. — Estive perdido durante meses!

E comum as pessoas não terem consciência do caminho que estão seguindo — replicou Merlin.

Você quer dizer que este caminho estava aqui, mas eu não conse- guia vê-lo?

Sim, e você pode voltar por ele, se quiser, mas ele conduz à desonestidade, ganância, ódio, ciúme, medo e ignorância.

Você está dizendo que eu sou todas essas coisas? — o cavaleiro perguntou, indignado.

As vezes, você é alguma delas — Merlin admitiu, sossegadamente. 

O mago então apontou para outra trilha. Ela era mais estreita que a primeira e bastante íngreme.

Parece uma subida e tanto — observou o cavaleiro.

Merlin concordou com a cabeça: Este — ele disse — é o Caminho da Verdade. Ele torna-se mais íngreme à medida que se aproxima do cume de uma montanha que fica lá longe.

O cavaleiro olhou para aquela trilha escarpada, sem entusiasmo. Não sei se vale a pena. O que vou ganhar quando atingir o topo?

É o que você vai perder — Merlin explicou. — A armadura!

O cavaleiro ponderou sobre isso. Se retornasse pelo caminho que tinha percorrido antes, não havia esperança de remover a armadura, e ele provavelmente morreria de solidão e fadiga. Parecia que a única ma- neira de se livrar da armadura era seguir pelo Caminho da Verdade, mas assim ele poderia morrer, tentando escalar aquela encosta tão íngreme. O cavaleiro olhou para o difícil caminho à frente. Depois olhou para o aço que cobria seu corpo.

Está bem — ele disse resignado. — Tentarei o Caminho da Verdade.

Merlin gostou. A decisão de seguir por uma trilha desconhecida com essa armadura pesada atravancando o seu caminho requer muita coragem — destacou o mago.

O cavaleiro sabia que era melhor começar imediatamente ou pode- ria mudar de idéia.

Vou pegar o meu fiel cavalo — ele disse.

Oh, não — disse Merlin, balançando a cabeça. — Há trechos no caminho que são estreitos demais para um cavalo passar. Você terá de ir a pé.

Perplexo, o cavaleiro se estatelou sobre uma pedra.

Acho que prefiro morrer com a barba encharcada — ele disse, com sua coragem esvanecendo rapidamente.

Você não viajará sozinho — Merlin lhe disse. — Esquilo o acompanhará 

O que você espera que eu faça, que monte nas costas do esquilo? — perguntou o cavaleiro, temendo o pensamento de fazer aquela árdua viagem com um animal de fala esperta.

Talvez você não possa montar sobre mim — disse Esquilo , mas vai precisar de mim para ajudá-lo a comer. Quem mais vai mastigar nozes para você e empurrá-las através da viseira?

Rebecca, que ouvira a conversa de uma árvore próxima, sobrevoou o cavaleiro e pousou no seu ombro.- Também vou com você. Já estive no topo da montanha e sei o caminho — ela disse.

A disposição dos dois animais em ajudar conferiu ao cavaleiro a coragem de que ele necessitava.

"Bem, não é incrível", ele disse a si mesmo, "um dos cavaleiros de elite do reino precisando ser encorajado por um esquilo e um pássaro!"

Ele fez um esforço para ficar em pé, sinalizando a Merlin que estava pronto para começar sua viagem. Enquanto caminhavam em direção à trilha, o mago pegou uma estranha chave dourada que estava em seu pescoço e entregou-a ao cavaleiro. - Esta chave abrirá as portas dos três castelos que bloquearão seu caminho.

Eu sei — gritou o cavaleiro impulsivamente. — Haverá uma princesa em cada castelo, e eu matarei o dragão que a mantém cativa e a salvarei...

Basta! — interrompeu Merlin. — Não haverá princesas em nenhum desses castelos. Mesmo se houvesse, você agora não tem a menor con- dição de resgatar quem quer que seja. Você tem de aprender a se salvar primeiro.

Repreendido dessa forma, o cavaleiro calou-se e Merlin continuou: — O primeiro castelo chama-se Silêncio; o segundo, Conhecimento; e o terceiro, Vontade e Ousadia. Depois de entrar neles, você encontrará a saída somente depois de ter aprendido o que está lá para você aprender. 

Do ponto de vista do cavaleiro, isso não parecia ter graça alguma compara- do com o salvamento de princesas. Além disso, no momento, visitas a castelos realmente não o atraíam muito.

Por que não posso simplesmente contornar os castelos? — ele perguntou, amuado.

Se fizer isso, você se extraviará do caminho e com certeza se perderá. O único meio de chegar ao topo da montanha é atravessando esses caste- los — Merlin disse com firmeza.

O cavaleiro suspirou profundamente, enquanto mantinha o olhar fixo na trilha estreita e íngreme à sua frente. Ela desaparecia entre altas árvores que se destacavam contra um agrupamento de nuvens baixas. Pressentiu que essa jornada seria muito mais difícil do que uma cruzada.

Merlin sabia o que o cavaleiro estava pensando.

Sim — ele concordou , há uma outra batalha a ser travada no Caminho da Verdade. A luta será aprender a amar a si mesmo.

Como farei isso? — perguntou o cavaleiro.

Para começar, você tem de aprender a se conhecer — respondeu Merlin. — Essa batalha não pode ser vencida com sua espada, portanto você pode deixá-la aqui.

O olhar gentil de Merlin pousou sobre o cavaleiro por um instante. Depois ele acrescentou:

Se você encontrar algo com que não consiga lidar, basta me chamar que eu irei.

Você quer dizer que pode aparecer em qualquer lugar que eu este- ja?

Qualquer mago que se respeita pode fazer isso — Merlin respondeu e, em seguida, desapareceu.

O cavaleiro estava assombrado: Ora... ora, ele sumiu!

Esquilo concordou: Algumas vezes ele faz realmente coisas do arco da velha! 

Vocês vão desperdiçar toda a energia falando — Rebecca os repre- endeu. — Vamos em frente.

O elmo do cavaleiro rangeu, enquanto ele assentia com a cabeça. Eles começaram a marcha com Esquilo na frente e o cavaleiro, com Rebecca no ombro, atrás. De tempos em tempos, Rebecca voava em missão de reconhecimento e voltava para relatar o que vira.

Após algumas horas, o cavaleiro desmoronou, exausto e dolorido. Não estava acostumado a viajar de armadura sem estar montado no cavalo. Como já estava quase escuro, Rebecca e Esquilo decidiram que poderiam parar ali para passar a noite.

Rebecca voou entre os arbustos e voltou com alguns frutos, que empurrou através dos orifícios da viseira do cavaleiro. Esquilo foi até um riacho próximo e encheu algumas cascas de nozes com água, que o cavaleiro bebeu por meio do canudo que Merlin lhe dera. Cansado demais para permanecer acordado e esperar as nozes que Esquilo ainda preparava, o cavaleiro adormeceu.

Ele foi acordado na manhã seguinte pelo brilho do sol nos seus olhos. Desacostumado com o clarão, ele semicerrou os olhos. Nunca antes sua viseira havia permitido a passagem de tanta luz. Tentava compreender esse fenômeno, quando percebeu que Rebecca e Esquilo olhavam para ele, tagarelando e murmurando, excitados. Empurrando o corpo até uma posição sentada, subitamente se deu conta de que conseguia ver mais do que no dia anterior, e podia sentir o frescor do ar de encontro ao seu rosto. Parte da viseira havia rompido e caíra! "Como isso aconteceu?", ele ficou pensando.

Esquilo respondeu à sua pergunta não verbalizada. Esse pedaço enferrujou e se desprendeu.

Mas como? — perguntou o cavaleiro.

Por causa das lágrimas do seu pranto, depois que você viu a carta em branco de seu filho.

O cavaleiro refletiu sobre isso. A tristeza que ele sentira fora tão profunda que a armadura não pudera protegê-lo dela. Muito pelo contrário, suas lágrimas haviam começado a romper o aço que o circundava. - E isso! — ele exclamou. — Lágrimas de sentimentos reais me libertarão desta armadura! Ele colocou-se em pé tão rápido como há muitos anos não fazia. - Esquilo! Rebecca! — ele gritou. — É realidade! Vamos seguir o Caminho da Verdade!

Rebecca e Esquilo estavam tão deleitados com o que estava ocor- rendo ao cavaleiro, que nenhum deles mencionou que aquela rima tinha sido terrível.

Os três continuaram montanha acima. Era um dia especial para o cavaleiro. Ele percebia as minúsculas partículas iluminadas de sol que se filtravam através dos galhos das árvores. Olhou de perto o rosto de alguns tordos e viu que não eram todos iguais. Ele falou isso para Rebecca, que não parava de dar saltos, murmurando alegremente.

Você está começando a perceber as diferenças em outras formas de vida, porque está começando a perceber as diferenças no seu interior.

O cavaleiro tentou entender o que exatamente Rebecca queria di- zer com isso. Mas era orgulhoso demais para perguntar, pois ainda pen- sava que um cavaleiro deveria ser mais inteligente que um pombo.

Nesse exato momento, Esquilo, que fora fazer um reconhecimento da estrada mais adiante, voltava numa carreira. - O Castelo do Silêncio fica logo depois da próxima subida.

Excitado com a perspectiva de ver o castelo, o cavaleiro seguiu ainda mais rápido. Quando alcançou o alto da colina já estava quase sem ar. Era verdade, um castelo emergia à frente, bloqueando completamente o caminho. O cavaleiro confessou a Esquilo e Rebecca que estava desapontado. Ele esperava uma extravagante estrutura. Em vez disso, o Castelo do Silêncio parecia com qualquer outro castelo da região.

Rebecca riu e disse: Quando você aprender a aceitar em vez de ter expectativas, seus desapontamentos serão menores.

O cavaleiro acenou com a cabeça, sinalizando que concordava com a sabedoria contida nessas palavras.

Passei a maior parte de minha vida sofrendo desapontamentos. Lembro-me de estar deitado no berço pensando que era o bebê mais bonito do mundo. Então a minha governanta olhou para mim e disse que eu tinha um rosto que somente uma mãe poderia amar. Acabei desapon- tado comigo por ser feio ao invés de bonito e desapontado com a gover- nanta por ela ser tão rude.

Se tivesse aceitado verdadeiramente que era bonito, o que ela disse não teria tido importância. Você não ficaria desapontado — Esquilo ex- plicou.

Isso fazia sentido para o cavaleiro. Estou começando a achar que os animais são mais inteligentes do que os homens.

O fato de poder dizer isso faz de você um ser tão inteligente quanto nós — Esquilo replicou.

Não acho que isso tenha a ver com ser inteligente — disse Rebecca. — Os animais aceitam e os seres humanos têm expectativas. Você nunca ouvirá um coelho dizer "Espero que o sol apareça de manhã para eu poder ir até o lago brincar". Se o sol não aparecer, isso não estragará o dia do coelho. Ele simplesmente é feliz sendo um coelho.

O cavaleiro refletiu sobre isso. Ele não conseguia se lembrar de muitas pessoas que eram felizes simplesmente sendo pessoas.

Logo chegaram à porta de um imenso castelo. O cavaleiro tirou a chave dourada do pescoço e encaixou-a na fechadura. Enquanto abria a porta, Rebecca sussurrou: - Nós não vamos entrar com você.

O cavaleiro que estava aprendendo a amar e a confiar nos dois animais ficou mais uma vez desapontado, já que eles não iriam acompanhá-lo. Ele quase mencionou isso, mas se conteve a tempo. Novamente, estava tendo expectativas.

Os animais sabiam que o cavaleiro hesitava em entrar no castelo. - Podemos levá-lo até a porta — disse Esquilo , mas você tem de entrar sozinho.

Quando Rebecca saiu voando, ela bradou para incentivá-lo: Nós o encontraremos do outro lado. 

domingo, 29 de novembro de 2015

A Importância dos Pensamentos e como melhorá-los


Deus não quer nos agradar
e sim nos iluminar!

Paulista de Andradina, o psiquiatra e dirigente espírita 
fala-nos sobre a importância dos pensamentos em 
nossa vida e diz como melhorá-los

Vlamir Orlando Berti Pereira (foto), espírita desde 1982 e atual presidente do Grupo Espírita A Caminho da Luz, em Cascavel (PR), é natural de Andradina (SP), mas reside em Cascavel desde 1986. Médico anestesiologista desde 1985, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Saúde pelo Centro  Universitário  FAE, e  em Psiquiatria pela

Universidade Positivo, ambas situadas em Curitiba (PR). Sua experiência na área da Psiquiatria está presente na entrevista seguinte, que ele gentilmente nos concedeu:  

Por que mudar os pensamentos? 

Somos cercados de hábitos. Iluminados ou não, precisam ser conhecidos, abordados e, quando for necessário, reformados. Para que algo tome forma, alguém pensou antes. Assim é com a nossa harmonia e paz interiores. Em atuando nos pensamentos, o mecanismo de ação será nas causas, melhorando muito os efeitos. 

Como fazer isso? 

Um atleta que conquistou medalha de ouro treinou muito para isso. Para que possamos avançar na escala evolutiva, o mesmo se aplica. Em outras palavras, observar-nos. Autoconhecimento, que nos leva a vibrar com as belezas da vida. A autodescoberta encanta. Educa. Traz paz e luz. 

Na prática, como funciona? 

Escolha novo norte. Seja realista com você. Ouça-o. Diagnostique mágoas, ciúmes, orgulho e todas as heranças primitivas (com características animalescas) que carregamos. Não minta para você mesmo. Não rumine o passado!

Escolha uma característica por vez a trabalhar. Escolheu? Agora negocie com sua mente. Aos poucos vá substituindo-a por algo bom, útil e verdadeiro. A imagem de um ente querido por exemplo: repita o nome dele(a) várias vezes, ocupando assim aquele espaço tóxico na mente. 

Os pensamentos influem na saúde e no equilíbrio emocional, psicológico e espiritual? De que forma? 

Muito mais do que imaginamos. A neuropsiquicoendocrinoimunologia (esse nome bem grande) é uma realidade incontestável. A Ciência a aceita sem medo. Em recente jornada de Psiquiatria, foi um dos temas abordados. A harmonia interna equilibra nossos hormônios, fortalecendo a imunidade, consequentemente sepultando doenças várias. A Psiquiatria está avançando nesse campo. É mergulhar nas causas e não somente nas doenças. 

Gostaria de citar algo marcante? 

Eu me uso como “cobaia”, isto é, observo-me a cada minuto. Quando passei a dirigir o que penso, procurando esquecer as intempéries, aborrecimentos, mágoas etc., a vida mudou. Assim, se eu mudei, todos o podem igualmente. Interessante lembrar que isso é um continuo trabalho. Assim, ao atingirmos uma meta, um objetivo, imediatamente surge outro a trabalhar. A vida fica adorável! Doce. Muito agradável. Envolvida em paz plena. Aprendemos a nos amar. 

Dos casos de atendimento em consultório, o que mais lhe chamou a atenção? 

Como ainda nos conhecemos pouco! Quase nada. A busca intensa por um comprimido “milagroso” que nos faça melhores. Isso não é possível! Eles ajudam, sim, é verdade, mas o grande segredo é a nossa autodescoberta. “Conhece-te a ti mesmo.” A viagem interior. “Eu posso e consigo.

É evidente que a ajuda multidisciplinar ao ser que sofre tem muita importância, mas, se não houver adesão, fica comprometida. 

Por que, como seres humanos, nos tornamos tão vulneráveis às sugestões infelizes e às influências que nos cercam, inclusive espirituais? 

Diria que principalmente espirituais. É uma lei natural. Veja a questão 459 d´OLivro dos Espíritos. Quão vulnerável sou, eu que determino. É pura escolha, opção, livre-arbítrio. Não podemos nos acomodar na vulnerabilidade. Sugestões iluminadas, do mais puro e profundo amor, também existem e são intensas. Só precisamos mudar nossas “antenas” e absorvê-las. 

Qual o grande segredo desse equilíbrio que tanto buscamos? 

Exercícios. Treinos. Vigilância. Mudança de rotas. Escolhermos melhor, tal como um produto que compramos. Buscarmos qualidade. Planejamento estratégico de nossas vidas, semelhante a uma empresa. Como queremos chegar no fim do ano? Onde devemos aprimorar? Principalmente repetindo, não mintamos para nós mesmos! 

De sua experiência e lembranças, o que mais lhe salta ao raciocínio?

Quanto mais precoce essa descoberta iluminada, melhor seremos. A criança e o amor pleno a elas mudará tudo. Os pais têm capital importância nisso. O papel de educar é da família, não do Estado. Este tem o dever de ensinar. A Psiquiatria infantil deverá crescer muito. É a ciência envolvendo e sendo envolvida pelo amor. Assim não haverá necessidade de punirmos mais à frente. 

Suas palavras finais. 

Vou pedir permissão e usar as palavras de Dr. Bezerra de Menezes: “Tenhamos tento e devemos porfiar até o fim”. Não fomos os escolhidos para sofrer em detrimento de outros que gozam a vida. Há uma harmonia gigantesca neste lindo Universo. Tudo está previsto. Deus não quer nos agradar e sim nos iluminar! 

http://www.oconsolador.com.br/ano9/442/entrevista.html


Na Floresta de Merlin

Livro : O Cavaleiro preso na armadura

Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade ROBERT FISHER 

2- NA FLORESTA DE MERLIN

Não era uma tarefa fácil encontrar o esperto feiticeiro. Havia mui- tas florestas onde procurar, mas apenas um Merlin. Então, o pobre cava- leiro cavalgou e cavalgou, dia após dia, noite após noite, tornando-se cada vez mais fraco.

Enquanto cavalgava através das florestas sozinho, percebeu que desconhecia tantas coisas... Ele sempre se imaginara muito sabido, mas não se sentia nem um pouco sabido tentando sobreviver na floresta.

Relutante, admitiu para si mesmo que sequer sabia diferenciar os frutos venenosos dos comestíveis. Por isso, comer era um jogo de role- ta-russa. Beber não era menos arriscado. O cavaleiro tentou enfiar a ca- beça dentro de um córrego, mas seu elmo se encheu de água. Por duas vezes, quase se afobou. Como se isso já não fosse ruim o bastante, ele estava perdido desde que entrara na floresta. O cavaleiro não sabia dis- tinguir norte de sul ou leste de oeste. Felizmente, seu cavalo sabia.

Depois de meses buscando em vão, sentia-se totalmente desani- mado. Embora tivesse percorrido muitas léguas, o cavaleiro ainda não havia encontrado Merlin. O que o fazia sentir-se pior era o fato de nem ao menos saber que distância uma légua representava.

Certa manhã, acordou sentindo-se mais fraco do que de costume e com uma sensação estranha. Foi nessa manhã que encontrou Merlin. O cavaleiro reconheceu o mago imediatamente. Ele estava sentado debaixo de uma árvore, trajando um longo manto branco. Animais da floresta estavam reunidos à volta dele, e havia pássaros empoleirados sobre seus ombros e braços. 

O cavaleiro balançou a cabeça melancolicamente de um lado para o outro, e a armadura rangia com o movimento. Ele pensava:

"Como era possível que todos esses animais encontrassem Merlin tão facilmente, se para mim era tão difícil?" 

Exausto, o cavaleiro desmontou do cavalo.

Estive procurando por você — ele disse ao mago. — Há me- ses que estou perdido.

Toda a sua vida — corrigiu o mago, arrancando com os den- tes um pedaço de cenoura e repartindo-o com o coelho que estava mais próximo.

O cavaleiro enrijeceu:

Não vim de tão longe para ser insultado.

Quem sabe você sempre tenha considerado a verdade um insulto — disse Merlin, compartilhando a cenoura com alguns dos outros animais.

O cavaleiro também não ficou muito feliz com esse comentário, mas estava fraco demais, com fome e sede, para montar novamente em seu cavalo e sair cavalgando. Em vez disso, deixou cair sobre a grama o seu corpo aprisionado em metal. Merlin olhou para ele com compaixão e disse:

Você é um grande felizardo. Está fraco demais para fugir.

O que quer dizer com isso? — perguntou o cavaleiro.

Merlin sorriu em resposta:

Uma pessoa não pode fugir e aprender ao mesmo tempo. Ela precisa permanecer algum tempo no mesmo lugar.

Ficarei por aqui somente o tempo necessário para aprender a me livrar desta armadura — disse o cavaleiro.

Quando você aprender isso — afirmou Merlin , nunca mais precisará montar em seu cavalo e sair cavalgando em todas as direções.

O cavaleiro estava muito cansado para questionar isso. De algum modo, sentiu-se confortado e pegou no sono prontamente. Quando acordou, viu Merlin e os animais que estavam à sua volta. Tentou sentar, 

mas estava sem forças. Merlin lhe ofereceu um cálice prateado que con- tinha um líquido de cor estranha.

Beba isso — ele ordenou.

O que é isso? — perguntou o cavaleiro, olhando para o cálice com suspeita.

Você é tão medroso — disse Merlin. — É claro, é por isso que veste essa armadura.

Como estava com muita sede, o cavaleiro preferiu não contrariar o mago.

Está bem, eu bebo. Despeje através da viseira.

Isso não — disse Merlin. Esse líquido é precioso demais para ser desperdiçado. — Ele então arrancou um bambu, colocou uma ponta dentro do cálice e enfiou a outra por um dos orifí- cios da viseira do cavaleiro.

Que grande idéia! — disse o cavaleiro. Chamo isso de canudo — replicou Merlin. Por quê?
Por que não?

O cavaleiro encolheu os ombros e sorveu a bebida com o canudo. Os primeiros goles pareciam amargos, os seguintes mais agradáveis e os últimos absolutamente deliciosos. Agradecido, o cavaleiro devolveu o cálice a Merlin.

Você deveria colocar esse produto à venda. Poderia vender jarros dele.

Merlin apenas sorriu.

O que é essa bebida? — perguntou o Cavaleiro. Vida — respondeu Merlin.
Vida?

Sim — disse o sábio mago. — Não parecia amargo no início, e depois, enquanto você provava mais, não ia se tornando agradável? O cavaleiro concordou:

Sim, e os últimos goles eram absolutamente deliciosos. Foi quando você começou a aceitar o que eslava bebendo.

Você quer dizer que a vida é boa quando a aceitamos? 

perguntou o cavaleiro. 

E não é? — replicou Merlin, levantando uma sobrancelha em sinal de divertimento.

Você espera que eu aceite toda esta pesada armadura?

Ah — disse Merlin , você não nasceu com ela. Foi você quem a vestiu. Será que alguma vez já se perguntou por quê?

Por que não? — retorquiu o cavaleiro, irritado. Nessa altura, sua cabeça começava a doer. Ele não estava acostumado a pensar dessa maneira.

Você terá condições de pensar melhor quando recuperar suas forças — disse Merlin.

Com isso, o mago bateu as mãos, e os esquilos, carregando nozes em suas pequenas bocas, enfileiraram-se diante do cavaleiro. Um de cada vez, os esquilos subiram até o ombro dele e, após quebrarem e masca- rem as nozes, enfiaram os pedaços pela viseira do cavaleiro. Os coelhos fizeram a mesma coisa com cenouras, e o veado esmagou raízes e frutos para o cavaleiro comer. Claro que esse método de alimentação nunca seria aprovado pelo departamento de saúde de nenhum reino; o que mais, porém, um cavaleiro preso em sua armadura e no meio da floresta poderia fazer?

Os animais alimentavam o cavaleiro regularmente, e Merlin lhe dava largas taças de Vida para beber através do canudo. Lentamente, o cava- leiro foi i imperando as forças e suas esperanças começaram a se reno- var.

Todos os dias, ele fazia a mesma pergunta a Merlin:

"Quando vou sair desta armadura?"

Todos os dias, Merlin respondia: "Paciência! Faz muito tempo que você a usa. Não dá para se livrar dela da noite- para o dia."

Certa noite, os animais e o cavaleiro ouviam o mago tocar no seu alaúde os últimos sucessos dos trovadores. Após aguardar que Merlin terminasse de tocar "Ouça Essa dos Tempos de Antigamente, quando os Cavaleiros Eram Corajosos e as Donzelas Insensíveis", o cavaleiro fez uma pergunta que ha muito latejava em sua mente:

Você foi realmente o mestre do Rei Arthur?

A face do mago se iluminou:

Sim, fui o professor de Arthur — ele disse.

Mas como é possível você ainda estar vivo? Arthur viveu sé- culos atrás! — exclamou o cavaleiro.

Quando se está conectado à Fonte, passado, presente e fu- turo são tudo a mesma coisa — replicou Merlin.

O que é a Fonte? — perguntou o cavaleiro.

É o poder misterioso e invisível do qual tudo se origina.

Não compreendo — disse o cavaleiro.

Você não compreende porque tenta compreender com a men- te, mas a mente é limitada.

Tenho uma mente muito boa — argumentou o cavaleiro.

Além de muito esperta — acrescentou Merlin. — Ela o apri- sionou nessa armadura toda.

O cavaleiro não pôde refutar isso. Então se lembrou de algo que Merlin lhe dissera assim que chegou:

Você uma vez me disse que eu coloquei esta armadura por- que tinha medo.

E não é verdade? — replicou Merlin.
Não, eu a vesti para me proteger, quando ia para a batalha.

E você tinha medo de que fosse gravemente ferido ou morto — acrescentou Merlin.

Não é do que todo mundo tem medo?

Merlin balançou a cabeça:

Quem foi que disse que você tinha de ir batalhar?

Eu tinha de provar que era um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso.

Se você era realmente bondoso, gentil e amoroso, por que precisava provar isso? — Merlin perguntou.

O cavaleiro fugiu de pensar sobre isso, na sua maneira usual de fugir das coisas — entregou-se ao sono. Na manha seguinte, ele acordou com um estranho pensamento martelando sua cabeça: seria possível que ele não fosse bondoso, gentil e amoroso? decidiu perguntar a Merlin.

O que você acha? — Merlin lhe devolveu a pergunta.

Por que você sempre responde com outra pergunta?

E por que você sempre busca nos outros as respostas às suas perguntas?

O cavaleiro saiu pisando o chão com força, furioso, xingando Merlin com voz abafada.

Esse Merlin! — ele resmungou. — Algumas vezes ele real- mente entra debaixo da minha armadura!

Com um baque, o cavaleiro jogou seu pesado corpo sob uma árvo- re, para refletir sobre as perguntas do mago.

"O que ele pensava? Será", disse ele em voz alta para nin- guém em particular, "que eu não sou bondoso, gentil e amo- roso?"

Pode ser — disse uma voz tênue. — Caso contrário, por que estaria sentado na minha cauda?

O quê?

O cavaleiro olhou para o chão ao seu lado e percebeu um pequeno esquilo sentado ao lado dele. Isto é, ele podia ver a maior parte do corpo do esquilo. A cauda estava escondida.

Oh, desculpe! — disse o cavaleiro, movendo rapidamente a perna para que o esquilo pudesse reaver a cauda. — Espero não o ter machucado. Não consigo enxergar muito bem com esta viseira na minha frente.

Não tenho dúvida disso — replicou o esquilo, sem qualquer ressentimento na voz. — É por isso que você tem de ficar pe- dindo desculpas às pessoas depois de machucá-las.

O que me irrita mais que um mago atrevido é um esquilo atrevido — resmungou o cavaleiro. - eu não tenho de ficar aqui e falar com você.

Ele começou a peleja contra o peso da armadura para tentar colocar-se em pé. Subitamente, espantado, ele deixou esca- par:

Ei... você e eu estamos conversando!

Um tributo à minha boa natureza — reputou o esquilo , considerando que você sentou na minha cauda.

Mas os animais não falam — disse o cavaleiro.

Oh, com certeza falamos — disse o esquilo. - As pessoas é que não escutam.

O cavaleiro balançou a cabeça desnorteado. - Você já falou comigo antes?

Certamente, toda vez que eu quebrava uma noz, e a enfiava através da sua viseira.

Como é possível que eu esteja ouvindo você agora, se antes não ouvia?

Admiro uma mente inquisitiva — comentou o esquilo , mas será que você nunca aceita as coisas como elas são... sim- plesmente porque é assim?

Você está respondendo às minhas perguntas com outras perguntas — disse o cavaleiro. — É tempo demais que você tem passado junto de Merlin.

E você não tem estado junto dele tempo suficiente! O esquilo chicoteou de leve o cavaleiro com a cauda, e subiu ligeiro por uma árvore.

Espere! Qual o seu nome? — o cavaleiro perguntou ao esqui- lo.

Esquilo — ele respondeu muito simplesmente, e desapareceu em meio aos galhos mais altos.

Surpreso, o cavaleiro balançou a cabeça. Será que tudo não passara de imaginação? Nesse momento, ele viu Merlin se aproximando.

Merlin, tenho de ir embora daqui. Estou começando a falar com esquilos,

Esplêndido — replicou o mago.

O cavaleiro parecia preocupado:

O que você quer dizer com esplêndido?

Apenas isso. Você está se tornando sensível o bastante para sentir as vibrações dos outros.

O cavaleiro estava obviamente confuso; então Merlin continuou a explicar: - Você não falou com o esquilo em palavras, mas sentiu as vi- brações dele e as transformou em palavras. Mal posso esperar o dia em que você começará a falar com as flores.

Nesse dia você as plantará sobre a minha sepultura. Preciso sair fora desta floresta!

Para onde iria?

De volta até Juliet e Christopher. Eles estão sozinhos há muito tempo. Tenho de voltar e tomar conta deles.

Como você pode tomar conta deles, se não consegue nem tomar conta de si mesmo? — Merlin perguntou.

Mas sinto falta deles — lamentou-se o cavaleiro. — Quero voltar para eles de qualquer maneira.

E é exatamente assim que estará voltando, se você for com essa armadura — advertiu o mago.

O cavaleiro olhou para Merlin com tristeza.

Não quero esperar até retirar esta armadura. Quero voltar agora e ser um marido bondoso, gentil e amoroso para Juliet e um bom pai para Christopher.

Merlin balançou a cabeça compreensivamente. Em seguida disse ao ca- valeiro que voltar para dar de si seria um adorável presente. Entretanto, um presente, para ser um presente, tem que ser aceito. Caso contrário, tor- na-se um obstáculo entre as pessoas — acrescentou o mago.

Você quer dizer que eles poderiam não me querer de volta? - perguntou o cavaleiro, surpreso. — É claro que eles me da- riam uma nova chance. Afinal de contas, sou um dos maiores cavaleiros do reino.

Talvez essa armadura seja mais espessa do que parece — disse Merlin, gentilmente.

O cavaleiro refletiu sobre isso. Ele lembrou as intermináveis queixas de Juliet sobre suas constantes idas às batalhas, sobre a atenção que dispensava à armadura e sobre a viseira fechada e seu hábito de abrup- tamente ir dormir para impedi-la de continuar falando. Talvez Juliet não o quisesse de volta, mas Christopher com certeza quereria.

Por que não manda um bilhete para Christopher, perguntan- do o que ele acha? — sugeriu Merlin.

O cavaleiro concordou que essa era uma boa idéia, mas como fazer o bilhete chegar até Christopher?

Merlin apontou para o pombo empoleirado no seu ombro.

Rebecca o levará.

O cavaleiro ficou intrigado. 

Ela não sabe onde eu moro. E apenas um pássaro idiota.

Posso diferenciar norte de sul e leste de oeste — emendou Re- becca , que é mais do que posso dizer de você.

O cavaleiro prontamente se desculpou. Ele estava completamente abalado. Não apenas tinha falado com um pombo e um esquilo, como os tinha deixado zangados com ele, tudo no mesmo dia.

Por ser um pássaro com um coração generoso, Rebecca aceitou as desculpas do cavaleiro e alçou voo, levando no bico o bilhete que ele apressadamente escrevera para Christopher.

Não arrulhe para pombos desconhecidos, ou você deixará o bilhete cair — o cavaleiro gritou para ela.

Rebecca ignorou essa insensata observação, compreendendo que o cavaleiro tinha muito que aprender.

Uma semana se passou, e Rebecca ainda não havia retornado.

O cavaleiro estava ficando cada vez mais ansioso, temeroso de que ela tivesse se tornado presa de um dos falcões caçadores que ele e outros cavaleiros haviam treinado. Um tremor percorreu seu corpo, ao pensar como podia ter participado de esporte tão maldoso.

Quando Merlin terminou de tocar alaúde e cantar "Se Você Tem um Coração Pequeno e Frio, Seu Inverno Será Longo e Frio", o cavaleiro expressou sua preocupação com Rebecca.

Merlin tranquilizou o cavaleiro, criando um curto e alegre verso: "Um pombo tão esperto e que voa tão bem não acabará cozido na panela de alguém."

Subitamente, um intenso palavreado brotou de entre os animais. Como eles todos estavam olhando para o céu, Merlin e o cavaleiro olha- ram também. Bem acima deles, circulando em busca de um lugar para pousar, eles viram Rebecca.

O cavaleiro pelejou para ficar em pé, justo quando Rebecca arre- meteu até o ombro de Merlin. Tirando o bilhete de seu bico, o mago olhou-o de relance e disse solenemente ao cavaleiro que era da parte de Christopher.

 Deixe-me ver! — disse o cavaleiro, pegando ansiosamente o papel. Seu queixo caiu com um rangido, enquanto ele olhava o bilhete sem acreditar no que via. - Está em branco — ele exclamou. — O que significa isso?

Significa — disse Merlin, suavemente — que seu filho não sabe bastante a seu respeito para lhe dar uma resposta.

O cavaleiro ficou ali parado um tempo, atordoado. Depois soltou um gemido e caiu lentamente ao solo. Tentou conter as lágrimas, pois cavaleiros com armaduras brilhantes simplesmente não choravam. No entanto, sua tristeza logo o subjugou. Exausto e meio afogado pelas lá- grimas dentro do seu elmo, o cavaleiro então adormeceu. 

sábado, 28 de novembro de 2015

O cavaleiro preso na armadura

Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade ROBERT FISHER 


1- O DILEMA DO CAVALEIRO

Há muito tempo e numa terra muito distante, vivia um cavaleiro que pensava ser bondoso, gentil e amoroso. Ele fazia tudo que um cava- leiro bondoso, gentil e amoroso faz. Lutava contra inimigos que eram malvados, grosseiros e odiosos. Matava dragões e resgatava donzelas formosas em apuros. Nos períodos em que não havia muito o que fazer, ele tinha o terrível hábito de resgatar donzelas, mesmo quando elas não queriam ser resgatadas. Por isso, embora muitas damas lhe fossem gra- tas, outras tantas estavam furiosas com ele. Isso, no entanto, ele aceitava filosoficamente. Afinal de contas, não se pode agradar a todos.

O cavaleiro era conhecido por sua armadura. Esta refletia raios de luz tão claros que, quando o cavaleiro partia para a batalha, os aldeões podiam jurar que tinham visto o sol nascer no norte ou se pôr no leste. E ele estava sempre cavalgando para batalhar, A mera menção de uma cruzada, o cavaleiro avidamente vestia sua armadura brilhante, montava em seu cavalo e partia em qualquer direção. Tão ávido estava, na verda- de, que algumas vezes cavalgava em várias direções ao mesmo tempo, o que não é proeza das mais fáceis.

Por anos a fio, esse cavaleiro esforçou-se para ser o cavaleiro nú- mero um de todo o reino. Sempre havia mais uma batalha a ser vencida, outro dragão para destruir ou uma donzela que precisava ser salva.

O cavaleiro tinha uma esposa fiel e um tanto tolerante, chamada Juliet, que escrevia lindas poesias, dizia coisas sábias e tinha predileção por vinhos. Também tinha um filho jovem de cabelo dourado, chamado Christopher. O cavaleiro esperava que, um dia, seu filho viesse a se tornar um corajoso cavaleiro.

Juliet e Christopher pouco viam o cavaleiro, pois quando não estava no campo de batalha, matando dragões ou resgatando donzelas, estava ocupado experimentando a armadura e admirando o lustre dela. Com o passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura, que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua família se esqueceu de sua aparência sem a armadura.

Às vezes, Christopher perguntava a sua mãe como era seu pai. En- tão, Juliet levava o menino até a lareira e apontava para um retrato do cavaleiro, acima dela.

Olhe o seu pai — ela suspirava.

Uma tarde, enquanto contemplava o retrato, Christopher disse à sua mãe:

Queria poder ver o papai em pessoa.

Você não pode ter tudo — exclamou Juliet.

Sua impaciência aumentava por ter apenas uma foto para lembrar o rosto de seu marido, e ela estava cansada de ter seu sono perturbado pelo ranger da armadura.

Quando estava em casa e não totalmente envolvido com a arma- dura, o cavaleiro costumava proferir monólogos sobre seus atos de hero- ísmo. Raramente Juliet e Christopher conseguiam lhe dirigir a palavra. Quando o faziam, ele os interrompia, fechando a viseira ou indo abrup- tamente para a cama.

Um dia, Juliet desafiou o marido:

Penso que você ama essa armadura mais do que a mim.

Isso não é verdade — respondeu o cavaleiro. — Será que não a amo o bastante? Eu a resgatei daquele dragão e a coloquei neste elegante castelo com pedras de parede a parede!

O que você amou — disse Juliet, mirando através da viseira para poder ver os olhos do cavaleiro — foi a idéia de me res- gatar. Você não me amava de verdade naquela ocasião e não me ama de verdade agora. 

Eu amo você de verdade — insistiu o cavaleiro, abraçando-a desajeitadamente em sua armadura fria e dura, e quase quebrando as costelas dela.

Então tire essa armadura para que eu possa ver quem você realmente é! — ela exigiu.

Não posso tirá-la. Tenho de estar pronto para montar em meu cavalo e sair em qualquer direção — explicou o cavalei- ro.

Se você não tirar essa armadura, vou pegar o Christopher, montar no meu cavalo e sair de sua vida.

Bem, isso foi um verdadeiro golpe para o cavaleiro. Ele não queria que Juliet fosse embora. Ele amava sua esposa, seu filho e seu elegante castelo, mas também amava sua armadura, porque ela revelava a todos quem ele era — um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso. Por que Juliet não compreendia que ele era todas essas coisas?

O cavaleiro estava confuso. Finalmente, ele chegou a uma conclu- são. Não valia a pena continuar usando a armadura e perder Juliet e Christopher.

Relutante, o cavaleiro tentou remover o elmo, mas este não se moveu! Ele puxou com mais força. O elmo permaneceu imóvel. Pertur- bado, tentou levantar a viseira mas, que chateação, ela também estava emperrada. Embora pelejasse com a viseira insistentemente, nada acon- tecia.

O cavaleiro andou de um lado para o outro, muito agitado. Como isso pôde acontecer? Talvez não fosse tanta surpresa encontrar a arma- dura emperrada, já que ele não a retirava há anos, mas a viseira era dife- rente. Ele a abria regularmente para comer e beber. Ora, ele a levantara naquela mesma manhã para um desjejum de ovos mexidos e carne de porco.

De repente o cavaleiro teve uma idéia. Sem dizer para onde ia, cor- reu à oficina do ferreiro, que ficava no pátio do castelo. Quando lá che- gou, o ferreiro estava modelando uma ferradura com as próprias mãos.

Seu ferreiro — disse o cavaleiro , estou com um problema.

Você é um problema, senhor — zombou o ferreiro, com seu tato de sempre.

O cavaleiro, que normalmente gostava de fazer troça, olhou-o furi- osamente:

Não estou com disposição para suas gracinhas agora. Estou preso nesta armadura — ele vociferou, enquanto batia com o pé coberto de aço, pisando acidentalmente no dedão do pé do ferreiro.

O ferreiro soltou um urro e, esquecendo momentaneamente que o cavaleiro era seu patrão, aplicou-lhe um violento golpe no elmo. O cava- leiro sentiu apenas uma pontada de desconforto. O elmo não saiu do lugar.

Tente de novo — ordenou o cavaleiro, sem atentar para o fato de que o ferreiro agira movido pela raiva.

Com prazer — o ferreiro concordou, segurando vingativa- mente um martelo que estava à mão e desferindo uma vigo- rosa martelada sobre o elmo do cavaleiro. O golpe não dei- xou nem marca.

O cavaleiro estava aflito. O ferreiro era de longe o homem mais forte do reino. Se ele não conseguia tirá-lo de dentro da armadura, quem conseguiria?

Sendo um homem gentil, exceto quando o dedão de seu pé era pi- sado, o ferreiro percebeu o pânico do cavaleiro e foi solidário:

Suas condições são bastante adversas, cavaleiro, mas não desista. Volte amanhã, depois que eu estiver descansado. Você me pegou no final de um dia estafante.

O jantar naquela noite foi tumultuado. Juliet ficava cada vez mais aborrecida, enquanto empurrava os pedaços de alimento que amassara através dos orifícios da viseira do cavaleiro. A certa altura da refeição, este lhe contou que o ferreiro tentara fender a armadura, mas sem su- cesso.

Não acredito em você, seu desmiolado rangente — ela exclamou, esmagando contra o elmo o prato de pombo cozido cheio até a metade.

 O cavaleiro nada sentiu. Somente quando o molho começou a pingar diante das aberturas para os olhos na viseira foi que se deu conta de que tinha sido golpeado na cabeça. Ele também, à tarde, mal sentira a martelada do ferreiro. Ao pensar sobre isso, percebeu que a armadura realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava há tanto tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela.

O cavaleiro estava chateado porque Juliet não acreditava que ele estava tentando retirar a armadura. Ele e o ferreiro haviam tentado, e continuaram empenhados nisso vários dias seguidos sem obter sucesso. A cada dia, o cavaleiro ficava mais desanimado e Juliet mais distante.

Finalmente, ele teve de admitir que os esforços do ferreiro eram em vão.

O homem mais forte do reino, realmente! Não consegue nem dar conta desta sucata de aço! — o cavaleiro gritou frustra- do.

Quando o cavaleiro voltou a casa, Juliet desentendeu-se com ele:

Seu filho não tem mais do que um retrato como pai, e eu es- tou cansada de falar com uma viseira fechada. Nunca mais vou lhe dar comida pelos buracos dessa coisa nojenta. Esse foi o último naco de carneiro que amassei!

Não é culpa minha, se fiquei preso nesta armadura. Eu tinha de usá-la, pois só assim estaria sempre pronto para a luta. De que outro jeito poderia conseguir bons castelos e cavalos pa- ra você e Christopher?

Você não fez isso por nossa causa — argumentou Juliet. — Você fez isso para você mesmo.

O cavaleiro sentia o coração partido, porque sua mulher parecia não amá-lo mais. Ele também temia que, se não tirasse logo a armadura, Juliet e Christopher fossem embora de verdade. Ele tinha de tirar a ar- madura, mas não sabia como fazê-lo.

Ele descartava uma idéia após a outra, achando que não iriam fun- cionar. Alguns desses planos eram sem dúvida perigosos. Sabia que qualquer cavaleiro que pensasse em retirar sua armadura derretendo-a com uma tocha, congelando-a pulando no fosso enregelado que circundava o castelo ou explodindo-a com um canhão precisava muito de ajuda. "Em algum lugar, deve haver alguém que possa me ajudar a retirar esta armadura", ele pensou.

É claro que iria sentir falta de Juliet, de Christopher e de seu ele- gante castelo. Ele também receava que, na sua ausência, Juliet pudesse se enamorar de outro cavaleiro, algum disposto a retirar a armadura na hora de dormir e a cumprir seu papel de pai para Christopher. Todavia, o cavaleiro tinha de partir. Então, certa manhã bem cedo, montou no seu cavalo e saiu cavalgando. Não ousou olhar para trás, com medo de que pudesse mudar de idéia.

No caminho de saída da província, o cavaleiro parou para se despe- dir do rei, que era muito bom para ele. O rei vivia num imenso castelo situado no topo de uma colina, numa região afortunada. Ao atravessar a ponte levadiça e entrar no pátio, viu o bobo da corte sentado de pernas cruzadas, tocando uma flauta de bambu.

O bobo era chamado de Bolsalegre, porque trazia nos ombros uma linda bolsa com as cores do arco-íris, repleta com toda espécie de objetos que faziam as pessoas sorrir ou sentir alegria. Havia cartas estranhas que ele usava para prever o futuro, contas de cores brilhantes que ele fazia aparecer e desaparecer e algumas marionetes pequenas e engraçadas que manipulava para jocosamente insultar suas plateias.

Oi, Bolsalegre — disse o cavaleiro. Vim me despedir do rei.

O bobo olhou para cima.

O rei saiu pelo mundo afora. Não há nada que ele possa lhe dizer agora.

Para onde ele foi? — perguntou o cavaleiro.

De uma nova cruzada, foi cuidar. Se esperar por ele, irá se atrasar.

O cavaleiro ficou desapontado por não encontrar o rei e chateado por não poder unir-se a ele na cruzada.

Oh — ele suspirou , posso morrer de fome dentro desta armadura, se o rei demorar a voltar. Talvez eu nunca o veja novamente. 

O cavaleiro sentiu claramente como se afundasse na sela, mas, é claro, sua armadura não permitiria que isso acontecesse.

Bem, se não é você uma triste visão? Nem todo seu poder pode mudar a sua condição.

Não estou achando a menor graça nessas suas rimas debochadas — vociferou o cavaleiro, rígido em sua armadura.

Será que você não pode, ao menos uma vez, levar a sério o problema de alguém?

Com uma voz clara e lírica Bolsalegre cantou:

Problemas nunca me deixam balançando. São oportunidades que estão chegando.

Você cantaria uma diferente canção, se fosse você que esti- vesse entalado aqui dentro — resmungou o cavaleiro.

Bolsalegre retrucou:

Estamos todos presos em algum tipo de armadura. Apenas mais fácil de encontrar é a sua.

Não tenho tempo para ficar aqui ouvindo suas besteiras. Tenho de encontrar um jeito de me livrar desta armadura,

Com isso, o cavaleiro cutucou sua montaria com o joelho para se- guir em frente, mas Bolsalegre o chamou:

Cavaleiro, existe alguém que pode lhe ajudar, trazer seu ver- dadeiro eu para diante do olhar.

O cavaleiro fez seu cavalo parar e, excitado, voltou-se para Bolsale- gre:

Você conhece alguém que pode me tirar desta armadura? Quem é essa pessoa?

O Mago Merlin você precisa encontrar, então descobrirá co- mo se libertar.

Merlin? O único Merlin de quem ouvi falar foi o grande e sá- bio mestre do Rei Arthur.

Sim, sim, sua fama tem esse apreço. Esse é o único e mesmo Merlin que conheço.

Mas não pode ser — exclamou o cavaleiro. Merlin e Arthur viveram há muito tempo.

 Isso é verdade, mas ele está vivo e bem. A morada do sábio fica nas florestas além.

Mas são tão vastas essas florestas — disse o cavaleiro. — Como o encontrarei por lá?

Bolsalegre sorriu.

Dias, semanas ou anos, nunca se sabe ao certo. Quando o discípulo estiver pronto, o mestre estará por perto.

Não posso esperar que Merlin apareça. Vou sair no encalço dele — disse o cavaleiro.

Agradecido, ele esticou o braço e apertou a mão de Bolsalegre, quase esmagando os dedos do bobo com sua manopla. Bolsalegre soltou um grito. O cavaleiro rapidamente largou a mão do bobo.

Desculpe — disse o cavaleiro, enquanto Bolsalegre esfregava seus dedos doloridos.

Quando da armadura você se livrar, a dor dos outros também sentirá.

Já fui! — disse o cavaleiro. Ele girou o cavalo e, com esperança renovada no coração, saiu a galope em busca de Merlin. 

 Continua...