Baseada nos seus pressupostos (Deus, inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas; Espírito
e matéria, os elementos constitutivos desse universo
surpreendente; imortalidade da alma; reencarnação;
mediunidade; livre-arbítrio; lei de causa e efeito),
a Filosofia Espírita nos pintou, com as cores da fé
raciocinada, a obra-prima da criação, nos revelando o
roteiro de nossa incrível viagem evolutiva.
A reflexão proporcionada pela Filosofia Espirita
O homem começa a filosofar no momento em que
contempla a vida e o universo e que fica perplexo,
maravilhado com o que vê e não sabe explicar. Está
aí o porquê de se dizer que a filosofia nasceu com o
êxtase, a admiração.
Se a primeira noção de filosofia é de “amor à
sabedoria”, a segunda definição pode ser “filosofia é
uma vivência, um fazer, uma atitude dinâmica diante
dos problemas do universo”. Ou ainda, conforme o
professor Manuel Pelicas São Marcos, criador do curso,
tão bem a definiu, “a filosofia é o caminho árduo
suave na busca pela verdade”.
Desde o seu nascimento, no berço da civilização grega,
a filosofia se desenvolveu numa espiral evolutiva,
tornando-se uma cidadã cosmopolita, que se
aperfeiçoou em todo o mundo ocidental, até chegar a
seu atual estágio.
Mãe da reflexão existencial humana, a filosofia
ganhou, ao longo de sua viagem, as mais diversas
características, de acordo com as mentes que, aos
poucos, foram-na lapidando, como uma joia de mil
faces, cada uma mostrando um lado aparentemente
diferente, mas que interagiam e se completavam de
uma forma admirável.
Filosofia Espirita
Na concepção da Doutrina Espírita, a filosofia ganhou
uma nova dimensão, que explica e concilia todas essas
suas múltiplas faces. Conforme Herculano Pires, “a
filosofia espírita representou um daqueles momentos
de confluência de todas as culturas do homem para um delta comum.
Baseada nos seus pressupostos (Deus, inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas; Espírito
e matéria, os elementos constitutivos desse universo
surpreendente; imortalidade da alma; reencarnação;
mediunidade; livre-arbítrio; lei de causa e efeito),
a Filosofia Espírita nos pintou, com as cores da fé
raciocinada, a obra-prima da criação, nos revelando o
roteiro de nossa incrível viagem evolutiva.
Como fragmento da divindade, o princípio inteligente
é lançado na realidade existencial para iniciar a
escalada rumo a sua individualização. Como a causa
eficiente de Aristóteles, essa centelha divina, através
de sua causa formal, perispécie e perispírito, se
manifesta na causa material, para atingir sua causa
final: a perfectibilidade. É a fenomenologia do Espírito
se apresentando aos nossos olhos.
Assim como a filosofia, somos viajantes cósmicos,
passando, em nossa espiral evolutiva, por todos os
reinos da natureza, desenvolvendo as potencialidades
necessárias a cada estágio e adquirindo as características
essenciais que nos permitiram aportar no reino hominal.
Nesse momento, que, segundo Kardec, “o Senhor
imprimiu em nossa fronte seu cunho augusto”,
somos dotados dos atributos indispensáveis à nossa
individualização: a consciência de nós mesmos, a razão,
o livre-arbítrio, o pensamento contínuo, a memória,
que aos poucos foram construindo o que somos hoje. Nas diversas encarnações, oportunidades ilimitadas
que recebe do Pai para atingir seu objetivo, o Espírito
chega ao teatro da vida, tal qual um personagem, com sua facticidade, isto é, recursos necessários para
desenvolver o seu papel: como cenário, o meio social,
a família; como figurino, o corpo físico; como roteiro,
as disposições acertadas com o plano superior, sendo
que sua “performance” dependerá exclusivamente de
seu livre-arbítrio.
Nesse evoluir, a verdade que vai se revelando pelo
despertar de nossa consciência, ampliada pelo contato
com o plano superior por meio da mediunidade, nos
incentiva a esse desvelar contínuo do real sentido
dessa vida, que nos foi dada como passaporte para
empreendermos esse maravilhoso evoluir ininterrupto,
no qual o passado vai construindo nosso presente, que
se projetará em nosso futuro, lembrando o novelo, com
o qual Bergson comparou a construção do nosso ser na
duração eterna.
Mergulhados no hausto divino do Criador, todo o
universo representa uma enorme rede energética de
comunicação entre as coisas da Terra e as do Céu, entre
o plano físico e o espiritual, lembrando o que Paulo nos
afirmou: “Em Deus vivemos, nos movemos e existimos”.
Nesse mar de energias, composto de infinitas ondas
de vibrações de todos os níveis, nos comunicamos
de acordo com a frequência de nossos pensamentos,
por meio dos quais, como pequenas lâmpadas desse
imenso caleidoscópio de almas, de planetas, de sóis,
atuamos como cocriadores do universo.
É preciso participar
Para lembrar aos homens o reto caminho a ser
percorrido, em todos os tempos da humanidade, o
Pai tem enviado ao planeta seus mensageiros, para
transmitir suas revelações: Zoroastro, Buda, Krishna e
Moisés foram os construtores desse edifício moral de
sabedoria, do qual Jesus Cristo é a pedra angular.
No apogeu do materialismo, essa revelação se deu
por intermédio de milhares de vozes dos seres do
plano espiritual, em todos os cantos do planeta. Era
a espiritualidade se manifestando, como antítese ao
materialismo, afirmando a síntese dualista de Espírito
e matéria.
Mas a filosofia é o amor à sabedoria e sabedoria é o
conhecimento aplicado às nossas ações perante Deus,
perante nós e o nosso próximo, o que nos faz lembrar o
imperativo categórico de Kant, que nos aconselha: “Age
sempre de tal modo que o teu comportamento possa
vir a ser princípio de uma lei universal”, e que nos remete à máxima de Jesus: “Tudo aquilo que quereis
que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”.
Segundo Göethe: “Não basta saber, é preciso também
aplicar; não basta querer, é preciso também fazer”.
Assim, primordial para nossa evolução, a moral,
estabelecida pelas leis divinas, nos propõe a ética a
ser aplicada em nossa vida prática, promovendo o
desenvolvimento das virtudes fundamentais para
atingirmos a nossa ecstase, nossa perfectibilidade relativa.
Mas é no equilíbrio entre a fé e a razão que o homem
pode firmar sua racionalidade e sua religiosidade. A
razão atuando na análise lógica do ser, que somente
se completa com sua análise ontológica amparada
pela fé. É a moral cristã impulsionando o homem para
sua evolução.
Maria Teresa Raphaelli
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