quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Vício

"O viciado é um "conservador", pois não quer correr o risco de se lançar à vida, tornando-se, desse modo, um comodista por medo do mundo que, segundo ele, o ameaça."

Inúmeros indivíduos tomam as mais diferentes atitudes diante da vida, porque diferentes informações lhes foram transmitidas quando crianças.
Conceitos diferentes são ensinados para crianças européias, asiáticas e africanas e todas se desenvolvem acreditando que estão completamente certas, convencidas de que as outras estão totalmente erradas.
O vício pode ser um "erro de calculo" na procura de paz e serenidade, porque todos queremos ser felizes e ninguém, conscientemente, busca de propósito viver com desprazer, aflição e infelicidade.
Nosso modo de ser no mundo está sendo moldado por nossas atitudes interiores; aliás, estamos, diariamente, aprendendo como desenvolver atitudes cada vez mais adequadas e coerentes em favor de nós mesmos.
Hábitos preferidos se formam através do tempo e se sedimentam com repetir manobras mentais. O que funciona muito bem em situações importantes de nossa vida, mantendo nossa ansiedade controlada e sob domínio, provavelmente será reproduzido em outras ocasiões.Por exemplo: Se na fase da infância descbrimos que "quando chorávamos, logo em seguido mamávamos" essa atitude mental poderá ser perpetuada através de um hábito inconsciente que julgamos irresistível.
A estratégica psíquica passa a ser: "quando tenho algum problema, preciso comer algo para resolvê-lo". O que a princípio foi uma descoberta compensadora e benéfica mais tarde pode ser um mecanismo desnecessário, tornando-se um impulso neurótico e desagradável e nosso dia-a-dia.
Existem diversos casos de obesidade que surgiram no clima de lares onde a mãe é superexigente, perfeccionista e dominadora, forçando constantemente a criança a se alimentar, não levando em conta suas necessidades naturais. Pela insistência materna, ela desenvolve o hábito de comer exageradamente, prejudicando o desenvolvimento do senso interior, que lhe dá a medida de quando começar e de quando parar de comer.
A bulimia cria para seus dependentes uma barreira que  os separa da realidade e funciona como uma falsa proteção e segurança, pois eles constroem seu mundo de explicações falsas por não perceberem os fatos verdadeiros.
Por outro lado, alguns podem argumentar sobre a ação dos disturbios glandulares ou genéticos, mas, mesmo assim, a causa fundamental dos problemas se encontra no psiquismo humano que, em realidade, é quem comanda todo o cosmo orgânico.
Geralmente a obsidade nasce da falta de coragem para enfrentar novas experiências; é a compensação que a "criança carente", existente no adulto, encontra para sentir-se protegida.
"... A lei de conservação lhe prescreve, como um deve!; que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização."
"Questão 723 L.E. - A alimentação animal, a carne alimenta a carne, do contrário perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização".
Paralelamente, encontramos também na dependência da comida um vício alicerçado no "medo de viver", o temor das provas e dos perigos naturais da caminhada terrena pode nos levar a uma suposta fuga.
Os dependentes negam seu medo e se escondem à beira do caminho. Interrompem a "procura existencial", assim o fluxo do desenvolvimento espiritual que acontece através da busca do novo. A evolução tudo melhora, sempre esteve e sempre estará desenvolvendo, desde os menores reinos da Natureza até as mais complexas estruturas do consciência humano.
O vício aparece constantemente onde há uma inadaptação à vida social, por incrível que pareça o viciado é "conservador", pois não quer correr o risco de se lançar à vida, tornando-se, desse modo, um comodista por medo do mundo que, segundo ele, o ameaça.
Os vícios ou hábitos destrutivos são, em síntese, métodos defensivos que as pessoas assumiram nesta existência, ou memo os trazem de outras encarnações, como uma forma inadequada de promover segurança e proteção.
Assim considerando e a fim de nos aprofundar no assunto, para saber lidar melhor com as chamadas viciações humanas, devemos perguntar a nós mesmos:
- Como organizamos nossa personalidade? como eram as crenças dos adultos com os quais convivemos na infância? Que tipo e atos permitimos ou proibimos entrar nesse processo? Quais as linhas de conduta que nos foram fechadas, ou quais os modelos de vida que priorizamos em nossa organização mental?
Somente aí, avaliando demoradamente os antecedentes de nossa vida, é que estaremos promovendo uma auto-análise proveitosa, para identificarmos nossos padrões de pensamentos deficitários,, diferenciando aqueles que nos são úteis daqueles que não nos servem mais. Dessa forma, libertamo-nos das compulsões desgastantes e dos hábitos infelizes.
Não nos esqueçamos, contudo, de que, conforme as afirmações dos Nobres Espíritos da Codificação, o homem "tem se alimentar conforme o reclame a sua organização", considerando, obviamente, que todo excesso é produto de uma viciação em andamento.
"Em verdade, viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram na dependência de pessoas ou substâncias."

Tradição é ato de transmissão oral ou escrita de costumes, lendas ou fatos levados de geração através dos tempos. Quanto mais antigos, mais notáveis e fora do comum eles se tornam. Uma vez atingida tal dimensão, transformam-se em crenças inquestionáveis.
As criaturas assimilam conceitos simplesmente porque outras pessoas que elas julgam importantes ou entendidas lhes disseram que são verdadeiras. As crenças de toda espécie começaram geralmente através  das histórias e dos costumes criados por alguns. Com o passar dos séculos, entretanto, tornaram-se regras éticas. Crença é a ação de acreditar naquilo que convencionamos adotar como verdade. Evidentemente, algumas são verdadeiras; outras não.
Precisamos revisar nossas concepções sobre os vícios. Não podemos entendê-los como uma problemática que abrange, exclusivamente delinquentes e vadios. Em verdade, viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram na dependência de pessoas ou substâncias.
Pelas crenças tradicionalistas, são tachados de criminosos e vagabundos; para nós, no entanto, representam, acima de tudo, companheiros do caminho evolutivo, merecedores de atenção e entendimento. Por serem carentes e sofridos, entregaram sua força de vontade ao poder dos tóxicos, procurando se esquecer de algo que , talvez, nem mesmo saibam; "eles próprios", pois não aguentaram suportar seu mundo mental em desalinho.
A ociosidade pode ser considerada, ao mesmo tempo, "causa e efeito" de todos os vícios.
Reportando-se à ociosidade, assim se manisfetaram as Entidades Superiores:
"Questão 564 L.E. - Haverá Espíritos que se consevam ociosos, que me coisa alguma úteis se ocupe?
Há, mas esse estado é temporário e dependendo do desenvolvimento de suas inteligências. Há. certamente, como há homens que só para si mesmo vivem. Pesa-lhes, porém, essa ociosidade e, cedo ou tarde, o desejo de progredir lhe faz necessária a atividade e felizes se sentirão por poderem tornar-se úteis. Referimos-nos aos Espíritos que hão chegados ao ponto de terem consciência de si mesmos e de seu livre-arbítrio, portanto, em sua origem, todos são quais crianças que acabam de nascer e que obram por instintos que por vontade expressa."
Sob o prisma do "efeito", tais considerações podem ser analisadas conforme o que segue abaixo:
Os dependentes são julgados por muitos como criaturas intencionalmente indolentes; por outros, de forma precipitada, como "parasitas sociais", desocupados, improdutivos e preguiçosos. Mas sem qualquer conotação ou justificativa de tirar-lhes a responsabilidade por seus feitos e decisões, não podemos nos esquecer de que o "peso do fardo" que carregam lhes dá tamanha lassidão (fadiga) energética que passam a viver em constante "embriaguez na alma", entre fluidos de abatimento, e tédio.
Não são inúteis deliberadamente, mas se utilizam, sem perceber do desânimo que sentem como "estratégica psicológica" para fugirem à decisão de "arregaçar as mangas"e enfrentar a parte que lhes cabe realizar na vida. Adiam sistematicamente seus compromissos, vivem de uma maneira no presente e dizem que vão viver de outra no futuro.
Aqui está um possível raciocínio de que utilizam:
"Sei que devo trabalhar para me realizar, mas, como desconfio de minha capacidade, temo não fazer direito", ou mesmo, "o que gosto de fazer não será aprovado pelos outros; por isso, digo a mim mesmo e aos outros que o farei no futuro. Agindo assim, não terei que admitir que não vou fazê-lo". Os toxicômanos são criaturas de caráter oscilante, não desenvolveram o senso de autonomia, vivem envolvidos numa ama fluídica de indecisão, imobilização por consequência da própria reação emocional em desajuste.
Protelam as coisas para um dia, talvez, nunca chegará. Fixam-se ao consumo cada vez maior de produtos narcóticos, enquanto desenvolvem atitudes emocionais que os levam à subjugação (tipo de obsessão) a pessoas e situações.
A ociosidade como "causa" das viciassões pode ser estudada da seguinte maneira:
As velhas crenças religiosas continuam afirmando que a felicidade dos bem-aventurados consiste na vida contemplativa, no repouso absoluto nos céus, em uma eterna e fastidiosa inutilidade. Asseguram também, em contra partida, que os infernos são destinados aos espíritos culpados. Conduzidos forçosamente a um mundo de expiações eternas, sem meios de reparação, ficariam condenados a viver eternamente as dores do fogo e o sofrimento não menos cruel da eterna ociosidade.
As crenças no poder dos "melhores", ou seja, dos aristocratas, fortificaram-se ainda mais no tempo dos patriarcas, das sociedades greco-romanas.
Expandindo-se, essas idéias fizeram com que os homens formassem unidades produtivas com base no escravismo. As vilas romanas e gregas possuíam dezenas de criados/cativos para satisfazer a todas as necessidades dos patrícios, para que vivessem no fastio e na inutilidade.
Durante séculos, a escravidão no Brasil foi aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade dos cativeiros. Os senhores de engenho se justificavam dizendo que resgatavam os negros do paganismo em que viviam para a conversão cristã, o que lhes facultava a redenção dos pecados e lhes abria a porta  da salvação. Na realidade, ocultavam suas verdadeiras intenções: a mão-de-obra lucrativa, que lhes permitia a vida fácil de esbanjamento com seus familiares, para manter a aparência social.
Aprendemos com as sociedades absolutistas do passado que a ociosidade era uma peça importante na vida. Na corte, as etiquetas, jogos, bailes e saraus eram as atividades mais comum da nobreza.
Assim pensavam os nobres na época de Luís XIV da França: "Somos uma classe que não ganha dinheiro pelo trabalho, mas o temos pela nossa  genealogia; não queremos ser confundidos com os poupadores vulgares, que são a gentinha da burguesia".Pode-se afirmar que, até poucas décadas atrás, a grande maioria também assim raciocinava.
As regras e costumes do passado pesam sobre todos nós. Somos espíritos milenares, encarnados sucessivas vezes, adquirindo experiências e assimilando crenças, algumas verdadeiras, outras não, repetindo o que escrevemos inicialmente. Essa a razão da necessidade de revisar nossos conceitos.
Disse certa feita Sócrates: "Não é ocioso apenas o que nada faz, mas também o que poderia empregar melhor o seu tempo". A ociosidade é uma porta que se abre para os vícios, é uma casa sem paredes; as "serpentes"podem entrar nela por todos os lados.

Extraído do livro Dores da Alma - Hammed





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