domingo, 5 de novembro de 2017

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 4 CAP 2 – O MITO – O SAGRADO - A RELIGIÃO


BIBLIOGRAFIA
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Edit. Ática

REFLEXÃO

MITIFICARAM JESUS?
O homem tem uma capacidade muito grande de mitificação (Fazer com que (alguma coisa) seja transformado em mito) A todo instante surgem ídolos que em atos extremos são mitificados.
Esses ídolos surgem em todos os campos desde os esportivos, musicais, artísticos aos intelectuais, filosóficos e religiosos.
Muitos desses trazem suas mensagens comportamentais e podem até revelar verdades transcendentes.
Os valores exagerados os endeusam e cegam seus adoradores e seguidores.
Jesus realmente se dizia uma divindade ou os homens que o endeusaram?

1ª PARTE: OBJETIVO DESTA AULA
A aula tem por finalidade esclarecer e aprofundar nossos conhecimentos nos conceitos de religião, religiosidade, mito e sagrado afim de que possamos entender melhor o que e como professamos a nossa crença.

2ª PARTE: INTRODUÇÃO
O entendimento dos conceitos apresentados nesta aula nos fará compreender melhor o que Jesus queria dizer com o “adorar a Deus em espírito e verdade”.

Neste aspecto procuramos investigar se esse “adorar” se refere a uma entrega incondicional, impensada e mesmo sem o devido entendimento, ou se para alcançarmos essa “verdade” teremos necessidade do uso do Logus, do intelecto ou da razão.

Quando Kardec se referia a “fé raciocinada”, sua proposta conduzia, como bem diz as palavras de Jesus, onde não basta só a fé provinda do coração, mas as verdades são aquisições através do intelecto, pelos caminhos da razão, do raciocínio e da lógica.

3ª PARTE: A RELIGIOSIDADE E O SAGRADO
Os seres humanos percebem regularidades e sabem que não são causa delas. Percebem que há coisas úteis e nocivas. A percepção da regularidade nos conduz a crença em poderes superiores. Nasce assim a crença na divindade.

Ao trabalharem, os homens se relacionam com o tempo, pois o trabalho é feito em vista de algo que ainda não existe e que existirá no futuro. É uma manifestação de seu poder limitado.

Ao estudarmos a memória vimos que ela é responsável pela identidade pessoal ao registrar a continuidade de uma vida que transcorre no tempo; assim temos consciência de uma identidade que existiu no passado, existe no presente, continuará existindo no futuro e que, sob a óptica dessa existência, irá desaparecer um dia. Somos conscientes do tempo como uma presença (o presente) situada entre duas ausências (o passado e o futuro). Podemos até conceber a existência futura num outro lugar, seguindo outros caminhos.

A crença no poder superior (divindade) e numa vida após a morte material, define o núcleo da religiosidade e se exprime na experiência do sagrado.

O Sagrado, é a experiência e a percepção da presença de uma potência ou força sobrenatural. A sacralidade introduz uma ruptura entre o natural e o sobrenatural mesmo que os seres sagrados sejam naturais, pois é sobrenatural sua força ou potência para realizar aquilo que nós humanos julgamos impossível. O sagrado opera os encantamentos do mundo, age magicamente, cria vínculos.

O sagrado é, pois a qualidade excepcional, boa ou má, benéfica ou maléfica. Assim, nasce com ele o
sentimento religioso.

4ª PARTE: A RELIGIÃO E A ORIGEM DO HOMEM
A religião é o re-ligare. A religião é um vínculo entre o mundo profano e o mundo sagrado, isto é
entre a natureza e as divindades.

Arca da Aliança é o símbolo do vínculo que une o povo hebreu ao seu deus. No cristianismo,
Pedro tem as chaves do Reino: o que ele ligar na Terra será ligado no Céu. Os céus, o monte Olimpo,
as montanhas do deserto de Israel, templos e igrejas são os santuários. Para certas religiões esses
lugares são moradias dos deuses.

A religião não transmuta apenas o espaço, mas também qualifica o tempo dando-lhe a marca do
sagrado. Narra a origem dos deuses e por sua ação a origem das coisas. A narrativa sagrada é a
história sagrada que os gregos chamavam Mito.

O Mito é a maneira pela qual a sociedade narra para si mesma seu começo e toda a realidade.

Com o surgimento da Filosofia e depois dela a Teologia, a razão exigia que os deuses fossem eternos.

Assim a história sagrada (mitologia) é uma Cosmogonia, ou seja, narra o nascimento, a finalidade e o perecimento de todos os seres sob a ação dos deuses.

Embora a narrativa sagrada (religiosa) seja uma explicação para a ordem natural ela não se dirige ao intelecto do crente, mas se endereça ao coração deles. Desperta emoções e sentimentos de: admiração, espanto, medo, esperança, amor e ódio. Pelo fato de se dirigir às paixões, a religião lhe
pede só uma coisa: a fé. Ou seja, a confiança e a adesão plena ao que lhe é manifestado como ação da
divindade. A narrativa sagrada tem sua lógica e via de regra esta voltada para o aspecto moral,
apresentando uma finalidade prática sujeita à vontade da divindade. Daí sua separação gradativa do
mito, que é idealizado e voltado mais para explicar os caprichos e ações da divindade, sob a ótica das
paixões humanas, não se preocupando em enfatizar o aspecto moral, já que as divindades agiam com
as mesmas inconsistências morais que o homem comum.

A religião é crença e não, saber. A tentativa para transformar a religião em saber racional se
chama Teologia.

5ª PARTE: RITOS E OBJETOS SIMBÓLICOS
O rito é uma cerimônia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre humanos e a divindade.

Para agradecer dons e benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a bondade dos deuses, para exorcizar a cólera dos deuses quando os humanos transgridem as leis sagradas, as cerimônias ritualísticas são extremamente importantes e tem uma grande variedade de formas. A sua repetição minuciosa e perfeita, tal como foi praticada a primeira vez é relevante na obtenção dos resultados.

A religião não sacraliza apenas o espaço e o tempo, mas também os seres e os objetos do mundo que se tornam símbolos.

Os seres ou objetos se tornam protetores, ameaçadores, benfeitores e perseguidores. Tornam-se
Tabus (intocáveis), não podem ser tocados nem manipulados por ninguém que não seja autorizado.

Assim, o pão e o vinho, para os cristãos ritualisticamente só podem ser consumidos sob condições
muito determinadas.

A religião tende aumentar o campo simbólico transformando objetos em tabus. A figuração do
sagrado se faz por emblemas, assim: a cruz, a meia lua, o castiçal.

6ª PARTE: MANIFESTAÇÃO - REVELAÇÃO – LEI DIVINA
Normalmente nas religiões os deuses se manifestam aos humanos e os levam a ver uma outra realidade escondida sob a realidade cotidiana. A divindade levando um humano ao seu mundo,
desvenda-lhe a Verdade e o ilumina com sua luz. É a Alethéa (Verdade) grega.

Há religiões em que deus se revela sem precisar que o ser humano saia do seu mundo. Ele revela a sua vontade, a vontade de deus. Assim, de uma forma ou de outra, a manifestação da Verdade ou a revelação da Vontade exprimem que aos humanos é dado conhecer seu destino a conhecer as leis divinas.

A vontade divina pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos na forma de leis divinas,
mandamentos, ordenamentos, comandos. Portanto a ordem no mundo decorre dos decretos divinos.

Por exemplo: os 10 Mandamentos.

O modo como a vontade divina se manifesta em leis são de dois tipos:
1- A divindade usa intermediários para revelar a lei; o profeta, que está constantemente relembrando a Lei.

2- O outro modo é aquele que utiliza um tipo especial de intermediários, os videntes que interpretam os enigmas divinos (as pitonisas).

7ª PARTE: VIDA APÓS MORTE – SALVAÇÃO - MILENARISMO
Como é a imortalidade? Algumas religiões afirmam que o corpo apresenta um outro ente feito de
outra matéria que permanece após a morte. Assim o corpo mortal é habitado por uma entidade chamada espírito, alma, sopro.

Nas religiões de Encantamento (antiga Grécia, África e América) o ente fica habitando a Terra
sob as diferentes formas da Natureza. Em outras, o espírito irá para o mundo divino desfrutando as
suas delícias. Porem, se suas faltas forem tantas, sua imagem vagara pelas trevas, sem repouso e sem
descanso.

Nas religiões da Salvação, como o caso do judaísmo, cristianismo e islamismo a obra da Salvação é realizada por um enviado de deus. As religiões de Salvação são messiânicas, coletivas. Um povo, o Povo de Deus, será salvo pela lei e pelo enviado divino.

O Milenarismo é próprio das religiões de Salvação. É a esperança da felicidade perene do mundo quando, após sofrimentos profundos, os seres humanos forem regenerados, purificados e libertos pela divindade. O Milenarismo é, portanto a crença num reino de mil anos que antecede o preparo do Fim do Mundo, ao qual se inicia a Vida Eterna dos Eleitos de Deus.

8ª PARTE: A FINALIDADE DA RELIGIÃO E CRÍTICAS
O sagrado dá significação ao espaço, ao tempo e aos seres que neles nascem, vivem e morrem.
O sagrado se transformando em religião confere a ela as seguintes finalidades:
  • Proteger os seres humanos contra o medo da natureza
  • Dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte.
  • Oferecer aos humanos a esperança de vida após morte
  • Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para as dores físicas e psíquicas.
  • Garantir respeito às normas, as regras e aos valores da moralidade estabelecida pela sociedade.
Quanto às críticas feitas a religião, as primeiras partiram dos filósofos pré-socráticos que criticaram o politeísmo e o antropomorfismo de seus deuses.

Outra crítica á religião partiu de Epicuro repisada pôr Lucrecio. Segundo eles, a religião é fabulação ilusória nascida do medo, da morte e da natureza.

Spinoza critica a superstição. Movidos por medo e esperança, os homens não confiam mais em
si mesmos e nem nos conhecimentos racionais para evitar males e atrair bens. Essa crença no seu
entender é superstição. Para alimentá-la criam a religião e esta se mantém para manter o domínio
sobre os homens. O poder religioso é um forte poder de submissão dos homens por outros homens.

Os estados teocráticos transformam cidadãos em cegos obedientes aos mandatários.

Outra critica severa que se faz às religiões é a alienação produzida por elas. Marx já asseverava:

“a religião é o ópio do povo”. O que é uma verdade insofismável, quando a religião é manipulada pelo poder temporal.

9ª PARTE: MITO E RAZÃO
Na maioria das culturas, a religião se apresenta como sistema explicativo geral, oferecendo causas e efeitos, relações entre seres e valores morais.

No caso da cultura ocidental, a ruptura com o Mito efetuada pelo surgimento da Razão, desfez o
privilégio da religião como visão única do mundo existente. Filosofia e Ciência elaboraram explicações cujos princípios são completamente diferentes da religião. Mais convincentes e condizentes com a razão e com a observação do mundo ao redor.

Assim, o Mito é uma narrativa, uma fala, um relato cujo tema principal é a origem do mundo e
dos homens sob o ponto de vista de deuses muito humanos. Já o Logus (Razão) busca a coerência e a
unidade sob a diversidade. O Logus purifica a linguagem dos elementos qualitativos e emotivos, busca retirar tanto quanto possível à ambigüidade dos termos que emprega, utilizando provas, demonstrações e argumentos racionais. O Mito, ao contrário, opera por metaforização contínua, isto é, uma mesma palavra ou conjunto de palavras tenderia a possuir um numero imenso de significações.

10ª PARTE: CONCILIAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E RELIGIÃO
Vários filósofos procuraram conciliar a Filosofia com a religião e destas tentativas, destacamos:
Kant, Hegel e a fenomenologia. Concluíram, porém, que a consciência pode relacionar-se com o mundo de várias maneiras tais como: o senso comum, a ciência, a filosofia, as artes, a religião, de sorte que não há oposição nem exclusão entre elas, mas diferença. Isto significa que oposição só surgirá quando a consciência estando numa atitude, pretende relacionar-se com o mundo utilizando significações e práticas de outra atitude.

11ª PARTE – CONCLUSÃO
Ao homem lhe foi dado o cérebro e o coração, a razão e os sentimentos, a ânsia do conhecimento e a fé, portanto, a adoração a Deus, citada por Jesus não se trata de uma fé cega sem a utilização dos recursos por Deus disponibilizados. Mas, sim de uma veneração pelo entendimento da sabedoria divina existente na Creação.

Com isto o Homem, ser viajor no tempo e no espaço busca se assemelhar a divindade e com ela
participar dessa obra maravilhosa e sublime.

Alan Krambeck

12ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA
Próxima aula:
Livro 4 – Cap.3 - Monoteísmo – Politeísmo – Dualismo – Monismo – Panteísmo - Deismo
Leituras:
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Edit. Atica
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA – Nicola Abbagnano – Edit Martins Fontes
O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA ANTIGUIDADE – Huberto Rohden - Ed Alvorada

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