sábado, 22 de abril de 2017

Conhecimento do Futuro - Rodolfo Calligaris - LEI DE LIBERDADE

Pode o homem conhecer o seu futuro? E, se pode, deve procurar conhecê-lo?
Eis aí duas perguntas interessantíssimas, às quais responde a Doutrina Espírita da seguinte maneira:
Essa possibilidade, se bem que muito relativa, existe, sim, já que as pessoas trazem, ao nascer, certas tendências, aptidões e qualidades inatas, cujas manifestações, mais ou menos evidentes, permitem prever, até certo ponto, o que serão ou o que farão na vida.
Afora isto, porém, tudo o mais será bem mais difícil, por duas razões.
Primeira: grande parte de nossa sorte futura ainda não está nem poderia estar delineada, semelhando-se a páginas em branco de um livro parcialmente anotado. É que se todo sucesso tem uma causa, reciprocamente, cada causa produz determinado efeito. Destarte, os acontecimentos porvindouros de nossa existência vão depender do que estivermos fazendo agora, com as
modificações provocadas por aquilo que formos fazendo de instante a instante.
Segunda: as circunstâncias a que chamaríamos inevitáveis, ligadas ao nosso carma (débitos ou créditos perante a Justiça Divina, resultantes de nosso procedimento em encarnações anteriores), por outro lado também não podem ser-nos desvendadas, pois, “se o homem conhecesse o futuro,
negligenciaria do presente e não agiria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a ideia de que, se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar- se com ela, ou então procuraria obstar a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se”. (Kardec.)
Algumas vezes, entretanto, o futuro pode ser revelado, e o tem sido. É quando a revelação favoreça a consumação de algo em benefício da Humanidade.
Importa esclarecer, todavia, que, embora muitos fatos possam ser previstos, por constarem dos planos das entidades espirituais que, como prepostos de Deus, dirigem os destinos do mundo ou têm sob sua tutela este ou aquele setor das atividades humanas, o livre arbítrio das pessoas diretamente ligadas a esses fatos é sempre respeitado, de modo a que, em última instância, tenham plena liberdade de cumprir ou não as tarefas que lhes estavam assinaladas, assim como de resistirem ou cederem (como no caso de Judas) a um alvitre que poderá acarretar-lhes as mais dolorosas consequências.
Isto deixa claro que ninguém é constrangido, de forma absoluta, a obrar desta ou daquela maneira, e que ninguém, jamais, há sido predestinado a praticar um crime ou qualquer outro ato delituoso que envolva responsabilidade moral.
O que sucede é que “cada um é tentado segundo suas próprias concupiscências”, conforme diz o Evangelho, e como quem se aproxima de uma forja acesa grande probabilidade tem de se queimar, também o ambicioso pode sucumbir ante uma situação que lhe exacerbe a cobiça, e assim por
diante.
Sempre que, p. ex., algo de suma importância deva necessariamente acontecer, e aquele ou aqueles que seriam os possíveis agentes não se mostrem à altura, ou se tenham desviado de moto próprio do caminho que os levaria a tal objetivo, as referidas entidades espirituais sabem como encaminhar as coisas de maneira que outrem lhes tomem o lugar, o mesmo acontecendo quando, inversamente, o desfecho é que deva ser outro.
O interesse — diríamos melhor —, a curiosidade que tantos demonstram em conhecer o seu futuro apresenta sérios inconvenientes.
Um deles, o de contribuir para que espertalhões sem escrúpulos façam da astrologia, da cartomancia, da necromancia, da quiromancia, da vidência, etc. rendosos meios de vida.
Outro, a sôfrega expectativa de um evento feliz, a falta de iniciativa e de ação, julgadas desnecessárias, face à “segurança” de um por-vir próspero e venturoso, do que podem resultar terríveis decepções, ou, ainda, o desespero, senão mesmo a loucura e o suicídio ante um funesto presságio.
O Espiritismo, amiúde e injustamente confundido com as práticas adivinhadeiras, saibam-no de uma vez por todas, não as utiliza nem as recomenda; pelo contrário, desaconselha-as aberta e veementemente, pois, embora admita a possibilidade de eventuais revelações do futuro, subordina-as
a estas duas condições:
 1) a espontaneidade;
2) um fim sério que as justifique, em conformidade com os desígnios providenciais.

(Capítulo 10º, questão 868 e seguintes.)

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