terça-feira, 28 de junho de 2016

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA - LIVRO 2 - CAP 20





TRABALHO – ALIENAÇÃO - LEI DO TRABALHO


BIBLIOGRAFIA E SITES
FILOSOFANDO – Introdução a Filosofia – M Helena A Aranha - Edit Moderna
A GRANDE SÍNTESE – Pietro Ubaldi – Edit. LAKE – Cap 79
O LIVRO DOS ESPÍRITOS – Allan Kardec – Edit IDE – Perguntas 674 a 676

REFLEXÃO
A SOCIEDADE ALTERNATIVA É UMA ALTERNATIVA?

É senso comum que o Trabalho dignifica o homem, que somos agentes transformadores da Natureza, o senso comum está correto?
Esta transformação é geradora de uma relação saudável entre o Homem e a Natureza?
Será que não fomos degradados a mera condição de objetos neste processo?
A Crise da Modernidade passa também por uma trágica alienação do Trabalho.


Quais outras atividades humanas se tornaram alienadas?
A crença? A vida? A medicina? A arte?
Podemos mudar o rumo dessa alienação? Como?
Um modelo de sociedade alternativa regenerada pela educação seria uma solução?


1ª PARTE: OBJETIVO DA AULA
Esta aula tem por objetivo rever os conceitos e investigar de forma mais profunda o que vem a ser o trabalho e a alienação. Vamos procurar modificar o conceito vigente de trabalho relacionado a sofrimento e pagamento de dívida conforme a cultura religiosa nos induz


2ª PARTE: INTRODUÇÃO
O trabalho toma diferentes conotações com a evolução da humanidade. Ele se inicia com o atendimento das necessidades básicas, alimentação, vestuário e habitação para adquirir no período contemporâneo formas mais sofisticadas como serviços e trabalhos altamente intelectualizados.

Em paralelo a estas novas formas, distorções vão se manifestando, fazendo com que essa atividade venha até proporcionar conseqüências patológicas ao homem moderno.


3ª PARTE: VISÃO FILOSÓFICA DO TRABALHO
Pelo trabalho o homem transforma a natureza. E alem de transformar a natureza, humanizando-a, procede a união dos homens e, sobretudo transforma o próprio homem. Isto significa que pelo trabalho o homem se autoproduz, desenvolve habilidades e imaginação. Aprende a conhecer as forças da natureza, desbravando-a e desafiando-la. Impõe-se uma disciplina.

O homem não permanece o mesmo, pois o trabalho altera a visão que ele tem do mundo e de si mesmo.

Se num primeiro momento a natureza se apresenta aos homens como destino, o trabalho será a condição da superação dos determinismos: a transcendência é propriamente a liberdade. Por isso, a liberdade não é alguma coisa que é dada ao homem, mas o resultado da sua ação transformadora sobre o mundo, conforme seus projetos
Segundo Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese, para preparar o reino do espírito é necessário primeiro transformar a terra, pois as vias da evolução, no nível humano, são a Ciência e o Trabalho.
Devemos atentar para não tornar o trabalho unicamente utilitário numa visão limitada, egoísta e socialmente danosa denominado trabalho-ganho. É necessário transforma-lo em trabalho-aprendizado, trabalho-prazer, trabalho-missão. Limitar o trabalho à exclusiva finalidade egoística do ganho é diminuir-se a si mesmo. É um mutilar-se, uma renúncia à função de célula social, de construtor, que por menor que seja, tem seu lugar no funcionamento orgânico do universo.

Compreender o trabalho como disciplina do espírito, como escola de ascensão, como absoluta necessidade da vida, que relaciona o nosso progresso mediante nosso esforço, dando um sentido de seriedade, de dever, de responsabilidade perante a vida.

4ª PARTE: VISÃO HISTÓRICA DO TRABALHO
A concepção de trabalho sempre teve predominantemente uma visão negativa. Na Bíblia, Adão e Eva viviam felizes até que o pecado provocar sua expulsão do Paraíso e sua condenação ao trabalho com o "suor do próprio rosto".


A etimologia da palavra trabalho vem do vocábulo latino, tripaliare, do substantivo tripalium, aparelho de tortura formado por três paus ao qual eram atados os condenados. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena e labuta desde a saída do Paraíso ate os tempos romanos.

Na antiguidade grega todo trabalho manual é desvalorizado por ser feito por escravos. Na Roma
escravagista também era assim. Essa é nossa herança cultural sobre o trabalho. Na Idade Média, Tomás D’Aquino procura reabilitar o trabalho manual dizendo que todos os trabalhos se equivalem, mas na verdade a própria construção teórica de seu pensamento, calcada na visão grega, tende a valorizar a atividade contemplativa.

Na Idade Moderna, a situação começa a se alterar e com a Revolução Industrial o trabalho passa a tomar uma nova conotação.

A Reforma Protestante tem um papel significativo ao valorizar o trabalho, o individual, a prosperidade e acima de tudo desvincula o pecado da usura do acumulo de riqueza financeira. Eis o motivo principal do progresso material dos paises hoje considerados desenvolvidos.

No século XVII, aparecem as máquinas como ciência aplicada ao bem estar humano, havendo grande valorização da técnica. A máquina passa a exercer grande fascínio sobre a mentalidade do homem moderno.

No século XIX, a Doutrina dos Espíritos propõe um enfoque totalmente novo, diferente e avançado ao conceito de trabalho. Agrega-lhe o aspecto evolucionista espiritual. Em O Livro dos Espíritos, no capítulo referente a Lei do Trabalho destacamos a pergunta 674, 675 e 676:


674. A necessidade do trabalho é lei da Natureza?
O trabalho é uma lei natural, por isso mesmo é uma necessidade e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta suas as necessidades e seus prazeres.


675. Não se deve entender pelo trabalho senão as ocupações materiais?
Não. O Espírito trabalha como o corpo. Toda ocupação útil é um trabalho.


676. Por que o trabalho é imposto ao homem?
É uma conseqüência de sua natureza corporal. É uma expiação e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho o homem permaneceria na infância da inteligência. Por isso ele não deve seu sustento, sua segurança e seu bem-estar senão ao seu trabalho e a sua atividade. Àquele que é muito fraco de corpo Deus deu a Inteligência para isso suprir; mas é sempre um trabalho.

O trabalho sofreu uma mudança no início do século XX quando Henry Ford introduziu o sistema de linha de montagem na indústria automobilística fragmentando o sistema de produção e Taylor aperfeiçoou este novo método produtivo.

Nos sistemas domésticos de manufatura, era comum o trabalhador conhecer todas as etapas da produção, desde o projeto até a execução. A partir da implantação do sistema fabril, no entanto, isso não é mais possível, devido à crescente complexidade resultante da divisão do trabalho.

O sistema foi implantado com sucesso no início do século XX nos EUA e logo extrapolou os domínios da fábrica, atingindo outros tipos de empresas e até os esportes, a medicina e a escola.

O mundo moderno prioriza o conhecimento técnico em detrimento da humanização do trabalho.



5ª PARTE: ALIENAÇÃO
A alienação no sentido jurídico é perder a posse de um bem. No estado psicológico da loucura é a perda da dimensão de si na relação com o outro. Na idolatria, é a perda da autonomia.

Etimologicamente, a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa "que pertence a um outro". E o outro é o alius. Sob certo aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para o outro o que é seu.

Na concepção de Rousseau, a soberania do povo é inalienável, somente a ele pertence, que não deve outorga-la a nenhum representante (é o ideal da democracia direta).

Em todos esses casos vemos a constancia do termo "perda".

O homem comum, alienado, perde a compreensão do mundo em que vive e torna alheio a sua consciência um segmento importante da realidade em que está inserido.

Um exemplo real é o que ocorre com a sensação de liberdade. O homem se diz livre, entretanto, ele quer trabalho e não consegue, ele quer viajar e não pode, no contrato de trabalho o horário, o salário lhe são impostos por forças alheias. A impotência diante os desmandos do governo, da corrupção, do aumento de impostos, da incompetência administrativa e outros.

A alienação no caso dos objetos fazem a mercadoria ter valores de troca superiores aos valores de uso. As marcas e as grifes fazem subir o valor de troca dos objetos. Tudo alimentado pelo ego, pelas vaidades e pelos personalismo.


É a "humanização" do objeto e a desumanização do próprio homem. Este mesmo fica transformado em mercadoria ao vender seu esforço de trabalho. Pois ela tem um preço no mercado de trabalho.


6ª PARTE: A ALIENAÇÃO NA PRODUÇÃO
A Alienação surge em termos produtivos quando o executor de algo produz o que já não lhe pertence. A produção seriada proporciona a partição do trabalho sobre um produto. A alienação se acentua, pois o executor se responsabiliza por uma parcela mínima do trabalho. Por fim o executor não se identifica mais com o bem produzido. O trabalho passa a ser um produto, tem seu preço.

A Alienação aparece com todo o vigor, pois o executor trabalha totalmente desvinculado do produto que este mesmo produz. Sua contra-partida é exclusivamente a remuneração das horas trabalhadas, não importando em que trabalha. É o auge. O desvinculamento do criador e da criação. Na linha de produção o homem fica reduzido a gestos mecânicos tornado "esquizofrênico" pelo parcelamento das tarefas. Ver os filmes:

Os Tempos Modernos de Charles Chaplin e

A Classe Operária Vai ao Paraíso.

Não é fácil submeter o operário a um trabalho rotineiro. Se não compreendemos o sentido de nossa ação e se o produto do trabalho não é nosso é bem difícil dedicarmo-nos com empenho em qualquer tarefa. É assim que aliena o homem no seu trabalho, naquilo que ele produz.

Extrapolando a simples dimensão técnica e material na produção, a alienação atinge mais profundamente o gênero humano ao instituir uma relação alienada entre o homem-trabalhador e os demais homens, dos homens consigo mesmos e dos homens com a natureza.



7ª PARTE: VISÃO ESPIRITUAL DO TRABALHO
Segundo Joanna de Angelis o trabalho tem como objetivo a melhoria das condições de vida bem como do meio onde o individuo se encontra. Impulsiona a capacidade criativa do homem de modo a obter altas expressões de beleza e de harmonia. Liberta-o paulatinamente, das formas grosseiras e primárias em que transita para atingir a plenitude da perfeição.

Não fora o trabalho e o homem permaneceria na infância primitiva. Deus muitas vezes faculta ao fraco de forças físicas os inapreciáveis recursos da inteligência, mediante a qual granjeia progresso e respeito, adquirido independência econômica, valor social e consideração, contribuindo poderosamente para o progresso de todos.
Emmanuel esclarece-nos que a partir do momento que o trabalho se transforma em prazer de servir, surge o ponto mais importante da remuneração espiritual. A Justiça Divina nos procura no
endereço exato para execução das sentenças que lavramos contra nós próprios, segundo as leis de causa e efeito, se nos encontra no serviço ao próximo. Assim manda a Divina Misericórdia que a execução seja suspensa, por tempo indeterminado.
Os Espíritos da Codificação nos ensinam que a capacidade adquirida pelo estudo e pelo trabalho torna-se uma verdadeira propriedade, da qual é naturalmente lícito tirar proveitos.


Os Espíritos não poupam o homem dos trabalho de pesquisas. Não lhes trazem formulas prontas. Pelo contrario, auxiliam o homem nas novas descobertas e invenções. Se assim não fosse lhe colocaria tudo pronto as mãos sem o incômodo, sequer, de abaixar-se para apanhar, nem mesmo o de pensar.

A necessidade fez criar a riqueza, como fez descobrir a Ciência. A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência. E esta que ele concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.

Por que não são igualmente ricos todos os homens?

Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar.
Quando a falta do trabalho se generaliza, toma proporções de um flagelo como a miséria. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo; mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, não será contínuo, e nesses intervalos o trabalhador precisa viver. Há um elemento que não se costuma considerar, sem o qual a ciência econômica torna-se apenas uma teoria: é a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda a educação moral


pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.


8ª PARTE: CONCLUSÃO
Diante destas considerações finalizamos com a frase de Jesus ao responder aos judeus que o perseguiam porque fazia boas obras no Sábado (Dia do Sabbath):

Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. (João 5:17).

O Pai dá o exemplo do qual espera que os filhos o sigam.

Em outras palavras, Jesus nos mostra a importância do trabalho visto que o Pai dentro de Sua perfeição utiliza o trabalho, obviamente não no entendimento de ganho, mas de prazer e de satisfação.

E fundamental voltarmos a colocar o trabalho na sua verdadeira função, qual seja, educativa, prazerosa e criativa.


Alan Krambeck
9ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA
Próxima aula:

Livro 2 – Capítulo 21 - Tecnologia – Consumo – Necessário e Supérfluo
Leitura:
FILOSOFANDO – Introdução a Filosofia – M Lucia A Aranha – Ed Moderna
CONVITE A FILOSOFIA – Marilena Chauí – Ática Editor
O CAMINHO DA FELICIDADE – Huberto Rohden – Edit Alvorada



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