domingo, 14 de fevereiro de 2016

CURSO DE FILOSOFIA ESPÍRITA LIVRO 1 CAP 14


(utilize o site ifevale-org.br)
 TOMÁS DE AQUINO – APOGEU E DECLÍNIO DA ESCOLÁSTICA  

 BIBLIOGRAFIA 
OS PENSADORES – SÃO TOMAS DE AQUINO – Edit Nova Cultural
HISTÓRIA DA FILOSOFIA – H. Padovani / L. Castanhola – Ed. Melhoramentos
VIVENDO A FILOSOFIA – Gabriel Chalita – Atual Editora 
FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA – Gilberto Cotrim – Edit. Saraiva
 
REFLEXÃO 
A FILOSOFIA E A VERDADE JÁ ESTABELECIDA 
 Existe uma verdadeira filosofia em Aquino? Ele esteve empenhado numa pesquisa cuja resposta já era conhecida?  Antes de começar a filosofar, ele já conhecia a verdade. Ela está declarada na fé católica, dizia Bertrand Russel. Se encontrar argumentos racionais para algumas partes da fé, tanto melhor, continua Russel. A descoberta de argumentos para uma conclusão dada de antemão não é filosofia, mas uma alegação especial. E este filósofo conclui: não posso admitir que Aquino mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia antiga ou mesmo dos tempos modernos.  Estaria um santo intelectualmente superado por filósofos? 
TEMA (Extremos) "Duvidar de tudo ou crer em tudo são duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas, de refletir."  (Henri Poincare)  


1ª PARTE: OBJETIVO DA AULA 
 Esta aula tem por objetivo o estudo da escolástica durante seu apogeu e seu posterior declínio. Esta foi a forma de pensar na idade média do mundo ocidental. Tomás de Aquino, o principal representante dessa filosofia foi quem aristotelizou o cristianismo ou quem cristianizou Aristóteles partindo do místico e neoplatônico Agostinho e criando a filosofia dita cristã.

  
2ª PARTE: INTRODUÇÃO 
 Mesmo que não exista concordância de opiniões sobre os méritos de Tomas de Aquino, existe uma unanimidade no reconhecimento de sua obra filosófica. Representa o apogeu do pensamento medieval católico. Forma-se o que a Igreja denomina Filosofia Cristã.  O grande mérito de Aquino foi fazer da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da religião católica. Retomando as ideias do grande sistematizador grego trabalhou no sentido de provar a existência de Deus e dar um aspecto mais racional à fé cristã. Desde o final do século V a dissolução do Império Romano do Ocidente tornou-se mais intenso, pois as invasões germânicas promoveram divisões de seus territórios. A Igreja de Roma absorveu a forma de administração centralizadora deixada pelo Império Romano e logo em seguida o papa Gregório Magno (590 a 604) impõe o poder papal para além das fronteiras italianas, exigindo subordinação dos demais bispos e patriarcas. Em meados do século VIII o papado recebe um forte aliado, o rei dos francos. Todo esse contexto histórico influencia diretamente a filosofia da época.
Depois da morte de Agostinho não se desenvolve nenhuma corrente de pensamento de importância marcante até quatro séculos depois quando surge a escolástica como vimos na aula anterior.  Essa corrente filosófica atinge seu apogeu com Tomas de Aquino no século XIII e posteriormente inicia o seu declínio.

 
3ª PARTE: TOMÁS DE AQUINO – VIDA E OBRA 
 Tomas de Aquino nascido em Rocca Secca, vilarejo próximo de Nápoles (1225) descende de nobre estirpe dos condes de Aquino. Foi o 17º filho do conde Landolfo de Aquino. Aos 5 anos foi enviado a Abadia Beneditina de Monte Cassino. Depois desses estudos seguiu para a Universidade de Nápoles para o estudo de Artes e foi nesta instituição que teve contato com a obra de Aristóteles. Estudou as sete artes liberais composta pelo Trivium (gramática, retórica e dialética) e pelo Quadrívium (aritmética, geometria, astronomia e música). Aos 19 anos contrariou a família se unindo aos frades dominicanos em vez dos beneditinos como queriam seus familiares. Para fugir desta situação os dominicanos o enviaram a Paris.  Em 1248 dedicou-se ao estudo da teologia e da filosofia sob a orientação de Alberto Magno, seu coirmão e mestre. Em 1252, Tomas colou grau na Universidade de Paris e aos 30 anos se tornou professor nessa instituição.  Em 1259, retorna a Itália para lecionar em diversas instituições. Em 1269, vai novamente a Paris. Deixa os ensinos em 1273 devido a sua saúde frágil. Vem a falecer em 1274.  Aquino tem em sua filosofia forte fundamento na de Aristóteles.  Suas obras podem ser divididas em quatro grupos:
1) os comentários (á lógica, à física, à metafísica, à Ética de Aristóteles, à Escritura Sagrada)
 2) as sumas (Suma Contra os Gentios – que se voltava aos não-cristãos e Suma Teológica – sobre os caminhos para o conhecimento de Deus) – estas sumas são de proporções enciclopédicas
 3) as questões (Questões Disputadas – da Verdade – da Alma e do Mal) e
 4) os opúsculos (Da Unidade do Intelecto Contra os Averroistas, Da Eternidade do Mundo).

  
4ª PARTE: GNOSIOLOGIA TOMISTA E PRINCÍPIOS BÁSICOS 
 A teoria do conhecimento de Tomas de Aquino é a do realismo, ou seja, considera que os conceitos que apreendemos pelo conhecimento possuem uma realidade autônoma e objetiva. O que a faculdade do conhecimento recebe do objeto é uma impressão deste. O primeiro que conhecemos são essas impressões, porque elas nos remetem de forma intencional ao objeto observado. Trata-se de uma causa formal, cujo efeito é o conhecimento. Somente depois se passa a conhecer que o objeto foi causa da impressão.  Tomas fixou-se num racionalismo moderado, como o de Aristóteles e de Pedro Abelardo, tomando como ponto de partida o ser captado pela inteligência no âmbito do conhecimento sensível, de onde o abstrai, para em seguida buscar novos resultados da especulação sem nunca ultrapassar o âmbito limitado do ser sensível. Rejeitou, portanto a perspectiva platônica do agostinismo, cujos princípios universais desenvolviam-se independente do sensível.  No processo de conhecimento foram ressaltados princípios considerados básicos:
1- O princípio da não contradição – o ser é ou não é. Não existe nada que pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista
2- O princípio da substancia – na existência do ser existe a substancia, a essência do que ela é e sem aquilo deixaria de ser. E existe o acidente, aquilo que é transitório no ser. (corpo e alma).
3- O princípio da causa eficiente – para existir, o ser contingente depende de outro ser que representa sua causa eficiente, chamado de ser necessário
 4- O princípio da finalidade – todo ser contingente tem uma razão de ser
5- O princípio de ato e potencia – todo ser contingente tem duas dimensões: ato e potencia. Potencia representa aquilo que não se realizou, mas pode realizar. Ato representa aquilo que está sendo realizado. O que o filósofo escolástico empreendeu foi uma sistematização da doutrina cristã que se apóia em parte na filosofia aristotélica, mas que contem muitos elementos estranhos ao aristotelismo. Entre estes o conceito de criação do mundo, a noção de um deus único, de céu e inferno entre outros.

 
5ª PARTE: A SUMA TEOLÓGICA – PROVAS DA EXISTENCIA DE DEUS
  A Suma Teológica, principal obra de Tomas de Aquino considera cinco vias que conduzem à prova racional da existência de Deus. Todas as vias com característica de se firmarem na evidencia sensível e racional.
1) A PRIMEIRA VIA – argumenta através do movimento. Deus existe, pois, é imprescindível que haja um primeiro motor que se mova sem ser movido, conforme já advertia Aristóteles.
2) A SEGUNDA VIA – alega que as coisas do mundo devem em última instancia, admitir uma causa primeira eficiente.
3) A TERCEIRA VIA – considera o fato de que as coisas que se apresentam no mundo são contingentes (temporárias) e que nessa condição não existiriam se não houvesse um ser não contingente (eterno)
4) A QUARTA VIA – alega os graus de perfeição constatado nos seres que conhecemos e que postulam um grau máximo de perfeição.
 5) A QUINTA VIA – toma como ponto de partida a ordem no mundo, dada como um fim intencional, em outras palavras, como as coisas sem conhecimento não tem capacidade de querer um fim, deve-se admitir que a ordem do mundo prove a existência de um ordenador exterior a ele: Deus.  Reunindo argumentos, coordenando-os e sistematizando as investigações, o aquinate ultrapassa de muito as conjecturas filosóficas de até então sobre a existência de Deus.

  
6ª PARTE: TOMÁS DE AQUINO – A MORAL 
 No campo moral Tomas também não segue Agostinho, pois a moral tomista é essencialmente intelectualista ao passo que a moral agostiniana é voluntarista (vontade).  Para o filósofo Tomas, são o corpo e a alma em conjunto que constituem a pessoa humana, sendo ambos a sua essência. A vida moral de uma pessoa consiste em buscar o conhecimento direto de Deus e a sua realização é a alegria por estar de posse da verdade. O intelecto é o poder pelo qual o conhecimento é alcançado e a vontade é o poder de escolha. Contudo, a vontade não pode fazer uma escolha até que o intelecto detecte meios para atingir um fim tido como bom sob algum aspecto. Necessariamente, a vontade empenha-se em obter o que o intelecto entende como bem e a escolha visa um meio de alcançar aquele bem. Evidentemente, isto não significa que uma pessoa opte necessariamente pelo melhor, mas que a escolha sempre recai sobre o que é entendido, de alguma maneira, como um bem. Mesmo que alguém saiba que outra pessoa não fez uma escolha moralmente boa, ou realizou alguma ação que sabe ser errada, isto seria, de acordo com Aquino, não o mal como desejo de alguém, mas alguma coisa que, nestas ações, pareceu bom e desejável.

 
7ª PARTE: FILOSOFIA E TEOLOGIA 
 Acerca do problema das relações entre filosofia e teologia, Tomas dá uma solução precisa e definitiva, mediante uma distinção clara entre as duas ordens. Com base no sistema aristotélico é conquistada finalmente a consciência do que é conhecimento racional, ciência; um lógico procedimento de princípios evidentes para conclusões inteligíveis. E logo se compreende que é impossível a demonstração racional em matéria de fé, onde os princípios não são evidentes, mas transcendem a razão, pois são mistérios; e igualmente ininteligíveis são as conclusões lógicas tiradas desses princípios. Em todo caso, segundo o sistema tomista, a razão e a revelação, a filosofia e a teologia, não podem hostilizar-se mutuamente, estar em desarmonia, porquanto procedem da mesma Verdade eterna. Pelo contrário, têm algumas determinadas relações recíprocas.  


8ª PARTE: A ESCOLÁSTICA PÓS-TOMISTA 
 Os grandes acontecimentos históricos marcaram a Europa nos séculos XIII e XIV – a Guerra dos 100 Anos – a peste bubônica – o cisma entre as igrejas do ocidente e do oriente – a independência das universidades – a formação de classe intelectualizada leiga – o crescimento da razão dentro das ciências naturais, tudo isso faz o tomismo entrar em progressiva decadência. Posterior a Tomas de Aquino, o centro da escolástica se desloca para a Universidade de Oxford e seus maiores vultos são os franciscanos Roger Bacon, João Duns Scoto e Guilherme de Ockam.
 Segundo Roger Bacon, três são as forças do saber: a autoridade (dando a crença e a fé), a razão que produz a Ciência, mas esta é ineficaz sem a experiência e finalmente a ciência experimental que constitui a fonte mais sólida da certeza.  João Duns Scoto já se posiciona contra o intelectualismo tomista e prefere o primado agostiniano da vontade.  Finalmente Guilherme de Ockam sustenta que o saber verdadeiro é o sensível e este saber é o que nos dá a realidade. Ockam é o precursor do Empirismo e do Ceticismo.  Todos esses fatos vão solapando o poder e a filosofia da poderosa Igreja.

 
9ª PARTE:  CONCLUSÃO 
 Termina assim a Escolástica oscilando entre um tomismo excessivamente intelectual e um agostinismo excessivamente místico e dogmático. A estrutura eclesiástica fica desnorteada entre o racionalismo tomista e o místico-dogmatismo agostiniano.  Enfim, Tomas de Aquino é uma voz de dentro da instituição Igreja tentando quebrar o dogmatismo através de raciocínios lógicos, imprimindo as primeiras centelhas filosóficas dentro do cristianismo secularmente engessado aos dogmas conciliares.  Este período se caracteriza pelo primeiro estremecimento da estrutura da Igreja depois de muitos séculos de império absoluto sobre as mentalidades onde a intelectualidade esta atrofiada pela ditadura de um poder eclesiástico sólido. 
Alan Krambeck  


10ª PARTE – MÁXIMA / LEITURAS E PREPARAÇÃO PARA PRÓXIMA AULA 
Próxima aula:
Livro 1 Capítulo 15 – DESCARTES – O RACIONALISMO – O MÉTODO – AS RES 
Leitura:  OS PENSADORES – Descartes – Edit Nova Cultural  FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA – Gilberto Cotrim – Edit Saraiva 

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