quarta-feira, 28 de maio de 2014

Tolerância


Betsaída! Betsaída! Famosa cidade que resplandece na história por ser berço, não somente de Filipe, o apóstolo - inquieto por saber os segredos do Criador e da vida - como de André e Pedro. Burgo pertencente ao reino da Galiléia, eixo do discípulo do Divino Mestre!

O sol começava a distribuir seus primeiros raios de um ouro encantador, como se fossem as mãos de Deus abençoando a vinha fecundante da Terra, com sementes de luz. Filipe já se encontrava de pé, contemplando a natureza, que fazia palpitar cada vez mais seus coração ansioso pela verdade, manisfestando, em cada batida, interessante profundo por um diálogo que lhe acalmasse o raciocínio. Deixou que a luz do astro o beijasse em todas as direções. Lembrou-se da juventude junto aos pais, seus amigos, os rebanhos, a pesca, as flores. Parou os pensamentos, encantado, sem nenhuma mescla de dúvida sobre a grande inteligência que nos comanda a todos, sentindo o Senhor palpitar em toda a criação. Seu raciocínio se empalidecia diante do que o coração lhe oferecia como esperança, que transmutava as claridades do tempo em fé, aquela fé, que mais tarde, o Evangelho anunciaria como capaz de transportar montanhas.

Por que tudo isso, Filipe? Porque aquela noite haveria o encontro de Jesus com todos os Seus discípulos. Era como um festival doutrinário. Era Deus, por intermédio do Mestre, renovando a confiança para com os homens do mundo. Era o cumprimento de todas as profecias sobre Aquele que haveria de vir!

Naquele dia, o carro solar fez todo o seu majestoso percurso como se fosse em segundos, para o apóstolo Filipe. As primeiras horas da noite, ele se colocava no meio dos doze, à beira do Lago de Genesaré, em um velho casarão, onde o Cristo se salientava silenciosamente em uma tosca cepa de cedro, perpassando seus olhos mansos e lúcidos por todo o colégio apostolar. Filipe, envolvido por emoções indescritíveis, cruza seu olhar solícito com o do Nazareno, que já esperava ouvir algo do apóstolo. O filho de Betsaída levanta-se, num misto de alegria e emotividade, e fala, com fervor:

- Mestre, era nosso intento saber com mais propriedade, pela extensão da linguagem espiritual, o que significa Tolerância, pois, às vezes me confundo, por desconhecer seus limites.

O silêncio era a tônica do ambiente. Filipe acomoda-se em um banco improvisado e espera a resposta, ansioso como todos os companheiros do aprendizado evangélico. 

Jesus renova seu olhar em todos os presentes, deixa entreabrir os lábios num leve sorriso e expõe, com segurança:

- Filipe, a Tolerância é um estado de alma que todos nós devemos conquistar. Ela, por si, tem múltiplos valores, mas denuncia algum perigo. É como uma massa forte no alimento da vida que, sem outros ingredientes auxiliares, exagera a fermentação; contudo, não podemos viver sem a força da Tolerância, que nos faz acalmar alguns impulsos inferiores. É proveitoso que, junto a ela, coloquemos a razão em evidência, para que ela não passe dos limites que lhe compete atingir. A enfermidade moral esta sujeita às mesmas leis que as doenças do corpo.Um terapeuta, para ministrar remédios aos enfermos, necessita conhecer as dosagens correspondentes aos desequilíbrios orgânicos; assim é o orientador. A impaciência, nesses casos, pode ser fatal como o veneno disciplinado é fonte de vida. A Tolerância, Filipe, que do modo como pensas, forma uma interrupção na mente que desconhece a disciplina, esquecendo a justiça. Ela não pode passar das fronteiras delimitadas pelo bom senso.

Jesus dá um tempo para que todos ordenem os pensamentos. Filipe parece em êxtase, procurando confrontar assuntos e extrair a essência dos conceitos do Divino Amigo. Quando o apóstolo quis continuar o assunto da complacência; sentindo dificuldade na aplicação desta virtude singular, Jesus adiantou-se, consciente de seus pensamentos e continuou sua fala, com serenidade:

-Filipe! Quando toleras um desequilíbrio, aprovas a desarmonia. E assim passarás a alimentar uma força contrária, que persegue a tua própria paz, estabelecendo um vínculo teu com o fato e vice-versa. Tolerar, sem conhecimento de causa é estimular efeitos por vezes perniciosos, motivando o ambiente de convivência. Entretanto, é preciso notar que desaprovar um ato alheio, ou mesmo nosso, não implica em usar a violência nem tampouco o escândalo. Pelas tuas próprias feições, ao conversar com alguém, é fácil de notar, no silêncio do coração, que não apóias tais ou quais atitudes;e pela alegria e interesse que manifestas pelos ideais superiores do companheiro tu escreverás, sem uso do verbo e da letra, tua aprovação pelo bem da coletividade, principalmente quando esse ideal se apóia nos alicerces da dignidade que as leis de Deus nos oferece, Tolerância... é a palavra mais ou menos solta, que carece de solicitude do coração e da inteligência enriquecidos na experiência do tempo e nas bênçãos do Pai Celestial.

O Mestre deixou passar alguns segundos e complementou:

- Moderação não é tão difícil como todos podem pensar; o mais engenhosos é saber tolerar.

Faz-se silêncio novamente e os olhos dos discípulos se entrecruzaram como se estivessem numa conversação mental, procurando, cada um, o apoio do outro na assimilação dos conceitos da noite. Filipi, como que magnetizado pela luz, deixa escapar um suspiro, monologando:

- Meu Deus! Como é trabalhoso ser bom! Como é problemático ajudar aos outros nas linhas paralelas da justiça e do amor!

Suspirou profundamente e acrescentou:

-  Talvez a Tolerância, dentro dessas normas, não agrade a ninguém!

A atmosfera do ambiente pedia meditação. Nenhum dos discípulos ousava quebrar o silêncio diante do Cristo, esperando por um desfecho de maior entendimento, como acontecera em outra ocasiões. Filipe encontra novamente o olhar firme e magnânimo de Jesus, de onde esplendia carinho e doçura. E começa a ouvir o Rabi da Galiléia sentindo que estava a sós com Ele, nos páramos infinitos Jesus continuou: 

- Não esqueçais nunca da condescendência . Desde quando abris os olhos ao acordar até fechá los para dormir, que ela seja o resguardo das vossas vidas e da vida dos que anseiam pela felicidade. Todavia é justo que não vos esqueçais da educação, tornando-a consciência dos caminhos que percorrem o amor mais puro, aquele que cede na hora que a caridade deseja, e que nega no momento em que o abuso pretende dominar a humildade. No instante em que duvidais até que ponto possa atingir a paciência, procurai os recursos da oração com respeito e fé, que a inspiração divina vós dará a resposta pelos processos da certeza como o instinto selecionador do comer e do beber dos animais. O prêmio para todos nós virá com a assistência dos anjos para todos os que se esforçam em direção à luz. Se queres viver em paz com os outros e com os vossos semelhantes, desde que façais tudo isso com e por amor.

Todos os discípulos respiraram aliviados com os últimos remates de Jesus, por associar a oração como força propulsora na aquisição da fé, guardando a lição do Mestre sobre Tolerância, para aplicá-la em todas as oportunidades que surgissem.


extraído do livro Ave Luz de João Nunes Maia pelo espírito de Shaolim.





 

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