segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A poesia perdida



Cap. VI – Item 4 

O consolador é a onipresença de Jesus na Terra.

Ao influxo da Benemerência Celeste, ele asserena os gestos impensados das criaturas que gemem esporeadas pelas provações; aplaca os gritos blasfemos que se elevam de muitas bocas com requintes insaciáveis de orgulho; recompõe os rostos incendidos pelo fogo de multifárias paixões e soergue os proscritos do remorso que se escondem nas dores devoradoras, desmemoriados na retificação que o destino lhes retraça.

O Consolador
Prometido!... Sursum corda!Res, non verba!...
Seguindo-lhe os ditames, jamais desfeches o alvo em mira, pois os olhos voltívolos não podem fixar os painéis vislumbrados nos cimos.

Recorda que todas as cenas humanas têm seus bastidores espirituais.

 Se vives em ânsia de paz interior, sustém o império sobre ti mesmo.

Espaneja em ti a carusma dos preconceitos que te dançam na mente, qual poeira de sombra, entenebrecendo-te a razão.

Recoloque os ideais com novas tintas de alegria, esperança e coragem, no combate aos erros bastas vezes milenares.

Estende um pensamento bom aos cépticos transviados no dédalo das indagações contraditórias, ferretoados no duelo interior da
dúvida.

Foge à voz bramidora da censura para que os teus lábios festejem os ouvidos alheios com expressões de conselho e acentos de consolo.

Borda a palavra com doçura e repete mansamente a própria benção quando a tua voz se perca entre os clamores dos que passam a vociferar rebeldia e avançam espavoridos por veredas em chamas.

Socorre a mães desditosas, cujos filhinhos doentes vertem lágrimas a se transmutarem nos livores macilentos da morte.
Afaga, ao calor das frases de fraternidade revigoradora, as têmporas encanecidas e latejantes que te suplicam algum óbolo de carinho.

Desfaze o véu do pranto de agonia de quem chora às ocultas, no sarcófago das trevas de si mesmo.

Derrama preces confortativas entre os peregrinos da morte que não se resguardaram para a Grande Viagem e carreiam o coração em atropelos, de espanto a espanto, ante a perpetuidade da vida.

Em toda estrada vicejam alfombras de sorrisos e chovem lágrimas de aflição, mas o amor, com o Cristo-Jesus, recupera a poesia perdida ao longo do nosso caminho, pois só ele transforma o miasma em perfume, o incêndio em luz, o espinho em flor, o deserto em jardim e a queda em ascensão.

Manuel Quintão


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