terça-feira, 15 de agosto de 2017

O caráter da revelação espírita - As três Revelações




1. Revelar, do latim revelare, cuja raiz é velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseguinte, não existe revelação. O caráter essencial da revelação divina é, pois, o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros, ou sujeita à modificação, não pode emanar de Deus.

2. "O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina", assevera Kardec no cap. I de seu livro "A Gênese". Acrescenta ele, à idéia vaga da vida futura, ensinada por Jesus, a revelação acerca da existência do mundo invisível que nos rodeia, define os laços que unem a alma ao corpo, e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte.

3. A primeira revelação da lei de Deus está personificada em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não está personificada em pessoa alguma. As duas primeiras foram individuais; a terceira é coletiva. Eis aí o caráter essencial da revelação espírita.

4. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa alguma. Ninguém pode, por conseguinte, inculcar-se como seu profeta exclusivo, porque ela foi espalhada simultaneamente por sobre a Terra, a milhões de criaturas, de todas as idades e condições sociais, confirmando a predição de Joel, registrada em Atos dos Apóstolos (cap. 2, vv. 16 a 18): "Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos sonhos".

5. As duas primeiras revelações, sendo fruto do ensino pessoal, ficaram forçosamente localizadas, isto é, apareceram num só ponto, em torno do qual a idéia se propagou pouco a pouco, mas foram precisos muitos séculos para que atingissem as extremidades do mundo, sem mesmo o invadirem inteiramente. A terceira tem isto de particular: não estando personificada em um só indivíduo, surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes, que se tornaram centros ou focos de irradiação.

6. Vinda numa época de emancipação e madureza intelectual, em que a inteligência, já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo e em que o homem nada aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, quer saber o porquê e o como de cada coisa -- tinha ela que ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto do trabalho, da pesquisa e do livre exame.

7. Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é necessário para guiar o homem no caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão.

8. Em parte alguma, afirma Kardec, o ensino espírita foi dado integralmente. Ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era achar-se reunidos num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo o ensino que ser coletivo e não individual, os Espíritos dividiram o trabalho, disseminando os assuntos de estudo e observação como, em algumas fábricas, a confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida por diversos operários.

9. A revelação fez-se assim parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários, e é dessa maneira que prossegue ainda, pois que nem tudo foi revelado. Cada centro encontra nos outros centros o complemento do que obtém, e foi o conjunto, a coordenação de todos os ensinos parciais que constituíram a Doutrina Espírita.

10. Nenhuma ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um homem. Todas, sem exceção, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações anteriores, para chegar ao desconhecido. Foi assim que os Espíritos procederam com relação ao Espiritismo; daí ser gradativo o ensino que ministram.

11. Um último caráter da revelação espírita, que ressalta mesmo das condições em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, ela tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação.

12. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio de suas próprias descobertas, ela assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado.

13. Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter, pois participa, ao mesmo tempo, da revelação divina e da revelação científica. Numa palavra, é divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do trabalho do homem.

14. A revelação cristã havia sucedido à revelação mosaica; a revelação espírita vem completá-la. O Cristo a anunciou, e ele próprio preside a esse novo surto do pensamento humano. Manifestando-se fora e acima das igrejas, seu ensino dirige-se a todas as raças. Por toda parte os Espíritos proclamam os princípios em que ela se apóia, convidando o homem a meditar em Deus e na vida futura.

15. Ela é, pois, a revelação dos tempos preditos. Todos os ensinos do passado, parciais, restritos, limitados na ação que exerciam, são por ela ultrapassados. Ela utiliza os materiais acumulados; reúne-os, solidifica-os, para formar um vasto edifício em que o pensamento, a vontade, possa expandir-se.

16. As Inteligências superiores, em suas relações mediúnicas com os homens, confirmam os ensinos ministrados pelos Espíritos menos adiantados e expõem o seu modo de ver, as suas opiniões sobre todos os grandes problemas da vida e da morte, a evolução dos seres e as leis superiores do Universo. Suas revelações concordam entre si e se unem para constituir uma filosofia admirável.

17. O Espiritismo, pois, não dogmatiza, nem se imobiliza. Sem nenhuma pretensão à infalibilidade, seu ensino é progressivo como os próprios Espíritos o são. 

THIAGO BERNARDES
Bibliografia:
"A Gênese", cap. I, de Allan Kardec.
"Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis.
 


http://www.oconsolador.com.br/4/esde.html

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