segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Estudo do livro Entre os Dois Mundos - cap 2

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do livro Entre os Dois Mundos, obra de autoria de  Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco no ano de 2004.
Texto para leitura - Por Thiago Bernardes - REVISTA O CONSOLADOR

48. O amigo de Jesus – Em determinado momento, com a bonomia que lhe é habitual, José Petitinga informou, dirigindo-se ao autor desta obra: “Como você recorda, hoje estamos recebendo a visita de querido amigo procedente de elevada esfera espiritual, que nos vem trazer palavras de levantamento moral e orientações para as tarefas que nos dizem respeito em relação ao futuro. O irmão Policarpo, que hoje nos honra com a sua presença, é mártir cristão, que ofereceu a vida ao Divino Mestre na arena romana durante uma das cruéis perse­guições desencadeadas pelo imperador Diocleciano, por ocasião do fim da sua governança, no começo do século quarto da nossa Era. A sua implacável perseguição aos cristãos, que consi­derava como um grande perigo para o Império e para a sua autoridade, ceifou milhares de vidas mediante terríveis suplí­cios que lhes foram infligidos em todas as regiões por onde se espraiavam as suas províncias, sendo praticamente todo o mundo conhecido... Ante a rudeza das calamitosas refregas, não foram poucos aqueles que abjuraram a fé, rendendo culto ao impe­rador e aos deuses, provocando dilaceradoras angústias nas falanges dos servidores do Cristo. Aprisionado no norte da África, onde se celebrizara pelo verbo inflamado e pelas ações dignificantes de cari­dade e de amor, Policarpo foi enviado em ferros a Roma com a família – mulher e dois filhinhos – bem como ou­tros discípulos do Rabi, sendo atirado às feras, num dos turbulentos festivais de loucura. Altivo e de ascendência nobre, em razão de ser romano de nascimento, foi-lhe proporcionado ensejo de renunciar à fé, retornando ao culto dos ancestrais, providência que pou­paria a sua e a existência da família. Embora de alma dilace­rada pelos sofrimentos que lhes seriam impostos, optou pela fidelidade à consciência, sendo martirizado com os seus. Conta-se que, antes de ser atirado à arena, em face da sua inteireza moral, por ordem superior foi supliciado pela soldadesca, enquanto a mulher e os filhinhos eram sub­metidos a humilhações inomináveis. Igualmente portadora de alta espiritualidade, Flamínia, a companheira digna, ao invés de atemorizar-se, mais confiou nos desígnios divinos, revestindo-se de coragem e de fé inquebrantáveis, que sur­preendiam aqueles insensíveis algozes da sua firmeza moral. (Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.)

49. Comovido pela evocação do testemunho desses espí­ritos de escol, Petitinga fez uma pausa e, de imediato, prosseguiu: “No dia em que deveriam servir de repasto aos le­ões, leopardos e tigres esfaimados, Policarpo foi jogado no meio dos companheiros atemorizados, lanhado e esgotado nas forças pelos flagícios sofridos, e, mesmo assim, tentou recompor-se, para transmitir ânimo àqueles que, não obs­tante o amor e a confiança no Mestre, choravam apavorados temendo o próximo terrível testemunho que os aguardava. O subterrâneo infecto por dejetos e cadáveres não removidos tornara-se lôbrego e nauseante. Aqueles que ali se encontravam haviam perdido praticamente o discerni­mento e, hebetados uns pelo medo, agitados outros pelo desespero, estremunhados diversos, vendo-se abandona­dos, subitamente sentiram a mudança da atmosfera, quan­do ventos inesperados que sopravam no ardente mês car­rearam o doce perfume dos loendros dos arredores abertos aos cálidos beijos do sol. De imediato, uma psicosfera de paz invadiu o recinto sombrio e fez-se um significativo silêncio, enquanto o rugir dos animais misturava-se à algazarra desmedida da multi­dão agitada pelos corredores, assomando às arquibancadas e galerias, aplaudindo o espetáculo burlesco que sempre pre­cedia às matanças desordenadas. Foi nesse momento que o apóstolo, recuperando as energias e inspirado pelos emissários do Senhor, convidou o magote assustado à reflexão e à prece, elucidando: – Morrer, por Jesus, é a honra que agora nos é concedida. Enquanto Ele, que não tinha qualquer culpa, doou a Sua vida, para que a tivéssemos em abundância, convida-nos a que ofere­çamos a nossa, a fim de que outros, que virão depois, igual­mente possuam-na. Morrer por amor é glória para aquele que se imola. Enquanto o mundo nos surpreende com as suas ilusões, sombras e traições dos nossos sentidos, a mor­te é vida perene em luz e felicidade. Não nos separaremos nunca! Avancemos juntos, portanto, pois que o Mártir do Gólgota nos aguarda em júbilo. O nosso sangue irá ferti­lizar o solo dos corações, a fim de que se expanda a nossa fé, modificando a Terra e elevando-a ao estágio de mundo de reabilitação”(Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.)

50. Conforme relatado por Petitinga, Policarpo fez então uma ligeira pausa, dominado pela emoção que contagiava os ouvintes atentos e, de imediato, prosseguiu: “- É fácil morrer, especialmente quan­do se soube viver transformando urze em flores e calhaus em estrelas. Cantemos, dominados pela infinita alegria de doar o que possuímos de mais valioso, que é a vida física. Jesus, que nos ama, aguarda por nós!” A emoção era geral. Uma aragem de paz tomou-os a todos. A esposa acercou-se-lhe com um filhinho no regaço e o outro segurando-lhe as vestes, e tocou-o. Abraçando­-a com lágrimas, ele agradeceu-lhe a coragem, prometendo que prosseguiriam amando-se depois da sombra da noite... Os portões foram abertos estrepitosamente. Soldados furiosos com lanças e chibatas empurraram os prisioneiros para o centro da arena. A gritaria infrene tomou conta da massa alucinada, que subitamente silenciou, quando eles se adentraram cantando um hino de exaltação a Jesus. Em seguida, os animais selvagens foram atirados na sua direção e, a pouco e pouco, as patadas violentas e as dilacera­ções pelos dentes afiados foram despedaçando os corpos, que tremiam exangues na areia, colorindo-a do rubro fluido orgâ­nico. Policarpo, a mulher e os filhinhos, formando um todo em vigoroso abraço de sustentação moral, foram alcançados e despedaçados... Após as primeiras dores uma anestesia total tomou-lhes a consciência e pareceram adormecer, enquanto o espetáculo dantesco prosseguia...  Embora remanescesse débil claridade do Sol poen­te no áspero verão de agosto, a noite avançava, deixando aparecer as primeiras estrelas faiscantes como olhos que observassem as inconcebíveis calamidades humanas. (Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.)

51. Dando prosseguimento ao seu relato, Petitinga acrescentou que, quando a noite fez-se total, após o público insano ter abandonado o Circo, as feras serem recolhidas, os corpos começaram a ser atirados sobre as carroças conduzidas por escravos embriagados, vestidos de faunos e portando com­portamentos obscenos. Então, do infinito incom­parável, diáfana luz desceu na direção da arena, servindo de passarela para uma coorte de seres angélicos que, entoando sublimes canções, aproximou-se do lugar do holocausto. À frente, estava Jesus, nimbado de sidérea luminosi­dade, que recolheu Policarpo e família, enquanto os demais martirizados eram retirados dos últimos despojos pelos Seus embaixadores em clima de alegria e gratidão a Deus. Despertando, e deslumbrando-se com o Mestre que o envolvia em claridades iridescentes, Policarpo abraçou-o, enquanto Ele confirmou: – “Amigo querido, já transpuseste a porta estreita. Agora vem com os teus para o meu Reino que te espera desde há muito!” Petitinga então concluiu: “Policarpo, depois daquela doação a Jesus, retor­nou à Terra diversas vezes, sempre quando o pensamento do Mestre sofria adulterações, sendo a sua última jornada na condição de seareiro do Espiritismo, nele restaurando a mensagem cristã que havia sido aviltada através dos tempos. É esse benfeitor, apóstolo do Evangelho, que nos hon­rará com a sua palavra dentro de alguns minutos. Não posso sopitar o anseio de ouvi-lo, de senti-lo próximo do coração e aprender com ele o exemplo da doação total, preparando­-me para os futuros cometimentos”. (Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.)

52. Petitinga e Philomeno dirigiram-se, em seguida, ao auditório onde ocorreria a palestra de Policarpo. O local, cuja capacida­de era para quatro mil espectadores,encontrava-se quase que totalmente lotado. A psicosfera reinante era de contida alegria e de doces expectativas. Em todos os rostos brilhavam os olhos que expressavam as emoções em festa no mundo interior de cada qual. Ali podiam-se ver muitos companheiros ainda mergulhados na experiência carnal, convidados que foram para o incomum acontecimento, assessorados pelos seus mentores espirituais que os trouxeram, a fim de que retornassem ao corpo com a memória do evento e das lições que iriam ser oferecidas. Aragens perfumadas espraiavam-se em todas as direções. Música suave de exaltação à vida vibrava no espaço grandioso, alternada com vozes em coral infantil, que enternecia os presentes. A claridade reinante chamava a atenção, porque não provinha especialmente de quaisquer instrumentos es­pecíficos para produzi-la. Era como se todo o edifício fosse construído de substância luminosa irradiante, enquanto que, no local reservado aos visitantes e convidados especiais, tor­nava-se multicor em suaves tons que produziam bem-estar difícil de ser definido. Somente o Amor de Deus – observou Philomeno – pode oferecer-nos tão especiais oportunidades de iluminação e de felicidade além dos convencionais interesses transitórios do mundo físico. “As aquisições que todos iriam amealhar teriam sabor de eternidade.” (Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.)

53. No recinto, aguardando a fala do orador convidado, o irmão José Petitinga mergulhara em meditação, enquanto seu semblante se adornava de peregrina beleza, o que se podia observar em outros muitos espíritos ali pre­sentes, caracterizando os seus níveis de evolução. Nenhuma bulha nem tumulto habituais em aglome­rações de tal porte. Todos estavam conscientes da responsabilidade imensa do momento e de quanto lhes seria valioso aproveitar cada instante para insculpir definitivamente no coração e na mente a Mensagem de Vida Eterna que logo mais seria ministrada. Os desencarnados presentes, que aguardavam oportunidade para o retorno ao querido planeta, que nos serve de colo de mãe generosa e onde temos ocasião de aplicar as inabordáveis contribuições do Mundo Maior, estavam conscientes do significado do momento e do seu valor para seu aprimora­mento pessoal intransferível. Foi então que o responsável pela solenidade apre­sentou-se, convocando a todos à recepção do visitante especial – Policarpo, um dos mártires do Cristianismo nascente. (Entre os dois mundos. Capítulo 2: O amigo de Jesus.) (Continua...)
http://www.oconsolador.com.br/ano11/531/estudandomanoelphilomeno.html

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